looking back, we try to laugh
silly kids, the ghosts of past

Era uma manhã fria, como muitas outras no Norte.

Ele preparou o corpo para a brisa gelada enquanto atravessava o corredor e seguia em direção ao pátio onde Jon e Robb praticavam esgrima. Sentou-se nos degraus e observou enquanto o herdeiro e o bastardo duelavam com espadas de madeira. Do lado oposto Bran assistia a luta com olhos curiosos, certamente proibido por Lady Catelyn de participar da luta improvisada entre os irmãos, mas com os pés e mãos agitados, seguindo os movimentos dos mais velhos, ansioso em se preparar para se tornar um grande Cavaleiro.

Ele já começava a se esquecer do rosto dos irmãos...

Arya estava ao seu lado, faltando às aulas de costura novamente. Sua presença ali prenunciava a cena que todos veriam durante a ceia naquela noite: Lady Catelyn reprovaria o comportamento rebelde da filha mais nova e Sansa daria risadinhas - obviamente orgulhosa de seu próprio progresso na costura - debochando das atitudes de menino da irmã. Lorde Stark observaria tudo em silêncio, imparcial à pequena briga familiar. Os outros observariam com um meio interesse já que, no fim das contas, todos eles sabiam que Arya não se importava com os discursos da mãe, as zombarias da irmã ou as aulas de costura da Septã Mordane; ela simplesmente queria aprender a manejar espadas e lutar como a Rainha Nymeria.

Ás vezes ele imaginava que tipo de garota sua irmã havia se tornado...

Do lado de dentro um choro de criança chamou sua atenção. Lady Catelyn corria apressada para a torre leste, o pequeno Rickon chorando encolhido em seu colo. Devia ter caído e se machucado - de novo -, mas não importava quantas vezes fossem sua mãe sempre agiria com a mesma urgência.

Ela o fazia se lembrar de sua própria mãe...

Voltou o olhar para os garotos lutando com espadas de madeira e assistiu enquanto a pacífica vida em Winterfell se desdobrava em uma manhã fria, como muitas outras no Norte.

Ele os invejava.

Sempre que andava pelos corredores do castelo - prisão, aquela era a sua prisão - ele os observava, livres e felizes, vivendo a vida como se não tivessem um refém em meio a eles naquele exato momento.

Ele queria odiá-los.

Controlou uma expressão ressentida e ergueu o olhar. Da janela Lorde Stark observava enquanto sua família passava mais um dia, um olhar de satisfação em seu rosto. O senhor de Winterfell pareceu então notá-lo sentado próximo ao pátio, acenou para ele e sorriu.

Aquele era o seu captor, ele forçou-se a lembrar.

Mas não conseguiu evitar devolver o sorriso e acenar também, antes de voltar a atenção para Robb e Jon.

Ele se perguntou se já havia visto o pai sorrir...

Ele queria odiá-los. Todos os dias ele tentava odiar.
Ele queria odiar seus captores, mas simplesmente não podia.

Aquela não era sua família, ele sabia disso. Aquele não era o seu pai, aquela não era a sua mãe, aqueles não eram os seus irmãos. Ele lembrava isso a si mesmo dia após dia, recitando sempre, como uma espécie de mantra. Aquele não era o seu lar.

Não era, mas ele sentia como se fosse.

Ele viveria feliz com aquela pseudo família.
Ele gostaria de viver lá, com seu falso pai, sua falsa mãe e seus falsos irmãos.

Ele queria poder viver lá.
Mas há muito ele perdera essa chance.

Um vento forte bateu e as cinzas voaram ao seu redor, congelando tudo com a neve que as acompanhava. O cheiro de madeira queimada já estava fraco, e pouco incomodava o restante dos convidados, mas era forte o bastante para fazer as lágrimas voltarem aos seus olhos.

Eles estavam mortos.

Sua ilusão desapareceu. Ele estava sozinho na casa que queimara, observando um pátio vazio, sob a sombra de uma parede enegrecida pelo fogo.

Todos eles estavam mortos.
Mortos ou espalhados pelo país.

E seus fantasmas habitavam as ruínas de Winterfell.