Tarde de Autógrafos

 por Wendy Anne 

Ali estava eu, uma garota comum no meio de tantas outras, prestes a encontrar o mais novo cantor adolescente do momento, o garoto mais lindo e perfeito do mundo, numa simples tarde de autógrafos. Com o coração acelerado, eu encarava o cantor, que estava atrás daquela mesa, apenas a alguns passos de distância de mim.

Só haviam duas garotas na minha frente e o barulho que estava estabelecido naquele local era ensurdecedor, mas eu não ligava, tudo o que eu queria era uma autógrafo dele... Justin Bieber.

Finalmente, após longos minutos de espera, eu seria a próxima. Estava tão perto de realizar um dos meus sonhos, ficar frente a frente com o Justin, mesmo que fossem por poucos segundos, o tempo que levaria para ele assinar uma foto dele mesmo e me entregar com um sorriso no rosto. Mas, de repente, o astro se levantou de sua cadeira e deixou o local sem dizer uma palavra e nem olhar para a multidão que apenas esperava pacientemente na fila.

— O que? Ah não, ele não fez isso. — sussurrei a mim mesma, deixando uma expressão de fúria tomar conta do meu rosto.

Contei os segundos em que tudo ficou em silêncio, sem entender o que acontecera ali. Virei meu rosto para observar como estavam todas as outras garotas presentes no recinto e foi um festival de mãos cobrindo os lábios, olhos arregalados e bocas entreabertas.

Como num estalar de dedos o silêncio cessou e todas começaram a se manifestar ao mesmo tempo, muitas vaiavam, outras falavam o mais alto que suas cordas vocais lhes permitiam e algumas poucas ameaçavam quebrar tudo naquela loja de CDs, que era onde estava acontecendo todos esses fatos narrados, se o Justin não voltasse para distribuir autógrafos a todas. Eu sentia claramente meu sangue ferver de raiva e apenas dei alguns passos e saí pelos fundos da loja.

Eu pisava fortemente, enquanto andava de braços cruzados e encarando o chão, imaginando que estava pisando sobre o rosto do Sr. Bieber Engraçadinho.

— Garoto ridículo, idiota, quem ele pensa que é? O Michael Jackson? Garanto que nem o Michael faria isso. Ugh. — resmunguei para mim mesma.

— Oh! Cuidado garota! — ouvi alguém gritar atrás de mim, o que me fez levantar o olhar e notar o carro preto que freara bruscamente, por pouco, antes de me acertar em cheio. Olhei ao meu redor e notei que, sem querer, eu estava andando no meio da rua.

— Você é lesada por acaso? — questionou a pessoa atrás de mim.

— Olha só, acho melhor você não falar assim comigo, ok? — me virei para ver quem estava ali e não acreditei nos meus próprios olhos. — Justin?!

— Não, é o Chris Brown, não ta vendo? — ironizou ele, com um tom que me fez fechar o punho, desejando dar-lhe um soco.

— Quem você pensa que é garoto? — falei entre dentes.

— Justin Bieber, além de lesada você também é cega? — o garoto rolou os olhos.

— É? Então Justin Bieber vai levar um socão daqui a pouco se não parar de ser tão ignorante. — mostrei a ele meu punho fechado.

— Calma, estou só brincando. — ele arqueou as sobrancelhas.

— Pois eu não estou achando graça nenhuma. — tornei a cruzar os braços e encarei o garoto, friamente. — Nem tente fazer gracinha, porque eu não estou tendo um bom dia.

— O que aconteceu?

— Não é da sua conta, astro do pop metido a besta. — ao terminar minha fala, apenas dei as costas ao cantor que estava ali parado na calçada e fui andando, dando passos largos, querendo sair dali o mais rapidamente possível. Não estava nem aí se era o Justin Bieber ou não, podia ser o Justin Timberlake que eu... Ah não, se fosse o Timberlake seria diferente, devo admitir.

— Espera aí. Ninguém da as costas para mim desse jeito. — ele aumentou a voz, já que eu estava me afastando dele.

— Ah é? Adivinha só... Eu estou te dando as costas. — respondi na mesma altura.

Continuei andando, indignada com aquilo. Como pode alguém ser tão metido e egocêntrico? Eu tinha uma idéia totalmente diferente sobre ele, achava que ele era legal, simpático... Mas parece que a vida apenas nos dá chutes na cara e faz com que nos decepcionemos cada vez mais com as pessoas. Foi nesse momento que, interrompendo meus pensamentos filosóficos, senti alguém segurar em meu braço de maneira firme e contestar:

— Eu disse que ninguém da as costas à mim. — claramente era Justin que falava e estava ali me segurando. — O que aconteceu?

— O que aconteceu? Você ainda pergunta? — dei meia volta apenas para encará-lo enquanto deixava que as palavras saíssem por minha boca, sem nem pensar. — Você foi um completo idiota, foi isso que aconteceu.

— O que? Você enlouqueceu. — ele contrapôs.

— Não, eu não enlouqueci, foi você que deixou o sucesso subir a cabeça. Aquelas garotas lá dentro são suas fãs, elas ficaram lá o dia inteiro esperando por você e você simplesmente sai sem falar nada? Você não sabe quanto tempo elas ficaram lá te esperando.

— Você é só mais uma delas. — ele finalmente soltou meu braço.

— O que você quer dizer com isso? — ergui uma de minhas sobrancelhas e permaneci a encará-lo.

— Você é só mais uma de minhas fãs. — falou ele, entre um longo suspiro.

— Não acredito nisso... Só mais uma? Você acha o que? Que todo mundo te ama? Pois eu tenho uma dica para você: Eu era sua fã e achava que você era uma pessoa diferente, mas parece que me enganei. — contestei, sentindo-me profundamente ofendida.

— Ah, ta bom, você acha que realmente vai conseguir deixar de gostar de mim? Todo mundo é meu fã, todos ouvem minhas músicas e gostam de mim, por que você seria diferente?

— Quer saber de uma coisa? Você pode ter o mundo inteiro aos seus pés agora e todos gostarem de você, mas é por causa dessas garotas que você está aqui hoje, Justin. Você não enxerga que seu sucesso é todo devido à elas? Elas fazem tudo por você, elas dariam a vida delas por você e... É assim que você as retribui? Sendo um completo idiota? Bom saber. — não agüentando aquela situação eu aumentei o tom de voz.

— Você não sabe como é minha vida de verdade. — ele apenas retrucou.

— Posso até não saber, mas eu sei como é ser uma fã e eu sei pelo que essas garotas passam. Se eu fosse você, não as desprezaria desse jeito, elas são uma das coisas mais preciosas que você pode ter. Não as trate assim Justin. — eu continuava com a voz firme.

Eu notei que o cantor abaixou os olhos e a expressão em seu rosto não me agradou muito, mas eu apenas fiquei ali sem fazer nada, com uma postura firme, até que ouvi sua voz, tremula, dizer:

— Tem razão... E o que você acha que eu devo fazer?

— Fácil, volte lá e de autógrafos a todas elas. — apontei na direção da loja de CDs. — E peça desculpas pelo que aconteceu.

— O que? Elas vão me atacar se eu voltar lá depois do que eu fiz. — ele suspirou pesadamente. — Eu fui um completo idiota.

— Não se preocupe, estarei lá para te proteger.

Depois disso voltamos juntos para o recinto, entrei pelos fundos e o tumulto estava ainda maior do que anteriormente. Justin ficou do lado de fora e pediu para que eu acalmasse todos lá dentro. Eu me posicionei ao lado da mesa que havia sido usada pelo astro para distribuir autógrafos, apenas tentava falar, mas o barulho era tanto que nenhuma pessoa me dava ouvidos, até que gritei, chamando a atenção de todos e o silêncio reinou.

— Obrigada. — falei ao notar que todos me olhavam. — Gente, eu sei que vocês estão com muita raiva, mas tem uma pessoa aqui que quer falar com vocês.

Voltei até a porta dos fundos da loja e a abri, trocando algumas poucas palavras com o garoto que ainda estava lá fora, as quais somente ele pôde ouvir. Depois disso o puxei, levemente pelo braço, para dentro e a reação de todas foi vaiar o cantor, bruscamente. Após ele parar ao lado da cadeira, olhou para todas e falou, calmamente:

— Vocês estão certas em me vaiar, eu mereço isso por ter sido tão ignorante com vocês. — todas ficaram em um silêncio mortal, ouvindo-o falar — E o que a Summer me disse é a mais pura verdade, vocês são o bem mais precioso que eu tenho e me desculpem por ter sido tão idiota.

O silêncio foi substituído por gritos e aplausos e, logo depois todas voltaram a se organizar em uma fila, apenas esperando o que queriam desde o princípio, um autógrafo do Justin Bieber. Eu estava apenas parada ao lado dele, olhando-o encantada por aquele ato maravilhoso.

— Obrigado por tudo Summer. — ele se aproximou de mim e sussurrou.

— De nada... Ei, espera aí, como você sabe o meu nome?

Ele não respondeu, apenas aproximou cada vez mais o rosto do meu, no começo hesitei, mas logo percebi o que ele queria. Apenas deixei que nossos lábios se encostassem, sentindo o sabor daquele doce beijo, ao que as pessoas reagiram com gritos animadores.

Mas foi então que percebi, o Justin me beijar em frente a todas aquelas pessoas e ainda por cima saber meu nome sem eu ter lhe contado, não fazia o menor sentido. Assim que nossos lábios tornaram a se separar eu resolvi tirar satisfação com o que mais me intrigava:

— Justin, como você sabe o meu nome?

— “You know you love me, I know you care. You shout whenever, and I'll be there You want my love, You want my heart”…

— Não, Justin, eu não pedi para você cantar. Diga-me como você sabe meu nome. — encostei as mãos nos ombros dele, mas ele não fez nada, apenas continuou a cantar.

— “Are we an item? Girl quit playing. We’re just friends, what are you saying?”

De repente a visão daquele menino perfeito foi ficando embaçada e eu apenas podia me ouvir pronunciar seu nome, diversas vezes enquanto uma de suas músicas ecoava em minha mente e, finalmente, eu entendi o que estava acontecendo.

Abri os olhos e eu estava deitada na minha cama, a música que tocava era o despertador do meu celular, tudo não passou de um sonho. Esfreguei os olhos, com ambas as mãos, e peguei o celular que estava sobre o criado-mudo, ao lado de minha cama, e desliguei o despertador. Com a visão ainda um pouco turva, levantei-me num pulo, lembrando do que eu queria tanto fazer naquele dia, o motivo pelo qual eu tive aquele sonho maravilhoso. Realmente eu iria para uma loja de CDs onde o Justin estaria distribuindo autógrafos. E se o que aconteceu em meu sonho acontecesse de verdade? Eu não podia perder tempo.

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E lá estava eu de novo, minha mãe havia me deixado naquela loja e era exatamente 1h da tarde. A fila naquele local estava enorme, como em meu sonho, o que me deixou ainda mais animada. Apressei-me para pegar um lugar no meio daquelas meninas. Eu estava sozinha naquele lugar, mas minha mãe estava logo numa loja de livros na esquina da mesma rua.

O tempo passou e, quando percebi, eu seria a próxima a pegar um autógrafo. Algumas meninas choravam ao ver Justin, outras simplesmente gritavam e tinham aquelas que não conseguiam falar nada, apenas ficavam chocadas, eu tentava me manter calma. Ouvi o segurança dizer que eu poderia andar e, dando passos firmes, me aproximei da mesa onde estava o cantor. Ele me olhou com um sorriso que me fez derreter e puxou uma das fotos, dele mesmo, que estavam em uma pilha sobre a mesa.

— Pode dedicar à Summer? — falei com um pouco de dificuldade.

— Claro. Summer... É você? — questionou ele.

— Sim. — afirmei.

— Bonito nome. — ele logo terminou de assinar a foto e estendeu a mesma à mim. — Aqui está.

Segurei a foto e ele a soltou, entregando-a a mim. Com o coração acelerado, eu agradeci ao astro pelo autógrafo e me retirei, indo embora daquele local. Eu queria que ele tivesse se levantado e ido embora bem na hora que cheguei perto da mesa, que meu sonho fosse verdade e que eu realmente tivesse beijado Justin Bieber, mas ao invés disso ele apenas me olhou sorrindo e autografou a foto normalmente e eu troquei poucas palavras com ele. Apenas olhei para a fotografia autografada em minhas mãos e refleti sobre tudo aquilo, definitivamente eu preferia o meu sonho...

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