A Perfeita Imperfeição de Existir escrita por AllyOliveira


Capítulo 1
Primeiro Ato




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— Por favor, dá para você parar de se contorcer?

— Isso faz cócegas, caramba!

— Não me importa se isso faz cócegas! Apenas fique quieto, pelo amor de Deus!

Sakura Haruno já estava saturada das travessuras de Kankuro. Honestamente, ela não conseguia entender o porquê das pessoas preferirem sofrer ao invés de serem tratadas!

— Bom, você é uma médica. Suponho que deva se importar com os incômodos que eu sinto — Kankuro se queixou.

Sakura revirou os olhos e deixou uma onda fria de chakra correr pela espinha de Kankuro, que se retorceu e caiu da mesa de exame dando um grito. Ao vê-lo caído no chão, vestindo apenas uma bata de hospital, fina como papel, Sakura não conseguiu evitar a ação de se jogar e começar a gargalhar. Kankuro, carrancudo, se esforçou para tirar seu traseiro descoberto do alcance dos olhos da garota. 

— Isso não é engraçado, Sakura!

A rosada segurava seu estômago de tanto rir.

— Vou pedir permissão a Gaara para matar você!

— Qual o problema, Kankuro? Não me diga que você tem vergonha do seu corpo...

Kankuro corou, evitando o olhar da garota. Sakura parou de caçoar dele, pôs-se de pé e lhe estendeu uma mão. O moreno lhe olhou de canto, vendo um simpático sorriso estampado em seu rosto.

— Vamos, se vista. Parece que você já está bem melhor, então está liberado — Sakura disse, calmamente.

Kankuro piscou um pouco, surpreso pela ação da garota, mas logo aceitou a mão oferecida por ela. Sakura ergueu facilmente o ninja de Suna. Não importava o tempo que passasse ao lado dela, Kankuro simplesmente não aceitava ser fisicamente mais fraco que aquela pequena mulher.

— Não pense que vou esquecer disso — ele advertiu.

Sakura lançou um olhar inocente para ele.

— Ah! Não fica bravo, não. E se eu lhe der um pirulito, vai se sentir melhor?

Kankuro franziu o cenho, mas não conteve um sorriso de canto pela piadinha inocente. Ao notar isso, Sakura sorriu de volta.

— Anda, vá se vestir. Estou segura de que Gaara quer saber as novidades sobre o progresso da sua saúde.

O ninja marionetista assentiu e observou Sakura deixar a pequena sala de exames. Ele se virou e apanhou seu folgado uniforme Jounin; num instante já estava vestido e seguindo sua amiga.

— Quer que eu acompanhe você? — Sakura disse logo que viu Kankuro sair e caminhar até ela.

— Por que não? Me poupará o trabalho de ter que procurar por você quando eu conseguir a permissão de Gaara para matá-la.

Sakura revirou os olhos e deu uma cutucada de leve no braço de Kankuro.

— Que tal uma queda de braço, em vez disso?

— Isso é injusto. Você sabe que sempre leva vantagem quando se trata de força bruta.

— Pobrezinho. Deve ser difícil para você ter que se conformar em ser mais fraco que eu, uma delgada e frágil garota — ela falou, antes de piscar para Kankuro

— Sabe de uma coisa, talvez eu goste menos de você do que de hospitais…

Sakura fingiu tristeza. 

— Você não quis falar isso.

Kankuro suspirou exasperado.

— Sim, eu sei — disse, golpeando levemente a parte superior do braço da kunoichi.

Sakura sorriu pelo comportamento dele. Tinham ficado muito mais próximos desde que ela chegara em Suna para uma missão a longo prazo. Fazia só três meses desde que ela tinha recebido ordens de Tsunade para ir à Aldeia da Areia e ajudar a formar novos ninjas médicos, em honra da aliança entre Suna e Konoha. Num primeiro momento, Sakura teve muitas dificuldades em se adaptar à vida no deserto. Kankuro foi escolhido para ajudá-la no intento. Os dois acabaram ficando amigos rapidamente, algo pelo qual Sakura era infinitamente agradecida ao Kazekage, Gaara, já que ele escolheu seu irmão mais velho para ser o guia dela.

Kankuro, por desgraça, tinha sido gravemente ferido em uma missão. Sakura e a equipe de médicos orientada por ela foram capazes de lidar com o problema, mas o jutsu usado em Kankuro persistiu por algum tempo, afetando o lado esquerdo do seu sistema nervoso, fazendo com que ele tivesse constantes espasmos de dor. Contudo os ataques ficaram cada vez menos frequentes, uma vez que Sakura foi capaz de inventar um agente anestésico para acalmar os nervos de seu amigo. Mas Gaara não queria correr qualquer risco relativo à saúde do seu amado irmão mais velho.

Sakura ficou muito orgulhosa de si mesma pelo resultado do seu trabalho em Kankuro, praticamente curado de sua enfermidade. Ela ansiava dar essa informação ao jovem Kazekage. Gaara tinha o hábito de se preocupar demasiado com seus irmãos, tanto que Sakura por vezes sentiu vontade de gritar para ele se acalmar durante a recuperação lenta de Kankuro. Seria um grande alívio para Gaara ter seu irmão sob seu radar de novo.

— Ei, ao menos agora Gaara não vai ficar fungando no seu cangote por causa de mim. O garoto em nenhum momento falou comigo, mas molestava você constantemente. Suponho que eu deva me considerar sortudo — disse Kankuro.

Sakura bufou e cruzou os braços.

— Claro, nem diga.

— Mas eu não culpo Gaara. Creio que ele tenha uma queda por você. — Kankuro moveu as sobrancelhas sugestivamente.

A cara de Sakura começou a ficar quente e sabia que deveria estar com um precioso e reluzente rubor em seu rosto. Ela olhou para Kankuro de canto de olho. 

— Certamente espero que não.

— Já até consigo imaginar. Sakura Haruno, esposa do nosso estimado Quinto Kazekage e Primeira Dama de Suna.

— Para com isso!

— Ah, ele não é tão ruim assim. Quero dizer, a menos que você não goste de ruivos.

— Não tenho nada contra ruivos!

— Bom, se for assim, você gostaria de sair com meu irmão qualquer dia?

— Não foi isso que eu quis dizer!

— Tanto faz. Gaara já percorreu um longo caminho, mas não acho que ele já tenha descoberto as mulheres. Então suponho que você  não corre risco. Por ora.

— Oh meu Deus, sério, podemos parar de falar disso?!

— Oh meu Deus, sério, Sakura… — Kankuro imitou o tom dela — Você é bonita. Por que não sai com alguém? Você sabe que há um monte de caras por aqui que adorariam uma oportunidade com a famosa aprendiz  da Hokage.

— Ah, é? E você? Você é só o segundo solteiro mais cobiçado em um raio de quilômetros. Por que não sai e vive um pouco?

— Quem disse que eu não "vivo um pouco", como você disse?

— Eca! — Ela sacudiu a cabeça com fingida repulsão. — Eu não precisava saber disso.

— Ei! Não é nesse sentido que eu me refiro!

Sakura riu. E assim os dois jovens continuaram aquela descontraída conversação até chegarem à entrada da sala do Kazekage. Quando Kankuro estava a ponto de tocar na maçaneta da porta, esta se abriu subitamente, revelando um apressado Gaara, que quase trombou com seu irmão mais velho. Sakura ficou observando o Kazekage, surpresa pelo descuidado comportamento do geralmente tão sereno jovem. Ela se atentou ao brilho de ansiedade nos olhos dele. Algo não estava bem.

— Ei, Gaara, mais cuidado! Você quase me jogou, idiota — reclamou Kankuro.

O jovem Kazekage demorou um breve instante para dar-se conta da presença de Sakura e Kankuro.

— O que está acontecendo, Gaara? —  preguntou Sakura, com um olhar interrogatório.

Gaara se virou para a mulher de cabelo rosa e apertou a mandíbula.

— Na realidade, eu estava indo encontrá-la. Siga-me. — Seu tom não deixava espaço para discussão. Virando-se para Kankuro, agregou: — Você também.

Depois, Gaara se retirou apressadamente. Kankuro e Sakura trocaram um olhar, e logo fizeram o mesmo, seguindo o Kazekage. Mas o que poderia ter deixado o líder de Suna tão nervoso?

O que quer que fosse, deveria tratar-se de algo grande para fazê-lo agir tão estranhamente, Sakura pensou.

Gaara se dirigiu ao hospital, de onde Sakura e Kankuro tinham acabado de sair. O Kazekage praticamente corria, tornando dificultosa a tarefa de seguí-lo. Kankuro tentou levar seu irmão a revelar mais.

— Não posso dizer nada aqui. Isso é  segredo e não quero correr o risco de vacilar para a espionagem. Vocês logo verão com seus próprios olhos — veio sua explicação.

Kankuro franziu o cenho, sem entender o motivo do seu irmão, que no geral confiava nele, estar sendo tão cauteloso. Realmente deveria ser algo grande, pensou. 

O trio chegou ao hospital e Gaara não  perdeu tempo em partir para um corredor à esquerda. Sakura se deu conta de imediato que se dirigiam à sala onde eram mantidos ninjas inimigos feridos até que ficassem suficientemente bem para serem julgados ou mandados para o cárcere. Agora ela estava realmente curiosa. Tinham capturado alguém importante?

Gaara os guiou por todo o caminho do corredor em linha reta antes de tomar a direita. Seguiu por outro corredor mais à direita com uma só porta no fim. Essa habitação estava reservada para os inimigos demasiadamente lesionados que eram muito perigosos para serem mantidos em torno de outros pacientes. Sakura engoliu seco. Gaara se deteu em frente à porta, sem a abrir. Ao invés disso, ele se virou para os dois ninjas que o seguiam.

— Sakura, Kankuro, o que vocês estão a ponto de ver e escutar a partir de agora deve permanecer absolutamente confidencial a todo custo. Ainda não foram tomadas decisões sobre como proceder diante da situação que vocês estão prestes a presenciar, não obstante, até que qualquer coisa seja decidida, quero que isso seja mantido firmemente em segredo. Está claro? — Gaara falou com uma autoridade que recordou a Sakura que esse homem, apesar da mesma idade que ela, era responsável por uma das cinco grandes aldeias ninja.

Detectando toda a seriedade da situação, a jovem limitou-se a um mero aceno de cabeça, em sentido positivo. Gaara apertou os lábios e olhou de volta para a porta, batendo-a três vezes. Imediatamente um guarda ANBU abriu a porta para os três jovens ninjas no corredor. Rapidamente ele deu um passo para o lado, dando passagem ao Kazekage e seus convidados. Kankuro entrou depois de Gaara, e Sakura os acompanhou.

Uma equipe de quatro guardas ANBU (sem incluir o que tinha aberto a porta da habitação), devidamente mascarados e armados, estavam rigidamente a postos, um de cada lado da habitação cúbica. Todos só tinham olhos para o leito no centro do quarto. Gaara não perdeu tempo e logo se aproximou daquela cama de hospital que apoiava o que parecia ser um paciente dormindo. Sakura e Kankuro permaneceram detrás do Kazekage, aguardando suas ordens. O tempo parecia arrastar-se naquele espaço claustrofóbico. Sakura já sentia seu suor escorrer por sua testa.

Finalmente, Gaara falou:

— Kankuro, Sakura, por favor, venham aqui. Quero que ambos confirmem a identidade deste prisioneiro.

Kankuro imediatamente se moveu para o lado do seu irmão, Sakura seguindo-o bem de perto. Quando se preparava para mover por completo o cobertor que embrulhava o paciente, Gaara ouviu Kankuro suspirar pesadamente. Confuso, o ninja marionetista andou até o lado oposto da cama para ver melhor o prisioneiro inconsciente. O que ele viu fez seu sangue esfriar. Os olhos verdes de Sakura ficaram esbugalhados diante do que eles estavam testemunhando naquele quarto de hospital, na Aldeia da Areia. As mãos da jovem ninja tremiam enquanto um mero sussurro deixou sua boca:

 — Não é possível.

Sem pensar muito, Sakura tocou a face do prisioneiro. Sua temperatura era normal para um ser humano. As bochechas dele apresentavam coloração rosa polvilhada e seu peito descia e subia suavemente. Ele parecia abatido e seu cabelo vermelho ferrugem estava caído sobre seus olhos fechados. Ele era real, ela pensou, horrorizada. Memorias de um dia ocorrido muito tempo antes começaram a inundar a mente de Sakura, que se sentiu desequilibrada pela forte emoção diante daquela descoberta. 

Sakura ouviu Gaara ratificar o que ela ainda se negava acreditar, mesmo vendo com seus próprios olhos verdes como duas lindas gemas de esmeraldas:

— Obviamente, é — ele falou sem desviar o olhar da figura quase inerte sobre o leito.

Kankuro recuperou um pouco de sua compostura e começou a olhar preocupado para Sakura. Ele engoliu em seco e falou bem baixinho:

— Sasori Akasuna...


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