Brenda escrita por Hashirama


Capítulo 1
(Único)




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Eu tinha uma namorada chamada Brenda. E tinha também um violão com o mesmo formato do corpo dela.


Ela era linda, a garota de 19 anos mais bela daquela festa de 15 anos da minha amiga. Quando a encontrei, debaixo do cordel de luzes incandescentes, a primeira coisa que vi não foi seu decote, nem sua bunda de academia: foram seus cabelos negros feito o abismo emoldurando o rosto pálido. Ela os puxava e desembaraçava por cima do ombro, exaltando as unhas curtas pintadas de preto. O vestido era prateado como a luz da lua e delineava o corpo que desejei à primeira vista. Aliás, sua cor preferida era cinza. Olhos verde acinzentados, vestido acizentado, sapatos acizentados.
Eu a ofereci um copo de vinho, pois deduzi que bebesse graças ao seu olhar perdido e os cigarros que despontavam da pequena bolsa prateada que carregava. Ela me olhou, analisou minha alma e aceitou a taça com um "oi, tudo bem?" e um meio sorriso. Começamos a conversar e dez minutos depois estávamos nos beijando perto do banheiro feminino.
Não foi simples tirá-la de perto de mim. Eu sabia que ela tinha visto minha alma, mas não imaginei que tivesse mergulhado e jogado uma âncora.
Brenda grudou os braços nas minhas costas e afundou o rosto no meu peito. Pensei que o vinho a derrubara, mas quando beijei o topo de sua cabeça, ela me fitou e disse "Não quero ser mais uma".
Franzi a testa ao ouvir aquilo. Como alguém poderia apenas usá-la?
Trocamos números de celular e ao chegar em casa mandei mensagem e fui dormir. A garota só respondeu às duas da tarde pedindo desculpas por ter falado besteira para alguém que não conhecia.
Mandei uma poesia e ela relaxou.
Conversamos muito e marcamos de nos conhecer bem. Ela era ateísta, mas frequentava a Betel apenas para zoar. E era lá que nos encontrávamos toda semana.
Um mês depois, fui até sua casa. Seu quarto era pintado de cinza, sua cama era coberta por tecidos acizentados. O corpo de Brenda se destacava como a única cor digna de atenção naquele cômodo.
E descobri outras cores além da cortina negra dos cabelos e dos olhos verdes. Meus dedos tiraram sua calcinha vermelha e o blusão cinza da Sasha Grey. Ela me despiu só com o olhar, entrei nua em seu quarto.
Seus lábios provaram da minha pele como ninguém nunca provara, sua língua me levou à loucura forçando minhas mãos a apertarem o lençol com toda a força. E mesmo assim, eu a fiz gozar cinco vezes na minha boca.

Depois disso, Brenda tomou um banho e vestiu o mesmo blusão. Sentou na cadeira da escrivaninha e de pernas cruzadas tocou o meu violão que eu lhe dera de presente (afinal, eu odiava violão e não sabia tocá-lo).
Afastei o cabelo molhado de seu belo rosto e comentei o quanto a amava. Ela sorriu para mim e disse que me amava de volta, antes de começar uma canção na qual não interrompi.
Olhei para a escrivaninha e percebi fotos espalhadas. Fotos ótimas, diga-se de passagem. Brenda fazia parte de uma roda de pessoas que frequentavam aulas de fotografia, música e cinema, numa tentativa de encontrar o próprio "eu".
Algumas retratavam Brendas diferentes da que estava tocando violão ao meu lado com o corpo ainda morno pelo sexo. Uma, por exemplo, a mostrava de cabelo loiro curto amarrado num rabo de cavalo enquanto tocava uma canção.
Passamos um ano transando, amando, tocando e conversando, fizemos nosso mundinho particular debaixo de um lençol cinza e algumas estrelas. Aonde íamos, o violão ia junto.
Ela sorria quando eu falava de casamento e filhos. Sorria quando eu planejava nossa casa cheia de detalhes acizentados.
Um dia, ela pegou seu carro cinza, colocou o violão dentro. Me beijou e foi embora...
Se eu soubesse que aquele seria nosso último encontro, nunca teria a soltado do meu abraço.
Naquele dia, um homem a fez sua no meio da estrada e a jogou ensaguentada na água. Mas no final, sorri... Porque agora tudo nela era cinza, até meu coração (que era dela) tornou-se dessa cor. A cor que ela mais amava.
Hoje em dia, tenho apenas fotos dela. Fotos que seus amigos fotógrafos tiraram. E é nelas que me agarro.
Às vezes choro quando acordo porque lembro dela, mas o pior é quando me vem a sua voz cantando a canção que tocou no dia da nossa primeira transa... "You are the only exception".


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