Nada mais é igual desde o dia em que ela foi embora e me deixou para trás.

Eu deveria odiá-la por roubar meu coração e logo em seguida destruí-lo como se não fosse nada, além de um simples pedaço de carne morta.

Cada pedaço dessa casa me lembra ela. Ainda consigo ouvir o murmúrio de sua voz dizendo me amar, iludindo-me, fazendo-me acreditar em um sentimento traiçoeiro e cruel.

Aquela maldita bruxa ruiva lançou um feitiço sobre mim, deixando-me completamente louco por ela.

Para quê?

Simples. Me abandonar como se eu não valesse nada.

A pequena e escandalosa Bonnie McCullough era como um frágil pássaro vermelho incapaz de machucar uma mosca, mas eu deveria ter adivinhado, que ela seria como um furacão que destruiria tudo o que encontrasse pela frente.

Mesmo desejando odiá-la e destroçar seus bens mais preciosos, não consigo, porque sei que isso a faria me desprezar.

Cada lembrança é como se uma estaca cheia de verbena fosse enfiada em meu peito, me entorpecendo e me fazendo derramar lágrimas inúteis.

Se eu tivesse sido mais esperto e prestado mais atenção aos que se passava ao meu redor, talvez tivesse conseguido fazê-la ficar ao meu lado.

Se naquela noite eu tivesse deixado meu orgulho de lado e tivesse dito o que tanto Bonnie desejava ouvir, talvez ela não tivesse ido embora.

Se eu tivesse enxergado que ela era a única mulher, que faz meu coração morto bater mais forte, talvez eu ainda tivesse o seu amor.

Tudo o que eu desejo é ver seus grandes olhos castanhos, olhando-me como se eu fosse o homem mais importante e especial do mundo. Ouvir dos lábios rosados e carnudos os suspiros apaixonados e até mesmo os xingamentos. Tocar naquela confusão de cachos ruivos e observar o rosto cheio de sardas adquirir um tom mais vermelho quando ela fica envergonhada ou com raiva.

Só desejo chamá-la outra vez de meu pequeno pássaro vermelho.

Talvez se eu conseguisse entender que tudo terminou porque tinha que ser assim, eu não sofreria tanto como agora.

Se arrependimento matasse...

[...]

"Eu te amo." Os olhos castanhos me olhavam com expectativas. Eu não sabia o que dizer. Não poderia a iludir ainda mais ao falar algo que não sinto. Gosto muito de Bonnie, mas a única que amo de verdade é Elena.

A pequena ruiva se desvencilhou de meus braços, cobriu-se com o lençol e me deu as costas.

Um silêncio pesado se instalou entre nós. Nem parecia que tínhamos acabado de fazer amor.

Seu suspiro pesado, as batidas aceleradas de seu coração e as lágrimas que ela bravamente tentava segurar, faziam eu me sentir um verdadeiro lixo.

A chuva caía lá fora e um trovão forte pareceu balançar as paredes da mansão. Bonnie soltou um grito e cobriu a cabeça com o lençol. Se ela não estivesse com raiva, teria se jogado em cima de mim em busca de proteção.

"Passarinho?" A puxei para os meus braços, mas mesmo assim, ela continuou quieta e calada. "Eu gosto muito de você..."

[...]

Idiota. O que Bonnie desejava era o amor que eu nutria por ela sem saber. Passei tanto tempo querendo ter tudo o que era de Stefan, que nem percebi o que estava bem em baixo de meu nariz.

[...]

"Esta é minha canção favorita no mundo inteiro." Bonnie murmurou sonhadora conforme a melodia começava a tocar em seu celular. E eu não se surpreendia em ser mais uma música romântica chata. "Não é perfeita?"

"Ainda não começou a tocar, Bonnie." Revirei os olhos e recebi um tapa no braço.

"Ed Sheeran é o melhor. Acho que somos parentes. Ruivos e românticos." Começou a cantarolar com sua voz desafinada e se fosse qualquer outra pessoa, eu teria jogado para fora de minha casa, mas Bonnie é como um pequeno pássaro tentando ganhar de um Uirapuru em uma competição.

"Damon, um dia você canta para mim?" Ela deitou a cabeça no meu ombro.

O leve contato de nossas peles fez meu corpo formigar.

"Eu não sou cantor, Bonnie." Bebi mais um pouco do meu amado Bourbon.

"Mas não pode fazer esse sacrifício por mim?" Ela puxou o meu rosto, fazendo-me olhar em seus olhos pidões.

"Algum dia... Depois não reclame." Resmunguei para ela me deixar em paz.

"Você fica mais lindo quando cora." Ela me beijou.

[...]

"Quando eu morrer não quero ser enterrada." Ela disse de repente, fazendo-me arquear uma sobrancelha. Coloquei o prato cheio de panquecas em sua frente. "Não quero ficar presa em uma caixa de madeira por toda a eternidade."

"Então quer ser cremada? Mas mesmo assim seu pó ficará preso em algum jarro." Perguntei curioso, tentando não pensar em uma Bonnie morta. Tanto assunto para falar em um café da manhã e ela me vem com isso.

"Quero que minhas cinzas sejam atiradas ao mar." Respondeu focada em devorar as panquecas. "Ficarei livre das larvas devorando meu lindo corpo."

[...]

Ela estava sangrando em meus braços. Nem mesmo seu doce sangue conseguia despertar o monstro dentro de mim. Eu só queria salvá-la, evitar que ela morresse.

"Por que fez isso, Bonnie?" Abracei seu pequeno corpo e rasguei meu pulso, encostando-o em sua boca. "Toma..."

"Não posso." Ela virou o rosto e o medo cresceu ainda mais em mim. "O veneno já se espalhou por meu corpo, se eu tomar seu sangue... vai ser pior." Suas palavras foram apenas um murmúrio.

"Não deveria ter se metido na frente. Aquele ataque era para mim." Beijei seus cabelos ruivos.

"Eu te amo, Damon. Faria qualquer coisa por você." Seus olhos castanhos me olhavam cansados. "Cante para eu dormir. Você prometeu que algum dia cantaria Photograph para mim." As lágrimas que pensei não possuir já rolavam por meu rosto, caindo no dela. "Não chore, Damon."

Ao longe, eu conseguia escutar o choro de Elena e Meredith.

"Eu também te amo." Beijei seus lábios manchados de sangue e comecei a cantarolar baixinho a música favorita dela.

Amar pode doer
Amar pode doer às vezes
Mas é a única coisa que eu sei
Quando fica difícil
Você sabe que pode ficar difícil algumas vezes
É a única coisa que nos faz sentir vivos

Nós mantemos este amor numa fotografia
Nós fizemos estas memórias para nós mesmos
Onde nossos olhos nunca se fecham
Nossos corações nunca estiveram partidos
E o tempo está congelado para sempre

Então você pode me guardar
No bolso do seu jeans rasgado
Me abraçando perto até nossos olhos se encontrarem
Você nunca estará sozinha
Me espere para voltar pra casa

Amar pode curar
Amar pode remendar sua alma
E é a única coisa que eu sei
Eu juro que fica mais fácil
Se lembre disso em cada pedaço seu
E é a única coisa que levamos com a gente quando morremos

Nós mantemos este amor numa fotografia
Nós fizemos estas memórias para nós mesmos
Onde nossos olhos nunca fecham
Nossos corações nunca estiveram partidos
E o tempo está congelado para sempre

Então você pode me guardar
No bolso do seu jeans rasgado
Me abraçando perto até nossos olhos se encontrarem
Você nunca estará sozinha

E se você me machucar
Tudo bem, querida
Apenas as palavras sangram
Dentro destas páginas você me abraça
E eu nunca vou te deixar ir
Me espere para voltar pra casa

Me espere para voltar pra casa
Me espere para voltar pra casa
Me espere para voltar pra casa

E você poderia me colocar
Dentro do colar que você ganhou
Quando tinha 16 anos
Perto das batidas do seu coração, onde eu deveria estar
Mantenha isso no fundo de sua alma

E se você me machucar
Bem, está tudo bem, querida
Apenas as palavras sangram
Dentro destas páginas você me abraça
E eu nunca te deixarei ir

Quando eu estiver longe
Me lembrarei de como você me beijou
Embaixo do poste de luz da 6ª rua
Ouvindo você sussurrar pelo telefone
Me espere para voltar pra casa

Assim que terminei, Bonnie deu seu último suspiro e seu coração parou de bater.

O tempo parou. Minha cabeça girou incontrolável, enquanto meu corpo convulsionava em soluços descontroláveis.

O peso tornou-se insuportável. O mundo desabou em minhas costas e a única coisa que esperava era se reunir algum dia com ela.

[...]

Sempre foi ela. Sempre foi por ela. Por minha pequena Passarinho Vermelho de grandes e inocentes olhos castanhos.

O que mais desejo é abrir os olhos e encontrá-la sorrindo e olhando-me com seus olhos cheios de amor.

Daria qualquer coisa para tê-la ao meu lado. Daria minha vida pela dela.

E agora tudo o que me resta são lembranças. Belas lembranças que levarei para o resto de minha vida vazia e fria.



E você poderia me colocar
Dentro do colar que você ganhou
Quando tinha 16 anos
Perto das batidas do seu coração, onde eu deveria estar
Mantenha isso no fundo de sua alma

E se você me machucar
Bem, está tudo bem, querida
Apenas as palavras sangram
Dentro destas páginas você me abraça
E eu nunca te deixarei ir

Quando eu estiver longe
Me lembrarei de como você me beijou
Embaixo do poste de luz da 6ª rua
Ouvindo você sussurrar pelo telefone
Me espere para voltar pra casa

"Damon? Damon?" Uma voz irritante me chama ao longe enquanto sinto meu braço doer.

Abro os olhos de uma vez e a luz machuca minhas pupilas. Minha cabeça dói assim como meu corpo.

"Está me ouvindo?" Um corpo pequeno se deita sobre mim e uma confusão de cachos vermelhos invade minha visão. "Nunca mais volte a me assustar dessa forma, Salvatore!"

"Bonnie... você está viva?" Murmuro confuso e seguro o rosto dela. Seu rosto quente está molhado de lágrimas. O coração dela bate forte no peito. "Eu pensei... pensei..."

"Você quase me matou de susto quando enfrentou o lunático do Mikaelson." Ela funga. "Estava há três dias desacordado."

"Bonnie..." Beijo seu nariz arrebitado e cheio de sardas. "Eu te amo. Ficaria louco se algo te acontecesse."

"Você me ama? Tem certeza que não foi a pancada na cabeça?" Os olhos castanhos brilham e seu rosto está tão vermelho quanto os cabelos.

"Só uma pancada forte para me fazer dizer que te amo."

Seguro a nuca dela e a puxo para um beijo saudoso, demonstrando à Bonnie todo o amor que sinto.

Aquele terrível pesadelo tão real, abriu meus olhos para a realidade.

Eu amo meu Pequeno Pássaro Vermelho com todas as forças do meu ser e de agora em diante, demonstrarei isso sempre que possível.

Não sou bom em palavras, mas por Bonnie, aprenderei a ser o melhor dos homens, porque perdê-la está completamente fora de cogitação.

Fim...