suas mãos estão manchadas de sangue. sangue vermelho.

mas não foi sua culpa, foi? tudo o que você queria era proteger uma pessoa. eles não podem te culpar por isso, podem? não foi intencional, então não foi um crime, certo?

certo?

mas o fogo queima ao seu redor, ele queima vermelho e devora as paredes que te cercam. o rastro de corpos mortos te cerca, afogados em seu sangue vermelho.

— não é minha culpa, — você sussurra para si mesmo.

então por que parece que é?

por que seu corpo brilha vermelho?

você caminha num cemitério agora, um ser vivo entre os mortos. e tudo é um reflexo de você, uma prova de que você traz apenas desespero aonde quer que vá.

por que tudo brilha vermelho? criança do infortúnio

— você nos matou, — eles te dizem.

— não foi minha culpa, — você tenta argumentar. você não acredita em si mesmo.

tudo é vermelho (tudo é da cor do seu maldito olho direito).

é tudo uma ilusão, você sabe. isso não está acontecendo, ao menos não agora.

isso é apenas uma memória, uma lembrança fria e morta do passado.

uma memória que você tentou enterrar consigo no seu túmulo.

— não foi minha culpa, — você continua a dizer. você é apenas uma criança de novo e a memória está viva e ela te machuca. tudo te machuca, incluindo o toque acolhedor do seu irmão.

(você pode manchá-lo de vermelho também.)

você está pronto para morrer, não está? você está cansado e enojado do rastro de corpos vermelhos que você tem deixado atrás de você, então você só está esperando que alguém puxe o gatilho.

(você está pronto para isso. você esteve pronto todo esse tempo.)

— eu estou pronto para morrer, — você tenta gritar para as sombras que continuam imóveis ao seu redor. elas não podem te tocar, elas não vão te tocar. elas não vão te enviar para o seu túmulo e silenciar os seus pesadelos, elas não vão permitir que você apague o seu passado (todo ele) e dê paz para todos (para você mesmo).

mas a verdade é que você não quer realmente morrer.

você só nunca quis viver, certo?

nesse caso, é muito fácil abrir mão da sua vida, não é?

— então a dê para mim!

vermelho se encontra com verde e você repentinamente está acuado. por uma mulher, de todas as pessoas.

(o que ela está fazendo aqui?)

ela é barulhenta, e ela está sempre conversando, sempre chorando, sempre rindo, sempre irritante. ela está sempre sorrindo para você como se você fosse a melhor coisa que já aconteceu com ela, tão inocente que faz você querer rolar os olhos.

mas então ela olha para você (aqueles olhos puros) e fala com você (aquelas belas palavras) e você tenta fugir, tenta mantê-la à distância. ela não pode chegar nem um pouco mais perto, senão ela vai lhe tirar o equilíbrio, ela vai fazer você perder sua linha de pensamento e você não vai ser capaz de terminar seu trabalho. você grita, você rasteja, você tenta ameaçá-la, mas ela não para de se mover, ela não se intimida, e logo ela tem seus braços em volta de você.

os braços quentes dela estão em volta de você, e você não pode mais continuar fugindo. porque aquelas palavras agora parece ser sua única salvação, e você se agarra firmemente a elas. você permite que o calor dela te cerque e te liberte, e mesmo embora vocês estejam cercados pela destruição que você trouxe sobre você mesmo ela não te solta.

você sabe que ela nunca vai te soltar.

então você se permite ser absolvido dos seus erros, você se permite se render ao calor dela, chorar nos ombros dela como a criança que você um dia foi antes de tudo ser tirado de você. você se permite amolecer nos braços dela e ser liberto da dor da sua culpa.

o vermelho ainda te cerca, e o seu passado ainda existe. seu olho maldito não muda de cor e os corpos mortos não deixaram sua memória.

mas agora você não precisa se preocupar.

você pode deixar sua miséria e suas dúvidas de lado e descansar o seu coração.

abra mão do seu fardo.

você foi perdoado.