Guerra e Paz escrita por Kimonohi_Tsuki, JulianVK


Capítulo 3
Capítulo II - Tear do Destino.




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Capítulo II - Tear do Destino.

"...Shun..."

Andrômeda franziu a expressão. A última coisa que lembrava era de ser levado por Hécate, junto com Athena, até as Moiras... E então tudo ficou branco.

"...Tu estás dormindo, Shun..."

Era a voz novamente, dessa vez mais firme, embora ainda difícil de definir.

"...Abra teus olhos..."

Obedeceu. Estava em um lugar completamente vazio, mas podia sentir a grama sob seus pés. O campo verdejante sem flores se estendia muito além da visão e o céu era de um azul infinito, perfeito e sem nuvens. A brisa suave tocava a sua pele ao tempo que seus ouvidos zumbiam de tanto silencio.

—... Onde...Onde eu estou?

"... Eu não sei, este sonho é teu..."

— Quem é você? – Assumiu uma postura defensiva, para só então notar que não vestia mais sua armadura. Em seu lugar havia apenas uma toga branca grega.

"...Quem...?" - A figura começou a materializar-se diante dele, colocando-o num estado de choque. - " ...Podemos dizer que eu sou seu eu interior..."

À sua frente, um reflexo quase perfeito de si mesmo se fez presente. Os únicos detalhes que o diferenciavam de sua contraparte eram uma toga negra que ela vestia e seus olhos de um ônix sem vida.

— N-não é possível! – Exclamou Shun em choque, vacilando alguns passos, observando cada detalhe, cada mancha no rosto aposto e reconhecendo-o como seu.

"... Não precisas desesperar-te, pensa em mim apenas como o profundo de tua psiquê... — O reflexo caminhou lentamente pela grama, como se apreciando o toque das folhas sob seus pés. - ...Este lugar...É realmente belo, personifica o que há de mais puro na alma..."

—...Foi você que me disse para procurar as Moiras...Como pôde falar dentro de minha cabeça? Quem é de verdade?! – Questionava aflito, incapaz de desviar o olhar.

"...Crês mesmo que o deus que representa o próprio tempo em si receberia o pedido tão egoísta de Athena sem tentar jogar com sua fortuna?... " - Mesmo seu tom de voz era uma cópia exata de Andrômeda, embora o sarcasmo com que falava soasse fora de lugar saindo de sua boca. "...Voltar no tempo para destruir uma espada? Tens em mente todos os distúrbios que este caminho causaria? E Athena sequer ponderou salvar seus outros cavaleiros! Tudo que passa por sua mente pérfida é ajudar apenas Pégaso, seu grande salvador, mesmo que todos os outros igualmente estivessem dispostos a morrer por ela como ele fez..."

— I-isso não é verdade! Se pudesse, Athena salvaria todos nós! Ela sabe perfeitamente o que está fazendo!

" ...Tu queres acreditar nisso, mas não tens certeza... — Acusou a Psiquê – ...Eu sou o profundo do teu ser, não podes mentir para mim...Tua alma pergunta se Athena não se deixou levar pela paixão, por seu lado humano, para agir como está agindo agora. Contudo, teu carinho por teu meio irmão Seiya, teu coração bondoso que sempre quer salvar a todos, faz-te incapaz de negar o pedido de tua Deusa, mesmo que tu morras no caminho, és capaz de fazer de tudo ao teu alcance pela vida de Pégaso..."

— E qual o problema disso?! - Defendeu-se com convicção - Somos irmãos de armas, é lógico que eu farei de tudo para salvar sua vida, ele faria e fez o mesmo por todos nós!

Seu outro eu não respondeu a isso, limitando-se a observá-lo de forma analítica. Para Shun, era como estar encarando um espelho.

"...Teu laço com Pégaso segue mesmo inquebrável...— Suspirou - ... Mas destruir a espada não é a resposta, peça para as Moiras mostrarem-te o que os aguardava se fossem  com Chronos... Confie em teu próprio poder, Shun, essa é a resposta..."

— ...Shun...!

— E-essa voz...Senhorita Saori?! - Começou a buscá-la por todos os lados, confuso.

— ...Shuun!

"...Lembre-se Shun! O destino tem a mesma lei para todos, tira a sorte entre o humilde e o grande, a sua urna é vasta e contém todos os nomes..."

— Shun! Acorde!

Sua contraparte sorriu, um sorriso cansado e triste, antes de começar a sumir junto com a paisagem que o cercava.

—.-.-.-.-

— Shun, você está bem...?

Abriu os olhos devagar, uma sensação estranha enchendo seu peito. Um enorme cosmo o envolvia de dentro para fora, mas não parecia lhe pertencer.

Por um instante pensou que se tratava da energia de Athena, contudo, não era a mesma sensação cálida e amorosa que o acolhia quando a presença de sua Deusa o tocava. Não... Tal cosmo era como um balde de água gelada sobre sua cabeça, mas não o fazia sentir desagradado ou estranho. Era como ser banhado numa tarde quente de verão, um alívio que se espalhava por todo o corpo, dos cabelos até os dedos dos pés. Ele se sentia melhor do que havia se sentindo em muitos meses.

Então conseguiu divisar à sua frente a expressão preocupada de Saori, inclinada contra seu corpo. Um pouco mais atrás estava Hécate, que o observava realmente fascinada.

— Eu não imaginava que um simples humano conseguiria ficar consciente nesse lugar. - Encarou Andrômeda quase que com desconfiança. - ...Embora...Creio que um cavaleiro de Athena jamais deva ser subestimado.

— Definitivamente. - Colocou Saori, com um sorriso caloroso e orgulhoso dirigido ao jovem, enquanto este se levantava sem dificuldade do chão entre as duas deusas.

— Hãa...Eu...- Não pôde deixar de ruborizar-se com o elogio velado e quase podia jurar que a voz de sua suposta Psiquê soltou um bufo sobre o comentário. – Perdoem-me pelo trabalho, sei que estamos sem tempo.

Athena ofereceu seu ombro para que o guerreiro se apoiasse, mas este educadamente recusou. Depois daquele sonho estranho, sentia-se completamente cheio de energia.

— Muito bem, então me sigam.- Declarou a bruxa.

Somente naquele momento Shun pôde realmente ver onde estavam. Era o que parecia uma ponte, suspensa no meio das nuvens. Olhando-a com atenção era possível notar que se tratava na verdade de um enorme ponteiro, preso por gigantescas engrenagens de relógio.

Engrenagens sobre engrenagens que giraram e giravam entre si, emitindo um som suave como o da mudança das horas. Numa nova análise, o que pareciam ser nuvens eram na verdade um mar de areia, que corria infinitamente até onde a vista já não alcançava.

— I-isso é...Incrível...- Maravilhou-se o cavaleiro - Senhorita Hécate, que lugar é esse?

— Um lugar entre um segundo e outro. - Respondeu enquanto seguia caminhando - Talvez você seja o primeiro humano a pisar aqui desde os tempos mitológicos... Quem sabe. 

Eles seguiram caminhando pelo que pareceu horas e ao mesmo tempo, percorreram uma distância que levariam dias, mas tudo durou apenas alguns segundos ou minutos. Era impossível saber.

Finalmente, chegaram a duas portas de bronze gigantescas, que sumiam de vista. Em relevo duas enormes ampulhetas, cuja areia, mesmo sendo de bronze, caia lentamente do topo para baixo. Hécate se adiantou e, ao tocá-la com seu cajado, as portas se abriram.

Uma luz feérica tomou o recinto, envolvendo todos os presentes, cegando-os.

— Sejam bem vindos.

— Estávamos esperando vocês...

— Athena, Hécate, Meu Senhor...

Num enorme salão dourado, havia três senhoras de roupas negras como a deusa da bruxaria. A aparência delas era lúgubre, peles pálida e cobertas de rugas, olhos negros como uma noite sem luar, dentes pontudos, sombrios e desiguais, unhas compridas que ultrapassavam em muito suas mãos, formando curvas sinistras e afiadas como garras. Cada uma possuía uma altura diferente. A primeira era baixa, de corpo curvo e expressão curiosa, a segunda era mais alta, ereta e com um olhar mais severo, a última, porém, era a mais altiva das três, carregava um semblante misericordioso numa postura firme.

Athena não pôde esconder seu assombro frente a tais figuras. Hécate manteve-se firme, antes de usar-se dos poderes dos cabelos de Saori, sua imagem não era muito mais consoladora. Shun por sua vez não se incomodou minimamente com a aparência das senhoras, algo em seu cosmo intenso lhe transmitia muita confiança, ultrapassando qualquer desgosto que suas feições poderiam trazer.

— Minha cara Hécate. – A mais baixa das Moiras se aproximou – Os cabelos de Athena ocultaram sua verdadeira beleza, todavia sei que estás feliz assim.

— É afável reviver a juventude de uma criança minha cara Cloto. – Aproximou-se, tomando as mãos estranhamento novas da mais baixa das irmãs. – Nós duas, da mesma forma que Ilitia e Arthêmis estamos acostumadas a acompanhar o nascer da vida. Tomar um pouco do seu poder não fará mal algum.

— Poder envelhecer é uma benção, sabes bem disso Hécate. – Colocou num tom mais inflexível a irmã do meio, embora soasse mais como uma observação do que uma critica. Ela o declarou olhando para Shun ao invés da deusa da bruxaria.

Mas antes que o cavaleiro pudesse questionar tal ato, a mais alta das irmãs caminhou lentamente até parar diante dele. Athena ficou em guarda, o que soava extremamente ridículo na mente de Shun. Átropos poderia matá-la com um único movimento, sem qualquer luta ser necessária... Ela era, afinal, a deusa que cortava o fio da vida. Não sabia como possuía esse conhecimento só de observá-la, mas tinha certeza que era ela.

— ...Meu Senhor...- Sussurrou num tom suave e leve. Nem o cantar de um anjo seria tão encantador. – Com o fim de Thanatos, apenas eu, Moros e as Kéres levamos a vida ao final...As almas não têm mais descanso ou lugar para acolhê-las... Tudo por causa da destruição de Hades...

— Hades ameaçou a humanidade. –Interveio Athena, colocando sua mão sobre o ombro de seu cavaleiro. - Eu e meus cavaleiros como defensores da Terra não poderíamos permitir.

— Nós sabemos – Disseram as três em uníssono, fazendo suas vozes ressoar.   

— Teu destino e o de Hades  - Começou Cloto suave, em seu tom de voz quase infantil .

— Já estavam escritos desde os tempos mitológicos – Seguiu Láquesis, a irmã do meio, com seu severo tom adulto – Mas agora o ciclo de guerras

— Finalmente chegou a seu fim – Concluiu Átropos.

— Isso é...Mesmo verdade?! – Questionou a deusa da sabedoria sem conseguir ocultar sua angústia. - ...E-essas guerras santas...F-finalmente... -Lágrimas começaram a se formar por seus olhos, brilhantes como cristal.

— Isso é maravilhoso senhorita Saori! – Exclamou Shun, emocionado também, apertando as mãos em seu ombro. Porém, um peso em seu coração não o permitia chorar junto a ela... Como um mau pressentimento. As palavras anteriores da Moira pairando sobre sua cabeça.

— Mas tens de entender, Athena, que o equilíbrio foi desfeito. –Recomeçou a menor, em tom de aviso.

— E um grande sacrifício em breve será realizado para que o mundo se estabilize. – Completou a ríspida Láquesis – Um sacrifício definitivo.

— Estejam avisados. – Fechou a maior, afastando-se até voltar à suas irmãs, não antes de lançar um olhar de soslaio a Hécate, que pareceu ser iluminada por um brilho de compreensão.

—...Que tipo de sacrifício...? – Perguntou Saori preocupada.

— Isto não te incube, Athena. Apenas saiba que teu papel já foi cumprido. Isso é tudo que podemos dizer – Átropos fechou os olhos - ...Agora...Vens até nós para rogar pela vida de teu salvador Pégaso. – Não era uma pergunta.

— Isso mesmo! Ele tem apenas tr-

— Nós sabemos. – Cantaram juntas outra vez.

—Afinal, somos nós que tecemos as linhas do destino – Interveio Cloto mostrando suas mãos, jovens como de uma criança.

— Não há destino, humano ou de um Deus. – Acompanhou Láquesis com firmeza.

— Que não passou por nossas mãos. – Fechou Átropos com delicadeza. - E o de Pégaso não é uma exceção. – E entre as mãos da Moira do fim, apareceu uma pequena roca de fiar, que começou a crescer e ocupar um espaço entre as três irmãs. Era uma enorme roca de ouro e o fio que se enrolava nela era prateado. – Em três dias a espada entrará em seu coração e ele morrerá. Não podemos impedir o poder do deus do Submundo sobre uma alma, o pós-morte não nos incube.

—...Então...- Raciocinou Athena - ...Temos mesmo que ir até Chronos...

— O que teria acontecido... Ó, Deusas do Destino, se tivéssemos ido até Chronos em primeiro lugar? – Interveio Shun, lembrando da conversa que teve em seu sonho.

As três Deusas sorriram.

— Isso podemos mostrar ... – Disseram juntas.

As três fecharam os olhos e deram as mão. Imediatamente, vários fragmentos de luz começaram a surgir entre elas, até crescerem e tomarem formas semelhantes à de espelhos d’água com imagens difusas.

Era difícil de distingui-las... Elas se abriam, mostravam algumas figuras, e logo se tornavam a fechar. Contudo, Shun pode ver a si mesmo caindo no coliseu e sendo confrontado por um homem muito parecido com Seiya. Por sua vez, Saori viu a si mesma na forma de um pequeno bebê, reconhecendo ali a mesma figura das antigas fotos do senhor Kido.

—...O Coliseu? – Perguntou Shun, confuso.

— Esse bebê...- Interveio Saori, atônita. – Sou...Sou eu...!

— O quê?! Mas como isso é possível, senhorita Saori?! – Olhou aflito da deusa para as visões.

As imagens seguiam.  Um homem de cabelos ruivos, que lembrava a presença de Shaka, carregava a pequena deusa em seus braços. Ele estava ferido e arfava muito.

— ...Ele...Parece estar...- Mas Athena não era capaz de continuar, lágrimas ameaçavam formar-se em seus olhos. O cavaleiro estava claramente nesse estado para protegê-la...Exatamente como Aioros em seu tempo.

Outra aparição, um homem muito familiar de cabelos verdes trajando a armadura de Áries. Ele parecia determinado a impedir duas pessoas de passarem por sua casa.

—...E esse...- Perguntou-se Saori.

Os cabelos curtos enganavam a princípio, mas suas sobrancelhas em formato de ponto não deixavam dúvidas.

— Mestre Shion....- Sussurrou Andrômeda, extasiado.

— O antigo mestre do santuário?!

Contudo, Shun não respondeu.  Atônito com a figura que entrava em posição de batalha, disposto a enfrentar o velho cavaleiro de Áries. Era ele mesmo ao lado de...

— SEIYA! – Gritou Athena, vendo a figura que acompanhava Andrômeda.

“...Não...O nome desse cavaleiro...É Tenma...O Pégaso do passado...” – A voz respondeu com melancolia.

— Tenma? – Por descuido, Shun respondeu em voz alta.

— O que você disse Shun? Não é o Seiya?! Mas como você... – A deusa estava cada vez mais aflita com tudo que acontecia, um enorme sentimento de frustração passando por seu peito. Eles eram seus cavaleiros! Ela, acima de qualquer um, deveria ser capaz de reconhecê-los!

Mas não havia tempo para reclamações... As visões continuaram sem piedade. Espectros de Hades chegavam ao Santuário. Lutas se desenrolavam... Um desses espectros, em algum momento ajudou Shun e o nomeado Tenma, embora em seus olhos fosse notável que alguém o obrigava a fazer isso... As casas passavam...  Em virgem, Andrômeda de joelhos rezando, com surpresa pode ver projetando-se de sua armadura a figura de Shaka, e então a compreensão estampada no rosto do homem ruivo, o cavaleiro de virgem de sua época, e sua resistência em lutar findou.

O cavaleiro não se deu o trabalho de explicar quem era quando Dohko apareceu com o espectro de antes em seus braços. A visão era absurda demais para lembrá-lo disso, pois o implacável mestre de Shiryu chorava sob o corpo do servo de Hades.

Um cavaleiro de Athena lamentava a morte de um espectro... Eles já se conheciam antes?! Seria o mesmo que Hyoga e Isaak? Velhos amigos que resolveram seguir deuses diferentes?! E tiveram que guerrear por causa disso?! O quão cruéis eram tais visões!

As imagens começaram a ficar mais e mais difusas, pessoas gritando, chorando, correndo... Morrendo...Tudo girando num ciclo infinito impossível de definir.

Quando tudo acabou e as luzes se juntaram até explodir em milhões de pedaços como fogos de artificio, Saori caiu de joelhos ao chão, suas mãos contendo um soluço. Seu leal guerreiro ajoelhava-se consolador ao seu lado, embora sua mente estava bem longe dali, perdido na lembrava dos supostos amigos.

—...Chronos nos trairia...- A deusa exclamou com pesar e horror, com seu corpo trêmulo e lágrimas cristalinas a descer por suas bochechas - Transformar-me-ia num bebê e deixaria você à própria sorte, Shun...Oooh por Zeus! O que estivemos a ponto de fazer!!

Shun não respondeu, afagando os cabelos agora curtos de sua deusa, agradecendo internamente sua suposta Psiquê por esse aviso, enquanto se perguntava quem ele era de verdade...
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Notas finais do capítulo

As imagens mostradas pelas Moiras fazem referencias aos acontecimentos do mangá Next Dimension, que nessa estória seria apenas uma "linha do tempo" onde Athena e Shun tivessem realmente ido até Chronos e viajado ao passado.



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