Poker Face escrita por Shiori


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hey! Shiori está de volta!
Lembrem-se daquela oneshot que demorei séculos a escrever para uma colectânea, cujo tema era a "busca de algo que não seja amor ou felicidade", e isso fez com que eu deixasse de atualizar as minhas fanfics? Pois é-----

De qualquer forma, todos os trabalhos enviados para a colectânea foram maravilhosos e recomendo a leitura ♥
Infelizmente, será a última colectânea...
Enfim, o link para a colectânea encontra-se no final.



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— O que aconteceu há dez anos?

Aquela pergunta ecoou na sala de arquivos da esquadra do distrito central e fez Simon Densen parar de olhar para as caixas rigorosamente organizadas. Os seus olhos eram azuis e os cabelos eram loiros, geralmente espetados para cima, mas naquele dia estavam puxados para trás, com um gancho – estava quente demais, na sua opinião. Saiu do corredor onde estava e viu os mais recentes detetives da esquadra a conversar: Jett e Rawiri.

Jett Robinson tinha cabelos castanhos, penteados a modo a ter duas mechas em pé, e olhos verdes, além de ter sobrancelhas grossas e um penso rápido no nariz – a cicatriz por de baixo era a única marca de seis anos de convivência com um pai abusivo. Já Rawiri Munu, este possuía cabelos loiros, num tom escuro semelhante a castanho, encaracolados, a modo que parecesse que tinha dois chifres de cordeiro, um em cada lado da cabeça, olhos verdes e também sobrancelhas grossas. Ah, se não tivesse lido os currículos deles, apostava que eram parentes (de uma certa pessoa) por causa daquelas sobrancelhas estranhas.

 

— Não sabes o que aconteceu há dez anos? – perguntou Rawiri, arqueando uma das sobrancelhas. – O caso foi tão falado.

— Kiwi, tu sabes que não me lembro de nada antes dos 15 anos.

 

Simon olhou para os oceânicos com uma expressão de compaixão; sabia muito pouco sobre eles, como pessoas, mas sabia era o tipo de vida que eles tinha levado até então (ao menos, o que consta nos já mencionados currículos) – que são totalmente opostas, diga-se de passagem. Nada muito pormenorizado, no entanto.

Rawiri provinha de uma boa família – rica, com boa formação escolar e com grande influência em várias áreas económicas e politicas –, era o filho mais velho de três e tinha um bom futuro pela frente, independentemente de se safar ou não na polícia como detetive – algo que ambicionava ser desde criança.

Por outro lado, Jett era filho único de um alcoólico que o usava como um saco de pancada sempre que se enfurecia. Após de um incidente que lhe custou a memória, aos 15 anos foi retirado do pai e foi para uma instituição, onde ganhara onze “irmãos”. Quatro deles, no entanto, acabaram por ser adotados e Jett perdera o contato com eles.

 

— Por que queres saber isso, Jett? – questionou Simon, se aproximando deles.

— Ah, uns polícias comentaram sobre isso e fiquei curioso! – exclamou, sorrindo como uma criança. – Tipo, foi o caso que te tornou inspetor-chefe, não foi?

— Foi uma referência para me tornar, na realidade.

 

Simon sorriu e caminhou para o lado oposto, à procura de um arquivo em especial. Ao encontrar, parou e tirou a caixa de cartão. Procurou muito bem entre os objetos e papeis o artigo que queria.

 

— Encontrei. – anunciou. – Olhem para este relatório sobre o caso.

 

O australiano correu até ao superior e pegou a folha de papel. Chamou com movimentos frenéticos Rawiri, que andava devagar e calmo até ele. Assim que estava o suficientemente próximo, Jett coloca o braço por cima dos ombros do loiro e o aproximou ainda mais. O neozelandês corou, mas nada fez – não ia adiantar nada.

Começaram, então, a ler o bendito relatório que revelaria a inesperada reviravolta da vida de Simon.

 

***

 

“No dia 28 de novembro de 2016, às nove e meia da manhã, chegou uma carta pertinente à redação do jornal Lusíadas – nesta declarava-se que o quarteto de ladrões FAIR roubaria o Diamante de Sangue do museu Atenas no último dia do mês. Aquela notícia exclusiva foi publicada no dia a seguir e, graças a ela, vendeu-se mais de um milhão de exemplares (dados recolhidos uma semana depois).

Aquele dia estava a ser um caos. Sons de telefones a tocar, papéis a voar, encontrões, muito café e chá consumido, a sua escassez que provocou sarilhos e berros dos funcionários que tentavam controlar a confusão, tudo isso naquela habitação.

A jornalista Laura Franke, dona de uns belos olhos verdes e cabelos loiros curtos e ondulados, presos com uma fita verde, observava tudo com o seu chocolate quente nas mãos. Era uma situação estressante. As pessoas de fora queriam saber da veracidade da carta; duvidavam, com toda a certeza.

O surgimento da carta foi inesperado, ainda mais tendo em conta que o jornal Lusíadas não era o maior jornal do país, nem sequer o segundo. Era o sétimo. O que fazia crer à Laura que era uma mera provocação do quarteto. Sim, provocação.

 

— Laura!

 

A loira se virou e viu o seu chefe a chamar. Afonso Vaz de Pessoa era o dono do sétimo maior jornal do país. Ele possuía cabelos castanhos, cumpridos o suficiente para os prender num rabo-de-cavalo pequeno, e olhos verdes, de um tom olival. Por baixo do olho direito, havia um sinal.

Laura sorriu e se aproximou dele.

 

— Diz, Fonz.

— Acho que é o momento ideal para respondermos à esta provocação, certo?

 

Com isso, a moça sorriu de lado com uma expressão sinistra no rosto.

 

— Claro. Irei falar com eles.

 

Nesse mesmo dia, às duas e um quarto da tarde, a jornalista Laura Franke foi para casa, onde se encontrou com os seus irmãos, membros do Gangue Tomate (GT) – uma organização criminosa, inimiga de FAIR (…).

Assim que abriu a porta, Laura viu que o irmão mais velho, Tim Franke fumava algum tipo de droga nova com o seu cachimbo. Fez uma cara de nojo e fechou a porta com força, fazendo o seu irmão olhar para si, surpreso.

Tim logo se acalmou, retornando ao seu jeito sério de ser. Como sempre, os seus cabelos loiros estavam espetados para cima (com muito gel). Além disso, os seus olhos verdes estavam ligeiramente vermelhos, por conta do uso da nova droga. Laura confessava que queria que o seu irmão parasse, até porque a cicatriz que ele possuía na testa foi por causa de uma luta entre traficantes e ele. Bom, ele ganhara a luta, mas talvez para a próxima, ele não teria a mesma sorte.

 

— Laurie, bem-vinda.

— Obrigada, Tim. – ela agradeceu, revirando os olhos logo a seguir. – Para de usar isso por uns momentos, tenho algo importante para falar. Onde está o Xavier?

— No quarto. – respondeu, levando o cachimbo aos seus lábios, de novo.

 

Laura suspirou e foi abrir uma janela. Após isso, começou a andar até às escadas, para ir chamar o irmão mais novo. No entanto, foi interrompida pela voz de Tim.

 

— Ele está a falar com o namorado.

— Oh, ele está aqui?

— Não. – respondeu de imediato. – Videochamada.

— Que pena. – disse ela. – Assim, falava com ele sobre isto também.

 

Deu de ombros e subiu as escadas. Virou à esquerda e bateu na segunda porta, onde tinha uma placa com o nome de Xavier, ricamente decorada. Laura ouviu a voz do irmão por detrás da porta, provavelmente falando com o namorado.

 

— Sim? – Xavier perguntou, abrindo-a.

— Xavier, há algo que tenho que falar contigo e com o Tim. – ela informou. – Urgentemente.

 

Ainda nesse dia, às três horas em ponto, o resto do Gangue Tomate já sabia do plano (…).

Nessa exata hora, o detetive Simon Densen falava com o jornalista Luciano da Silva, o único que se encontrava livre naqueles momentos de loucura (…).

A sala onde se encontravam estava bem organizada, ao contrário daquela que Simon acabara de passar – estava um caos autêntico.

Simon Densen era o detetive encarregado do caso FAIR. O loiro não tinha sido a primeira escolha; aquele que tinha sido escolhido para tal, o detetive Arthur Kirkland, negou em assumi-lo, afirmando que tinha assuntos pessoais. O mesmo se passou com o detetive Antonio Fernández, a segunda opção. Sendo Simon a terceira opção, ele necessitava que provar que merecia o caso.

 

— Pode se sentar. – ouviu o jornalista a dizer.

 

Os olhos azuis de Simon encararam o jovem jornalista; a aparência dele era o oposto de Simon. Os seus cabelos eram de um castanho que, de tão escuro que era, parecia preto e os seus olhos eram igualmente castanhos, mas de um tom achocolatado. Para além disso, é necessário realçar o tom moreno da sua pele.

Por fim, Simon sorriu e se sentou no sofá creme.

 

— Obrigado.

— Sem problema.

 

O jornalista sentou-se à frente do outro e sorriu.

 

— Foi mal pela confusão. – ele se desculpou, suspirando de seguida.– A sede está um caos por causa da carta.

— Não se preocupe, eu entendo.

 

O loiro pegou no seu bloco de notas e caneta de tinta preta.

 

— Luciano da Silva, certo? – Simon perguntou.

— Sim.

— Quando a carta chegou?

— Ontem, perto das nove horas da manhã. – começou o moreno. – Eu ainda não tinha chegado.

— Quem escreveu o artigo sobre a carta?

— A jornalista Laura Franke. – respondeu. – Se quiser o contato, eu posso lhe dar.

— Sim, seria uma grande ajuda.

 

Luciano sorriu e colocou a mão no bolso das calças. Ao sentir nada, tentou no outro bolso. Murmurou um “oh” ao perceber que deixara o seu telemóvel na sua secretária (ou terá sido noutro sítio…?).

 

— Ih, esqueci do…

 

Timidamente, alguém bateu à porta e Luciano arqueou a sobrancelha. Levantou-se e foi abrir a porta. Quem batera fora o estagiário Aleixo Ramos Belo, um jovem rapaz de belos cabelos pretos, olhos castanhos e de pele morena, que tinha, em suas mãos, o telemóvel de Luciano.

 

— Ah, meu celular! – pegou no aparelho. – Nossa, cara, como você sabia que eu ‘tava precisando dele?

— E-Eu não sabia… – respondeu de pronto, passando a mão nos seus cabelos negros, envergonhado. – Foi o chefe quem me pediu para lhe entregar.

 

Com tal resposta, Luciano corou imenso ao se lembrar onde tinha deixado, de facto, o telemóvel. Secretária o caramba! Fora em casa do seu Fonfon!

 

— A-Ah, valeu, cara. – disse, tentando voltar ao seu estado normal. – Diz para ele que eu agradeço…

— Claro.

 

O mais novo se despediu e saiu dali. Luciano fechou a porta e virou-se para Simon. Tratou logo de procurar o número de Laura.

 

— Hã, o número dela é…

 

Uma hora depois, ocorreu um problema na esquadra de polícia onde o detetive Arthur Kirkland, agente duplo da FAIR infiltrado na polícia distrital, trabalhava – a fuga de um criminoso que resultara num ferimento no mencionado detetive (…).

Aquele dia estava a ser péssimo para Arthur Kirkland, um jovem adulto com cabelos loiros (que eram impossíveis de pentear!) e olhos verdes, de um tom semelhante aos das esmeraldas, além das suas sobrancelhas grossas e farfalhudas.

Primeiro, ele tinha chegado tarde ao trabalho, pois as suas ancas doíam (e ainda doem!) por causa da noite passada. Depois foi porque queriam o meter a investigar um caso em que ele estava envolvido, o da carta misteriosa ao jornal Lusíadas. Nem morto investigaria algo que estava metido até aos pés. Era algo que o seu orgulho não permitia.

No entanto, isso não chegou para deixar o dia mau. Teve que haver um criminoso a fugir de um interrogatório e fazê-lo de refém! Graças a ele, agora Arthur tinha um arranhão no seu rosto. Mas não teve que ir para o hospital, ao contrário do criminoso. Arthur sabia se defender, só não esperava que o outro batesse com a cabeça na ponta de um móvel quando o inglês o empurrou. E, agora, ele podia ser punido por ter usado força em excesso.

Espero que o meu argumento de defesa pessoal funcione e…

 

— Argh! – exclamou ele, de dor. – Dá para teres mais cuidado, Fernández?!

— Ah, cala-te, Kirkland! – o outro respondeu, fulo com a situação.– Eu fui obrigado a fazer isto, ok?! Nem queria estar a tratar da tua ferida!

 

Ah, claro, não podemos esquecer do último motivo que fez o dia de Arthur terrivelmente péssimo: Antonio Fernández, o seu colega. Eles estavam sempre a discutir, mas os outros pensavam que era somente uma farsa. Afinal, apesar das ofensas trocadas, eles trocavam, inconscientemente, contatos físicos, como, por exemplo, aquele.

As pernas de Antonio estavam à volta da perna esquerda do loiro, mas nenhum deles reparara nisso. Eles se odiavam, sim, mas isso é por causa da atração que sentiam um pelo outro. Não era amor que os outros pensavam que eles sentiam um pelo outro. Era ódio puro, com uma pintada de atração.

Arthur não podia negar que o espanhol era lindo; cabelos castanhos, sempre despenteados por opção (que, no entanto, ficava bem), olhos verdes olivais e pele morena, queimada pelo Sol espanhol.

 

— Ah, sei! – respondeu Arthur, irritado. – Preferias estar a abraçar aquela árvore, a Maria Rosalina, verdade, seu pan idiota?!

— C-Cala-te! Eu estava bêbado nessa vez! – Antonio estava corado por causa da memória vergonhosa. A partir daquela vez, o moreno tem evitado beber tanto álcool. – Ah, mas eu aposto que querias estar a dar o teu rabo para o Francis!

— E qual é o problema disso?! Far-me-ia um prostituto querer fazer amor com o meu namorado?!

 

Com tal resposta, Antonio se calou e agradeceu a Deus por não haver ninguém na habitação.

 

— Desculpa, tens razão. – suspirou ele, continuando a limpar a ferida do outro.

— É claro que tenho! – exclamou ele, mordendo o lábio para não gritar de dor de novo. – Mas também não devia ter falado da Maria Rosalina…– murmurou desta vez.

— Sério que vais continuar a chamá-la disso? – o espanhol perguntou. – É uma árvore.

— Nós ficamos a dizer-te que era uma, mas insistias em chamá-la disso!

— Estava bêbado! – justificou-se e pousou o algodão em cima da mesa. – Acho que não é preciso um penso rápido, né?

— Não é preciso.

— Se é assim, estás pronto.

 

Arthur tentou se levantar, mas não conseguiu. Olhou para a sua perna e viu que Antonio enrolara as suas à volta da dele.

 

— I-Idiota!

— O que foi?

— Olha para as tuas pernas!

 

Dito isso, o moreno olhou para as suas pernas e quase teve um ataque cardíaco. À presa, libertou a perna do outro e se levantara, corado.

 

— P-Perdão!

 

O espanhol começou arrumar o kit de primeiros socorros e, assim que terminou, saiu a correr. Arthur estava estático e sem reação. Odiava aquilo com todas as suas forças.

Às cinco horas da tarde, o detetive Densen se encontrava com Laura Franke no café Mamma Mia, para a interrogar sobre a carta.

Simon tinha que confessar que estava demasiado nervoso. Tinha telefonado à Laura, a pedir para se encontrarem para a interrogar, e ela sugerira que o tal encontro fosse no famoso café Mamma Mia. Por ser um lugar público, ela também pedira que ele usasse roupa casual. E era por isso que ele estava nervoso: iria parecer que era um encontro de namorados!

O dinamarquês usava umas calças de ganga escuras, uma camisa branca com riscas azuis-claras verticais, um suéter azul-escuro, um casaco de ganga e botas de montanha; demorava pouco tempo para escolher as tais vestimentas.

De momento, estava sentado numa cadeira de uma mesa perto da grande janela. Olhava para a entrada, à espera de uma moça loira, com uma fita preta, passar pela porta. E, quando a viu, arregalou os olhos perante a beldade dela. Usava um vestido de mangas curtas, cuja parte cima era branca com linhas pretas horizontais e a parte baixo era negra, tendo pormenores a branco e tendo dois triângulos pretos por cima, fazendo ter a sensação que era um gato negro ali representado. Para além disso, usava meias-calças pretas e botas castanhas, além da já mencionada fita preta no cabelo.

Assim que a loira olhou para os lados, à procura dele, Simon colocou a sua mão no ar, chamando a sua atenção. Ao vê-lo, ela sorriu e se dirigiu até o detetive.

 

— Detetive Densen, presumo.

— Menina Franke, certo?

— Sim.

 

Laura sentou-se na cadeira e chamou por um empregado; este se aproximou-se e, rapidamente, ela fez o seu pedido.

 

— Menina Franke, será que me pode contar os pormenores da carta recebida no dia 28 de novembro? – Simon perguntou, pegando no seu bloco de notas.

— Oh, detetive, não vai pedir nada?

— Ah, não…

— Peça algo. – insistiu ela, sorrindo. ­– Eu pago.

— Não! Não quero que me pague nada.

 

Laura deu de ombros e se virou para o empregado que olhava confuso.

 

— Lovino, é o mesmo que eu pedi para este senhor. – ela informou, ignorando os protesto do dinamarquês. – Aliás, os tomates que mandaste para o meu irmão estavam bons.

 

O italiano olhou para a belga com uma expressão de confusão, algo que Simon estranhou. Como se tivesse entendido, o rapaz moreno de olhos verdes sorriu.

 

— Diga a esse idiota para me ligar para falarmos sobre isso.

 

Simon, naquele momento, soube que algo estava errado. Havia ali algo que o inquietou e, como detetive, ele tinha uma boa intuição (não tão boa como gostaria de ter, mas dava para o gasto).

Assim que o empregado afastou-se, Simon analisou Laura que, ao ver que estava a ser observada, sorriu e fez Simon corar.

 

— Se passa algo, detetive?

— Não. – respondeu de pronto, de forma nervosa. – Digo, não devia ter feito o pedido, menina.

— Que tal tratarmo-nos por “tu”? – ela perguntou, colocando os cotovelos em cima da mesa. Ajeitou o cabelo de forma sensual e voltou a sorrir. – Temos a mesma idade, não?

— Isso eu não sei, menina...

— Laura. – ela disse, pousando os braços sobre a mesa. – Tenho 26 e tu?

— 27.

— A diferença não é muita, Simon.

 

Nesse momento, o empregado voltou com os pedidos: dois pratos com waffles com chocolate derretido e um morango por cima e dois copos com sumo natural de laranja. Simon olhou para o que estava na mesa e depois para a belga.

 

— Sumo de laranja?

— Sim, algum problema?

— Não, tirando o facto de custar os olhos da cara. – brincou ele, começando a comer o seu waffle. – Teria sido mais barato uma bebida engarrafada.

— Sim, mas prefiro sumo natural. – retrucou ela, também a começar a comer. – Além disso, a minha situação financeira está favorável.

— Ainda bem. – respondeu ele, até se lembrar do que viera fazer. – Ah, Laura, será que podes responder à minha pergunta?

— Oh, sim. – ela disse e sorriu (o que foi suspeito, na opinião de Simon). – Desculpa, mas dá para repetires?

— Sim. – ele pegou, de novo, o bloco de notas e a sua caneta. – Quero saber dos pormenores da carta recebida no dia 28 de novembro.

— Não lhe disponibilizaram a carta?

— Não.

— Eu disse para entregar ao encarregado do caso! – exclamou ela, surpresa.

— O jornalista Silva não me falou nada sobre isso…

 

Laura bateu na sua própria testa. Claro, teve que ser o Luciano!

 

— A carta era simples. – começou ela. – Foi escrita no computador e o inglês usado era britânico e excelente, sem nenhum erro.

Por alguma razão, o dinamarquês lembrou-se de Arthur quando a outra mencionara “britânico”. Ignorou esse facto (jamais acreditaria que o outro, um detetive exemplar, fosse criminoso e corrupto) e continuou a ouvir Laura no seu monólogo sobre a carta.

Mas mesmo com as novas informações, Simon estava incerto sobre o que fazer depois.

 

Às onze horas da noite, o casino The Hero abre as portas e os convidados entram, prontos para gastar e ganhar dinheiro (…). Entre eles, estava o jornalista Lopo Wang, também membro do Gangue Tomate, e Emilie Bonnefoy, escritora famosa sob o nome de Emilie Massy e irmã do membro de FAIR, Francis Bonnefoy (…). Segundo fontes locais, Lopo e Emilie eram amantes.

A euforia estava bem presente no grande casino The Hero. A quantidade de pessoas era incontável, mas isso não importava – afinal, o que realmente importava era o dinheiro que elas tinham no bolso. Era o dinheiro que controlava o mundo e este mesmo mundo girava à volta da riqueza; todos querem ser pobres de ricos, não só para viver bem enquanto vivos, mas também na morte: o dinheiro era o melhor advogado no inferno. A ganância tornava os seres humanos tão desumanos; monstros que são capazes até de vender a sua própria alma ou a dos outros.

No entanto, o caso não era assim com Lopo e Emilie. Eles amavam jogar e, obviamente, ganhar – jogavam pelo prazer da vitória e não pelo dinheiro; isso era somente um fator à parte. Aliás, foi naquele sítio onde se conheceram. Ambos estavam a jogar uma partida de póquer muito intensa, juntamente com outros dois sujeitos que haviam desistido.

Se Emilie fechasse os olhos, era bem capaz de recordar-se da primeira vez que se encontraram.

 

— É a primeira vez que vejo uma mulher tão bem. – comentara, na época, Lopo, sorrindo para Emilie. – Na realidade, é a primeira mulher que vejo a jogar.

— Ainda bem que sou a sua primeira.

 

Com aquele comentário, Lopo rira um pouco. O seu interesse por ela acabara de aumentar gradualmente. O moreno olhou para as suas cartas; era uma boa cartada, capaz até de ganhar.

 

— Desiste? – perguntara ela, com um sorriso sacana. Ah, se ela soubesse como Lopo gostara daquele sorriso…!

— Não e a menina?

— Também não.

 

Ambos olharam-se nos olhos de um do outro, sem quebrar o contato; parecia que estavam a tentar ler a mente do outro, apesar de estarem só a admirar a cor da íris. A loira possuía olhos azuis, tão vivos e encantadores, bem capazes de cativar a todos (Lopo tinha que confessar: ele tinha sido cativado por eles); já o moreno, possuía olhos de uma cor exótica, uma cor que Emilie não se lembrava ter alguma vez visto num ser humano: era um tom dourado, sendo que eram brilhantes e fascinantes. A monegasca era bem capaz de ficar a fitar sem se fartar daquela cor. Ela teria conseguido isso se Lopo não tivesse quebrado o olhar.

Lopo revela as suas cartas, com um sorriso triunfante; tinha ganhado, com certeza.

 

Straight Flush de copas.

— Oh, de facto, uma boa cartada. – ela sorriu.

 

Sem entender o sorriso da outra, Lopo se inclina para recolher as peças apostadas.

 

— Mas acho que a Royal Straight Flush seja melhor. – comentou ela, revelando a sua cartada de paus.

 

Lopo arregalou os olhos, assim como os outros sujeitos. Aquela imagem estava bem guardada na mente de Emilie; tinha sido hilário!

O chinês voltou-se a sentar, olhando fixamente para a loira, que se inclinara para guardar o seu prémio. Notara tudo nela naquele momento. Desde da forma que o cabelo loiro dela estava traçado ou de como os óculos estavam posicionados (que, aliás, parecia que os óculos dela eram da mesma marca que os dele), ou de como ela usava o vestido vermelho sem mangas. Por fim, notou o quão belo era o sorriso dela.

 

— Quer jogar de novo? – Lopo perguntara, cortês como sempre. Na verdade, ele queria saber mais sobre a vencedora.

— Não. – responde, se levantando delicadamente. – Já arrisquei demasiado por hoje.

 

Emilie pegou nas suas fichas e as guardou numa malinha que trazera para aquele fim. Após disso, despediu-se e se afastou. Lopo também fez o mesmo e foi atrás dela.

 

— Quer arriscar noutra coisa que não seja o jogo?

— Não gosto de relações de uma só noite. – respondeu de imediato.

— Falava de uma bebida, mas também prefiro um relacionamento longo e duradouro.

— Aceito a bebida.

 

Lopo sorriu e ambos foram ao bar do casino. Enquanto andavam, o jovem rapaz reparara como o vestido vermelho de Emilie chamava a atenção dos homens; longo e justo, o vestido realçava a silhueta da mulher – o que, na opinião do chinês, a deixava mais sensual.

Ao chegar ao bar, eles pediram as suas bebidas e o barman serviu as bebidas à frente deles e, ao terminar, entregou-as. Eles pegaram nos seus respetivos copos.

 

— Ainda não sei o seu nome. – Lopo declarara com um pequeno sorriso, levando a sua bebida aos lábios.

— Não perguntou.

— Qual é o seu nome, se é que me pode dizer?

— Emilie Bonnefoy. – responde, bebendo um pouco da sua bebida. Emilie jurava que não sabia porque havia dito o seu verdadeiro nome, mas sentia-se bem com o outro. – E o seu?

— Lopo Wang. – disse, mas logo continuou. – Bonnefoy? É familiar do dono da cadeia de hotéis Le Rosier?

— Sou a irmã mais nova.

— Oh. – murmurou ele, surpreso. – O que faz a menina?

— Sou escritora. – respondeu, sorrindo de forma orgulhosa. – Conhece o nome Emilie Massy?

 

Ao ouvir isso, Lopo demostrara uma expressão de surpresa, o que fez a loira rir. Mais tarde, a loira conheceria muitas outras facetas de Lopo e estaria apaixonada por cada uma.

 

— Autora do Best-Seller O jogo da Morte? – perguntou retórico. – Não me admira que me tenha derrotado. A protagonista, Isabelle Aubry, é um génio no póquer.

— Aprendeu com a melhor. – Emilie brincou, piscando o olho direito de forma sedutora.

— E a melhor aprender com quem? – Lopo continuou com a brincadeira, sorrindo.

— Com o pai.

 

Lopo não comentara nada ao ver o sorriso triste da Emilie; presumiu que algo de mal tivesse acontecido entre ambos e não quis aprofundar. No entanto, se ela quisesse desabafar, ele estaria lá para a ouvir, como bom cavalheiro que era. Na realidade, ele sentiu um desejo de estar presente em todos os momentos da outra, mesmo sem saber muito bem o porquê disso.

Por sua vez, Emilie sentiu que o seu coração rachara; recordasse do pai era doloroso para ela, afinal, ele abandonou-a, juntamente com a mãe e o irmão mais velho.

 

— Só me lembro dos momentos que passamos juntos a jogar. – começou ela; naquele momento, ela tinha estranhado a facilidade que ela teve para se comunicar com ele; sentia-se confortável com aquele sujeito e era bem capaz de lhe contar os seus segredos. – Bom, também me lembro do dia que foi-se embora.

— Perdão.

— Não precisas de dizer isso. – murmurou ela, movendo o copo. – Já conformei-me com a ideia de ter sido abandonada por ele.

 

O moreno ia falar algo, mas Emilie impediu. Terminou com a sua bebida e sorriu para ele.

 

— Quer saber? – perguntou ela, retórica. – Estou afim de jogar consigo. Quer vir para o meu quarto de hotel jogar póquer?

— Só se for isso.

— Também não pretendia mais nada. – disse, pousando o copo na banca do bar. – A não ser que queira fazer apostas.

— Gostei dessa ideia. – sorriu Lopo, terminando a sua bebida. – Se eu ganhar, a menina terá que namorar comigo.

— Oh, direto. – retrucou ela, sorrindo da mesma forma que ele. – Gostei. Se eu ganhar, tem que me pagar um jantar.

— Trato feito.

 

Lopo perdera, mas Emilie aceitara o pedido de namoro. Só que em segredo.

Por isso, eles só encontravam-se naquele lugar ou, então, em lugares discretos. Como era aquele caso.

Com o passar do tempo, eles ficaram cada vez mais íntimos e acabaram por revelar os seus segredos um ao outro – Lopo dissera que era membro de GT, enquanto Emilie respondera que o seu irmão era de FAIR, o que os fez ficar mais unidos e serem mais discretos, para que ninguém descobrisse o relacionamento que, sejamos sinceros, era como o de Romeu e Julieta.

 

— O meu irmão não me contou nada sobre essa carta.

— Entendo. – Lopo suspirou. – Bom, não podes contar sobre o plano a ele.

— Jamais te trairia. – informou a loira.

— E ao teu irmão?

— Também não, mas não vou falar com ele hoje, logo é só omitir informações até essa noite.– Emilie disse, sorrindo de forma traquinas. – Além do mais, se eu contasse, ele descobriria sobre o nosso romance.

 

O jovem ajeitou-se na cadeira em que estava e aproximou o seu rosto ao de Emilie.

 

— Bom saber. – sussurrou ao ouvido dela, que ficou corada.

— Hm… Queres voltar ao quarto? – perguntou ela, enquanto ajeitava os seus óculos.

 

Ele sorriu e ia responder, no entanto, a voz escandalosa de um certo loiro não o permitiu.

 

— Emilie! Que surpresa!

 

Lopo olhou para o sujeito que acabara de chegar. Este era loiro, num tom de areia, e tinha olhos azuis, protegidos por um par de óculos de armação fina; além disso, era impossível não notar na mecha de cabelo que insistia em ficar em pé.

 

— Olá, Alfred.

— Oi! – saudou ele, arrastando uma cadeira para se sentar ao lado deles. – Como estás?

— Estou bem e tu?

— Também! – respondeu ele, em bom som. – Ah, quem é o teu amigo?

— O meu nome é Lopo. – o chinês respondeu de uma forma educada. – E o jovem?

— Hahahaha! Eu sou o herói! – exclamou ele.

— O herói? – repetiu o chinês, tentando entender. – Oh, é o dono do casino?

— Exato! Alfred ao seu serviço!

 

Lopo e Emilie se entreolharam; eles queriam ir embora. No entanto, seria rude sair assim, não?

 

— Ah, Emilie, podes dizer ao Francis que os irmãos do Artie querem ter uma “conversinha”?

— Posso, mas…– Emilie começou, mas interrompeu-se ao reparar o que ele queria dizer. – Alfred, não me digas que disseste aos teus primos que…!

— Desculpa! – exclamou o americano, em desespero. – Eu não sabia que eles não sabiam!

— Ah, Alfred, o meu irmão está em maus lençóis!

— Hm… – o moreno pronunciou-se, sem saber o que dizer. – O que se passa…?

— Er… Acontece que o meu primo Arthur e o irmão da Emilie, Francis, namoram, mas os irmãos do Arthur não sabiam e eu acabei por dizer a verdade…

 

Não contar a ele sobre o nosso relacionamento., pensou Lopo, cauteloso. Sentira pena de Arthur, mesmo não o conhecendo.

 

A sua amante levantara-se de pronto, com uma expressão não muito agradável.

 

— Vou vê-lo agora, Alfred. – informou ela, mas Lopo notara que ela mentia. Após de anos de convivência, o chinês era capaz de saber quando Emilie mentia ou fazia blefe – Com a sua licença…

— Oh, eu acompanho-te. ­– o moreno declarou, se levantando também. Sorriu para Alfred. – Foi um prazer conhecê-lo.

— Igualmente!

 

Lopo seguiu a loira com um sorriso no rosto; era raro Emilie mentir, mas quando o fazia para o bem deles… Bom, o chinês achava aquilo atrativo e sedutor. Sabia que a noite que viria seria selvagem e calorenta. Alfred ficou a observá-los até desaparecerem na multidão. De seguida, agarrou no seu telemóvel e ligou para Francis.

 

— Hey, Francis. – começou, sorrindo sarcasticamente. – Acho que a tua irmã está envolvida com o Gangue Tomate.

 

À uma da manhã, os membros da FAIR se reuniram na casa de Ivan Braginski, médico pediatra no hospital de Little Sunflower (…). Segundo fontes anônimas, existem rumores que afirmam que Ivan tem ligações tanto com a mafia russa tanto com a chinesa (…).

Ivan Braginski era um sujeito um tanto que misterioso. Sempre com um sorriso no rosto, era difícil saber o que se passava na mente dele e, por conta disso, as pessoas o temiam; melhor, só os mais velhos. As crianças o adoravam, era como se ele tivesse uma conexão com elas. Na realidade, devia ser por causa da capacidade dele de as entender. No fundo, Ivan era como uma criança que, forçosamente, teve que seguir as pisadas da falecida mãe; as do pai não. Quem seguira fora a sua irmã mais velha – a verdadeira e única herdeira de uma das maiores organizações criminosas do mundo.

Apesar de terem a mesma mãe, Irunya e Ivan tinham pais diferentes. O pai de Inunya ao descobrir que a sua mulher o traíra, a matara e ao amante. No entanto, não teve coragem para matar Ivan que, na altura, era somente um bebé. Adotou-o como filho, mas deixara o apelido do pai verdadeiro; não queria que Ivan vivesse numa mentira e, portanto, desde cedo o mais novo já sabia da verdade – o que, no entanto, afetara-lhe a mente

A sede por sangue começou cedo, mas não pelo seu pai. Era por todos os outros que o ousavam desafiar.

 

— Como estava a dizer, – Alfred se pronunciou, após de beber do seu milkshake de chocolate (sim, ele parara no meio do caminho para comprar aquilo). – acho que a Emilie está envolvida com o GT.

— A minha pequena? – Francis perguntou, revirando os olhos. Não gostava quando os outros difamavam a imagem da irmã. – Cuidado com o que dizes, Alfred.

— Mas é verdade. – continuou ele. ­– Estava com um jornalista da Lusíadas.

— E o que tem isso? – Ivan perguntou com um tom doce, mas, ao mesmo tempo, tinha sabor a amargo; estaria de mal humor?

— Foi uma teoria que o Artie teve, né? Por isso que mandaste a carta a eles! Como é esperado, tens sangue de herói dentro de ti! Hahahahaha!

— Para de falar, idiota. – Arthur ordenou, cruzando as pernas; estava sentado no sofá ao lado do Francis. – Mandei para lá por ser mais conveniente. Além do mais, é o jornal de um grande amigo! Achas mesmo que ia suspeitar deles?

— Eh?! Foi no aleatório?!

 

Alfred parecia extremamente chocado. Esperava mais do seu primo. Sim, por mais que lhe custasse a admitir, ele admirava o seu primo.

 

— Pensei que tinhas suspeitado que Lusíadas estava ligada ao Gangue Tomate.– comentou sem ânimo algum.– Usufruindo das tuas conexões de detetive…

— B-Bom! – exclamou Arthur, sentia-se mal por ter dececionado o seu primo. – Nunca se sabe se aquele jornalista está ou não envolvido.

— Mas isso não implica que a minha irmã esteja envolvida!

— Bom, eles são amantes.

 

O francês olhou para Alfred, chocado com aquela frase. Não pode ser verdade!, pensou. A sua irmã seria incapaz de ocultar um namoro; aliás, incapaz de esconder qualquer coisa!

Francis recusava acreditar naquilo; Emilie era pura demais para ter um amante. A ideia da sua menina ter um homem sem ser ele na sua vida era tão… Incredível! Ele sempre ignorara os comentários das criadas do seu hotel que difamavam a irmã; eram rumores, pensou sempre ele. Emilie a levar um homem para o seu quarto? Impossível!

 

— Alfred, essa brincadeira está a passar dos limites e...

— Brincadeira, Artie? Achas que é?

 

Alfred bufou e tirou do seu bolso uma pen. Atirou-a para cima da mesa e sorriu de forma orgulhosa de si mesmo.

 

— Filmagens inéditas do casino The Hero. – declarou, revirando os olhos logo após. – É melhor preparares o teu coração, Francis. São imagens pesadas.

 

Francis olhou para a pen e depois para Arthur, a medo. Se aquilo que Alfred estava a dizer era verdade… Oh, nem queria imaginar a dor que sentiria.

O inglês suspirou e agarrou na pen. Olhou para o seu namorado, sério.

 

— Francis, tens duas opções: ou não vês as filmagens, podendo assim adiar o teu sofrimento até depois da nossa missão ou vê-las, o que poderá destroçar o teu coração e irás distraído para a nossa missão.

— Ou vai fazer-te ter vontade de esmagar os Big Four do Gangue, da!~ – Ivan intrometeu-se, sorrindo como sempre; queria ver o sangue de seus rivais. – Vai que esse jornalista seja do Big Four! Se é que estiver no GT, claro, da.

— Era nestas horas que era conveniente conseguirmos ver os rostos dos Big Four. – comentou Alfred, retirando os seus óculos.

 

O americano fechou os olhos e o símbolo de um coração negro surgiu na sua bochecha esquerda; o formato era idêntico aos corações das cartas de copas. Abriu os olhos e já não eram azuis; eram vermelhos como rubis, além de serem brilhantes como a pedra preciosa lapidada.

 

— Mas eles também não conseguem ver os nossos, então tudo bem. – concluiu, sorrindo sadicamente.

— Alfred, o que estás a fazer? – Arthur questionou, arqueando a (grossa) sobrancelha. – Essa habilidade não funciona connosco.

— Em vocês, não, mas nos outros…

 

A porta foi repentinamente aberta pela irmã mais velha de Ivan. O seu rosto estava sereno e sério, algo raro de acontecer – os seus olhos azuis expressivos pareciam sem vida. O cabelo curto e loiro estava preso com uma bandelete preta e usava um batom vermelho – do mesmo tom que as manchas de sangue espalhadas pelo rosto e pelo vestido preto e justo ao corpo, o que realçava as curvas e os seios fartos da mulher.

 

Ao ver a Inunya aproximar-se, o americano assobiou.

 

— Eis a rainha da mafia russa! – exclamou ele e Inunya parou ao seu lado. – Tens mesmo uma bela irmã, Ivan!~

 

Num reflexo, Ivan tirou a sua pistola do casaco e apontou para Alfred. Estava furioso, claro.

 

— Liberta a minha irmã, Alfred. Já.

 

Alfred deu de ombros, enquanto sorria de forma sacana. Os seus olhos voltaram à cor original, da mesma forma que os de Inunya voltaram ao normal. Ela piscou os olhos, sem se lembrar como tinha chegado ali.

 

— Oh, Vanya! – ela exclamou ao ver o irmão. – Por que estás a apontar-me uma arma?

— Não é a ti, irmã. – ele abaixou a pistola e a guardou. – É a esse idiota aí, da.

 

Inunya olhou para o lado e viu Alfred que sorria docemente para ela.

 

— Olá!~

— Oh, olá. – ela cumprimentou e, então, notou no seu estado. – Ah, me perdoem pela minha aparência! Tive que resolver uns problemas. – ela estava atrapalhada e nervosa. – C-Com a vossa licença!

 

Com essa deixa, ela saiu da sala apressada. Ivan olhou para Alfred, como se o quisesse matar por ter feito aquilo.

 

— Oh, Vanya, - começou o Alfred, com um tom de piada. – não precisas de me olhar assim.~ A Rainha não ficou zangada comigo.~

— Para de a chamar assim, da. – pediu, com um esgar de lábios. – E só a minha irmã me pode chamar de “Vanya”.

— Mas estou a dizer a verdade, Vanya, – recebeu um olhar assustador, mas continuou firme. – toda gente sabe que a tua irmã é como se fosse uma rainha.~ Delicada, mas poderosa.

— Alfred, já chega. – pediu Arthur, suspirando a seguir.

 

O americano dá de ombros. Levantou-se e caminhou até um mapa com a planta do museu Atenas, o alvo deles. Sorriu. O Diamante de Sangue seria deles.

 

À mesma hora, Densen entrava no clube erótico e clandestino Tulp, para fins de investigação por sugestão de uma fonte anónima que afirmava que havia membros do GT a trabalhar naquele lugar – questionado o porquê, o detetive afirmou que era para recolher informações dos rivais de FAIR (…).

Se havia algo que Simon não fazia ideia do que estava a fazer, era aquilo. Primeiro, nem queria saber por que raios um dos seus melhores amigos, Berwald Oxenstierna, sabia da existência de um clube clandestino e não fazer nada em relação a isso. Ele era um polícia! Devia fazer algo! Simon até insistira em saber o porquê, mas Berwald só olhava-o com aquela expressão assustadora…

De qualquer forma, queria era saber como agir ali dentro. Não importava para onde olhava, havia pessoas a se pegar ou mulheres nuas a dançar num varão… Oh, havia um homem também!

Enfim, o hall de entrada era idêntico aos clubes de strip dos filmes: a iluminação era fraca, mas tinha uma tonalidade roxa e havia fumo de gelo seco a pairar pela habitação. Como mencionado antes, havia mulheres (e um homem) a dançar em varões, cada um numa plataforma circular, rodeada de pessoas a assistir ao espetáculo – mas havia quem fizesse a proeza de fazer sexo ali mesmo.

Desviou o olhar daquela cena e fixou-se numa das plataformas que, apesar de não ter ninguém lá, as luzes apontavam para lá. Um espetáculo vai começar…, pensou, meio a contragosto.

 

— Oh, a Katte vai atuar hoje? – ouviu alguém comentar; pela voz, dava para saber que pertencia a um homem. – É tão raro isso acontecer!

— Realmente. – desta vez foi uma mulher. – Há rumores de que ela é irmã do dono do clube e por isso é que só aparece às vezes.

 

Simon arqueou a sobrancelha. Jamais deixaria a irmã mais nova, Nuunni, participar naquele tipo de coisas; certo, não conhecia a tal Katte, não sabia como era, mas como irmão, ele não deixaria a irmãzinha entrar naquele tipo de mundo. Não, jamais.

Uma mulher prontamente subiu à plataforma. Era loira, com o cabelo penteado em chanel, e o seu sorriso era como o de um felino; de um gato, aliás. Trajava roupas de cabedal preto: uns calções, curtos, com uma cauda de gato, e um casaco de manga curta e pequeno, além de um sutiã com rendas, botas de salto alto, uma máscara que só tapava os olhos e orelhas de gato. Uma autêntica gata negra.

Ela começou a dançar no varão e, como se enfeitiçado, o dinamarquês não conseguiu desviar o olhar dela. Todos os movimentos, para além de serem sexies, estavam bem sincronizados. Mas havia ali algo que o estava a incomodar. Ela era… familiar.

Caminhou até mais perto da plataforma, mas foi contra alguém.

 

— Desculpe. – disse esse alguém.

 

Simon olhou para o jovem e, de pronto, arregalou ao ver quem era. De cabelos loiros e olhos violetas, vestido com roupas de empregado demasiadas curtas e reveladoras, estava ali, à sua frente, o maior assassino de contrato que alguma vez vira: Tino Väinämöinen, conhecido como Verinen Joulupukki, Pai Natal Sangrento no idioma materno do assassino.

Sabia que Berwald uma vez o capturara, há quatro anos, mas, por falta de provas, ele foi libertado. Na realidade, havia provas, mas elas desapareceram, o que fez todos da esquadra suspeitarem mais dele (e houve momentos de tensão quando houve a teoria de haver um espião entre eles).

 

Verinen Joulupukki…– Simon murmurou, olhando para o mais baixo.

— Oh, conhece-me? – perguntou Tino, sorrindo de forma infantil (algo que Simon não estava à espera). – Será que veio me contratar como assassino? Ou…– puxou a gravata do outro, olhando de forma sedutora, olhos nos olhos. – Para outra coisa…?

— Q-Quê? N-Nada disso!

— Ai não? – Tino mostrou uma carteira e abriu-a, revelando um distintivo: era de Simon. – Ah, é o tal amigo do Berwald.~ – devolveu a carteira. – Ele disse que vinha.

— Como…? – perguntou, pegando de volta a carteira e guardando-a.

— Estava distraído. – deu de ombros e sorriu, docemente.– Até uma criança conseguiria tirá-la.

— Não é isso, conhece o Berwald?

— Claro.

 

De pronto, Tino mostrou um fio de prata com uma aliança.

 

— Somos casados.~ – anunciou.

 

Simon ficou chocado com aquilo. Não sabia no que pensar; como assim, o seu melhor amigo estava casado com um assassino de contrato e ele não sabia?! Se Berwald tivesse contado, ele teria compreendido…! Ou não, mas contar não faria mal nenhum. Espera, ele se casou… O Simon não foi convidado para o casamento?! Eles são amigos desde da primária! Claro, teve dias em que se zangavam e lutavam, mas eram bons amigos. E mesmo assim, queria ter sido convidado para o casamento do seu melhor amigo!

 

— D-Desde quando?

— Vai fazer três anos.

— E ele deixa-te trabalhar aqui…?

— Sim, desde que não faça sexo com clientes. – respondeu, sorrindo. – Eu só sirvo às mesas ou fico no bar. Ah, e vendo informações. Quer uma, não é?

— Sim. – respondeu, começando a pensar em quanto dinheiro tinha trazido.

— Não precisa de pagar. – informou, como se tivesse lido os pensamentos do outro. – É amigo do Berwald, claro que não ia pedir dinheiro. O que quer saber?

— Membros do Gangue Tomate.

— Está a ver a Katte? – perguntou e Simon balançou a cabeça positivamente. – Ela e os irmãos são membros.

— Oh, como posso falar com ela?

— Isso vai ser difícil. – ele começou, cruzando os braços.– A Katte não costuma falar com os clientes. Só quando vê alguém interessante, é que se aproxima dele.

— Então, espero ser interessante.

 

Simon afastou-se de Tino, andando em direção da plataforma. Quase ao mesmo tempo, Katte retirou a sua máscara, revelando os seus olhos e, consequentemente, a sua identidade. Ao atirar a máscara para o público, notou Simon e o seu sorriso artístico desapareceu por segundos.

O detetive arregalou os olhos, surpreso ao ver quem estava por detrás da máscara. A dançarina voltou ao seu espetáculo, mas pouco tempo depois, descera da plataforma, andando em direção de Simon, com um sorriso sedutor. Puxou a gravata do outro para sussurrar ao ouvido dele algo.

 

— Detetive, que surpresa. – sussurrou ela. – Por favor, acompanha-me até o meu quarto.

 

Ele concordou com a cabeça e a acompanhou (até porque ela não largara a gravata dele até chegarem ao quarto).

 

— Não sabia que também trabalha num clube erótico, menina Franke.

— E eu não sabia que eras frequentador.

— N-Não sou! – começou, corando. – Estou aqui para investigar.

— O quê? O quão bom é o clube? – Laura perguntou, sarcástica.

— Não, vim falar com membros do Gangue Tomate. – respondeu. – E a menina é membra, não é?

— Estou surpresa. – disse, caminhando até à sua cama e carregando num botão. – Afinal, és um detetive de facto.

— Duvidava?

— Parecias-me um idiota.~

 

Simon indignou-se com aquilo. Ele não se parecia com um idiota…! Ou parecia? De qualquer forma, questionou-se se estava metido em sarilhos: aquele botão não lhe parecia ser para chamar o serviço de quartos.

A belga começou a se despir, sem se importar com a presença masculina no quarto; estava habituada. Coisa que o Simon não estava.

 

— Menina Franke…!

— O que foi?

— Por que está a se despir?!

— Porque quero vestir outra roupa. – respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo e sorriu. – Nunca viste uma mulher nua, Simon?~

— É claro que sim! Já tive namoradas.

 

Laura sorriu de forma sedutora e se aproximou do outro, que recuava até chegar à parede. Assim que havia uma curta distância entre eles, a belga agarrou na mão do outro, com um olhar de provação, e a colocou sobre o seu seio. Simon sentiu-se mais atrapalhado.

 

— Ter namoradas não quer dizer que já viste alguma delas nua.~

— M-Mas eu já vi e… – para de falar ao notar que a belga o “obrigava” a apalpá-la. – M-Menina Franke!

— Oh, vais-me dizer que não gostas? – voltou a fazer o Simon apalpar o seu peito; confessava, aquilo lhe estava a excitar.

 

A porta abriu-se e Simon olhou para o sujeito alto e loiro, com um ar nada amigável. Trazia em suas mãos um cachimbo e, pelo cheiro, o dinamarquês notou que aquilo era, muito provavelmente, drogas.

 

— Pensava que estavas com problemas, Laurie. – disse ele, levando o cachimbo aos lábios. – Não me digas que queres fazer um mènage à trois.

— Gostei da ideia, irmão.~ – Laura brincou, mas Simon levou a sério. – Seria interessante ver-te penetrá-lo com força!

— M-Menina Franke!

— Laurie, deixa esse virgem aí quieto. – revirou os olhos. – Por que me chamaste?

— Ele sabe que somos do GT, irmão.

 

O sujeito trancou a porta e se aproximou deles os dois. Laura afastou-se, para que o irmão assumisse a sua posição. Aproveitou, aliás, para ir-se vestir.

Simon sentiu-se pressionado com os olhos verdes de Tim em si e desviou o olhar para o chão.

 

— Olha para mim. – ordenou e Simon cumpriu com a ordem. – Quem és?

— Simon Densen, detetive…

— Vieste nos denunciar?

— Não. – Simon assumiu uma expressão séria, aquela que usava nos interrogatórios. – Vim pedir informações sobre a identidade dos membros da FAIR.

 

O holandês começou a olhar para o dinamarquês, analisando-o. Parecia estar a dizer a verdade. Para além disso, era realmente um bom partido: bonito, parecia ter um bom corpo e conseguia assumir expressões até que interessantes.

Prontamente, sentiu alguém a tirar o seu cachimbo das mãos e olhou para o lado, vendo Laura com um longo e belo vestido verde, cujas alças passavam à volta do pescoço, formando assim um laço. Ela levou o cachimbo aos lábios e fez uma expressão de desagrado.

 

— Irmão, eu o vi primeiro.– informou. – Ele é o detetive do caso da carta.

— Aquele que o idiota dos tomates recusou?

— Sim.

— Idiota dos tomates…? – perguntou Simon. – Falam… De Antonio?

— Oh, conheces o nosso líder? – questionou Laura.

— Ele é detetive na minha esquadra, claro que o conheço! – exclamou ele. – Meu Deus, estão a insinuar que há um corrupto onde eu trabalho e ninguém suspeitou de nada?!

— Só um? – perguntou, retórico, Tim.

— Q-Quem mais…?

— Bom, tem o polícia Berwald Oxenstierna que é casado com um criminoso e não denuncia este clube clandestino e o polícia Gilbert Beilschmidt, outro membro do GT.

 

— Laurie, queres dizer mais?

— Desculpa, irmão!~ Mas ele não contará nada, certo? – sorriu. – Não seria capaz de estragar a vida deles.~

 

Simon não disse nada. Estava confuso demais com aquilo tudo. Tim bufou e agarrou no outro, colocando-o em cima do seu ombro, o que piorou o estado de confusão de Simon, que começara a mexer-se para se libertar. Ele vai me violar?!, pensou, em desespero. O neerlandês atirou-o à cama e cruzou os braços, à espera que o dinamarquês olhasse para ele.

 

— Lamento informar, mas não sabemos quem são os membros da FAIR.

— Mas já lutaram com eles, não é? – o detetive questionou. – Devem ter visto o rosto de algum deles…

— Isso é impossível. – Laura disse.

— Como…?

— Ninguém consegue ver os rostos deles enquanto eles tiverem as marcas ativadas.

 

Simon arqueou a sobrancelha, não entendendo o que a mulher tinha dito. Isso fez com que os irmãos suspirassem em conjunto. Teriam que explicar tudo.

 

— Estou surpresa que não sabes o que é um Marcado, Simon.

— Marcado…? Fala da lenda urbana, menina Franke?

— Chama-me de Laura. Ah, e ele é o Tim. – ela disse, apontando para o irmão. De seguida, continuou – Mas sim, é da lenda. Só que a lenda é verdadeira.

— Quê…?

— Como deve saber, – começou Tim. – os marcados são os “escolhidos” do destino, Deus, sei lá de quem. Em cada geração, oito pessoas são marcadas com símbolos, iguais aos naipes de cartas, ao nascimento.

— Mas há dois tipos de símbolos. – continuou Laura. – Os pretos e os vermelhos. E eles são naturalmente inimigos. Os FAIR são os marcados pretos, enquanto o nosso Big Four são os vermelhos.

— Quando eles têm as marcas ativadas, nós não conseguimos ver os rostos. – Tim pegou no seu cachimbo de volta e começou a fumar de novo. A irmã revirou os olhos.

— Além de que eles têm habilidades especiais. – disse ela.

— Ah… Agradeço por essas informações. – começou Simon, querendo ir embora. Fez menção de levantar, mas Laura o impediu, sentando-se no colo dele.

— Agora, precisa de pagar por estas informações!

— D-Duvido que tenha dinheiro para isso.

— Ora, não precisa de pagar com dinheiro.~ – sussurrou ao ouvido dele, de forma sedutora. Simon corou; ela queria que ele pagasse com o corpo?! – Basta deixar-nos infiltrar no museu Atenas no grande dia.

 

A polícia local já havia cercado o museu Atenas, à espera do quarteto FAIR (…). Com a notícia do jornal, havia também uma multidão de curiosos, atraídos com a ideia de ver um assalto ao vivo ou ver os criminosos a ser apanhados. Perante esta situação, era impossível FAIR assaltar o museu – havia demasiadas testemunhas e a segurança estava reforçada (…). Descobriu-se mais tarde que as coisas não eram assim (…).

Simon olhava para aquela situação com desdém. Compreendia o porquê de Antonio estar ali, mas o Arthur?! Se capturarmos os membros de FAIR, acho que não receberei nenhum crédito…, pensou ele. Arthur aparecera como um parasita, afirmando que agora poderia ajudar no caso. Ele quer é roubar-me o caso…!

De qualquer forma, aqueles dois estavam a discutir, como sempre. Simon suspeitava que algo rolava entre eles, mas ouvira dizer que Arthur já tinha um namorado.

 

— Simon! – Antonio exclamou, irritado. – Por que este sobrancelhudo está aqui?!

— Sei lá, pergunta ao chefe!

— Ah, cala-te, Fernández! Tu és o meu parceiro, acredito que também tenho direito a estar nos mesmo casos que tu! – Arthur cruzou os braços, irritado. – Aliás, como conseguiste convencer o chefe a deixar-te participar no caso?!

— Foi o Simon que pediu para eu participar. – o espanhol sorriu de forma convencida.

— Quê?! – Arthur olhou para Simon, chocado. – Este idiota?! Ah, claro, são dois idiotas mesmo.

— Hey!

— Até reclamam ao mesmo tempo. – o inglês revirou os olhos.

— Oh, do que estão a falar?

 

O trio de detetives olhou para trás para ver Laura, vestida com o uniforme feminino da polícia. Simon arregalou os olhos; ela estava sexy. Aliás, estava surpreso como ela ficava tão bem com aquela roupa. As suas colegas não ficavam assim, sexys. Não que Simon ficasse a olhar para elas e analisá-las…

 

— Oh, Laura! – Antonio exclamou, se aproximando dela.

— Quem é esta dama? Nunca a vi na esquadra.

— Sou da esquadra da zona oeste. – sorriu ela. – O seu chefe pediu reforços para controlar a multidão.

— É um prazer em conhecê-la, menina…?

— Franke. Mas trate-me por Laura.

— Menina Franke, como alguém tão bela conhece o Fernández, um idiota de primeira? – sorriu Arthur.

— Hey! Afasta-te da Laura! Tu já tens namorado!

— Cala-te, Fernández!

 

Laura riu perante aquela cena e Simon também, apesar de este ter rido de forma mais escandalosa.

 

— Somos amigos de infância. – esclareceu Laura, contando a verdade. – Além de que ele é o ex do meu irmão.~

— L-Laura, não fales da minha vida amorosa!

— Huhu~! Vocês eram um bom casal.~ Pena que terminaram.

— Tu sabes bem o porquê. – o espanhol bufou e se afastou de lá, indo até Gilbert que estava a ler uns relatórios (que Simon nem sabia do que eram).

 

Os homens olharam para Laura, que sorria como se nada tivesse acontecido. Arthur, então, pediu licença e entrou no museu – e, de novo, o instinto de Simon tilintou com aquilo. Suspeitou de algo e ia atrás de Arthur se Tim não tivesse aparecido.

E, meu Deus, por que aqueles irmãos ficavam tão bem nos uniformes….?

 

— Olá, irmão~! – cumprimentou Laura, sorrindo de canto em canto. – Fico bem com o uniforme?

— Huhum. – disse e Simon notou que ele estava a fumar.

— O Simon também fica bem, não? – olhou de lado para o dinamarquês. – Até dá uma vontade de… – sorri sugestivamente.

— É.

 

Simon sentiu-se em perigo. Aqueles irmãos iriam causa-lhe problemas, tinha a certeza.

 

Durante a vigia, Arthur se infiltrara dentro do museu e verificou todos os cantos. A saída de emergência oeste tinha somente um guarda, um alvo fácil, apesar das grandes habilitações que esse sujeito tinha, além de ter uma câmara de segurança apontada para lá (…). Arthur se apodera da sala de videovigilância por meros minutos e o plano se iniciara…

Ivan avançou em direção do guarda, com o seu típico sorriso no rosto. Antes de puder abrir a boca para perguntar o que o russo estava a fazer ali, sentiu os seus pés a congelar. Olhou para eles, o gelo forte avançava pelas pernas. Em desespero, retorna o olhar para o rosto de Ivan: os seus olhos estavam vermelhos e, na sua bochecha, tinha um naipe de diamantes a preto, além do sorriso ter agora um quê de sadismo.

Olhos nos olhos, Ivan sussurrou, num tom musical e divertido.

 

— Feche os olhos e conte até dez, da!~ Não se lembrará de nada!~

 

Lentamente, o guarda fez exatamente o que Ivan pediu, permitindo a entrada de Francis e de Alfred no edifício. No fim da contagem, nem gelo, nem Ivan estavam lá.

 

Aquando questionado, o guarda não se lembrava de nada, apesar de ter comentado que sentia frio nas pernas (…).

Após deste acontecimento, o guarda foi duramente criticado nas redes sociais, apesar dos jornais não terem revelado o nome ou a cara dele. Consequentemente, a polícia também fora criticada, por não ter notado nos agentes infiltrados e também pelo facto de a segurança ter sido toda concentrada nas outras entradas e não naquela em particular; fora uma decisão do inspetor-chefe da esquadra, mas nem ele sabe o porquê – informações recolhidas semanas depois do incidente, sabe-se que o filho do inspetor-chefe era paciente de Dr. Ivan e os conspiradores afirmam que ou houve lavagem cerebral ou ele esteve no lado de FAIR desde do início. Devido à pressão, o inspetor-chefe demitiu-se uma semana depois, sem comentar nada sobre estes factos.

Não houve nenhuns movimentos suspeitos até à noite. A multidão foi-se dispersado, crente de que a carta era uma farsa e que nada iria acontecer, já que o dia prometido estava a terminar. Mas o melhor estava a chegar (…).

 

— Mas onde estão os FAIR?! – questionou o albino Gilbert, estalando a língua a seguir. Estava aborrecido só de ficar a olhar para as telas com as imagens de segurança.

— Não sei… Ah!

— O que foi, Tonio?! Viste alguém?!

— Olha o Lovi ali!~ – aponta para o italiano que estava a fazer ronda; sim, ele também fazia parte do GT. – Fica tão fofo naquela roupa!~

— Ah, pelo amor de Deus, Tonio! Concentra-te!

— Mas se fosse o Lud…

— Oh, ele ficaria mesmo bem…

— A conversar durante o trabalho?

 

Ambos arregalaram os olhos, assustados com a súbita aparição de Xavier. Viraram-se para encarar o luxemburguês que sorria docemente. Assim como os irmãos Tim e Laura, ele tinha cabelos loiros, com uma franja sobre o olho direito, e olhos verdes.

 

— Ah, Xavi, não nos assustes assim!

— E-Ele não assustou o incrível eu!

— Huhum, claro. – meramente sorriu o luxemburguês. – Nenhum movimento suspeito?

— Não.~ – respondeu Antonio. – Somente o Lovi sendo fofo~!

— Meu Deus, Tonio…

 

Gilbert bufou e continuou a ver o que se passava nos ecrãs. Nada de suspeito, claro.

Xavier voltou para o seu posto e Antonio acabara por adormecer. O albino revirou os olhos: tudo sobrava para ele. Observou os movimentos de Lovino até este parar e olhar para o chão. Arqueou a sobrancelha; teria ele encontrado algo? Lovino inclinou-se e agarrou algo que parecia uma carta de jogar. De seguida, viu-o a correr. Iria notificar Xavier do achado, ponderou o dono dos olhos vermelhos. De pronto, a imagem do ecrã ao lado treme e Gilbert olha para lá. Viu um membro da FAIR a olhar fixamente para a câmara e, em seguida, o ecrã desligou-se. Noutro ecrã, viu outro membro a disparar contra a câmara, fazendo com que desligasse. Todas as câmaras começaram a se desligar.

 

— Porra! Tonio, acorda!

 

Gilbert se levantou rápido, o que fez a cadeira cair e haver um grande estrondo. O espanhol abriu os olhos, assustado e, sem pensar muito, também se levantou.

 

— O que foi?!

— Eles estão no museu! Anda logo!

 

Demorou um pouco para Antonio entendesse o que o outro quis dizer e, assim que entendeu, começou a andar, juntamente com Gilbert.

 

Às 23:14, todas as câmaras de vigilância desligaram-se. Tirando uma que foi inutilizada com um tiro, as outras deixaram de funcionar por motivos desconhecidos. Segundo o depoimento de Arthur, fora magia (…).

 Francis sorriu, amargo. Ao ver ali os seus melhores amigos a olhar para ele como inimigo, sem saber quem é ele, era de partir o coração. Confessava que não entendia como os seus rostos não eram vistos; era inimaginável algo assim acontecer e, no entanto, lá estava ele à frente de Antonio e Gilbert, sem eles o reconhecerem, e ele nem usava uma máscara. Algo lhe ofuscava a cara, a ele e aos outros Marcados, quando a Marca estava ativada.

Ágil como é, o francês tirou do bolso um cigarro e o acendeu com o isqueiro. De seguida, atirou o isqueiro com a chama acesa ao ar e o alarme de incêndio começou a tocar, fazendo com que os expressores ligarem-se. Tudo se passou muito rápido.

A confusão provocada foi o suficiente para distrair Tonio e Gil. Arthur apressou-se e correu em direção do moreno e do albino, sem hesitar. Usou as suas algemas para prender um braço de Gilbert ao de Antonio. Aproveitando a distração, Ivan congela as pernas deles.

 

— Isso não estava no plano! – comentou Alfred, indignado. – Destruíste o momento do Ar… Spade!

— Cala-te, Hearts!~ – pediu Ivan, sem paciência.

 

Arthur revirou os olhos; ao contrário dos outros, que eram vermelhos, os do britânico eram rosa: isso deve-se ao facto de ele ser capaz de ver criaturas mágicas. Retirou as pistolas de Antonio e Gilbert e atirou-as para um canto daquela habitação.

Os outros começaram a andar e, quando o inglês começou, sentiu algo a agarrar a sua mão: lá estava ele a agarrar, sem notar, a mão de Antonio. O moreno também só notara agora. De pronto, Arthur largou a mão e apressou-se a sair dali.

Antonio faltara surtar. Oh céus, ele nem queria acreditar no que acabara de descobrir…

 

— Porra! – exclamou Gilbert, tentando mover, em vão, as pernas. – Aquele desgraçado enganou o incrível eu!

 

O espanhol manteve-se em silêncio, pensando naquela teoria. E, como era estranho isso acontecer, Gilbert ficou preocupado com o outro.

 

— Tonio…?

 

De pronto, os olhos de Antonio ficaram vermelhos e a naipe de Espadas aparecer na bochecha a vermelho. Ativou uma barreira à volta das pernas e no pulso; tão rápido apareceu como desapareceu, a algema, com a pressão, abriu-se e o gelo partiu-se em pedaços.

 

— Oh! Incrível, Tonio! Podes…

 

O albino nem pode terminar a fala, já que o espanhol correu para outro sítio, deixando para trás o alemão.

Antonio parou de correr, ofegante, quando chegou à sala de arrumações, e se sentou abraçado às pernas. É o Artie! O Artie!, pensou ele, nervoso. Só pode ser ele! Não acredito que ele é um membro da FAIR! Não o posso magoar! Não a ele! Eu amo-o!

 

— O que foi, Antonio? – ouviu uma voz feminina.

— M-Maura…?

 

Já não estavam mais na sala de arrumações; agora, era o interior da mente de Antonio. Maura era, digamos assim, a segunda personalidade do corpo do espanhol. Na realidade, Maura era um espírito que habita no corpo de um dos Marcados, o Escolhido. Era uma habilidade especial e diferente: não era o Marcado a controlar, era a habilidade que o controlava. Chamava-se de Lado Negro, pela sua crueldade.

Maura tinha cabelos negros lisos e longos e os olhos eram castanhos avermelhados, ligeiramente amendoados. Os traços físicos dela eram semelhante a árabes, incluindo o tom de pele.

 

— Descobriste a verdade sobre Arthur?

— Tu… Sabias…?

— Sim. Eu consigo ver os rostos dos Marcados, Antonio.

— Então, podes me dizer quem são….!

— Queres mesmo saber…?

 

Antonio não respondeu, abaixando o seu olhar. Com aquela pergunta, soube que seria alguém que ele conhecia e que era próximo. E ele não estava afim de partir mais o coração.

Maura sorriu de forma maternal e afagou a cabeça dele.

 

— Eu trato do resto.

 

Os olhos de Antonio começaram a ficar pesados e, lentamente, fechou-os, adormecendo. O sorriso de Maura mudou, tornando-se assim sádico. É, agora ela podia controlar o corpo de Antonio livremente, sem que o espanhol a impedisse.

 

***

 

Xavier sorriu ao ver o seu amado a entrar na Sala das Joias do museu. Ele estava sentado numa cadeira à frente da vitrina onde estava o Diamante de Sangue; exatamente no meio da habitação, sendo a atração principal que se encontra naquela sala. O dono de cabelos castanhos, com um ahoge virado para a direita, mostrou a carta que tinha na mão ao Xavier enquanto aproximava-se. Era um Ás de Espadas, sendo que o símbolo estava muito bem elaborado.

 

— Eles já cá estão…– anunciou Lovino.

— Oh, então, eles sempre vieram. – sorriu, pegando na carta. – Espadas, huh? Talvez devêssemos deixar o Antonio tratar disto~!

— Na última vez, o Lado Negro matou aqueles traficantes…

— Que, convenhamos, mereceram. Usar uma criança como refém…

— É…

— Bom, pronto para o plano, amor?~

— Tenho mesmo que ser a isca? – perguntou Lovino, fazendo uma expressão emburrada.

— Não te preocupes. Se eles ousarem a tocar num cabelo teu, eu mesmo os mato!

 

Lovino derreteu-se todo por dentro, mas continuava a demostrar aquela expressão (apesar de ter corado levemente).

 

— Eles estão a jogar um jogo perdido. – comentou o italiano.

— Mas eles não sabem.

 

O italiano suspirou e beijou o outro.

 

— Deseja-me sorte.

— Tu sabes que sou o homem mais sortudo que existe. – os olhos verdes de Xavier se tornaram vermelhos e um coração vermelho apareceu na sua bochecha. – Não é?

— Tu, não eu.

— Mas seria azar meu se algo te acontecesse. – sorriu. – És o meu bem mais precioso.

 

As faces de Lovino ficaram vermelhas, de um tom de tomate como Antonio diz sempre.

 

— B-Bastardo, não digas esse tipo de coisas assim! – e lá foi a correr dali para fora, deixando o Xavier a sorrir.

 

***

 

Simon estava tramado, tinha a certeza. Ouvira o alarme de incêndio a ativar-se, mas as portas estavam trancadas e ninguém sabia como aquilo era possível. Todas fecharam-se ao mesmo tempo, com um grande estrondo, e ficaram travadas por algo. Numa das portas, Simon notou que estava extremamente gelada e ponderou de que algum dos marcados tinha-a congelado. Essa teoria foi confirmada pelo Tim que estava num canto a fumar.

 

— Simon, não te preocupes. – disse Laura, sorrindo. – Os nossos membros estão a tratar do caso com eficiência.

— Como podes ter a certeza…?

— Confio neles.

 

O detetive não estava convencido daquilo, no entanto. Sabia que, mesmo não parecendo, o Antonio era um bom detetive, mas às vezes agia sem pensar e Gilbert tinha a sua fama de contrariado: ora é muito responsável, ora só causa problemas.

Laura se encostou ao carro e notou que alguns homens a olhavam. Sorriu para si; estava habituada a ser olhada assim no clube com a luxuria – o único senão era que, a maior parte, só a via como um objeto sexual e não como uma mulher. Gostava de satisfazer os desejos sexuais dos outros, mas gostaria de mais dignidade.

 

— Simon.

— Huh? – Simon olha para ela e se surpreende ao ser puxado pela gravata para um beijo.

 

O beijo inesperado fez com que todos os presentes arregalassem os olhos; Simon não fora excepção. Ao ver-se beijado, Simon não quis acreditar. Inconscientemente, correspondeu. Os lábios de Laura eram macios e tinham sabor a morango – afinal, usava um gloss com aquele sabor. Ao se separarem, as faces do dinamarquês estavam ruborizadas e ele se repreendeu por querer mais. Aquela mulher, que sorria como um gato matreiro, era uma tentação. Sabia que, se aqueles irmãos continuassem por perto, a sua sina estaria definida.

 

— Heh~! Ficas fofo corado, Simon. – sussurrou ao ouvido. – De qualquer forma, agora pensam que somos um casal, então, entra no jogo!

— Q-Quê?!

— Oh, há-de ser invejado, eu sei. Ou preferias o meu irmão?

— D-De onde foste buscar essa ideia?!

 

Laura continuou a sorrir, sacana, e se afastou dele. Deu uma olhada aos homens que a olhavam e todos desviaram o olhar. O seu plano funcionara.

O seu irmão entendera a intenção dela, mas isso não impediu que Tim fuzilasse o dinamarquês com os olhos. Ele sempre fora contra da Laura ser assim; claro, à frente de todos, a belga era diferente: doce, amigável, parecia uma irmã mais velha que todos podiam contar com a ajuda dela. Mas no fundo, o que ela queria era uma vida sem regras e cheia de perigos. Uma aventura, por assim dizer.

 

— N-Não me olhes assim! Foi a tua irmã que me beijou!

— Eu olho para quem eu quiser, como eu quiser. – Tim fez um som com a língua. – Não me digas que gostas de ser beijado por qualquer uma…

— Qualquer uma? – Laura perguntou, de olhos arregalados. – Oh, feres os meus sentimentos, irmão!

— Se não trabalhasses no clube, eu até diria outra coisa, Laurie.

— Oh, irmão, essa doeu mais. – disse num tom de ofendida. – Chamando-me de puta…

— Foste tu quem disse isso, não eu. – pega num cigarro e acende-o.

— Aposto que estás fulo por ter beijado o Simon e não a ti.

 

Simon arqueou a sobrancelha perante aquela informação. Oh, será que aqueles irmãos tinham uma relação incestuosa? Não se admiraria se fosse o caso; aqueles irmãos eram capazes de tudo… Isso lhe lembrava que Tim e Antonio já namoraram e que Laura “sabia muito bem o porquê”. Será que ela foi a causadora da separação deles?

O holandês suspirou, deixando o fumo sair de sua boca. Andou até ao carro e abriu uma das portas, indo depois até ao Simon e agarrou-o pelo braço, arrastando-o a seguir para dentro do carro. Surpreendido, Simon não entendeu o que raios se estava a passar até ver Tim a se inclinar sobre ele. E, pela segunda vez no dia, Simon vê-se beijado. Diferentemente do outro beijo, que fora doce, aquele tinha o sabor áspero e toxicante da fumaça do cigarro dele. Não gostou do sabor. Tim, antes de se separar, mordeu o lábio do dinamarquês, que sangrou. O sabor metálico apoderou-se da boca dele; péssimo. E o pior? É que estava sem palavras.

 

— Ah, irmão, fizeste-o sangrar!

— Estamos quites, Laurie. – declarou o holandês, levando o cigarro aos seus lábios. – De qualquer forma, esse virgem devia ganhar compostura e não deixar que os outros o beijem com tanta facilidade. Até parece que quer ser beijado.

— E-Eu não quero! – retrucou Simon, corando. – E isso é assédio sexual! Devia-te…

— Deves nada. – começou a belga. – Não te esqueças que sabemos onde moras, Simon!~

— E os teus parentes.

— Oh, sim! A tua irmã é uma graça! Chama-se Nuunni, certo? – questionou, retórica. – Seria uma pena se algo de mal acontecesse…

 

Aquilo era um blefe; era contra a ideologia do gangue ferir menores e inocentes. Aliás, grande parte dos seus lucros iriam para organizações de caridade e orfanatos. O motivo disto é porque a maior parte dos membros são órfãos ou viviam com dificuldades. Os irmãos Franke viveram grandes dificuldades, mas quando entraram no gangue, ainda pequenos, tudo melhorou – aliás, só o facto de olharem para o grande sorriso de Antonio, um dos netos do fundador do gangue, já melhorava o dia. Agora, podia se dizer que eram ricos. Tim faturava imenso com o seu clube e o tráfico de drogas; Laura preferia o jornalismo, mas participava em muitas missões do GT e trabalhava no clube, onde ganhava gorjetas gordas; por fim, o Xavier: esse aí lhe calhara a sorte grande – literalmente. Tendo a proeza de ser um Marcado, ele tinha habilidades invejáveis. Abençoado com a habilidade de atrair sorte e de fazer todos confiarem nele, ele gostava de arriscar nos jogos e ganhava fortunas. Era assim a vida dele; nem trabalhava, apesar de que gostaria de ser ator ou modelo. Ele conseguiria numa boa, mas era arriscado na opinião dele e iria diminuir o seu tempo no gangue.

A face de Simon empaleceu, alheio ao facto mencionado em cima. Não, eles não podiam estar a falar a sério! A sua Nuunni estava em perigo! Ah, que detetive insolente que ele era! Nunca imaginou que a vida da própria irmã podia estar em perigo!

Céus, mas eles saberiam tudo sobre ele?! Haveria algo que não sabiam?! Desde quando eles o seguiam, para saber tanto?! Desde que entrara na polícia?! Ah, quantas perguntas sem resposta! Bastava perguntar e ele saberia, mas quem disse que Simon tinha tanta ousadia, sabendo que, talvez, a sua irmã corria perigo…?

 

— Isso não ficará assim… – murmurou ele, em dinamarquês.

— Isso foi dinamarquês? – perguntou Laura, curiosa. – Oh, podias ensinar-me!

— Isso implicaria mais tempo com ele. – comentou Tim. – Estás mesmo interessada nele, Laurie.

— Tu também, irmão. – Laura retrucou, olhando com desdém. – Tu que nem beijas putas…

 

Simon podia não ser o melhor a ler climas, mas ele sabia que havia uma tensão ali… E a causa era ele. É, ele era o prémio de uma competição entre irmãos… Estava tramado.

 

***

 

Arthur parou de andar ao ouvir o seu nome; a voz era feminina, doce e encantadora. Era-lhe, aliás, familiar, mas onde ouvira aquela voz?

Olhou para trás e vira a dona da voz: os cabelos eram negros como o breu da noite, olhos castanhos-avermelhados e um sorriso (falsamente) carinhoso. Arqueou a sobrancelha, onde ele já a vira…?

O francês, ao notar que o namorado parara, estranhou.

 

— O que foi, Artie? Estás a ver algum fantasma?

— Cala-te, barbudo. – revirou os olhos. – Não vejo fantasmas e tu sabes bem disso.

— Então, é uma fada?~ – perguntou Ivan, divertido com a ideia.

— Grande demais… Vão na frente, já vos apanho.

 

Os outros três seguiram o seu caminho e Arthur aproximou-se da menina, que prontamente entrou na habitação ao lado. O inglês simplesmente a seguiu, ponderando o que ela era. Talvez fosse uma banshee… Ou uma moura encantada. Afonso, uma vez, lhe contara sobre essas donzelas presas no mundo humano devido a um encantado lançado pelo pai ou marido para proteger os seus tesouros. Achava engraçado quando o português começava a falar sobre as criaturas sobrenaturais do país de origem. Sabia, no fundo, que era uma forma de ele matar as saudades.

Enfim, entrou na habitação e qual foi a surpresa de ver um Marcado lá, com uma alabarda?

A jovem aproximou-se do Marcado, que estava imóvel como uma estátua, e entrou no corpo dele.

 

— Ah, como é bom ter o controlo deste corpo!

— Lado Negro… Há quanto tempo. – Arthur murmurou.

— Verdade, Spades! – exclamou Maura. – Ou devo dizer… Arthur?

— Como…?!

— O dono deste corpo conhece-o e, bom, eu consigo ver o seu rosto e de seus companheiros.

— E ele sabe que…?

— Descobriu hoje. Destroçou-lhe o coração e é por isso… – ergue a alabarda, pronta para o atacar. – Que devo aniquila-lo!

 

A Maura, aproveitando-se das características do corpo de Antonio, pula bem alto, movimentando a alabarda em direção do Arthur que, por reflexo, esquivou. Maura continuou a atacar e Arthur se defendia com magia. Ao ver uma oportunidade, o inglês ataca, fazendo-a recuar.

 

— Bom ataque!~ – Maura exclamou, entusiasmada.

 

O loiro decidiu não comentar nada e empurrou-a com uma rajada mágica, distraindo-a. De seguida, materializou uma espada e atacou-a, sendo prontamente defendida. Ela desferiu um pontapé na anca dele e ele gemeu de dor e de surpresa, mas agarrou na perna dela e a atirou ao chão. Ela rapidamente se recupera, como se aquela queda não fosse nada, e parte para o ataque. Aquilo fora muito rápido para Arthur, mas mesmo assim, conseguiu desferir um golpe no pulso da adversária, fazendo que ela largasse a alabarda.

Mas isso não intimidou Maura, que acabou por ficar ainda mais animada. Ela se abaixa e tenta fazer uma rasteira ao Arthur, mas este pula para trás, escapando-se. Sorriu; era um grande desafio. Correu em direção dele e pulou, agarrando-se ao tronco dele. Ele cedeu e caiu no chão, mas soltou-se dela e pôs-se em pé, meio ofegante.

Maura levantou-se, com a alabarda em mãos.

 

— É um bom adversário, Arthur. – sorriu. – Não tão bom como os seus companheiros na questão de corpo a corpo, mas dá para o gasto.

— Não é meio injusto saber o meu nome e eu não saber o seu? – questionou, sarcástico.

— O meu nome é Maura, mas se quiseres saber o nome do dono deste corpo… Terá que nos matar!

 

Volta a correr em direção dele e ataca-o pelo lado esquerdo, que foi defendido com muita dificuldade por Arthur. Admirava-se pela quantidade de estamina da rival que atacava como um cão raivoso. Enfim, Arthur suspira, farto daquilo. Olhou para a alabarda e murmura algumas palavras; a arma se parte em pedaços e surpreende Maura.

Só que essa surpresa foi como uma faísca para o Lado Negro; aquilo estava a ser divertido!

Ela agarra no braço do inglês e lança-o ao chão, com força. De seguida, posiciona-se em cima dele, imobilizando-o. Retirou a espada dele e a atirou para longe. Preferia vê-lo a sofrer do que matá-lo rapidamente.

 

— Isto foi divertido, Arthur! Devíamos ter lutado mais! – disse, deslizando os dedos pelo pescoço dele e fixou-os ali, apertando-os.

 

A força foi, gradualmente, aumentando, e Arthur começou a ficar sem ar. Ele agarrou nos pulsos dela, tentando se libertar.

Maura sorria, de forma tão insana que chegava a assustar. No entanto, de repente, ela sente-se a chorar e fica surpreendida; Antonio estava a apoderar-se do corpo, lentamente. Mordeu o lábio; estava tão perto de matar aquele que partira o coração de Antonio! Ah, Antonio ficaria furioso com ela. Na última vez, foi quando ela tentou matar Laura – odiava-a imenso. Se não fosse por ela, o espanhol estaria agora a viver feliz…

Olhou para os lados, na busca de uma arma. Tinha que terminar tudo agora ou seria tarde demais… A maldita espada de Arthur estava longe demais e a lâmina da alabarda estava inutilizada.

 

— Ar… – Antonio tentou falar.

 

Arthur sente as mãos do Marcado a perder força e, quando soltou-se, notou que a face começava a revelar-se. Arregalou os olhos.

 

— Fernández…?

— A-Artie…! – exclamou ele, choroso. – E-Eu não queria que isso acontecesse! D-Desculpa!

— N-Não faz mal, Antonio! Não foi culpa tua!

— “A-Antonio”…?

— É-É o teu nome, idiota!

— Nunca me chamaste assim!

 

Arthur corou; ele estava certo. O espanhol sai de cima dele e ajuda-o a se sentar. Em meros segundos, a marca de espadas desaparece do rosto do loiro e Antonio é capaz de ver o rosto dele.

 

— Prende-me, Antonio... – suspirou o inglês.

— Quê…?

— Sou corrupto. Devo ser preso.

— Eu também…!

— Ah, julgas que eu não sei que o GT doa grande parte dos ganhos a organizações de caridade? – Arthur questionou, com um sorriso sarcástico. – És menos corrupto que eu.

 

Antonio mordeu o seu lábio, olhando com uma expressão de dor. Por fim, ele retira as algemas do bolso e acata com as ordens dele. O seu coração doía. Aquilo ia destruir a carreira do Arthur.

 

***

 

Lovino vagueava pelos corredores do museu. Parecia estar distraído, mas estava bem atento. O seu objetivo era ser apanhado: ele era a isca, afinal de contas. Ah, mal sabiam o quarteto que já estava tudo planeado e que aquilo era uma armadilha para os colocar na prisão. Seria concorrência a menos. Tiveram sorte daquela vez; FAIR costumava enviar os avisos às pequenas lojas, hotéis, casinos ou à própria polícia. Fora a primeira vez que enviara a um jornal – que, convenhamos, não era muito popular. Bom, Afonso comentara que o jornal iria ficar famoso com esta situação.

Começou a ouvir passos atrás dele, mas não se virou. Fingiu não ouvir nada e continuou a andar.

 

— Hey!~ Guarda!~

 

O italiano se virou e deu caras com um Marcado muito perto dele; estava somente a meros milímetros do seu rosto! O Marcado colocou a mão no queixo de Lovino, obrigando-o a olhar para os olhos vermelhos.

 

— Sê simpático e nos acompanhe!

 

Com aquelas palavras, Lovino ficou num transe; estava hipnotizado. Ivan sorriu e olhou para os seus companheiros.

 

— Podemos usá-lo, certo?~

— Sim… – Francis disse, incerto do que via.

— O que foi, Francis? – Alfred perguntou, estranhando aquilo.

— Esse rapaz… Tenho a certeza que não é guarda.

— Não…?

— Ele é o primo de um amigo meu. Trabalha num café!

— Ah, vai que é um sósia.~ – disse Ivan, aproximando-se deles. Lovino ia atrás, como um cão obediente.

— Espero.

 

Voltaram a andar, comentando entre si sobre o facto do Arthur ainda não ter voltado. Era estranho, afinal, o britânico era bem pontual. Decidiram ignorar isso e trataram chegar logo à Sala das Joias.

À frente da vitrina, se encontrava Xavier que, ao vê-los, ativou os lasers; se tentassem passar por eles, uma armadilha seria acionada – cortesia do Gangue Tomate, diga-se de passagem.

 

— Jovem Guarda~! Será que pode se afastar daí? – Ivan questionou, trazendo para o seu lado Lovino e apontando uma pistola à cabeça dele.

— Seria contra as ordens dos meus superiores.

— Oh, mesmo com a vida do seu colega estando em perigo?~

 

Ivan continuou a aproximar-se dos lasers, brincando com a própria vida. Não se importava, na realidade. Aquilo era divertido e, a meros centímetros, empurrou Lovino para os lasers. Quase ao mesmo tempo, estes desligam-se e Xavier deixa cair o controlador para apanhar Lovino antes que este caísse no chão.

O russo sorriu e apontou a pistola para eles, impedindo que eles fizessem algum movimento brusco. Alfred tirou a sua própria pistola e disparou contra a vitrina, partindo o vidro em vários pedaços. Francis passou pelos guardas para ir buscar o diamante; o tentador e valioso diamante vermelho, do tom do sangue, estava agora na posse da FAIR. Podia dizer, até, que era o maior feito que eles tinham feito.

 

— O que vamos fazer com eles? O Spades não está aqui, da. – Ivan perguntou, sorrindo. – Congelo-os até morrerem?~

— Oh, Diamonds, não vamos fazer isso. – interveio Francis. – Não somos como a GT que mata.

— Então, como faço para me juntar à GT?~

— Menos, Diamonds, menos…

 

Francis suspirou e, com o diamante nas mãos, aproximou-se dos guardas. Com a mão livre, fez aparecer uma rosa vermelha e entregou ao Xavier, que olhou confuso.

O francês nada disse e fez um sinal para Ivan, que abaixou a arma e desfez a hipnose sobre Lovino. De seguida, o trio saiu daquela habitação.

Xavier tocou no rosto de Lovino, à espera que ele acordasse. Ele acabou por acordar; sonso e confuso, não sabia o que fizera nos últimos momentos. O seu namorado logo lhe sorriu, feliz por ele estar bem. Entregou-lhe a rosa e o italiano ficou a olhar para ela, sem entender nada.

 

Amore mio!~ – disse o loiro, num italiano carregado com sotaque luxemburguês.– Fico feliz por estares bem! – beijou-lhe as faces, com afeto.

 

Lovino corou perante aquilo, não compreendia o que raios se tinha passado.

 

— Mas, Diamonds… – quando Xavier disse isso, a marca de Ouros surgiu no rosto de Lovino e os seus olhos ficaram vermelhos. – o plano funcionou e…

— O diamante é nosso.

 

***

 

Alfred tirou o diamante das mãos de Francis e lançou-o ao ar, para o apanhar de novo. Parecia uma criança a brincar com uma bola, atirando-a para cima e apanha-la. No entanto, parou de andar.

 

— Eu preciso de óculos melhores ou este diamante tem um “made in China” escrito nele…?

— Para de brincar, Alfred, da.

 

Francis aproximou-se e olhou com atenção; ele tinha razão. De pronto, pegou no diamante e viu que era de vidro. Uma falsificação barata.

 

— Não acredito que a polícia nos enganou!

— A polícia? Oh, estás tão errado, membro da FAIR! Isso foi um plano do glorioso eu!

 

Os três olharam para o sujeito de olhos vermelhos brilhantes e marca de Paus no rosto, a vermelho. Ao seu lado, havia três cãos de grande porte e pareciam furiosos, e na sua cabeça, um pequeno pássaro amarelo. Sorria sarcástico e tinha uma algema partida na mão direita e uma pistola na esquerda. Era canhoto.

 

— Surpresos em ver alguém do Gangue Tomate?~ Ou alguém tão espantoso como eu!

— Clover, não é bonito dizer que algo é teu, quando não é!~

 

Gilbert olhou para o sujeito que falou e fez uma expressão de desagrado.

 

— Ah, deixa-me ter o meu fabuloso momento, Hearts. Eles não sabiam disso!

 

Xavier sorriu, divertido com a situação. Ivan retirou a sua arma do casaco e apontou para eles.

 

— Onde está o diamante, da?

— Eu recomendo que abaixe a sua arma. – o luxemburguês sugeriu, sem deixar de sorrir.

— Ou…?

 

O som de um disparo foi ouvido e uma bala passou reta ao rosto do russo, arranhando-o. Ele resmungou de dor e abaixou a arma, pousando a mão sobre a ferida. Todos, menos Xavier, olharam para a origem do tiro e viram Lovino a apontar para Ivan. Xavier soltou uma risada baixa.

 

— Olhe que a mira dele é perfeita: falhou de propósito.

— Volte a apontar para algum dos nossos e leva um tiro no meio dos cornos, bastardo. – Lovino anunciou, caminhando até eles, sem abaixar a arma.

— Quanta violência! – exclamou Alfred. Estava divertido com aquilo. Agarrou na maçaneta da porta que estava atrás de si.

— Fique quieto, bastardo! – o italiano apontou para o americano.

— Tenta disparar!~

 

Lovino tinha pavio curto e, portanto, disparou. O americano já estava à espera e arrancou a porta da parede e usou-a como escudo. De seguida, começou a correr na direção deles com a porta. Para ele, aquela porta era tão leve como uma pena.

 

Caros membros da FAIR, aqui fala o detetive Antonio Fernández. — começaram a ouvir, a partir das colunas de som do museu. A voz de Antonio estava trémula, como se tentasse controlar o choro. – Informo-vos que capturamos um dos vossos membros, Arthur Kirkland, e que não demorará a nos contar tudo. Por isso, recomendo-vos que se entreguem de imediato. E…— ele parou de falar, fechando a ligação. Eles não sabiam o porquê, mas foi porque ele voltara a chorar.

 

Isso alarmou o trio. Como assim, o Artie foi capturado?!, questionou-se Alfred, que parou de correr e ficara a meros milímetros de Xavier que nem se movera. Gentilmente, Xavier pegou na porta e ergueu-a verticalmente.

 

— Então, o quarto membro é o detetive conceituoso Arthur Kirkland?~

 

Alfred nada disse, meramente desviando o olhar, a tentar pensar numa escapatória.

Já o francês, esse aí estava com os pensamentos a mil, tentando compreender aquelas palavras que foram piores do que qualquer tiro que poderia eventualmente levar. E aqueles pensamentos não escaparam de Gilbert, que lia-os com pena. Sempre soube da verdade, de quem eles eram, mas nunca dissera. Tinha orgulho próprio e jamais revelaria aquilo.

No entanto, como estava distraído com os pensamentos de Francis, nem notara no que Ivan pensara. O lugar começou a ficar cada vez mais frio e as paredes e objetos em geral começaram a congelar. As mãos de Lovino começaram a doer, de frio, e deixou cair a arma.

E o trio viu uma oportunidade para fugir.

 

Assim que Arthur foi levado e interrogado, colocaram-no na cela da esquadra. Ele não falara nada sobre os seus companheiros, somente sobre o plano e as suas ações. (…) Ele…

 

Confessava que aquela experiência era de esmagar o coração. Nunca estivera naquele lado das grades e agora sabia como era ruim. Ah, se já era ruim ali, imagina numa cadeia. Talvez um com várias pessoas presas por ele. A sua cabeça já estaria a prémio; seria questão de tempo até ser apanhado por uma delas. Podia combater com magia, quiçá até apagar memórias. Se bem que talvez merecesse…

 

— Arthur…

 

Ele olhou para Antonio, cujos olhos estavam vermelhos de tanto chorar no dia anterior. Arthur sorriu, sarcástico, enquanto o espanhol abria a cela.

 

— Estás com um aspeto horrível, Fernández.

— De quem é a culpa?

— Não sabia que era tão importante para chorares tanto por mim.

 

De pronto, o moreno aproximou-se do outro e beija-o. Não queria saber se o outro tinha namorado ou não; queria saber era o sabor dos lábios dele, do seu hálito. O outro, no entanto, não caiu na tentação e manteve-se estático, confuso com aquilo. O beijo foi rompido pelo próprio espanhol, que lacrimejava.

 

— Isso te responde, sobrancelhudo?! Eu amo-te! Yo te quiero! E é por isso que quero que fujas! Agora!

— C-Como assim…?

— Nada de perguntas. Vai-te. Já. – retirou as algemas dos pulsos do loiro. – Por favor… Foge com Francis, se quiseres, mas foge… Por favor…

— Seria desonronso…

— Pior do que fizeste até agora…? Não. Se não for por ti, faz por mim… Melhor, faz pelo Francis! Prefiro ver-te longe daqui do que na prisão! Nos braços dele, longe de mim, mas… F-Feliz…!

 

Arthur viu logo o quão complicado era aquilo para Antonio; nunca imaginara que o espanhol pudesse nutrir amor por ele. Julgara que era só ódio. Tinha os seus pensamentos a mil, sem saber o que fazer. No fundo, queria fugir, mas a honra e o orgulho o prendiam ali – não eram as grades, essas ele podia partir com magia e escapar dali facilmente.

No fim, ele decidiu.

 

… fugiu, às 7:48 da manhã. Nunca mais foi visto, assim como Antonio Fernández, que se demitiu uma semana depois – nem seu irmão, Afonso Pessoa, sabe para onde foi. Desta forma, descobriu-se que Antonio fazia parte do GT. Investigaram Afonso, mas não havia nenhuma prova que o ligasse ao GT, sem ser o laço familiar com Antonio e o fundador do gangue (…).

Francis demitiu-se do seu cargo e o vice-presidente da grande cadeia de hotéis, seu primo Jean Bonnefoy, ficou com a gerência, passando a ser o presidente. Francis nunca mais foi visto. Por associação ao Arthur, seu namorado, descobriu-se que ele era também membro da FAIR. Tentaram contatar com a irmã dele, mas acabaram por descobrir que ela e seu amante Lopo fugiram antes – pelas escassas informações obtidas, sabe-se que foram para a China (…).

A polícia recebeu uma denúncia anónima sobre Ivan, acusando-o de pertencer à máfia russa. Ao ser interpelado, usou os seus poderes para fugir e soube-se logo que era membro da FAIR. Ninguém sabe quem é o quarto membro da FAIR (…).

O clube erótico Tulp foi denunciado por um cliente, mas o dono e os irmãos deste escaparam. Segundo rumores, alguém da polícia os avisara, mas não há provas que isso seja verdade (…). O detetive Simon declarou que os irmãos Franke eram membros do GT (…).

O caso se mantêm aberto, já que tanto o diamante, quanto os culpados estão desaparecidos. Eles ainda são procurados pela polícia.”

 

Assim que Rawiri terminou de ler (antes de Jett; ele lia devagar), olhou para Simon, com uma expressão de dúvida.

 

— Após de 10 anos, eles ainda não foram apanhados?

— É… – ele começou, meio incerto. – Eu ainda os procuro.

— Oh, o chefe vai conseguir! – exclamou Jett, que ainda terminava de ler. – E o mundo inteiro há de conhecer o nome Simon Densen por resolver o caso mais famoso do mundo!

— Não é assim tão famoso. É no nosso país, mas não no mundo…

— Shh, Kiwi, menos.

 

Simon riu-se com eles. Logo, o seu telemóvel tocou e ele pegou nele; sorriu carinhosamente ao ver de quem é e se desculpou, para assim atender.

 

— Amor!~ – exclamou, bem feliz. Em dez anos, muita coisa se tinha passado. Como as alianças que tinha no dedo (apesar de serem só de namoro e não de casamento). – Oh, sério? O teu irmãozinho vai se casar com o Lovino? Sim, sim, eu vou contigo e com o Tim. – parou de falar, esperando que a Laura terminasse de falar.– Huh? Ah, sim, eu vou jantar com vocês os dois. Saio do meu turno antes do jantar, então… Até logo, amo-vos!~

 

Desligou o telemóvel e olhou para os oceânicos, sem que eles suspeitassem da sua relação poliamorosa. As vantagens de falar em inglês eram essas; “you” podia ser tanto tu ou vós.

Já fazia quatro anos de namoro. A dupla de irmãos provara, em seis anos, ser melhor do que Simon imaginava e acabou por cair nos encantos deles. Já suspeitava que aquilo acabaria por acontecer: estava na sina dele, afinal de contas.

Jett, finalmente, terminou de ler e olhou para Simon, com uma expressão infantil.

 

— Isto é espetacular, Simon!

— Fico feliz que penses assim. – pegou no relatório e arrumou-o na caixa, colocando de seguida a caixa no seu lugar. – Ah, vocês vieram fazer o quê…?

— Ah! O senhor Gilbert mandou arrumar alguns documentos. – começou Rawiri, sorrindo adoravelmente.

— Ele disse que, se não estiverem bem arrumados, ele nos mandaria arrumar toda a sala dos arquivos…! – exclamou Jett. – Não é abuso de poder?

— Ele só estava a brincar, Jett.~ – informou Simon, sorridente. – Ele diz isso a todos os novatos!

 

Os oceânicos voltaram à sua tarefa e Simon já tinha se esquecido do que viera fazer, então, saiu da sala.

 

— Kiwi, e se eu tentar encontrar…?

— Que tal primeiro encontrares os teus “irmãos” e depois os culpados? – propôs ele, interrompendo o outro.

— Ah… Sim, podia fazer isso.

— Eu ajudo.

 

Jett arregalou os olhos, em pura surpresa. Sorriu depois, com os olhos a brilhar, como se apaixonado – talvez estivesse. Não entendia nada de amor, para ser sincero. Não era algo que lhe interessasse. Mas por Kiwi, talvez…

 

— Obrigado, Rawiri.~ Conto com a tua ajuda.

 

“Agora, isto não é o fim. Nem sequer é o começo do fim. Mas é, talvez, o fim do começo.”

By Winston Churchill


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Eu esforcei-me imenso para escrever esta oneshot e agradeço pelo tempo disponibilizado para a lerem ♥

Qualquer dúvida sobre quem é quem é só perguntar-me.~

O link para a colectânea: http://desafiosparaficsdehetalia.tumblr.com/post/159496861867



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