Memórias de um Amor escrita por Gumi


Capítulo 1
A Noite Fatídica


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Primeira Fanfic que posto desde 2014!
Espero que gostem!



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Tudo começou a 26 anos.

Na época eu era apenas um jovem rapaz, vivendo na euforia de meus 16 anos. Eu e meus conhecidos vimos o Pop ter sua queda no fim dos anos 1980, e agora vivíamos na década, que aos nossos olhos, seria a década do Rock'n Roll.

Costumávamos vagar pelas ruas, promovendo arruaças. Nossos cabelos longos e desgrenhados, nossas roupas estampando rostos famosos do Grunge e a vontade de provar que nada dos controlaria, costumávamos achar que éramos invencíveis e que a rebeldia nos manteria jovens para sempre, hoje eu sei que não podíamos estar mais errados.

Lembro-me que naquela noite fomos como de costume ao Night Memories Club. Eu e meus conhecidos mais próximos, Eduardo e Théo, queríamos apenas ouvir boa música e aflorar nossos sentidos com ecstasy. Jovens, loucos e imprudentes como éramos buscamos na droga algo que afagasse a dor de não saber ao certo quem éramos, quem seriamos.

Night Memories era um Club sem grande fama, para falar a verdade somente pobretões e viciados o frequentavam, mas era o que podíamos bancar. Imagino que se em algum momento aquele lugar havia tido dias de glória, já haviam passado a muito tempo. O que restava agora eram apenas uma fachada iluminada com lâmpadas azuis, a maioria queimadas e um prédio sem pintura, com tijolos expostos que já acumulavam musgos nos rejuntes.

Little'D, abreviação de Little Drug. Era assim que chamávamos o homem de quem comprávamos o ecstasy, jamais soubemos seu verdadeiro nome mas, para nós seu nome pouco importava. O encontrávamos sempre sentado na mesma mesa do Club, uma mesa pequena afastada das outras em um canto. Comprávamos a mercadoria e o deixavamos sozinho em sua mesa pouco frequentada.

No interior do Club as luzes vermelhas refletiam no globo de espelhos que girava incessantemente. Sem aquelas luzes de cor intensa a boate seria um breu, por isso era fácil chegar ao Little'D e sair discretamente.

Com a "droga do amor" em mãos cada um de nós tomou uma pequena pílula de felicidade. Meu corpo, agora já sem o vigor da juventude, ainda arrepia-se ao lembrar-me da sensação de euforia, da intensidade que o mais banal toque tinha sobre meu corpo. Sob os efeitos da droga éramos capazes de esquecer que talvez nunca pudéssemos chegar a lugar algum além da fronteira do estado.

Mais clara do que qualquer outra sensação, lembro-me do desejo. Éramos jovens e cheios de luxuria, e como dito antes Night Memories Club era o lugar para onde os fracassados iam. Isso incluía viúvas, jovens moças traídas e todo tipo de mulher que acreditasse estar no fundo do poço, sem esperanças e sonhos. Foram com mulheres como essas que concretizei minhas primeiras experiências sexuais.

O ecstasy era capaz de tornar todo meu corpo sensível, cada parte dele aflorava como uma nova zona erógena. As luzes da boate eram incrivelmente vibrantes sob o efeito da pílula, graças a isso era fácil ignorar a aparência degradante das garotas que lá se encontravam e acabavam por tornar-se nossas por alguns momentos.

Ao fim do coito porém, muitas mulheres acreditavam que haveria outra noite, e quem sabe, um futuro. Mas a verdade é que: nunca haveria outra noite, nunca haveria um futuro, era apenas sexo, uma troca de favores. Elas nos entregavam seus corpos e nós acariciavamos seus egos e orgulhos feridos.

Depois de muitos anos, finalmente compreendi que nunca foi uma troca justa. Mas o que um garoto entenderia sobre justiça quando está drogado e cheio de desejo?

Naquela noite fatídica porém, vi sentada em um banco do bar uma garota. Seus cabelos estavam bagunçados e cobriam seu rosto. Me aproximei dela e toquei seu braço, de forma rápida e agitada ela olhou-me. Possuía algumas marcas escuras abaixo dos olhos, nunca soube se eram olheiras ou maquiagem borrada. E seus olhos eram profundos, pareciam ver através de mim, eram dois labirintos nos quais eu me perdi desde o primeiro instante.

— Quer algo?_ Ela indagou-me.

— Importa-se que me sente aqui?_ Disse apontando para o banco ao lado do seu.

— Fique a vontade._ Ela respondeu-me com um meio sorriso indecifrável, sorriso esse que eu jamais esqueci.

Era fácil conseguir o que queríamos da maioria das mulheres, estavam todas carentes e desesperançadas, mas essa era diferente. Ela era confiante, claramente não estava sem esperança e era muito bela, mesmo ofuscada pelas luzes que embaçavam meus olhos, era a mulher mais bela que já havia visto.

Trocamos algumas palavras por um breve momento. Então ela tocou meu braço e fez a pergunta mais incomum de todas:

—O que acha de sairmos daqui e irmos para sua casa?

Eu não soube o que dizer por dois motivos: 1- já havia transado com muitas mulheres mas nunca havia levado nenhuma a minha casa. 2- eu estava drogado.

Fiquei tanto tempo em silêncio que ela perguntou:

— Você está chapado?

— Não. Ecstasy._ Respondi sem encará-la. Estava fazendo papel de bobo como se nunca houvesse flertado com uma mulher antes, bom, certamente não com uma tão bela, mas isso não era desculpa.

— Eu também usei.

Só então reparei em suas pupilas incrivelmente dilatadas.

— Quer ir até a minha casa?

Com o mesmo sorriso de antes e um olhar envolvente ela deixou alguns trocados sobre o balcão e me seguiu até minha casa. Morava duas ruas abaixo do Club.

Chegando lá fomos em silêncio até meu quarto, meus pais dormiam então pedi para que fosse cautelosa. Ela andava na ponta dos pés, carregando as botas nas mãos.

Deitamos sobre minha cama e colocamos uma faixa qualquer para tocar em volume baixo. Lembro bem de vê-la tirar do bolso um cigarro de maconha, a censurei dizendo que já havia usado ecstasy, mas ela era louca, eu descobriria isso mais tarde, esse era seu karma. Quando terminou o cigarro levantou-se da cama e tirou a roupa, peça por peça, era quase uma dança, e era enlouquecedora. Despi-me também e juntos nossos corpos caíram na cama novamente.

Naquele instante eu não sabia, não poderia saber, mas era a união de duas almas. Dois corpos apaixonados ardiam em prazer, cedendo aos caprichos da luxúria guardada nos cantos mais íntimos de cada um. Infelizmente, eu só saberia mais tarde que a amaria todos os dias dali por diante.


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