Animais escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
animais


Notas iniciais do capítulo

Só digo uma coisa: quero muito saber mais sobre o envolvimento bruxo na primeira guerra mundial.



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Theseus nunca iria se esquecer de como seu irmão chorou quando um hipogrifo de sua mãe morreu depois de um parto complicado. Newt, então com oito anos, havia passado três dias ao lado da fêmea enquanto ela definhava por conta de uma infecção e, quando ela finalmente veio a morrer, o menino chorou sem parar sobre o corpo do animal, até seu pai o tirar dali para que eles pudessem se livrar da carcaça. Como ainda dividiam o quarto, Theseus ouviu os soluços baixinhos do mais novo durante uma semana.

Ele sabia, desde aquela época, que Newt era uma criatura delicada. Não, delicado não era o adjetivo correto... O irmão podia ser magro e desengonçado, acanhado e com muita dificuldade de sequer manter contato visual com alguém, mas ele era resistente. O garoto podia carregar quantos arranhões e cortes e queimaduras possíveis e nunca iria reclamar delas, pois sabia que as havia ganhado fazendo o que amava: cuidado de suas criaturas. Ele era um menino forte, mas com um coração grande demais.

Dessa forma, Scamander nunca entendeu como o irmão conseguira passar pela guerra.

O campo de batalha não era um lugar gentil com aqueles que por lá passavam. Bruxos e trouxas eram mortos em massa a cada dia que passava. As trincheiras estavam cheias de homens desnutridos, sujos, perdendo mãos e pés por conta da situação, delirando de febre, sangrando... Na hora da ação, nenhum homem tinha piedade do inimigo. Tiros voavam direto contra o seu alvo e maldições imperdoáveis passaram a ser armas de guerra usados por todos.

Era um lugar horrível. Ali, no meio daqueles campos, os homens se transformavam em animais.

(Newt diria que ele estava ofendendo os animais ao dizer isso, pois nenhuma criatura, mágica ou não, seria capaz de tamanha crueldade)

E lá estava o seu irmão, perdido no meio de todo aquele caos. Claro, o mais novo fora mandado para uma área mais calma, longe das linhas de frente, mas, mesmo assim, não era um lugar bom.

Quando fora visitar, Theseus se deparou com instalações precárias e dezenas de dragões acorrentados entre árvores, sendo alimentados com restos de carne de cavalos (que estavam sendo mortos aos montes na guerra) e treinados para ataques aéreos. Newt era um dos treinadores, mas ele passava mais tempo tentando tratar as doenças e feridas dos animais do que realmente os treinando para voos arriscados.

“Eles não vão conseguir lutar se estiverem morrendo,” o rapaz lhe disse certa vez, enquanto tentava desbridar uma ferida na pata de um Barriga-de-Ferro Ucraniano.

A única vez que vira Newt fora do centro de treinamento, fora após uma batalha sobre os campos da Polônia. Os treinadores haviam sido convocados até o local para tentarem encontrar dragões que pudessem ser usados em outra ocasião, mas era óbvio que seria difícil.

Os campos, que de certo já haviam sido verdes e belos, agora estavam cobertos por cinzas, quase sumindo no meio da neblina e da fumaça. Enormes carcaças de dragões estavam jogadas por todos os lados, o cheiro de sangue fresco se misturando com o de carne queimada. Por entre as bestas, era possível ver o que restara dos soldados que haviam estado em solo: pedaços retorcidos e chamuscados de pessoas ou uma mistura de carne, vísceras, ossos e sangue. Theseus não sabia quem havia sido o mais azarado ali.

Newt simplesmente não pertencia àquele lugar, mas ele estava ali mesmo assim. Parado entre os dragões, com os ombros caídos e parecendo mais magro do que nunca dentro do uniforme militar sujo e rasgado em diversos lugares. O rosto sardento estava marcado por poeira e sangue de outros, os olhos claros pareciam ter perdido todo fascínio que eles um dia carregaram. Os lábios finos pressionados um contra o outro com força tentavam esconder o tremor que de vez em quando aparecia no queixo do rapaz, um sinal que precedia as lágrimas.

“Você está bem?” Scamander perguntou, apoiando a mão no ombro do irmão e sentindo-o retesar sob o toque.

“Não.” Newt também era sincero, algo que ele sempre admirara.

“Vai ficar tudo bem.”

“Não vai,” o mais novo murmurou e uma lágrima escapou, rolando pelo rosto sujo. “Não vai, não é mesmo, Theseus?”

Scamander, diferente do irmão, se orgulhava de ter um coração mais controlado, de olhar para tudo aquilo e saber que era algo necessário no momento. Mas ali, vendo Newt parecer um menino de oito anos outra vez, apavorado e triste com a morte de um hipogrifo, o homem não pôde deixar de sentir uma pontada de dor em seu peito.

“Vai sim,” ele garantiu, puxando o outro bruxo para um abraço e bagunçando os cabelos dele. Por cima do ombro do irmão, Theseus estreitou os olhos e fez uma cara feia para os oficiais que os observavam pelo canto do olho. “Prometo.”

O som de explosões ao longe e a fumaça pesada que envolvia os campos, no entanto, o faziam duvidar da própria promessa.


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