O Traidor escrita por Sarah


Capítulo 1
O Traídor




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O Traidor

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Ao contrário de tantos outros logros tão bem planejados, daquela vez não foi de propósito. Foi apenas uma porta aberta ao acaso tarde da noite, e ambos estavam fora do lugar que deveriam estar. Sirius deparou-se com um banheiro repleto de vapor, que infelizmente não era denso o suficiente.

Através da névoa, pôde ver Lilian, completamente nua, seus pelos pubianos tão ruivos quantos os cabelos. Por um instante Sirius não soube se devia absorver a informação para compartilhar com James depois, se devia guardar a beleza da cena somente para si mesmo, ou se devia forçar-se a apagar aquela imagem da mente, então apenas a olhou. Lily o olhou de volta, e nenhum dos dois desviou a mirada ou fez qualquer movimento, porque quando o feitiço que os mantinha paralisados se rompesse as coisas ficariam impossivelmente constrangedoras.

Estranhamente, Sirius foi o primeiro a corar.

— Porra — ele murmurou entre dentes.

Foi apenas um sussurro, mas também foi o suficiente. Lily agarrou a toalha que estava pendurada no gancho da parede e se cobriu. Sirius não desviou o olhar, então pôde ver quando o rosto dela empalideceu, ficando tão branco quanto o de um fantasma, para, logo em seguida, assumir uma intensa coloração vermelha.

Mover-se parecia muito perigoso. De repente o ar tornou-se mais pesado do que deveria e respirar passou a exigir um enorme esforço. Sirius já vira garotas nuas antes, a maioria tão ou mais bonita do que Evans, não era esse o problema. O problema era o arrepio que correu por sua espinha e o pulsar do sangue através do seu pênis. Sentiu mais vergonha de si mesmo do que da situação, pois era Lily, e James era seu irmão.

Uma vez coberta pela toalha, Lily voltou a encará-lo. Não pareceu surpresa ao encontrar os olhos de Sirius ainda presos ao seu corpo. Se Sirius fosse um cavalheiro teria virado as costas no primeiro instante, mas ele não era, e ela não esperava isso dele. Lily deu um passo em direção à saída do banheiro, desviando-se dele o melhor que podia.

O gesto fez com que algo dentro do peito de Sirius se contorcesse. Ele reconheceu aquela sensação de ansiedade que normalmente antecedia uma ação impensada da qual ele se arrependeria depois. Em um impulso, segurou o braço de Lily, impedindo-a de continuar. Teria sido fácil deixá-la ir, mas então ele nunca teria a oportunidade de sentir a textura da sua pele. Sentiu toda sua mente tomada pelo desejo de tocá-la.

— O quê? — Lily perguntou em um tom repleto de raiva, mas Sirius pôde perceber como a voz dela se quebrou no final.

— Não sei — ele murmurou, apenas para que ela tivesse tempo de reagir.

Esperou que Lily o empurrasse e se afastasse, que acabasse com aquilo, porque ele certamente não conseguia. Mas passaram-se um e dois segundos, e ela não fez nada. Seus olhos ligaram-se de novo, os dela verde, os de Sirius como uma tempestade.

Sirius não teve consciência do próprio ato, mas de repente percebeu que sua mão estava sobre a cintura da garota. Pôde sentir o seio dela roçando o seu braço, o mamilo intumescido. Ela era branca e macia e tinha um cheiro doce. Não era apenas desejo, era algo mais primitivo, como o instinto de um cão ou uma necessidade. Sirius nunca sentira tanta ânsia por alguém. Talvez fosse apenas uma propensão ao desastre.

Lily deu um passo atrás, mas foi mais como se ela estivesse guiando-o do que se afastando, então Sirius a seguiu. Sentiu o baque quando as costas dela encontraram a parede e soube que estava perdido.

Sirius tinha experiência o suficiente para perceber que ela estava excitada. Não era algo exatamente sexual, no entanto, era mais uma atração pelo proibido. Porque Lily ainda o odiava por ser prepotente e egoísta e por tudo que fizera Snivellus passar. E, céus, havia James. Lily podia não amá-lo — ainda, pois Sirius sabia que um dia ela iria amar —, mas mesmo assim ela também sentia que aquilo era uma deslealdade.

Sirius, por sua vez, não podia razoar porque a queria. Ela não pertencia a James, mas James pertencia a ela de uma maneira completamente única, então existia um pouco de inveja envolvida.

Houve algo como o baque de um feitiço quando Lily tocou seu rosto com a ponta dos dedos, traçando a linha da sua mandíbula sobre a aspereza de sua barba por fazer. Existia desafio nos olhos dela: “você pode fazer isso?”. Lily estava gelada, enquanto o sangue de Sirius ardia nas veias.

Sirius pressionou seu corpo junto ao dela. Deslizou a mão até encontrar um seio e apertou a carne. Lily derreteu-se um pouco. A respiração dela sobre o seu pescoço parecia quente como magia, e o fez estremecer. Finalmente ele a beijou. Devoraram-se. Foi intenso e faminto, e uma traição.

Não durou muito. Sirius se afastou com violência. Levou as mãos aos lábios e os esfregou com ferocidade, tentando se livrar daquele gosto acre. Lily parecia tão aturdida e desconcertada quanto ele. Pela primeira vez até ali, Sirius desviou o olhar.

— Não conte ao Potter — Lily falou, obviamente assustada, e Sirius deu um sorriso amargo, porque era ele quem deveria ter dito isso.

Aparentemente James estava no caminho certo para conquistá-la.

— Nunca — respondeu, e era uma promessa.

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Sirius não contou para James, mas contou para Remus; em grande parte por uma necessidade de ser repreendido e com isso purificar um pouco da culpa. Então, em uma tarde em que estavam apenas os dois no dormitório, deixou escapar, como se não fosse nada:

— Sabe, eu beijei a Lily. Também a vi nua. Foi sem querer — disse e hesitou —, bom, ao menos a parte de ela estar nua foi sem querer

Remus estreitou os olhos ao encará-lo. Por um segundo ele esperou que Sirius fosse rir ou dizer que aquilo não passava de uma brincadeira, mas ele permaneceu terrivelmente sério. Quando Remus finalmente suspirou havia tanto desgosto no ato que Sirius sentiu como se as fibras do seu coração tivessem se rompido.

— É bom saber que não é algo pessoal — o lobisomem declarou em um tom frio.

Sirius franziu a sobrancelha. Seu corpo, de repente, parecia muito gelado.

— O que quer dizer com isso? — perguntou, embora tivesse medo da resposta.

Remus deu de ombros com uma indiferença forçada. Sirius esperava encontrar apenas desaprovação, mas havia desprezo nos olhos dele.

— Quando você disse para o Snape que eu sou lobisomem, achei que era em razão de um desejo particular de me humilhar e me fazer sofrer. Pensei que você não seria capaz de fazer o mesmo com James, mas, aparentemente, você não faz distinção entre os seus amigos ao fazer coisas que causam sofrimento.

— Remus, eu realmente não quis... — Sirius tentou argumentar, mas sua voz tremeu e se perdeu.

Fazia anos que não se sentia tão perto de chorar. Remus provavelmente percebeu, mas não pareceu achar que ele merecia consolo.

— Boa noite, Sirius.

Eram apenas sete horas da noite, e Remus ainda estava completamente vestido, mas, mesmo assim, ele se virou e fechou as cortinas do dossel com um aceno da varinha. Sirius esperou acordado durante toda a noite, mas as cortinas permaneceram cerradas. 

Na manhã seguinte Remus fingiu que nada aconteceu, e Sirius fez o mesmo, e Lily também depois deles.

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Quando contaram a ele que James e Lily estavam mortos e que Sirius era um traidor, Remus não contestou. Não pensou em Peter; simplesmente acreditou, porque Sirius era o único que já provara ser capaz.


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Notas finais do capítulo

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