Yuuri ainda não podia acreditar no que tinha feito. Mesmo agora, que já havia passado e tudo estava bem, ele ainda cobria o rosto de vergonha sempre que se lembrava.

"Victor." Ele estava tão nervoso. Parecia que tinha um nó em sua garganta, o impedindo que pronunciar qualquer palavra que fosse. Seu corpo parecia pesado e tremia, mesmo que estivessem na água quente, e sua boca estava totalmente seca. "Eu… Acho que gosto de você. Muito mesmo…" abaixou a cabeça. Ele sabia que não conseguiria dizer aquelas coisas olhando para ele. Sem olhar já era difícil. Olhou para Yurio, que estava em um canto afastado deles, e ele o encorajou a continuar com um aceno de cabeça. "O que eu quero dizer é que… A minha vida inteira eu me espelhei em você. Eu te admirava muito, queria crescer como patinador para atingir seu nível e… competir contra você como igual. Então eu te conheci… E você não era nem um pouco como eu imaginava que fosse. De alguma forma eu… Acabei…" sua voz ia ficando cada vez mais baixa, quase inaudível quando disse as últimas palavras. "Me apaixonando por você!"

Yuuri manteve a cabeça abaixada por um tempo, mas não obteve resposta, então olhou novamente para Yurio para ter ao menos uma pista do que estava acontecendo, porque ele desconfiava que seria necessário muito esforço para olhar para Victor.

Yurio rolou os olhos e abriu um sorriso de canto, sarcástico. Não revelava muito, então ele fez aquele esforço e ergueu o rosto para Victor.

A expressão no rosto dele… Yuuri nunca tinha visto aquela expressão antes, não sabia o que sentir. Por um segundo, ele teve esperança, mas… Seria loucura.

"Eu só queria que você soubesse." gaguejou e fez menção de se levantar, prestes a sair da terma, quando Victor o abraçou.

"Yuuri, não vá!" A voz dele era de choro e Yuuri não soube como reagir, então apenas esperou. "Oh, céus, eu pensei que estaria pronto para isso…" Quando teve certeza de que Yuuri não sairia, Victor o soltou do abraço e segurou seu rosto com as duas mãos para que ele não desviasse seu olhar. "Eu… Nem sei o que dizer. Ah, meu Yuuri" ele fez carinho nas bochechas de Yuuri usando o polegar.

Yuuri podia jurar que seu coração ia sair pela boca, se não explodisse antes dentro do seu peito. Ele não estava entendendo o que Victor dizia, mas imaginava que ele não retribuía seu sentimento e por isso não sabia o que dizer. Ele diria que não esperava que fosse recíproco de qualquer forma e que ele não precisa se preocupar com isso, mas nesse momento… Ele começou a se aproximar. Yuuri percebeu um pouco tarde de mais que ele pretendia beijá-lo, mas estava esperando seu consentimento. Quando estava começando a se afastar novamente, provavelmente desistindo, Yuuri passou os braços pelos ombros dele e o puxou para si.

Yuuri não pensava que algum dia eles se beijariam novamente. Aquilo era… Maravilhoso! Ele nunca se sentiu tão bem, tão feliz. Durante aquele momento, ele se esqueceu de que Yurio estava assistindo, de que eles estavam nas termas, se todo o resto. Tudo o que ele sabia é que Victor estava ali, que sentia o mesmo que ele, que ele estava feliz de verdade, como nunca antes!

Ele não conseguia acreditar que realmente tinha feito aquilo.

Yuuri não havia contado que gostava de Victor até então porque, além do medo da rejeição, ele não queria que as coisas mudassem entre os dois.

O que mais o surpreendeu, entretanto, foi que (quase) nada mudou.

No começo, ele ainda estava envergonhado, mas logo percebeu que Victor continuava agindo como sempre, como se não soubesse o que ele sentia. Ou… Como se já soubesse antes de ele dizer.

De qualquer forma, as únicas coisas que mudaram realmente é que Yuuri depois disso não se importava tanto de ser pego olhando para Victor, ou de segurar a mão dele. E de mostrar o quanto estava feliz.

Mas o que mais o deixava confuso (e uma coisa que também não tinha mudado) é que eles não estavam namorando. Bem, não aconteceu nenhum pedido de namoro definitivo, então ele imaginava que não. E isso também o deixava nervoso, porque ele continuava sem saber o que fazer quando Victor pedia para dormir com ele à noite.

"Yuuri, por favooor." Victor batia na porta enquanto Yuuri a segurava fechada do lado de dentro. "Eu estou me sentindo sozinho!" ele apertou o travesseiro que segurava entre os braços e ele cobriu sua boca, fazendo com que sua voz soasse abafada e baixa.

Yuuri não sabia mais como dizer não. Ele apenas tinha medo de deixar que Victor se aproximasse, mas ele estava insistindo cada vez mais.

Por fim, uma noite ele acabou deixando.

Sempre que Victor se aproximava para abracá-lo, quando já estavam deitados, Yuuri se afastava, o que não durou muito pois a cama não era tão grande assim, e o único destino possível era o chão.

"Yuuri! Você está bem?" Victor, preocupado, se levantou o suficiente para olhá-lo.

"Estou." Yuuri se levantou esfregando a cabeça, que havia batido na queda.

Ele olhou para Victor, que o olhava de volta um pouco surpreso.

"Por que você não quer ficar perto de mim?" a voz dele soou falha e um tanto magoada.

"Victor…" Yuuri não sabia o que responder. "Eu estou meio nervoso. Quero dizer… eu não sei o que fazer. Nós não estamos nem… namorando, e…"

"Yuuri…" Victor parecia ainda mais surpreso. Ele ficou alguns segundos em silêncio, apenas olhando para Yuuri, que esperava pelo que ele diria a seguir. "Yuuri!" Victor pulou da cama e colocou as duas mãos na cabeça, como se tivesse acabado de se lembrar de algo importante.

"O que houve?" Yuuri se assustou com a cena.

"Eu esqueci! Como eu consegui me esquecer?" ele foi até Yuuri e segurou suas mãos.

"Victor, o que houve?" Yuuri começou a ficar preocupado.

"Yuuri, você quer namorar comigo?" Victor começou a sorrir, e Yuuri, depois de um tempo para processar a frase, riu de nervosismo. Ele… Esqueceu? "Eu pensei que tivesse perguntado isso quando nos beijamos. É por isso que você estava tão nervoso? Puxa, me desculpe."

Yuuri riu novamente e o puxou para um abraço.

"Acho que você não tem jeito. Eu quero. É óbvio que eu quero!"

"Yuuri." Victor chamou quando já estavam deitados de novo. Ele abraçava Yuuri e estava com a cabeça apoiada em seu peito. "Seu coração está acelerado."

"Eu sei."

"É por causa de mim?"

Por que ele era sempre tão direto assim? "Sim."

"Você quer que eu me afaste?"

Yuuri o abraçou pelos ombros, o puxando para mais perto, e acariciou seu cabelo. Não precisou pensar para responder àquela pergunta. "Não."