Guerra e Paz escrita por Kimonohi_Tsuki, JulianVK


Capítulo 5
Capítulo IV - Há muito tempo atrás.


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo segue os acontecimentos do prólogo, sendo este o tempo presente da estória.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/730554/chapter/5

—...Está preocupado pelo que a Srta. Hécate disse? – Daidalos questionou assim que a figura da deusa desapareceu do ê sabe que já está fazendo tudo que pode Shun.

A névoa intensificou-se um pouco mais, assumindo uma figura mais humana, esquia e de baixa estatura, olhos esmeralda e longos cabelos de tom verde meia-noite. Caminhou a passo lento, descendo as escadas que levava ao homem que lhe dirigia a palavra. Seu olhar perdido no mármore branco que compunha os degraus, ao chegar à mesma planície que o juiz, ficava evidente a diferença de alturas, fazendo a figura da divindade ainda menor.

— E se não for o suficiente mestre? – Meditava em tom aflito – A terra será mergulhada em guerra, os mares serão devastados e o submundo pode colapsar.

O homem loiro demorou seu olhar na figura espectral que parecia carregar em seus ombros ilusórios todos os males do mundo. Mesmo tornando-se um deus e reerguendo o mundo inferior por meio de sua própria força, a custa de seu corpo físico, o jovem ainda mantinha muito daquele coração puro do cavaleiro que defendeu a constelação de Andrômeda e Virgem. Hora se preocupando sobre a melhor forma de gerir o pós mortem, hora acompanhando a reencarnação de cada um de seus espectros. Mesmo as paredes úmidas e sombrias do mundo dos mortos não havia mudado a capacidade de empatia que o jovem sempre possuiu.

Era exatamente por isso que havia decidido segui-lo quando sentiu sua alma tortuosa reconstruir cada pedra do mundo inferior. Apresentou-se a sua presença, de principio sem entender o que fazia seu antigo pupilo no trono do deus dos mortos, ignorante era de tudo sobre a guerra santa, uma vez que foi morto antes da mesma. Qual não foi então sua surpresa ao descobrir que Hades usou-se do corpo de Shun para reencarnar?

Mas claro que essa surpresa em nada se comparava ao fato de saber que Hades estava morto, derrotado definitivamente por Athena, e por isso sua alma e de tantos outros mortais vagava sem norte num mundo dos mortos devastado e em declínio até sua extinção completa. Isso poderia ter colapsado o mundo dos vivos... Isso se, alguém com a mesma força do deus obscuro não tivesse assumido as rédeas do submundo.

Foi absurdo, pensar que esse alguém era Shun...E ao mesmo tempo fazia um enorme sentido. O jovem era marcado pela constelação do sacrifício depois de tudo. Então após encarar aqueles olhos perdidos, mas decididos ao holocausto por todos que amava, pediu perdão a Athena, mas ajoelhou-se a seu novo senhor, sabendo que este precisaria de todo o apoio que pudesse.

Seu pupilo a principio recusou-se, oferecendo-lhe a oportunidade de reencarnar, até mesmo voltar ao seio do exercito de Athena se esta fosse sua vontade. Mas como poderia abandonar aquele que considerava quase como um filho, frente à tamanha empreitada?

Sem mencionar que, se estivesse ao seu lado e garantisse que aquele coração puro que odiava batalhas se mantivesse ao máximo integro, Athena e a terra poderiam não ter mais que enfrentar nenhuma guerra santa.

Com isso em mente, recusou a oportunidade da reencarnação para ficar junto ao seu aprendiz.

— Você deve manter-se firme Shun, não se esqueça de que em três meros meses os espectros vão começar a recuperar suas memórias, não será fácil para eles assumir um novo senhor, você precisará mostrar-lhes confiança. – Nesse momento lamentava não poder sequer tocar o ombro de seu jovem senhor, num gesto físico de apoio. – Eu confio em você, seu plano vai funcionar.

Um sorriso muito suave pôde ser visto na figura espiritual.

— Obrigado mestre.

— Não por isso Shun.

Não sabia por quanto tempo poderiam se chamar assim. Ser chamado de "mestre" por um deus, ou chamar uma divindade por seu nome humano. Mas enquanto estivessem a sós, aproveitaria essa liberdade.

—.-.-.-

Ikki vagava pelo submundo sem prestar realmente atenção por aonde ia, tantos anos nessas terras tinham esse efeito nele. Começou caminhando por largos corredores de pedra fria, iluminados vagamente por arandelas de chama azulada. Vez ou outra passando por algum Esqueleto, soldado de baixo escalão, que abaixava a cabeça em seu respeito ao vê-lo passar. Esses "Esqueletos" eram na verdade humanos de pecados menores que tinham como preço para chegar aos Campos Elísios, algum tempo determinado de trabalho no mundo inferior. Apesar do nome, eram pessoas com a mesma aparência física que possuíam na terra, usando roupas negras ou armaduras simples, dependendo de sua posição.

Num reino tão gigantesco em que mortos chegavam à todo o momento, era impressionante como a mão de obra nunca parecia ser suficiente. Alguns levavam os novos mortos para aguardar seu julgamento, outros transportavam os registros das vidas findadas ao grande salão de arquivo, local em que ficavam armazenados as aventuras e desventuras de cada mortal ou deus que já pisou na terra. Também havia aqueles que organizavam esses arquivos, para que Shun pudesse decidir junto a Moira Clotos onde cada alma iria reencarnar. Em sua ignorância enquanto cavaleiro de Athena, jamais parou para pensar que o deus do mundo dos mortos também era o senhor das almas, por tanto, se responsabilizava não só sobre o fim, mas também era responsável por encaminhar os espíritos de seu reino em direção a nova vida que viriam a ter.

Como guerreiro, não conseguia imaginar como alguém poderia escolher como castigo organizar papeis numa sala repleta de registros quase infinitos, sinceramente preferia passar a eternidade no Tártaro do que semelhante chatice.

Finalmente chegou até um enorme portal de pedra circular que levava aos Campos Asfódelos. Andava pela floresta sombria e sem animais, que cheirava a enxofre dependendo de onde estava. O local era repleto de árvores com copas sombrias que pareciam arranhar os céus, além de almas que vagavam sem rumo por todos os lados, mas não estava dando atenção a paisagem ou a esses mortos. Seus pés sabiam com perfeição o local que queria chegar, enquanto sua mente divagava sobre a voz que chamou por Shun.

Não gostava quando outros deuses apareciam assim, sempre fazendo pedidos impossíveis, passando más notícias. Governar todo um reino já não era difícil o suficiente para esses idiotas deixarem as coisas ainda mais complicadas?!

Não lembrava quando tinha sido a última vez que viu um sorriso sincero no rosto de seu irmãozinho nessa sua forma espectral. Quando assumia uma figura mais física, tudo que era possível ver em seus olhos era preocupação, ou sua expressão neutra e sem emoções que havia aprendido a utilizar nos julgamentos desde que ascendeu ao trono. Apenas em quatro ocasiões podia vê-lo sorrir ou mesmo rir. Quando um defunto tratava seu julgamento com ares de graça, quando observava a vida que os espectros reencarnados estavam levando na terra, quando sentava consigo para relembrar os poucos bons momentos de suas vidas como humanos e guardiões de Athena, e por último, quando visitava June, a amazona de camaleão, em seus sonhos.

Uma vez que Hypnos, o deus do sono, abandonou a existência após ter o corpo e alma destruídos, o sonho dos homens tornou-se frágil e buliçoso, seus filhos divinos haviam assumido como podiam seu lugar, mas isso tornou o mundo dos sonhos um lugar de muitos senhores, porém, de nenhum rei. Deste modo, um deus de grande porte poderia adentrar por suas barreiras e visitar o sonho dos mortais, além de abrir passagem para outros.E como a morte nada mais era do que um sonho eterno, como deus guardião da morte, Shun facilmente conseguiu adentrar no sonho dos espectros, uma vez que suas almas já o pertenciam de toda a forma, mesmo visualizar os devaneios noturnos dos mortais não era um grande negocio para ele. Agora entrar nos sonhos de seus antigos companheiros cavaleiros de Athena era quase impossível e demandava muita energia.

Contudo, por alguma razão, Shun adentrar nos sonhos de June, a jovem que treinou junto a ele na ilha de Andrômeda, era tão fácil quanto era com os espectros, o que levava o jovem deus a visitar sua...Amiga...Sempre que o peço da divindade o sufocava.

Aos poucos a quantidade de vegetação funesta ia desaparecendo, ao tempo que o murmúrio das águas correndo começava a encher o ar, sufocando o som de passos dos perdidos na floresta. Uma noite absoluta e sem estrelas fazia-se presente, reforçando a indicação de que estava próximo ao Érebo e o rio Aqueronte. Quase não era possível divisar a própria mão em meio a esta escuridão eterna que levava a saída do submundo, e se o medo do escuro não impedisse as almas dos campos Asfódelos de fugir, algo mais o faria.

E este algo não tardou a se fazer presente, fazendo todo o chão tremer, com o caminhar de um monstro e um grunhir que congelava a espinha dos desavisados, pois, ao lado do grande pilar onde o submundo começava, um abissal cão negro de três cabeças fazia sua impecável guarda.

— Ei seu cão sarnento, por que tanto barulho? – Questionou sem medo algum se aproximando da terrível criatura que começou a balançar o rabo ao perceber sua presença.

— Um dos recém-julgados tentou escapar a nado pelo rio, Sália ficou um pouco agitada tentando pegá-lo. – Uma belíssima mulher de longos cabelos loiros e sorriso, ironicamente, tão brilhante quanto o sol, dirigiu-lhe a palavra, sentada ao lado do cão, fechando o livro que parecia ler – Faz tempo que não o vejo Ikki, está procurando por meu marido? Ele está fazendo a travessia de algumas almas agora.

— Obrigada Eurídice – Sorriu sutilmente para a bela jovem – Sabe se ele vai demorar? Gostaria de chegar ao mundo dos vivos antes do anoitecer.

— Eu já consigo escutar a lira do meu querido Orphée, não deve demorar muito.

Com um aceno de cabeça, se dispôs a acariciar o enorme cão que ainda demandava sua atenção. A história de Orphée e Eurídice era, de fato, muito triste. Não podia deixar de simpatizar com o ex cavaleiro de prata, recordando-se de como se sentiu após a morte de sua querida Esmeralda. Após perder sua esposa para a picada de uma serpente, o lendário cavaleiro de Lira, conhecido por ser tão forte quanto um cavaleiro de ouro, simplesmente desceu ao inferno a procura de sua amada. Conseguiu com sua melodia tanto passar por Caronte quanto por Cérebros, e até mesmo tocou Hades com sua paixão. Sendo assim, o imperador do mundo dos mortos permitiu que Orphée voltasse com sua mulher ao mundo dos vivos, isso se, não olhasse para trás sequer uma vez enquanto atravessavam o submundo. Porém, numa trama armada para que o músico permanecesse no mundo inferior, para seguir eternamente entoando sua melodia para o deus do submundo, Pandora – a general do exercito de Hades- ordenou que Faraó – Um dos espectros- criasse uma luz tão intensa que fizesse o ex cavaleiro acreditar que era o próprio sol, fazendo-o olhar para trás, castigando assim Eurídice a se tornar pedra e permanecer no mundo inferior.

Shun lhe contou que durante a última guerra santa, Orphée descobriu a armadilha em que foi vitima e se juntou a ele e a Seiya na tentativa de matar Hades, conseguiu infiltrar os dois em meio a um baú de flores numa de suas apresentações ao senhor dos mortos, aproveitando-se para adormecer os três juízes do inferno, Pandora e o próprio Hades com sua melodia, permitindo assim que os cavaleiros tivessem sucesso em sua empreitada para derrotar o imperador. Contudo...O músico não esperava ver que Hades possuía a mesma aparência que Shun, o que o impediu de mata-lo, restando-lhe apenas a opção de se sacrificar pera tentar derrotar o juiz Radamanthys. Porém seu sacrifício foi em vão, uma vez que o espectro sobreviveu ao ataque.

Seu irmãozinho, com pesar tanto pelas ações de Pandora e Faraó, como pelo sacrifício infrutífero do ex cavaleiro de prata, assim que tornou-se o novo deus do submundo, chamou a alma dos dois amantes a sua presença.

Orphée surpreendeu-se de sobremaneira ao conhecer toda a linha de acontecimentos, mas perdoou o novo soberano da morte, uma vez que este o concedeu o direito de estar novamente ao lado de sua amada, e desta vez sem condições ou armadilhas. A Eurídice seria concedido os campos Elísios, mas Orphée ainda haveria de permanecer no submundo por algum tempo, para purificar sua alma que havia sido maculada pela nova perda de sua amada e pelo ódio e desprezo que sentia por Faraó e Pandora. Tais males não o permitiriam adentrar nos campos sagrados. A amante estava em completa negação sobre abandonar seu amor, de modo que Shun ofereceu outra opção. Os dois permaneceriam juntos no submundo, cuidando de Cérbero e da travessia do rio Aqueronte, enquanto Caronte e Faraó não retornavam de sua nova reencarnação. E quando isso acontecesse, os amantes seriam livres para viver juntos por todas as suas reencarnações.

Após ser garantido que não teria que lutar uma guerra contra Athena e que sua função seria apenas auxiliar na reconstrução do mundo dos mortos para depois poder gozar de seu amor eterno, o músico e sua amada curvaram-se frente ao seu novo senhor, tornando-se espectros.

O som da lira finalmente pode ser escutado por Ikki, e a figura do homem de cabelos azuis até os ombros e doces olhos da mesma cor foi se tornando mais nítida, junto a seu barco, onde um casal de senhores entoavam uma doce canção juntos, ao contrário de Caronte, Orphée tinha o costume de pedir uma música em troca da travessia do rio, Shun nunca se opôs a essa ideia.

Era perceptível que a alma do antigo cavaleiro de prata já havia tornado a brilhar com sua pureza de antes, após vinte anos convivendo inteiramente com sua amada. Mesmo assim ele mantinha sua palavra de guardar a entrada do submundo para o senhor que lhe devolveu o que teve de mais importante em sua vida.

Tinha que admitir que sentiria falta deste casal que acalmava o pesar dos mortos, e guiava com seu amor e melodia as almas puras que mereciam descanso.

A ascensão de Shun ao trono, a reconstrução de todo o submundo, seguindo a antiga imagem grega, o apoio de Daidalos, Orphée e Eurídice. Tudo isso havia acontecido há muito tempo atrás. Às vezes custava a Ikki acreditar como os eventos tomaram esse rumo, ainda lembrava-se com perfeição a noite que voltou ao santuário a procura de seu irmão e começou a ajudar na reconstrução das doze casas, enquanto memórias de sua reencarnação passada insistiam em confundir sua mente.

As memórias de quando uma vez foi Kagaho, o espectro de Benu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O submundo grego original era apenas um lugar sombrio, frio e desolado, diferente da visão visita em Saint Seiya, que se assemelha muito mais ao descrito no livro "A Divina Comédia".

Nos próximo episódio voltaremos ao passado!
O próximo capítulo se chama "A reconstrução do santuário". Por favor, aguardem e não se esqueçam de deixar suas opiniões!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Guerra e Paz" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.