As lágrimas de Naname escrita por Crisântemo Lirium


Capítulo 1
Capítulo 1




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As estrelas haviam se recolhido, tristes por não poderem consolar a bela e solitária Lua que aquela noite havia se recolhido aos seus aposentos em um canto isolado do universo, um local bem escuro e deixando os humanos sem a simplicidade e magia de seu doce prateado brilho. Esses humanos que o Ser Supremo criou e ficou marcado na história que eram sua imagem e semelhança, estes mesmos humanos que maltratam, tiram a vida de animais e da própria espécie por motivos banais não deviam ser comparados com o Pai Celestial, a qual conhecemos como Deus.

Essa presença silenciosa que nos ampara quando estamos tristes, cansados da luta diária por um lugar na sociedade e no reino do céu, mas onde fica o famoso paraíso: em nossas mentes, nosso coração ou além da nossa capacidade de imaginar a possibilidade de um lugar mais calmo, mais pacífico e bom de se viver?

Estes mesmos humanos, dentre homens, mulheres e crianças são diferentes entre si, em corpo, mente, ação e pensamento, personalidades distintas, mas possuem uma centelha divina dentro de si e esquecem isso com barbaridades que já fazem parte de nosso cotidiano. A rua iluminada apenas pela luz dos postes públicos estava com pouco movimento, as pessoas estavam no aconchego de seus lares, a repousar de mais um dia exaustivo e estressante, enquanto uma garota de longos cabelos encaracolados estava debruçada sobre os próprios braços a apoiarem o livro de Matemática do ensino fundamental. 

Gotas pingavam sobre a capa do livro, sim, ela estava chorando e talvez para algumas pessoas era um motivo fútil, mas para ela tinha toda sua importância, afinal de contas seu dia fora péssimo- havia tirado nota zero na prova de Matemática e ouvido risadas debochadas de colegas em argumentos maliciosos e olhares tortos por sempre ter se destacado na sala como uma das alunas mais estudiosas. Em alguns meses faria quatorze anos, sua mãe estava irada consigo, não tinha por que sequer se orgulhar da própria filha que tirava nota baixa por “colar” na prova, por não se esforçar, nem dar o melhor de si.

Dava o melhor de si, sim, todos os dias, porém isso não era reconhecido. O telefone celular tocou e a menina atendeu, com um respirar fundo.

— Alô? - sua voz era melancólica, por mais que tentasse ocultar este fato.

— Naname? O que houve? Andou chorando, amor? - seu namorado, do outro lado ficou preocupado, ela sempre fora alto-astral e vê-la daquele jeito lhe machucava o coração.

— Não, está tudo bem, amor. Eu só…Acho que espero demais das pessoas, que elas façam por mim, o que faço por elas, mas infelizmente não é assim. - fechou os olhos ao lembrar de todos os momentos horríveis que teve durante o dia e mais lágrimas rolaram por seu rosto.

— Calma, bebê. Está tudo bem, estou indo para aí. - e desligando o telefone celular, o rapaz se dirigiu até a casa da garota, pensando no que poderia ter acontecido para ela estar assim.

Levantou-se a contragosto da cadeira, suspirando baixo e fungando baixinho, parecia que aquela noite estava repleta de perdas, isso incluía a perda da vontade de seguir em frente e encarar o novo dia com um sorriso. Nada parecia bom, nem bonito, até a cor do teto de seu quarto parecia desfocado, talvez fossem as lágrimas que ainda rolavam pelo rosto dela e alguns soluços escaparam, enquanto ela virava-se para o lado direito na cama e ficava em posição fetal. 

Para ela, tudo estava acabando naquele momento. Um rapaz alto tocou a campainha, bateu três vezes na porta e a mãe dela o recepcionou, ele pediu licença e entrou, indo parar no quarto dela. Suspirou ao ouvir soluços vindos do interior do quarto de sua pequena, abriu levemente a porta e a fechou de forma suave, ao passo que ia até ela e sentava-se na cama, a tocando no ombro.

— Naname, se acalme, meu amor. Quer me falar o que aconteceu?

— O professor de Matemática, ele… É muito cruel conosco, ele é o tipo de professor que ninguém ousa perguntar nada para ele que ele já fica emburrado e fala todo estressado conosco, eu tirei zero na prova dele e caçoaram de mim, como se eu fosse algum inseto que pudessem pisar. - se encolheu ainda mais na cama, enquanto sentia ser puxada pelo rapaz que a acolheu nos braços e fez carinho nos cabelos dela com a mão direita.

— Naname, há professores que serão um exemplo de vida para qualquer aluno, irão saber ensinar, compartilhar conhecimento e seguir adiante, mas há professores que por terem sofrido na vida escolar irão descontar nos alunos tudo o que eles passaram por meio das avaliações. Não se permite ser pisada por eles, nem por ninguém, amor, você é melhor que isso e superior a tudo isso, no sentido de que você é capaz de superar esse problema. O que te falta? É explicação? É aula extra? Faça uma aula de reforço, amor, infelizmente essa é a dura realidade da vida, o que não significa que devamos permanecer caídos no chão devemos é nos levantar quantas vezes forem necessárias e tentar sempre. 

Repousou o queixo sobre a cabeça dela, enquanto acariciava os cabelos dela, sua camisa preta estava molhada com as lágrimas dela, mas isso não importava, queria apenas confortá-la da melhor maneira possível. A menina de pele morena ergueu o rosto para fitar o amado que afastou um pouco seu rosto para fitá-la e elevou a mão livre até o rosto dela, passando os nós dos dedos nas bochechas dela e enxugou as lágrimas dela.

— Enquanto as pessoas tratarem umas as outras como o solo em que pisamos, o mundo não terá paz, porque as pessoas não sabem procurá-la, pelo fato de a paz estar dentro de seus corações, ainda assim fazem guerras e machucam umas às outras. Não entendo como o ser humano pode ser tão decadente a ponto de não evoluir a esse ponto, se deixando levar por instintos primitivos e machucando tanto os pobres animais, quanto a eles próprios. Ferir um ser vivo, independente se é racional ou não, é machucar a si mesmo duas vezes e ao Pai Celestial que chamamos de Deus, por sempre usarem de violência e motivos fúteis para conseguir seus propósitos. 

— Compreendo seu ponto, mas veja: não são todas as pessoas que são assim, há pessoas que zelam pela vida e agradecem por ela todos os dias, pelo pouco de comida em seus pratos e os poucos frangalhos de roupa que cobrem seus corpos. Há pessoas que ajudam outras no silêncio, tanto do dia, quanto da noite e são essa pequena porcentagem é que fazem a diferença, amor. 

Um sorriso sincero, mas melancólico brincou nos lábios cor de chocolate daquela garota, Naname estava feliz, mesmo triste, essa era a mágica de ser humano. O rapaz se deitou e a trouxe consigo, não tiveram relações, mesmo ainda namorando, ele apenas a aconchegou em seus braços e a cobriu com um lençol, enquanto a via fechar os olhos e pegar no sono, após tanto chorar.


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