Você Pertence a Mim escrita por karoreis


Capítulo 1
Pela Janela




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Você deve saber, como nesses filmes, eu sou o patinho feio. Com meus óculos de grau, e minhas roupas nada sensuais, eu sou a nerd esquisitona, totalmente o oposto, alem de odiada, das meninas lindas e populares do colégio.

Mas na verdade eu não ligo. Enquanto elas ficam treinando seus passinhos da coreografia das lideres de torcida, eu fico em casa estudando. Afinal, estamos no ultimo ano do colegial, e eu realmente me preocupo com o futuro sabe.

Essa é mais uma noite em que eu estou no meu quarto, jogada na cama entre todos os meus livros e cadernos, minha fonte de conhecimento. Eu vi quando ele chegou. Acendeu a luz, tirou sua jaqueta e jogou em cima da cadeira do computador. Ele não parece feliz. Já faz uns dias que o vejo assim, chega nervoso, e eu sei o que é. Aquela namorada dele, ela é tão fútil. Ela é, logicamente, linda e líder de torcida. E ele um dos melhores jogadores do time. Mas eu acho que preferiria que ele fosse só mais um garoto normal, talvez assim eu pudesse ter alguma chance de que ele me notasse.

Ele atendeu o celular, parecia gritar, gesticulava com as mãos e andava de um lado para o outro. Eu queria ajudar, dizer alguma coisa, mas ele saiu do quarto rápido, quando o som de uma buzina soou. Eu tentei ser discreta em espionar. Era ela, a namorada, no seu carro conversível, e suas roupas extremamente justas e curtas.

Certamente eu nunca poderia competir com ela, embora ela fosse fútil e totalmente oca,  era bonita e gostosa. Acredito que seja apenas isso que os homens notam e se importam.  Eu tentei voltar a estudar, mas minha concentração já tinha ido por água a baixo. Abri meu guarda roupas e experimentei todas as roupas possíveis.

“Desista, você nunca vai conseguir ser como ela” eu pensei. Mas eu não queria ser como ela, só queria ser bonita, só queria que ele me notasse. Éramos vizinhos a algum tempo. Não posso dizer que éramos melhores amigos, mas mantínhamos um bom relacionamento na medida do possível. A verdade é que depois que ele entrou pro time do colégio, o tempo livre dele era escasso. Livre para mim no caso. Nos encontrávamos vez ou outra no colégio, mas o papo não durava mais do que um educado cumprimento seguido de um ‘tudo bem com você?’. Raramente voltávamos juntos para casa. Durante o resto do dia enquanto eu estudava, ele treinava e geralmente depois saia com a namorada lambisgóia.

Meus olhos por um momento piscaram vagarosa e pesadamente, conclui que era melhor ir dormir.

 

Acordei cedo como sempre, tomei meu café da manhã, meu banho, me arrumei, apanhei meu material e fui para frente de casa, sentar-me em um banco a espera do ônibus que me levaria até o colégio. E inconscientemente a espera dele. Mas ele não apareceu.

O vi de longe durante o intervalo, estava na rodinha do pessoal popular, as lindas, as lideres, os jogadores, os ricos. Todos se misturavam em uma rodinha que parecia emanar brilho próprio, era impossível não notá-los.

Eu não conseguia entender porque ele estava lá, ele era tão diferente dos outros. Eu sei que era.

Voltei sozinha para casa, como já havia previsto, e na tentativa de me livrar dele um pouco e deixar minha mente relaxada, optei por passar a tarde inventando alguma coisa, qualquer coisa. Fui fazer um bolo. Fiz até dois. Então quando dei por mim, estava escurecendo, eu precisava estudar agora. Subi as escadas até o meu quarto, e mais uma vez entre meus livros e cadernos, lá estava ele no telefone, nervoso, igual na noite anterior.

Sentou-se na cama e me olhou triste. Rapidamente peguei um de meus cadernos e uma caneta grossa, escrevi e ergui o papel para que ele pudesse ler.

 

“Você esta bem?”

 

  Ele deu um sorriso fraco, e pegou algo do chão.

 

“Cansado de drama” pude ler no papel que ele ergueu. Senti meu peito apertar, eu odiava a maneira como aquela cretina fazia ele sofrer.

 

“Me desculpe :(” eu escrevi. Ele deu um meio sorriso e desviou o olhar. Eu voltei a escrever e pronta para mostrar o papel, olhei uma ultima vez para cima.

 

“Eu te amo” eu dizia, mas sua cortina estava fechada.

 

Eu já sabia que essa seria mais uma noite da qual eu não conseguiria estudar. Coloquei uma musica no meu radio e extravasei dentro do meu quarto, sem me preocupar se alguém iria ver, se ele iria ver.

 

Alguns dias depois eu estava mais uma vez sentada no banco, lendo um livro, distraída. Quando ele sentou do meu lado, meu coração quase pulou pra fora do peito, e eu me sentia feliz só de vê-lo melhor que na ultima noite que eu tinha o visto. Ele tirou uma pequena mecha loira que caia por cima de meu rosto e colocou atrás da orelha, junto com todos os outros cachos do meu cabelo. Eu tive a impressão de que estava caindo, o frio na minha barriga era gigantesco, e eu sentia cada célula de meu corpo vibrar.

Infelizmente ele se levantou e só então eu percebi que a metida da namorada dele estava na nossa frente, parada com seu carro conversível, quase me engolindo com os olhos, ele entrou e ela imediatamente o puxou tascando um beijo na boca, depois me olhando com desdém. Eu sabia exatamente o que ela queria dizer. Era tão explicito quanto se ela falasse em voz alta, que ele era dela, e que ele nunca iria me querer. Foi quase um “Olhe só pra você, e olhe só pra mim! Ele é meu.”

Eu fiquei atônita, e não nego minha vontade de chorar, tamanha magoa que minha própria esperança me causou. Mas fui forte e subi sorrindo simpática no ônibus assim que o mesmo chegou.

 

Depois de tantas noites estudando, esta seria diferente. Eu não estava entre os livros, estava apenas sentada na cama, pensando na vida, quando notei a luz do quarto dele piscar algumas vezes.

Ele balançou o papel, e eu coloquei meus óculos tentando ler. “Hoje tem jogo”

 

  Rapidamente procurei uma folha em branco no caderno que estava do lado da cama e respondi. “Eu sei ;)”

 

  “Você quer uma carona?”

 

Eu nem pretendia ir ao jogo na verdade, mas repensei depois da proposta. Só que hesitei antes de responder.

 

  “Ela já esta lá. Ensaiando” escreveu e me mostrou, revirando os olhos com humor, respondendo minhas questões mentais.

 

  “Ok” eu disse apenas, sorrindo. Fechei minha cortina e troquei de roupa. Nem sequer me dei o trabalho de tentar ficar bonita. Não ia mudar quem eu era por causa de ninguém. Quando desci ele já estava lá na frente me esperando.

 

  - Boa noite. – ele disse formalmente abrindo a porta do carro pra mim. Eu parei antes de entrar e dei uma risada baixa.

- Boa noite. – respondi entrando.

Ele se colocou ao meu lado, dando a partida, ligou o radio num volume baixo numa musica que eu sabia ser a sua preferida e puxou assunto.

- Estudando muito?

- Como sempre. – eu disse apenas.

- Você não cansa? – ele me deu uma rápida olhada, com um sorriso e uma sobrancelha erguida.

- Com certa freqüência. – eu disse rindo, o que lhe provocou um riso também, e eu sorri mais com o som de sua risada. - Com você está? – eu perguntei.

- Ah, você sabe...

- Não, eu não sei.

Ele me encarou por alguns segundos, e suspirou antes de voltar seu olhar para a estrada.

- Tudo virou motivo pra briga.

- Você não cansa? – eu perguntei levemente humorada. Ele deu uma nova risada, fraca.

- Com certa freqüência. – disse me olhando mais uma vez.

Eu não sabia mais o que dizer, por isso não disse nada. Uma onda de dor se instalou em mim. Sabe, ele poderia ser meu, e eu jamais o faria sofrer. E vê-lo assim, me magoava. Ele tinha uma forte influência sobre minha mente, meu corpo, cada parte de mim era ligada a ele. Quando dei por mim já havíamos chegados, eu desci do carro antes dele. Eu tinha medo de que alguém nos visse e fofocasse pra namorada dele. Ia sobrar para mim é claro. Ele desceu do carro e parou na minha frente.

- Obrigada por tudo.- ele disse afagando meu rosto com as costas da mão. Eu apenas acenei tímida com a cabeça e um sorriso suave nos lábios. Ele não se preocupou em ouvir uma resposta em voz alta, eu sabia que ele sentia o quanto eu é que era agradecida por poder ajudar de alguma forma. Qualquer forma que fosse. Eu conclui que tê-lo era o que eu queria, mas que tê-lo por perto, também já era algo bom.

Eu pertencia a ele.

Independente dele pertencer a mim ou não. Eu sempre seria dele.

Ele seguiu para o grupo de outros jogadores que chamavam por ele, e eu fui procurar um lugar na arquibancada.

- Hey Nessie. – Bella segurou no meu braço bruscamente enquanto eu subia pelo caminho estreito dos torcedores.

- Que susto garota! – eu disse e Bella sorriu, me puxando para perto dela e me abraçando.

- Pensei que você não ia vir. – Ela disse.

- E nem ia mesmo, ia estudar.

- Nem me fale, não tem noção como foi difícil convencer Edward de vir. – ela disse revirando os olhos.

Fitei Edward por um momento, ele limpava as lentes de seus óculos, com uma cara emburrada. Dei um soquinho no ombro dele fazendo ele me olhar. Sorriu torto, com aquele sorriso lindo que fazia qualquer uma se apaixonar. Ouvi Bella suspirar ao meu lado. O amor daqueles dois era impressionante. Eu queria um amor daqueles.

- Fala priminha. – Edward disse levantando para me cumprimentar, bagunçando levemente meus cabelos.

Estávamos todos sentados atentos ao jogo. Edward e Bella vez ou outra se estranhavam. Bastava um ponto do time adversário para Edward achar que devia ter ficado em casa. Mas bastava nosso time pontuar, o time DELE, para Bella convencê-lo de que estavam se divertindo mais ali.

Eu olhava para ELE a cada movimento. Vez ou outra dava uma espiada em Emmett, meu primo também, irmão de Edward. Incrível como eles podiam ser tão diferentes. Edward era o cérebro, e Emmett era o corpo. Emmett arrastou a irmã Alice para esse mundo obscuro. Ela por sinal era a melhor amiga de Rosalie.

Esse nome me fazia arrepiar. Rosalie era a namorada DELE. Embora Emmett fosse absurdamente apaixonado por Rosalie, todos eles mantinham um vinculo saudável. ELE sabia que Emmett amava ela, e por mais canalha que ele fosse, a amizade deles era maior que o resto. Emmett nunca tentaria fazer nada para prejudicar o namoro deles.

O Jogo finalmente acabou, e nós ganhamos. Bella e Edward se beijavam calorosamente em comemoração. E eu pude notar quando ELE se aproximou dela, que cantava discaradamente meu primo Emmett. Eu podia ver o nervosismo dele, em ter que negar algo que ele mais queria.

Eu não podia ouvir, mas sabia que ELE estava perguntando o que estava acontecendo ali. Emmett passou a mão pelo rosto aflito. Ela estufou os peitos e falou algo com desdém. Emmett só balançava a cabeça negativamente, mas Rosalie não via, pois estava de costas, dando de dedo na cara DELE.

Ele saiu abatido, e eu não tive vontade de ficar ali. Me senti tão triste quanto sabia que ele se sentia. Edward e Bella me deram uma carona para casa. E eu me tranquei no meu quarto pronta para estudar.

Cerca de uma hora depois ele estava em seu quarto, todo bem vestido, lindo naquele terno. Triste, se sentou na cama me fitando.

Nos encaramos por um tempo, até que ele perguntou.

 

“Você vai hoje?”

 

“Não. Estudando :(”

 

  Ele fitou os pés, passou a mão pelo cabelo, e me olhou mais uma vez.

 

  “Eu gostaria que fosse” Disse, com um meio sorriso decepcionado nos lábios. Levantando-se e indo embora.

 

  Eu fiquei parada, olhando para o escuro do quarto dele, sem querer pensar na sensação que aquelas palavras causavam em mim. Achei entre minhas folhas de estudo, o “Eu te amo” que eu tentei mostrar uns dias atrás. Num estado eufórico e desnorteado, eu comecei a chorar. Minha mãe coincidentemente entrou no quarto na mesma hora.

- Filha o que há de errado? – mas eu nada disse, ela viu a folha em minhas mãos e me abraçou na tentativa de me confortar.

- Venha cá. – ela disse, me ajudando a levantar da cama, e livrando meu rosto das lagrimas. Me puxou para o seu quarto, e tirou um baú de dentro de seu closet.

- Acho que servirá perfeitamente. – disse mais para si mesma do que para mim.

Sem delongas, retirou um lindo vestido branco de dentro do baú. O que me fez instantaneamente abrir a boca surpresa.

- As pessoas que não sabem o que procuram, não percebem o que encontram. –minha mãe disse filosoficamente. Eu a fitei confusa, não por não entender o que ela queria dizer, mas por não entender o porquê ela estava falando aquilo.

- Você precisa ir atrás de outras coisas. Experimente ser tão persistente quanto é com os estudos. Você precisa tentar. – ela me disse por fim. Eu sabia que ela não fazia idéia de quem se tratava, mas sabia que existia alguém. Eu sorri e a abracei grata. Ela ajudou a me vestir, e eu nunca me senti tão bonita em toda a minha vida. Mas o que era melhor, eu me sentia mais parecida comigo mesmo do que nunca. Eu havia me arrumado, mas não me sentia diferente como achei que seria. Eu não tentava ser outra pessoa. Eu mesma era uma pessoa bonita. Com ou sem meus óculos de grau, com ou sem minhas camisetas largas e velhas. Dentro ou fora desse vestido longo, eu podia sentir que eu era bonita.

A festa do colégio estava cheia, mas eu não identificava metade dos rostos, eu estava em busca de apenas um. O dele. Quando o avistei ao longe senti as borboletas do meu estomago se agitarem. Eu sorri levemente, enquanto ele parecia estar embasbacado com o que via.

- Jacob! – Rosalie gritou, o puxando pelo braço intercedendo enquanto ele andava em minha direção, ela se aproximou e alisou seu peitoral.

Eu parei de andar, sem saber exatamente o que fazer, minhas mãos começaram a suar e eu segurei com força o papel que eu trazia. Ele acabou por se desvencilhar dos braços de Rosalie, e quando ela se deu conta de para onde ele ia, para quem ele seguia, seu olhar foi matante. Mas eu não me importei, pude notar que ela saiu revoltada e Jacob parou a poucos passos de mim.

Eu reuni todas as minhas forças e desdobrei o papel que trazia em minhas mãos.

“Eu te amo” Ergui com as mãos tremulas. Ele procurou algo dentro de seu paletó.

“Eu te amo” dizia o papel que ele abria nervosamente e erguia para mim.

Um sorriso brotou em nossos lábios, e nossos corpos se aproximaram quase que inconscientes.

Eu estive aqui o tempo todo, e agora percebo que ele durante todo esse tempo, já tinha pensando coisas que eu vivia pensando.

Sorri vitoriosa, e pude sentir seus braços em volta de mim, sua boca quente e úmida na minha. O sabor de cada emoções que eu sentia estava ali, nele também. Eu o apertei forte contra meu corpo de maneira possessiva feliz por saber que ele pertence a mim.

 


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Notas finais do capítulo

Fazia tempo que eu tinha vontade de escrever uma oneshot mas nunca sabia do que fazer. Espero que tenha ficado boa hehe

Beijinhos e leiam minhas outras fics ;*