Vyborg, uma cidade à trinta e oito quilômetros ao sul da beira da Rússia com Finlândia, não tinha nada de muito especial além de suas lendas corriqueiras aqui e ali, que viviam sem parar, circulando pela cidade.

O Hospital Presbiteriano (пресвитерианской больницы) é o caso mais assombrosamente comentado na cidade, e contado fervorosamente aos visitantes. O que era hoje o único grande hospital da cidade, antes fora um hospital psiquiátrico nível 3. Dizem até que alguns dos médicos que realizavam o tratamento de choque nos pacientes mais psíquicos, ainda trabalhavam no hospital atual que fora construído acima dos escombros e entulhos do antigo manicômio, demolido em 1936.

Históricos de todos os pacientes ainda estavam arquivados nas estantes antigas da grande biblioteca municipal. A história favorita da maioria dos moradores, era a das duas irmãs gêmeas. Conta-se que, inicialmente, apenas uma delas era louca: Kira Rozensky. Possuía o diagnóstico de esquizofrenia catatônica e fora internada em janeiro de 1911; se comportava de forma violenta durante alguns períodos, e surpreendentemente pacífica em outros, conversando normalmente com os funcionários e se mostrando ironicamente sã. Isso era o que a tornava tão perigosa: ela sabia como se portar socialmente, quem a visse sem saber sua real situação, diria que era uma mulher normal, com uma beleza bem conservada para alguém de 42 anos e perfeitamente com noção da realidade.

Sua irmã, Sasha Rozensky, não possuía nenhum problema mental, e morava na casa dos falecidos pais, sozinha, à leste de Vyborg. Sasha possuía um amor imensurável pela irmã, sempre a visitava no hospital psiquiátrico, lia histórias para a mesma, cantava músicas, contava sobre sua vida e o que acontecia nela. Kira era seu diário, e jamais houve maldade entre as irmãs.

Até que um dia, Kira arma uma armadilha para Sasha. De algum modo, Kira acusa Sasha de ser ela mesma, alegando que “Kira” queria fugir do hospital fingindo ser Sasha. Por serem idênticas, os médicos dificilmente conseguiram discernir entre a verdadeira Kira e Sasha. Como na época não havia tecnologia ou exames que mostrassem quem era quem, e a família de ambas não estava mais viva, Sasha clamou para que sua melhor amiga, Svetlana, viesse mostrar aos psiquiatras quem realmente era Sasha e Kira.

Só que havia um porém: Sasha, por ter dado confiança cega à irmã, contara tudo de sua vida à ela, e ambas sabiam as respostas feitas pelos médicos. A única saída era manter as duas internadas por tempo indeterminado, pois Kira não poderia ser liberada para fazer justiça à pobre Sasha, seja quem fosse.

Essa basicamente era apenas a primeira parte da história perturbadora das irmãs Rozensky e do fim horrível que o hospital psiquiátrico acabou por receber. A história das irmãs gêmeas balançam o andamento dos acontecimento da cidade até os dias atuais.