Melancolia escrita por LadyB


Capítulo 1
Eu odeio amar você




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Aomine Daike deixa a suave brisa noturna acalmar seus pensamentos e, quem sabe, espantar o vazio da sua alma. O ponteiro do relógio marca mais de três da manha, seu corpo está exausto, mas sua mente não consegue descansar.

Com um suspiro ele pressiona o rosto no vão da varanda.

A mesma sensação de sempre, de quase todas as noites: Querer algo desesperadamente, ter na ponta dos dedos e não conseguir alcançar.

Me sentindo usado

Mas ainda estou sentindo sua falta

E eu não consigo ver o fim disso

Apenas quero sentir seu beijo

Contra os meus lábios

Satsuki o procurou hoje, mesmo tendo jurado, mais uma vez, que nunca mais o procuraria para afogar a tristeza. Entrou chorando com um “Ele não vai desistir do mestrado. O voo dele parte pra França amanhã”. Ela chorou em seus braços e o pediu para ajuda-la a esquecer. Ele deveria negar, mas, como de costume, não resistiu.

Eles transaram por horas a fio e enquanto ele se deleitava nas curvas corpo dela, nos sons, em como era bom tê-la nos braços, ela apenas se concentrava no prazer carnal extremo que sempre sentia quando estava com ele — porque ele sempre foi, e sempre será apenas um consolo pra ela.

E agora, o tempo está passando

Mas eu ainda não consigo te dizer por quê

Me machuca toda vez que te vejo

Perceber o quanto preciso de você

Um fetiche, uma válvula de escape.

Eles tinham dezessete anos quando ela disse que não aguentava mais ser virgem. Ela falara pra ele que queria sentir o que sonhava quase todas as noites, que adoraria ter noites quentes e selvagens.

— Eu não tenho ninguém em que possa confiar, além de você, Dai-chan — Ela o encarara com seriedade — E eu sei que você não quer namorar, mas eu também não quero, só quero sentir prazer. E eu sei que você será a pessoa que eu posso perder a virgindade agora e nunca me arrepender.

Ele ficara chocado, magoado e negou na hora, mas as semanas se passaram e ela continuava insistindo, até que jurou que se entregaria a um cara qualquer na balada. Ele sabia que era chantagem, talvez até um blefe, mas não podia confiar, então cedeu. Aquela noite fora uma das melhores da sua vida. Mal podia acreditar que ela estava se entregando, confiando nele. O prazer fora indescritível, além do que jamais sonhara.

Dormimos juntos e me apeguei a ti

Amigos também podem quebrar seu coração

E eu estou sempre cansado, mas nunca de você

Se eu agisse como você age

Você não gostaria

Eu mandei a real, mas

Então a letargia pós-coito acabou e ele se perguntou se ela pensava nele, ou em um certo jogador de Seirin. E logo na primeira vez com ela, ele sentiu o vazio que viria a o acompanhar em todas as vezes que deitariam juntos.

Até hoje ele não sabe se ela pensava em outro alguém naquela noite. Até hoje ele sente uma faca fervendo cravada no peito, e lágrimas insistem em transbordar dos seus olhos. E desde então ele se pergunta se alguma vez ela pensou nele enquanto trasavam.  Se ele já foi o objeto do seu desejo, do seu prazer. Se alguma vez foi por seu rosto e por seus toques que ela ansiava.

Completamente sozinho eu assisto você observá-lo

Como se ele fosse o único garoto

Que você já viu

Você não se importa, você nunca se importou

Você não dá a mínima para mim

Porque, se parar pra refletir, quase sempre foi assim desde o ensino médio. Ele se amaldiçoa até hoje por ter virado um adolescente narcisista e egocêntrico, porque fora naquela época que a perdeu. Não importa quantas vezes ele tenha pedido desculpas, ou reconhecido seu erro. Alguma coisa fez com que Satsuki perdesse a admiração e confiança absoluta nele. Alguma coisa a machucou profundamente a ponto de ela nunca querer nada com ele.

Então, ele virou uma válvula de escape sempre que ela ficava machucada. Foi assim com Tetsuya, e com todos os outros que passaram. Eles a machucavam e ela corria para os seus braços, tornando-o sua ancora. Ele, muito dependente, sabia que sofreria depois, mas não a parava. Ele padecia no paraíso, porque ela é seu vicio, sua heroína. 

Antes ele tinha a certeza cega que ela o amava e não queria admitir, que um dia ela iria perceber que eles foram juntados polo destino, que tudo acabaria em um final feliz – porque, sim, ele é um romântico de merda. Hoje ele não tem mais certeza de nada, às vezes duvida se ela ainda o considera um amigo. Às vezes duvida de tudo.

Você já se perguntou o que poderíamos ter sido?

Você disse que não faria, e você ferrou com tudo

Mentir pra mim, deitar-se comigo, conserte essa merda

Agora todas as minhas bebidas e todos

Meus sentimentos estão misturados

Tem vezes que acorda com ela nos braços e fica fantasiando que são um casal feliz, e que ele irá acordar e fazer  o café – porque  todo mundo sabe o desastre que ela é na cozinha –, enquanto ela reclama sobre o clima louco de Tóquio enquanto o abraça por detrás e beija suas costas, mas daí ela levanta e agradece com um: “ Eu sinto muito arrastar você para os meus problemas, Dai-chan, mas esta será a ultima vez. Eu juro”, e ele é obrigado a voltar para realidade cruel.

Ele tateia os bolsos da calça em busca a do isqueiro. Ele adquirira o habito de fumar ocasionalmente há alguns anos. A fumaça que sai dos seus lábios é um relaxante muito potente, que faz com que sua mente se acalme mais rápido.

— Dai-chan? Você não vem dormir? — Uma voz sonolenta o questiona.

Aomine vira o rosto e mira na cama, parcialmente escondida pela escuridão. Mas ele não precisa de luz alguma para saber a visão que está lá. Satsuki está nua, deitada em meios aos lençóis, com uma expressão sonolenta e os olhos brilhantes. Ela está parecendo uma deusa pagã, que tenta o seu mais fiel súdito sem qualquer clemência.

Eu não quero te prejudicar

Eu só sinto falta de você nos meus braços

Sinos de casamento eram apenas alarmes

para meu coração remendado

Se ele for deitar agora vai sentir o corpo dela quente e receptivo, vai transar com ela mais uma vez, só que agora que está mais calma, ela vai fazer por pura gratidão e ele não pode suportar. Hoje ele está cansado demais pra isto, de modo que apenas responde:

— Oe, Satsuki, daqui a pouco eu vou. O quarto está quente demais e a brisa me ajuda a ficar com sono mais rápido.

— Só tome cuidado para não pegar um resfriado — Repreende. Então ele escuta o farfalhar dos lençóis e algo sobre “cigarro e sereno juntos não são uma boa combinação”.

O cuidado que ela tem com ele faz com que um sorriso brote no rosto de Aomine, que tem o coração um pouco acalentado.

“Pena que não é o suficiente, pena que foi e nunca será o suficiente”, pensa, angustiado.

Ele senta no chão da varanda e olha para o céu estrelado, relembrando quantas vezes trouxe, para aquela mesma cama, outros corpos, que se enroscaram nos mesmos lençóis, que deram prazer ao seu corpo por horas a fios. Que jamais conseguiram usurpa-la, e nada fizeram a não ser servir de imaginação, onde Aomine poderia fingir que Satsuki que gemia e enlouquecia com seus toques. Depois de um tempo ele, simplesmente, parou de tentar. Não gostava de ser usado e não usaria outras pessoas.

No fim, ele sabe que precisa resistir, porque quando ela vai embora e deixa o rastro do perfume em cada canto da casa, só resta à melancolia.

Eu sinto sua falta quando eu não consigo dormir

Ou logo após o café

Ou quando eu não consigo comer

Eu sinto sua falta no meu banco da frente

Ainda tenho areia em meu suéter

Das noites que não nos lembramos

A melancolia que é, sempre foi, e sempre será sua mais fiel companheira.

Que arrasta o arrasta para o fundo do poço, que faz com que ele deseje resistir e, ao mesmo tempo, se perder nela.

O dia já esta amanhecendo e, por fim, ele volta para cama, onde é abraçado por uma Satsuki dormindo. Ela deita em seu peito e ele, mais uma vez, fantasia sobre um futuro impossível. Porque eles jamais irão ficar juntos, porque ela jamais vai o amar como ele a ama.

Ele não dorme, só consegue fica esperando ela acordar pra dizer alguma desculpa esfarrapada e jurar, mais uma vez, que aquela é última vez.  Então a melancolia chegará e com ela o cansaço de amar sua melhor amiga.

Sim, quando a melancolia voltar com força total, o obrigando a sentir o perfume dela em cada maldito lugar, ele vai sair de casa para espairecer dá loucura, jurando que não se deixará levar, que vai se afastar, que vai procurar outro amor. O ciclo começará novamente.

E a melancolia será sua única amiga, porque ela sempre veio e sempre virá.

Eu te odeio, eu te amo

Odeio te amar

Não quero, mas não posso

colocar mais ninguém acima de você


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Notas finais do capítulo

♠ História não revisada, se encontrarem qualquer erro, me digam, por favor.
♠ Música " I hate you, I love you" by Gnash.
♠ Muito obrigada por ler até aqui.
♠ Repetição de palavras foi proposital.



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