Cassie & Evan escrita por Vera Marques


Capítulo 16
Capítulo XVI




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>Evan

A Cassie parecia estar totalmente perdida e eu nem sequer podia confortá-la.

Ela odeia-me agora.

E nem vai permitir que eu a ajude.

—Esta não é a primeira vez que os Outros estiveram aqui. Eles já vieram antes e criaram agentes adormecidos, como eu. Eu sempre me senti diferente. Tinha esta voz na minha cabeça, era calma, mas estava sempre lá. Quando a nave chegou, foi como se um interruptor se tivesse ligado dentro de mim e o adormecido acordou e com ele todas as suas habilidades- tentei explicar.

—Quantas pessoas é que tu já mataste Evan? Era isso que tu ias fazer quando dizias que ias caçar? Eu à tua espera enquanto tu matavas mais uns quantos!

—Eu não matei mais ninguém depois de te ter encontrado- digo.

—E quantos mataste antes disso?- pergunta ela acusadoramente, eu apenas desvio o olhar. Já nem sei quantos foram!- Tu mataste a tua família?

—Não!- como ela pode pensar isso de mim?— Eu não, foi a doença.

—A doença que os Outros criaram, a doença que tu criaste!- diz ela aos berros- Eles amavam-te Evan…

—A nossa espécie acredita que o amor é apenas um truque. Um instinto, um modo de proteger o seu futuro genético.

Pela primeira vez vejo a Cassie a hesitar.

—E tu acreditas nisso?

—Eu acreditava- a cara dela demonstra mágoa e desilusão- Mas então eu vi-te. Na floresta, sozinha. Tu não hesitaste em pegar na arma para te defenderes quando ouviste um barulho, tu viste a coruja e deste um mínimo sorriso- eu suspiro com a recordação- Eu não sei como. Eu não entendo, mas… é como se isso tivesse desligado o interruptor e fez-me querer ser humano novamente.

—Foste tu que atiraste em mim?

—Não- digo sentindo nojo de mim mesmo só de pensar nessa possibilidade- Eu salvei-te. Eu passei vários dias atrás de ti a observar-te depois de te ter visto pela primeira vez, e quando tu estavas naquela estrada eu vi outro tipo como eu, ele conseguiu ser mais rápido e disparou sobre ti antes que eu o conseguisse abater. Eu fiquei aterrorizado só de pensar que te podia ter perdido, eu levei-te para a minha quinta e cudei de ti- faço uma pausa- Eu estava errado, eles estão errados. O amor não é apenas um truque, é real. Eu disso agora, por tua causa.

Tento aproximar-me dela, mas ela faz questão de levantar mais arma e mandar-me ficar onde estou.

—Eu não quero ouvir mais nada, só… fica onde estás!- diz ela e vai buscar a mochila dela à tenda.

Eu não posso perdê-la…

—Cassie, por favor deixa-me ajudar-te. Tudo o que eu quero é ajudar-te a encontrar o Sam.

—Para quê? Isto é mais algum plano dos Outros?

—Claro que não Cassie! Eu só te quero ajudar.

—Fica de joelhos Evan- diz ela calmamente- Vá lá, só fica de joelhos- ela volta a pedir e eu obdeço mas decido começar a dizer o que sei, pode ser que ela assim confie em mim.

—Como tu dizes o exército é controlado pelos Outros para prepararem as crianças.

—Prepará-las para quê!?

—Para matar os últimos humanos.

Ela olha-me aterrorizado como se não acreditasse que os Outros seriam capazes de tal atrocidade. Primeiro parece que ela ainda vai dizer alguma coisa, mas logo depois ela simplesmente vira costas e vai embora. Eu irei atrás dela de qualquer jeito mas será mais fácil se ela confiar em mim…

—Eles vão revistar-te, ler as tuas memórias, tu não vais conseguir sem ajuda…

Ela para e olha-me de soslaio.

—Eu a partir daqui vou seguir SOZINHA, e se tu me seguires eu vou atirar sobre ti.

E dito isto vai-se embora.

Eu deixo-a avançar enquanto pego nas minhas coisas, mas sem nunca deixar de ouvir os seus passos para não a perder. Logo depois sigo em total silêncio atrás dela. Sempre mantendo a distância. Ela foi cuidadosa e ia espiando tudo à sua volta, fiquei feliz por saber que ela aprendeu o que lhe ensinei e o pôs em prática.

Apesar de todo o cuidado ela não conseguiu detetar a minha presença, afinal eu ainda sou um Silenciador.

Quando estávamos a chegar à autoestrada e a sair da parte da floresta eu decidi que hora de agir. Fiz algum barulho enquanto ela andava para ela dar por mim.

Cassie parou, segurou a arma mais firme e ficou alerta.

—Cassie- sussurrei.

—Não me faças arrepender de não te ter morto quando tive oportunidade!- disse ela.

—Tu não serias capaz.

—Achas-te a assim tão importante?

—Não só por isso, é só que…

—Tu és um maldito Outro! E portanto é mais forte, resistente, habilidoso,…

—Exato- eu disse calmamente.

—Porque é que tu simplesmente não deste meia volta e voltaste para a tua quinta plantar qualquer coisa, rasgar lenha, matar pessoas ou que raio tu costumavas fazer antes de eu aparecer? Porque é que tinhas de me seguir?

Ela parece estar a ficar irritada com tudo isto.

—Porque eu te quero ajudar a salvar o teu ir…

—CALA ESSA BOCA! Não ouses falar no meu irmão é por causa de pe… coisas como tu que ele e eu estamos nesta situação.

—Eu sei que tenho culpa e é por isso que eu estou disposto a arriscar tudo para o salvar.

—Vai à merda! Tu não devias ter me seguido- ela diz começando atirar contra em direção aonde eu estava à milésimos de segundo atrás.

Esta é a minha Efémera. Corajosa e capaz de fazer o que é preciso. Foi por isso que me apaixonei por ela, mas neste momento eu desejei que ela não fosse assim, porque a sua teimosia só vai tornar as coisas mais complicadas.

Ela continua a disparar mas de repente para, provavelmente não quer gastar as suas monições comigo. Esperto da parte dela.

—Já podemos falar civilizadamente sem que eu fique sujeito a levar um tiro?

—Só saberás quando apareceres.

Céus, porque ela tem de ser tão complicada assim?

De qualquer das maneiras, eu tenho de arriscar.

Silenciosamente movo-me por trás dela e ela só se apercebe da minha presença quando já está à minha mercê.

Agarro-a por trás e tiro a M16 das suas mãos, ela tem a Luger e ainda uma faca que só lhe retiro quando ela está imobilizada, ela não pode enganar-me fui eu que lhe dei a faca e fui eu que a ensinei a esconder as armas para ninguém se aperceber delas.

Como era de esperar ela não permaneceu parada enquanto eu a desarmava ela se debateu e só parou quando já não tinha forças.

—Mais relaxada? Ótimo!- disse largando-a.

Mantive as armas à distância e peguei qualquer coisa para comer.

—Queres?- perguntei oferecendo-lhe um pouco de carne seca.

Ela apenas me encarou com ódio e nada disse. Ela sempre foi orgulhosa. Eu não, por isso estendi-lhe a comida.

Ela aceitou mas desviou a cara enquanto comia.

—Será escusado dizer que se tentares fugir eu disparo.

Ela simplesmente revira os olhos. Eu nunca o faria, mas ela não precisa de saber isso.

Ficamos em silêncio enquanto comemos.

—É melhor irmos indo.

—Para onde?

—Acho que há uma ponte aqui perto, eu não vou montar a tenda de novo portanto vamos passar a noite lá de baixo.

—Literalmente a dormir debaixo da ponte- sarcástica como sempre!

Quando chegamos à ponte eu atiro-lhe o saco de cama.

—É melhor descansares. Amanhã será um dia longo.

—Porquê?

—Nesta mesma autoestrada passam autocarros ao final do dia tal como aquele em que o teu irmão foi levado. E tu vais entrar num desses autocarros.

—Ou o quê!?

—Ou não vais conseguir salvar o teu irmão- ela olha-me com uma expressão interrogativa- Eu sei o que te espera quando chegares à base, nós vamos ter um dia inteiro para elaborar um plano.

Ela parece mais tranquila e então estende o colchonete e o saco de cama e deita-se, sem nada dizer.

Eu fico acordado toda a noite de vigia.

—Bom dia- digo calmo quando Cassie acorda.

Ela olha-me, primeiro parece serena quase feliz em me ver, mas logo o olhar dela muda. Ela apercebe-se que não foi um sonho. Que eu na realidade sou um outro.

—Bom dia- diz ela desviando o olhar.

Eu podia ficar feliz porque ela respondeu, mas não fico porque ela fica a olhar para o nada com um ar triste.

No fundo eu era a única coisa boa que lhe tinha acontecido e até eu era uma mentira, uma desilusão.

—Queres comer alguma coisa?- pergunto.

—Não…- diz ela baixinho.

Ela já não está com raiva. Neste momento ela está simplesmente triste, desiludida e perdida…

—Eu entendo que tu não queiras mais confiar em mim, mas eu posso realmente ajudar-te. Eu não te prometo que vá conseguir salvá-lo mas eu prometo fazer tudo o que conseguir.

Ela encara-me.

—Eu…- suspiro- Eu vou contar-te tudo o que vais encontrar quando chegares à base e…

—Tu sabes que depois disso não há volta a dar- ela diz para meu espanto, seria aquilo preocupação?

—Eu sei, mas eu estou disposto a arriscar- por ti, era o que eu queria dizer mas provavelmente ela não iria acreditar e ia voltar a ficar furiosa comigo.

Então eu contei-lhe tudo, tudo quer dizer, só da parte da base. Traçamos um plano, ainda íamos ao meio da tarde quando eu estava a rever com ela o plano pela segunda vez.

Quando acabámos um silêncio se instalou sobre nós.

Eu fiquei a olhar para o horizonte, a repassar o plano pela cabeça para ver se não tem nenhuma falha mesmo sabendo que tem: ele nunca vai dar certo, eu sei disso, é impossível dar certo. Eles… nós… somos demasiado espertos e os humanos demasiado previsíveis, ainda assim eu tenho que tentar. E pensar no plano é melhor do que não pensar em nada…

Quando olhei para a Cassie vi que ela estava com uma data de fotografias na mão aproximei-me dela e ajoelhei-me a seu lado, sei que não devia, mas não consigo estar longe dela, também não consigo vê-la assim sem a confortar.

—É a tua família?- pergunto ao ver a foto na sua mão.

Ela meio que se assusta por não ter notado que eu me aproximei, não que eu tivesse sido silencioso mas ela estava distraída. Provavelmente com memórias felizes do passado.

Ela encara-me e para meu espanto ela não me afasta.

—Sim, esta era a minha família- a família que eu te tirei, eu penso.

Ela passa a fotografia.

—E essa quem era?- pergunto curioso ao ver várias fotos cómicas dela com outra rapariga, ambos não conseguimos evitar sorrir.

—A minha melhor amiga, Lizbet.

—Ela parece engraçada.

—Ela era— o seu sorriso desmancha-se e o meu também logo a seguir. Foi mais uma das coisas que eu lhe roubei…

Ela passa a foto, mas desta vez não é uma foto que aparece mas sim um bocado de jornal com a fotografia de um rapaz.

—E esse…- digo.

Oh, aaaaaa, este não é ninguém- ela abana a cabeça, parece envergonhada.

Benjamin Thomas Parish, capitão da equipa— eu leio quando ela ia para passar a foto.

—O cara mais popular da escola por quem todas as garotas suspiravam- percebi que ela devia ser uma dessas garotas e não fiz mais perguntas.

Na foto seguinte apareceu a imagem mais fofa de todas: a Cassie a agarrar o irmão, ele estava de cabeça para baixo e tinha o sorriso mais genuíno que eu vi na vida.

—E este é o teu irmão.

—Sim- ela respondeu.

—Mal posso esperar para o conhecer- ela encarou-me e deu um mínimo sorriso.

Um tempo depois estava na hora de nos separarmos, ela foi para a estrada para apanhar o autocarro que nós esperávamos que passasse e eu fui para a floresta, mas antes de virarmos costas ela disse:

—Obrigada, Evan, por tudo.

 


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram?

No próximo capítulo são vocês que escolhem quem vai narrar: Sam, Ben ou Marika?

Foto da Cassie e do Sam: https://www.google.pt/search?q=cassie+e+sam+sullivan&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjyk9W064nVAhWQmhQKHch9CGQQ_AUIBigB&biw=1093&bih=530#imgrc=N3AtV4RZOMynsM:

Outra coisa, eu sei que o Evan não é lá muito fofo com o Sam no livro, mas encontrei estes vídeos dos dois atores e achei que devia partilhar porque é mesmo muito fofo:
https://m.youtube.com/watch?v=Q4if3LhRcaY
https://m.youtube.com/watch?v=2Swygo3D5Sg



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