João Batista conheceu Barrabás, o líder dos selotes, dentro de um bordel. Ele possuía um exército de rebeldes, que assaltavam os romanos em becos, roubando-lhes o dinheiro dos impostos. Com essa riqueza davam de comer aos famintos, e compravam espadas afiadas para lutar. João Batista os acompanhou em vários ataques, ajudando os selotes na fuga em segurança.

Enquanto distribuíam comidas para o povo, pois existia uma legião de famintos, mendigos, leprosos, cegos, gente que sobrevivia da caridade, João Batista contestava as crendices das pessoas, sobre as obrigações que tinham que seguir. Os homens só podiam tomar banho em cerimônias sagradas, como sinal de purificação, pois seguiam os conselhos dos fariseus nas sinagogas. João lhes falava que andar limpos era a primeira coisa a se fazer, pois na imundície estava a origem de todas as doenças, da lepra, das febres, da morte prematura das crianças, e havia que tomar banho todos os dias, independente de festas religiosas.  Ele convidava as pessoas e entrar no rio Jordão, lavar os pés, o rosto, e esfregar e puxar fora a sujeira do corpo. Aos que o seguiam, ele os abraçava feliz. Até ensinava a nadar aos menores.

E o sucesso começou a fazer parte do dia a dia.

Os selotes arranjavam dinheiro roubando dos romanos em tocaias durante a noite e João Batista fazia o banquete dos famintos na beira do rio, depois que todos se lavavam com felicidade. Articulava sobre os preconceitos dos vigários, que segundo João não passava de uma montanha de asneiras. Ele falava com ardor que para ser puro da alma e do corpo havia que seguir o que Moisés falara, não matarás, não roubarás, não desejarás a mulher do próximo, honrarás as esposas, pais e filhos, e tudo isso era suficiente para ser considerada uma pessoa boa. Não havia que rezar, nem ir às sinagogas entregar dinheiro aos clérigos, não havia que sentir vergonha de dormir com a esposa e fazer amor com ela, e que não existia o pecado da carne. Isso era bobagem, ter filhos era uma bênção, e não um pecado.

Salomé com sua mãe, Herodíade, encontraram-no numa dessas reuniões, com mais ou menos umas 200 pessoas. João Batista as viu de longe e esperou-as na beira do caminho. João se ajoelhou em frente delas com respeito, e lhes contou que se encontrava ensinando ao povo algumas regras básicas de bom comportamento. Herodíade pareceu feliz. Salomé ao seu lado até enviou-lhe um beijinho com a mão. Herodíade falou-lhes a ambos que um povo bem comportado não incomodava ninguém. Depois continuaram a caminhada. Mas uma vez no palácio, Salomé foi severamente questionada pelo próprio Herodes Antipas, que a interrogou  furioso:

— Você não sabe que João Batista já foi visto assaltando soldados romanos com os selotes? Sabe o que isso significa? Minha sobrinha junto com um bandido? É de não acreditar... Estamos sendo assaltados, o povo está renegando nossas sagradas escrituras, e Roma e os fariseus me acusam de responsável por tudo isso... Vou ter que prender seu amante...

— Perdão, meu tio... O que devo fazer para agradá-lo?

— Vou pensar em algo... Mas jure para mim que nunca mais vai ver esse bandido...

— Juro, tio...

Antes do anoitecer, João já estava na prisão sendo torturado, chicoteado, e interrogado:

— Temos a informação que existe um homem que vai levantar o povo contra o poder romano. É você?

— SOU! E daí?

— Diz o nome de todos os selotes que estão com você...

E um cuspe nojento caiu na cara dos soldados. Depois, João arrebentou as correntes, deu patadas, socos, e correu fora da prisão, por um buraco feito por Eva desde a rua. Adão fez funcionar o raio branco, sugou-o no ar, e voou com ele para Agarta.

Jesus saiu de sua doce lua de mel, por causa desse incidente.

E junto com Adão, os três fizeram um plano para o futuro. Os romanos nessa altura buscavam João Batista em todos os bordéis da Judeia, e era procurado tanto por fariseus, como por sauduceus e por soldados romanos. João falou:

— Temos que nos dividir, um faz os ataques a mão armada, o outro fala para a multidão contra os fariseus e os donos do poder...

Jesus respondeu-lhe empolgado:

— Isso! Quem faz o quê?

— Bem, eu comecei a bagunça, então fico com Barrabás e os selotes...

— E eu faço o que?

Foi a vez de Adão falar e dar seu palpite:

— Pergunte para José, filho.

— Mas, por quê?

— Os essênios o estão esperando com um plano. Se faça de bobo. Vá para essas reuniões dos essênios, pois eles fazem parte da “Irmandade Branca”. Você vai assistir o que nem eu posso ver... José sabe guardar segredos. Nem com hipnose eu consegui descobrir quem são os chefes da Irmandade.

— Como assim?

— Os sábios da terra estão organizados há muitos anos. Gautama contou para mim. Vai lá, se junte a eles e escute atento o seus conselhos, pois eles vão ser seus “soldados secretos”. Uma comunidade que ninguém sabe que existe, mas que vai comandar o mundo desde a clandestinidade.

— Então não estamos tão mal assim, né, pai?

— Claro que não, filhos...

O acontecimento mais triste foi a separação de Jesus e de Malaqui.

Ela foi congelada, colocada numa cápsula espacial na base lunar e cruzou o espaço como uma bala. Jesus ficou chorando, olhando para ela, ao lado de Eva, que choramingava junto. Depois Adão puxou-lhe a dor da separação, com um dedo na frente, deixou-o impotente, e o abandonou no meio do deserto, sozinho, para se recuperar, meditar, e começar sua peregrinação.

Enquanto Jesus vagava pelo deserto, sozinho,  João e os selotes começavam a primeira revolução de uma colônia romana, para mostrar ao mundo que o império podia ser derrotado a qualquer momento, em qualquer parte, onde quer que houvesse homens valentes dispostos a enfrentar o invasor. Foram inventados assaltos mais sangrentos, onde além de roubos, os romanos morriam pela espada. Protegidos pelo povo, os selotes se escondiam como ratos em casas, bordéis, e até casas de gente fina.

Mas, o império romano era eficiente.

João Batista e Barrabás acabaram na prisão, mais ou menos 20 vezes.

Como Adão os tirava das celas, os romanos não sabiam o que mais fazer para terminar com a vida deles. Uma noite, numa prisão romana, João Batista foi acorrentado dos pés, das mãos, e suspenso no ar. Foi chicoteado, queimado, e em seguida jogado como lixo num cubículo. Na semi-inconsciência, observou a figura de uma mulher entrando na cela. Ele foi acordado com água gelada, e viu Salomé, que chorava ao seu lado, abraçada nele.

— Por que esta fazendo isso comigo? Não sabe que meu tio vai matá-lo?

— Eu sei, mas sua família é minha inimiga. Sinto muito...

— Mas, é só falar o nome do chefe dos rebeldes.  Barrabás já confessou que não é você...

— Não? E quem é?

— Tal de Messias... E você sabe o nome dele.

— Hum... Deve ser meu irmão...

— Não brinque comigo, você não tem irmãos...

— Tenho sim, e eu jamais, ouviu bem, nunca eu diria o nome dele para ninguém...

— Nem para mim? É só falar. Depois nós ficaremos juntos...

 E João teve uma ideia. Descobrir até onde pode ir a falsidade de uma mulher. Ele abraçou-a, beijou-a, fez amor com ela, não uma vez, e sim a noite toda.

Ao raiar do Sol, ela falou pela ultima vez, com palavras doces:

— Qual é o nome dele?

— Ninguém... Fale para seu tio Herodes Antipas que o nome dele é “ninguém”...

Imediatamente, Salomé saiu da cela e falou para um soldado armado, que estava na guarda: - “Pode matá-lo”-.  O guarda entrou com um machado, e sua cabeça ficou na mira do carrasco para ser decepada. João ficou quietinho. Na hora do golpe, deu um giro, pegou a arma do soldado e cortou a cabeça de seu agressor. Trocou as roupas, e fugiu por um buraco. Fora da prisão, Adão e Eva estavam numa carroça cheia de estrume de vaca. João entrou na merda, como uma bala, e eles atravessaram as ruas com destino ao rio.

Consolar João Batista da desilusão amorosa foi impossível.

Nem com hipnoses, ele ia conseguir esquecer a traição de Salomé. Ela não cortara sua cabeça, mas destroçara seu coração sem piedade. Adão o deixou uns tempos em Agarta, se confortando com mulheres distintas, e se dedicou dali para frente a cuidar de Jesus, que voltava do Egito, depois de mais três anos de viagens visitando os sábios da terra.