Figuras de Linguagem escrita por MJthequeen


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Uma história boba de uma ideia simples.



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Sasuke saiu do carro e fechou a porta, tirando os óculos escuros e deixando-o pendurado na camisa negra. Ele chamou muita atenção das mães sozinhas com seus filhos – obviamente ele não podia dizer se eram todas solteiras – e alguns olhares feios dos pais menos “bombados”. Suspirou baixo, mas não se deixou abalar. Se Sakura estivesse ali, riria de sua reação: “Não seja bobo, ninguém vai te atacar”, mas, sinceramente, ele sentia uma ponta de dúvida na voz fina dela.

Caminhou tranquilamente até a porta do colégio e entrou, caminhando pelos corredores com um olhar neutro. Estava avaliando se aquela escola realmente valia a mensalidade, ou se Sakura estava o enganando – certo, Sakura não era dessas. Se ela precisasse de dinheiro para algo pessoal, com certeza não tiraria das economias que eles juntavam para Sarada. Na verdade, Sasuke tinha quase certeza que ela podia pagar qualquer escola, curso ou necessidades de Sarada sem precisar dele. Mas Sasuke era o pai e se sentia mais do que satisfeito em bancar qualquer coisa que sua menininha precisasse – Naruto ainda ficava chocado em ver como o seu amigo rebelde e mal humorado do ensino médio se derretia todo na frente da filha.

Ele virou no corredor B, sala 12, onde Sarada tinha dito que era sua sala. Normalmente Sasuke não a buscava, já que ela vinha de perua nas semanas em que ficava na sua casa. Não que ele não quisesse, mas o horário em que ela saia geralmente era o que mais estava ocupado. E, bem, aquela semana era de Sakura. Contudo, ela tinha tido uma cirurgia urgente de última hora para fazer. Sasuke não foi capaz de negar, pois, um, ele adorava ficar com Sarada e, dois, Sakura já tinha feito o mesmo por ele em diversas ocasiões.

Sim, eles tinham uma guarda compartilhada. Sasuke tinha pouco mais de 30 anos; Sarada tinha sido fruto de um casamento entre duas pessoas muito jovens que achavam que se amavam. Nasceu depois de dois anos, quando as coisas já não estavam lá uma maravilha, mas o nascimento dela quase segurou o casamento, considerando que os dois tinham se apaixonado a primeira vista pelo bebezinho que tinha todas as feições da não mais Uchiha e os cabelos negros e olhos do pai. Sustentaram o casamento por mais três anos, muito respeitosos entre si, mas sem o amor que tinha os levado até altar.

Quando os pais de Sakura se mudaram para a Europa, aproveitando a aposentadoria e os anos juntos, os dois decidiram que não precisavam mais disso. Tinham que viver suas vidas. Foi uma separação sem problemas e muito amigável, os dois se respeitavam e entendiam que a culpa de não ter dado certo não era de nenhum deles. Sarada cresceu num ambiente amoroso, onde Sasuke sempre estava presente nas datas especiais e aumentando a pensão todo ano. As escolas, cursos e passeios da menina eram decididos em concordância dos dois. Se um não queria que ela saísse para tal lugar, eles conversavam sobre.

Ele finalmente chegou à sala, a porta estava aberta, então Sasuke se apoiou no batente e colocou a cabeça para dentro. Havia meia dúzia de mães e pais e ainda muitas crianças. Ele mal reparou quando Sarada veio correndo na sua direção e jogou as pernas no seu quadril, abraçando-o carinhosamente pela cintura.

— Papai! – gritou ela, feliz da vida – O que você está fazendo aqui? Não é o dia da mamãe? – Perguntou, confusa. Sasuke a abraçou de volta, segurando-a para que não caísse. Um sorriso muito suave percorreu seu rosto, olhando-a de forma doce. Estava procurando seus traços na menina que tinha acabado de completar 10 anos e ganhado um óculos de uma amiga próxima do antigo casal. Ele achava Sakura linda, tudo bem, mas adorava pensar que Sarada era um pedaço seu e ficaria ao menos um pouco parecida com ele quando crescesse.

— Sua mãe ficou ocupada e pediu para eu vir te buscar – explicou, botando-a no chão depois de beijar sua testa. Ainda bem que já tinha terminado os trabalhos de uma nova construção e não estava assim tão ocupado. – Não ficou feliz? – brincou, bagunçando o cabelo dela.

Sarada murmurou que ele estava a deixando feia e depois fez uma cara pensativa.

 — Só vou ficar se você me levar na sorveteria e me deixar comer quatro bolas de sorvete. Com banana – disse muito séria, arrumando os óculos com o dedo indicador e médio.

Sasuke arqueou sua sobrancelha e cruzou os braços, um sorrido no canto dos seus lábios.

— Isso é chantagem! – respondeu, pensando que deveria deixá-la longe de Naruto por uns dias. – Eu te levo, mas você vai ter que dividir comigo – pegou na mãozinha dela, levando-a para sair da sala.

Sarada fez um biquinho e estava falando “Aaah, papai, isso não é justo, você vai comer tudo...”, quando Sasuke sentiu dedos suaves no seu ombro, por cima da camisa fina demais.

— Desculpe, o senhor é o pai da Sarada? – perguntou uma vozinha muito suave e feminina. Sasuke sentiu os cabelos de sua nuca arrepiarem, mas só se virou sem se mostrar afetado. Era claramente uma pergunta retórica.

Quando se virou, prestes a dizer sim para a mulher, sua voz trancou na garganta. Ela tinha um pouco menos da sua altura, batendo em seu queixo. O cabelo era curto e escuro, um tom entre preto e azul, e emoldurava seu rosto de bochechas rosadas e olhos grandes e sensíveis. O vestido rodado e abaixo do joelho com certeza não era nada indecente, mas isso não o impediu realmente de perceber que ela era muito, hm, bonita.

Com a demora da resposta, ela botou uma mecha do cabelo curto para trás da orelha, a franja destacou ainda mais seu rubor natural. Sasuke tossiu.

— Sim, sou sim. – Sasuke correu os olhos para a mão dela, verificando se havia algum anel ou marca de um. Nada. Ótimo, uma mãe solteira cujo o filho era da mesma sala da Sarada. Certamente isso era um pretexto para chamá-la para sair, sim? Fazia um tempo que ele não entrava em um relacionamento, mas talvez ela nem sequer quisesse um. Ok, relaxa, Sasuke. Você nem sabe o nome da mulher. – Pois não?

Ela ergueu a mão no ar, sorrindo, muito educada.

— É um prazer conhecê-lo, Sr. Uchiha. Meu nome é Hinata Hyuuga, eu sou a professora da Sarada. Podemos conversar um momento?

 

 

E foi assim que começou, Sasuke refletiu pensativo, o cotovelo apoiado na mesa. Tinha tentado calcular as bases para um novo empreendimento, mas não conseguiu nada e fechou a pasta, relaxando na cadeira. Hinata tinha lhe falado de que Sarada era um ótima estudante, porém com alguns desvios na lição de casa que podiam ser corrigidos rapidamente se os dois pais se sentassem com ela para fazer a lição. Sasuke nunca tinha se preocupado muito com essa parte, pois as notas da pequena Uchiha estavam sempre boas e ela ainda era muito nova. Sakura lhe respondeu a mesma coisa quando ele contou.

O problema foi rapidamente resolvido, é claro. Tanto ele quanto a, novamente, Haruno, faziam junto da menina a lição de casa. Mas o real problema de Sasuke era outro. Deus, ele não se lembrava de ter se sentido atraído por uma mulher daquele jeito antes. O casamento com Sakura tinha sido ótimo e ela era muito bonita, mas se o Uchiha tinha um “tipo”, Hinata com certeza era ele. Meio que preenchendo os seus antigos sonhos adolescentes.

Ele tinha começado a ir buscar Sarada sempre na escola, com o intuito de conseguir falar com a professora, chamá-la para sair, se mostrar interessado, já que não era nenhuma criança tímida. Mas quando chegava lá, simplesmente a cumprimentava, agradecia por ensinar Sarada tão bem, e ia embora. Ele também tinha medo que Sarada não gostasse que ele fosse namorar sua professora. A menina simplesmente adorava a Hyuuga e Sasuke tinha medo que, se conseguisse algo e falasse para sua filha, ela já não gostaria mais – com ciúmes da mãe. Ele nunca tinha apresentado uma namorada para Sarada, apesar de ter tido casos que duraram meses.

Alguém tocou na porta do escritório, que ele tinha em casa, nesse momento e Sasuke parou de coçar os olhos. Sabendo que era sua filha, simplesmente disse para ela entrar. Já tinha dito que Sarada não precisava bater quando ele estava sozinho ali, mas Sakura ainda insistia que era mais educado e a filha seguia a mãe.

A pequena entrou de pijamas, sem os óculos, pois tinha só miopia. Na mão estava um estojo vermelho e um caderno de uma novela infantil que passava todos os dias, a qual os dois assistiam juntos. Sasuke tinha até aprendido o que raios era um ship e um OTP.

Sasuke rodou a cadeira e a menina sentou-se no seu colo, deixando o caderno sobre a mesa, aberto numa folha que falava sobre figuras de linguagem. Sasuke suspirou.

— Sua mãe é muito melhor nisso do que eu – confessou, afagando os ombros da filha. Sakura sempre tido se dado melhor em humanas e biológicas. Sasuke, por sua vez, só em exatas. Foi o que o levou a virar engenheiro. Sarada cruzou os braços magrinhos e olhou para o pai, as sobrancelhas juntas de modo meio atrevido. – O que foi? – perguntou confuso, achando engraçado como Sarada tentava ficar brava. Ele já tinha a visto brava de verdade e era muito assustadora (que nem a mãe!!), mas estava na cara que ela estava forçando.

— Papai, quando o senhor vai parar de enrolar?

— Enrolar? – Sasuke repetiu sem entender, pegando uma garrafa de água no canto da mesa e tomando um gole.

— É! E dizer logo que quer ficar com a professora Hinata! – completou, sorrindo arrogante. Sasuke cuspiu a água, surpreso.

— Quê? De onde raios você tirou isso, Sarada? – secou a boca com as costas da mãos, usando seu melhor tom de inocência. Ele era péssimo nisso, mas uns anos vendo Shikamaru fugindo das reclamações da esposa tinham o efeito aprender algo.

— Até a ChouChou já percebeu você babando na professora, e ela é muito lerda para essas coisas – Sarada deu de ombros e Sasuke piscou, confuso com o que tinha acontecido com sua filhinha inocente.

“Essas coisas”? – repetiu, pensando que deveria ir conversar com Sakura sobre umas coisas. – Sarada Uchiha, você não é muito nova para isso?!

Sarada revirou os olhos, ainda de braços cruzados.

— Papai, para de fugir do assunto – ela ergueu a mão direita e colocou no ombro dele – Se o senhor está com medo do que eu acho, saiba que eu estou super shippando vocês. A ChouChou também.

Sasuke agradeceu por saber o que era “shippar” e suspirou, sem conseguir conter uma pequena risada. Muito bem, ali estava o que ele queria ouvir.

— Então, o que você vai fazer? – perguntou a filha, depois de sorrir para o pai. Sasuke arqueou a sobrancelha de novo.

— O que você quer dizer?

Sarada revirou os olhos e deu um tapa no próprio rosto, balançando a cabeça de um lado para o outro.

— Todos os adultos ficam bobos assim? – perguntou, rindo quando o mais velho ia repreendê-la por chamá-lo de bobo. Nesse momento ela deu uma olhada no caderno e foi como se uma lâmpada acendesse no seu rosto. – Papai, tive uma ideia! Vamos transformar esse Crack Pairing em Canon!

Sasuke de repente desejou sua filha de 5 anos que gostava das princesas da Disney de volta.

 

Hinata passou um pano umedecido sobre sua mesa, depois de ter apagado a lousa. Ela estava cantarolando uma canção que tinha ouvido num filme infantil recentemente – tinha levado a sobrinha, filha de seu primo com uma grande amiga, para o cinema uma semana antes. Realmente amava crianças e não via a hora de ter seus próprios filhos, agora que tinha terminado os estudos e estava com uma profissão estável. Bem, só faltava a outra parte dessa equação. Ultimamente estava pensando muito em adoção, também.

Estava no trabalho, não era hora de pensar nisso. Prestes a recolher suas coisas, para passar um tempo na sala dos professores enquanto a próxima turma não chegava, alguém a interrompeu.

— Professora? – chamou uma voz determinada, que Hinata conhecia muito bem. Ela olhou para a menina, surpresa.

— Sarada? O que ainda está fazendo aqui, querida? Seus pais ainda não vieram te buscar? – Apoiou-se nos joelhos, curvando o corpo para ficar mais ou menos da altura da garota e sorrindo. Ao olhar nos olhos dessa, acabou corando. Quando ainda não tinha visto o pai da menina, achava-a muito parecida com a mãe, uma mulher muito gentil. Ao ver o dito cujo, porém, mudou de opinião. Ela tinha os olhos dele.

Olhos esse que Hinata estava tentando não pensar muito. Ele era categoricamente muito bonito e educado – e o jeito como tratava a filha? Deus, seu coração derretia todas às vezes que ele ia buscá-la; apesar disso, era o pai de uma aluna sua. Não era ético se sentir assim sobre ele, era? Ficar imaginando aquelas mãos tão grandes em seu quadril, os lábios na sua nuca...

Hanabi tinha razão. Ela definitivamente precisava de um namorado. Toda essa tensão estava a matando.

Sarada deu de ombros.

— Eu pedi para mamãe vir me buscar um pouco mais tarde hoje – explicou. Hinata se sentia ainda melhor de saber que os dois eram separados. Ela com certeza se sentiria duas vezes mais errada se ele fosse casado.

— Oh, entendi – respondeu, voltando o ficar arqueada. – E eu posso te ajudar em alguma coisa, meu amor? Você pode ficar na sala dos professores comigo, se não quiser ficar sozinha – ofereceu, ainda sorrindo.

Sarada tossiu e arrumou os óculos.

— Na verdade, eu queria te entregar isso – ergueu um papel branco, bem dobrado – Papai me ajudou a fazer, ele não é muito bom com figuras de linguagem, então foi um pouco difícil... Mas eu espero que você goste.

Hinata pegou o papel, muito feliz. Ela sabia que tinha escolhido a profissão certa quando as crianças lhe davam presentes, indicando que gostavam dela. Era gratificante todas as vezes, desde a continência exagerada que Metal Lee exigia em fazer todas as vezes que ela entrava na sala, fazendo-a rir, ao bolo de chocolate que ChouChou oferecia dividir com ela – e a menina não dividia com ninguém, exceto Sarada!  Hinata recusava sempre e talvez por causa disso a menina gostasse dela três vezes mais.

— Muito obrigada, Sarada! – e abraçou-a e deu um beijo no topo da sua cabeça. – Fale para o seu pai que é ótimo vê-lo lhe ajudando.

Sarada sorriu de um jeito misterioso.

— Acho que você mesmo vai poder falar! – E, antes que Hinata perguntasse o sentido daquela frase, Sarada foi andando para trás e acenando. – Tchau, Prof! Até amanhã! – Então saiu correndo, a bolsa pendurada nas costas.

Hinata olhou para o papel e o desdobrou, só para achar uma letra cursiva que com certeza não era de Sarada.

 

Para a mulher que roubou minha atenção

Com olhos tão doces e voz tão macia

A garota tão bonita quanto as flores

Das maçãs rosadas e frescas como primavera

 

Para a mulher que é dona dos meus pensamentos

Com sorriso desatento e cabelos de véu

A garota tão brilhante quanto o amanhecer

Dos lábios róseos sempre às Onze Horas

 

Para a mulher que brinca com esse coração

De cheiro lilás como Alcaçuz do Cerrado

A garota tão encantadora quanto os campos verdes

Do riso amável e honesto

 

Acho que me apaixonei por essa mulher encantadora

Que vai rir do verso improvisado

Mas o que vou fazer se estou maravilhado

Com essa tal professora?


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Notas finais do capítulo

Sasuke e Sarada assistindo novela infantil juntos? Sim!
Sarada ensinando para o Sasuke o que significa ship? OH, MEU DEUS, SIM

Queria alguém para me dar um poeminha também :[
Obrigada por ler!



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