"Isso vai ficar ótimo." Yuuri Katsuki sorria enquanto lavava as mãos sujas de massa. Havia acabado de colocar no forno os piroshkis de katdudon que ele e Yuri fizeram juntos. Foi bastante surpreendente para Yuuri quando o garoto se ofereceu de bom grado para ensiná-lo a faze-los, tanto que Victor logo resolveu chamar todos os outros patinadores, Yakov, e Lilia para almoçarem juntos na sua casa.

"É claro que vai, é uma receita do meu avô!" Yuri colocou as mãos na cintura e gargalhou abertamente, o que Yuuri achou uma cena bastante fofa, principalmente por causa do avental de gatinho que usava e do rosto sujo de farinha em algumas partes.

Yuuri notou o quanto ele estava feliz naquele dia, o que não era ruim de forma alguma, mas estava achando estranho a falta de xingamentos e ofensas a durante toda a manhã que passaram juntos.

"Você está bem?" 

"Sim! Por que está perguntando isso?" Yuri estranhou a pergunta vinda do nada.

"Está sorrindo tanto, não parece o Yuri Plisetsky que eu conheço." Yuuri arriscou dizuilo que esteve pensando a manhã inteira.

"Huh? Que nada, está imaginando coisas, porco!" afirmou, mas nem tentou esconder o sorriso que ainda estava em seu rosto.

Yuri foi lavar a louça que sujaram enquanto o Katsuki arrumava os ingredientes para guarda-los no lugar, quando Yuri se lembrou de algo que queria perguntar.

"Ei, Katsudon. Como Victor contou pra você que vocês são almas gêmeas?" ele e Otabek tinham mencionado isso no aeroporto há duas semanas, mas Yuri sempre se esquecia de perguntar quando Yuuri estava por perto.

Yuri ouviu um barulho de algo caindo. Quando olhou para trás, viu o saco de farinha no chão, que fez levantar uma fumaça branca pela cozinha, e um Yuuri Katsuki quase morrendo de tanto tossir.

"O Victor… me contou o quê?" conseguiu dizer em meio a tosse, com uma expressão de espanto.

Yuri levou um copo com água até ele, abanando a mão para manter a farinha longe do rosto.

"Ah… Ele tinha contado… Não tinha?" Por um momento, Yuri ficou com medo de ter feito algo errado. Será que Victor não contou? Conhecendo ele como conhecia, ele podia ter inventado um outro motivo para ainda não ter contado… Ou podia ter esquecido, o que é bem mais provável.

"O Victor sabia?" Yuuri se asombrou ainda mais, e Yuri ficou confuso.

"Sim, ele sempre soube… Não me diga que você sabia?"

Yuuri ainda o olhava boquiaberto, mas logo Yuri entendeu o que acontecia e começou a rir.

Yuuri cobriu o rosto com as mãos, envergonhado, mas também rindo.

"Desde quando você sabe?" Yuri perguntou enquanto voltava a lavar a louça e Yuuri foi limpar o chão, agora coberto de farinha.

"Eu sempre soube, desde o Grand Prix, que eu vi ele pela primeira vez… pessoalmente."

"E você também não falou pra ele."

"Bem, eu pensei…"

"Tudo bem, não precisa explicar, eu já ouvi isso vezes o suficiente!" revirou os olhos.

Yuuri riu com essa afirmação e ele o acompanhou.

"Ele também não tinha falado nada, então pensei que não soubesse."

"Bem, ele também pensou assim."

Logo Yuuri terminou de guardar as coisas, se juntou a ele e começou a secar a louça já lavada. Estava feliz com o quanto Yuri estava feliz. Com ele agindo daquele jeito, pareciam até… Uma família. Como qualquer família normal, cozinhando juntos, fazendo tarefas juntos, conversando e rindo… Yuuri sabia que aquilo não duraria, infelizmente. Logo Otabek teria que voltar ao Cazaquistão e Yuri voltaria ao seu "normal", mas ao menos eles aproveitariam aquilo tudo enquanto podiam, todos juntos.

O sorriso no rosto daquele gatinho arisco era a coisa mais rara, preciosa e contagiante que existia, era impossível para Yuuri não sorrir junto.

Em algum momento, Victor entrou todo animado na cozinha.

"Yuuriiii, todos já estão aqui. Onde está o champanhe?"

"Victor, talvez beber não seja uma boa ideia…" Yuuri respondeu enquanto Victor ia até ele e o abraçava de lado.

"Ei, velho!" Yuri chamou quando ele começou a resmungar algo. Quando Victor olhou para ele, Yuri acenou com a cabeça, apontando para Yuuri. "Ele sabe de tudo."

"Huh? Tudo o quê?" Victor voltou a olhar para Yuuri com a expressão confusa. Este sorriu, se virou para ficar de frente para ele e passou os braços por cima de seus ombros, o abraçando. "Yuuri, tudo o quê?"

"Eu sei que você me ama. E eu também amo você, Victor!" Yuri revirou os olhos, enquanto observava a cena. Yuuri deu um beijo carinhoso na bochecha de Victor e voltou a olhar para seu rosto, apenas para perceber seus olhos marejados. "Você está chorando?" gaguejou, começando a se preocupar.

"Você sempre me pega de surpresa!" Victor respondeu com a voz chorosa, escondendo o rosto no ombro de Yuuri, que riu e o abraçou de novo.

Yuri decidiu que não era obrigado a ficar vendo todo aquele drama de Victor e a melação daqueles dois, e eles que se virassem depois com o resto da louça! Deixou eles lá e seguiu para a sala de estar.

Yakov e Lilia estavam sentados em um dos sofás conversando, Mila e Georgi estavam em algum outro canto se dividindo entre conversar e mexer no celular, e alguns dos outros patinadores de Yakov também estavam espalhados pelo cômodo

 Mas quem realmente importava estava sozinho, encostado em uma parede e totalmente concentrado no celular.

Yuri andou até ele, se encostando na parede ao seu lado. Esbarrou seu ombro no dele levemente para chamar sua atenção.

"Você tem mesmo que ir embora? Você poderia ficar aqui comigo…" Yuri propôs baixinho, mas sabia que aquilo não seria possível. Logo os campeonatos começariam, então era naquela época do ano que os patunadores intensificavam o treinamento e precisavam se concentrar mais. Mesmo que Yuri soubesse que conversar por mensagens e chamadas de vídeo não seria a mesma coisa que o ter ali pessoalmente, não tinha nada que pudesse fazer quanto a isso.

"Eu ficaria se pudesse." Otabek passou um dos braços por seu ombro e o puxou para perto, ainda com o celular na outra mão. Yuri se aconchegou no abraço, sentindo o calor do corpo dele ao seu lado, e notou que estavam quase do mesmo tamanho agora. Essa constatação o fez sorrir. "Se esforce esse ano e poderemos nos ver de novo no final do Grand Prix."

"Eu espero que você esteja lá pra me ver em cima do pódio de novo."

"Eu vou estar, e bem do seu lado!"

Yuri sorriu e olhou em volta, para as pessoas que estavam na sala. Percebeu que Mila estava olhando para eles, e quando o viu olhando ela sorriu.

"Otabek, não seja mal educado, Mila está flertando com você e você não está nem olhando." brincou.

Ele ergueu os olhos do celular. "Hum, não era bem a atenção dela que eu esperava conseguir."

"Oh," Yuri colocou uma mão sobre os lábios, fingindo surpresa. "eu não sabia que você gostava mais de tipos dramáticos como o Georgi."

"Não foi o que eu quis dizer. Bem, é uma pena para eles que eu já esteja comprometido." parecia incrível que Yuri tivesse ficado tão feliz com aquela frase, seu peito se encheu de um calor aconchegante e tão bom que ele quis poder sentir aquilo pelo resto da vida.

"Então você deveria dizer isso a eles." foi impossível não sorrir enquanto falava.

"Posso fazer melhor que isso." Otabek sorriu e puxou o braço que se apoiava em seu ombro, colocando a mão em seu rosto e o puxando para perto.

Yuri sentiu-se derreter quando seus lábios se tocaram em um movimento leve e delicado. Céus, aquilo era bom, mas se Otabek continuasse naquele ritmo, seria ele quem teria que tomar a iniciativa sempre.

Ele se virou para ficar de frente para Otabek, entrelaçou os dois braços por seu pescoço e o puxou para mais perto, aprofundando o contato entre eles. Instintivamente, ele passou o braço livre pela sua cintura. Yuri percebeu que as conversas ao redor pararam, ou talvez ele apenas tivesse parado de prestar atenção. Haviam coisas mais importantes em que prestar atenção no momento.

Yuri achava que as sensações que Otabek o fazia sentir seguiriam com ele pelo resto da vida, pois toda vez que ele o tocava, Yuri sentia tudo aquilo de novo. Aqueles insetos no estômago, o coração batendo forte, e todo o resto. Mas agora ele já estava se acostumando com tudo aquilo, e era até gostoso se sentir assim. Poderiam chamá-lo de louco, mas a sensação de estar com ele e de ser tocado por ele era a melhor coisa do mundo.

Yuuri e Victor entraram na sala a tempo de presenciar o beijo, que pegou ambos de surpresa.

"Ah" Yuuri se pronunciou, alto o suficiente para que Yuri pudesse ouvir. "Acho que agora entendi o que Yurio quis dizer com 'ficar de vela'."

Complementado por Victor com um simples e surpreso "Davai!"

Yuri riu e apenas os respondeu educadamente com um dedo do meio, sem se separar de Otabek, que também sorria.

O sorriso dele era tão lindo, e Yuri ficava feliz em saber que era o motivo.

No final, todo o medo que Yuri sentia apenas adiou tudo o que aconteceu, e, ninguém jamais o ouviria admitir isso, mas se Yuuri não o tivesse dado aquele conselho, ou se ele não o tivesse seguido, isso tudo poderia nem mesmo ter acontecido. Os piroshkis de katsudon foram apenas seu jeito de agradecer, mesmo sem palavras e mesmo que ele não entendesse dessa forma.

De qualquer forma, agora ele e Otabek estavam felizes. Eram felizes quanto estavam juntos, e ambos sabiam que dariam certo. Não por causa do destino, de um relógio ou de um fio vermelho, mas por causa deles. Eles se Esforçariam e fariam dar certo, juntos.

E mesmo que ainda tivessem que esperar para estarem realmente juntos, mesmo que ainda tivessem que lidar com suas carreiras e tivessem que ficar separados por um tempo, eles sabiam que tudo daria certo no final, era apenas uma questão de tempo!