escrita por Sarah


Capítulo 1




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— Apague o cigarro, isso fede — Moriarty ordenou sem encará-lo.

Em vez de obedecer, Sebastian Moran tragou profundamente e expirou uma nuvem de fumaça.

— Eu gosto.

— Vai matar você.

Sebastian arqueou as sobrancelhas e sorriu.

— Agradeço a consideração, mas acho que não preciso me preocupar com isso, nós não somos do tipo que vai morrer de doença. Você sabe, “todos aqueles que usarem da espada, pela espada morrerão” — disse e deu um tapinha carinhoso na arma que descansava em seu colo.

Jim lançou-lhe um olhar irritado.

— Ainda vai matar você se eu enfiar o maço pela sua garganta abaixo. Apague.

Dessa vez o tom dele soou baixo, venenoso, e não admitia contestação. Sebastian inspirou uma última vez antes de acatar a ordem.

Estavam na casa do consultor criminal, e Jim andava para um lado e para o outro fazendo anotações em inúmeros mapas que tinha sobre a mesa, espalhados pelo chão e pregados nas paredes. Sebastian reconheceu o mapa do metrô de Londres, uma carta hidrográfica da Índia e algo que parecia ser Botsuana, mas não se deu ao trabalho de tentar distinguir o resto. Observar Jim era mais interessante.

Ele vestia a combinação completa de Westwood, mas estava descalço, o que lhe conferia um ar estranhamente frágil. Daquele jeito ele era Moriarty e ao mesmo tempo não era; genialidade, loucura e demanda, e, então, aquela suave vulnerabilidade, colocando tudo em um equilíbrio perfeito. Absolutamente encantador.

Pela sétima Jim refez um percurso imaginário, indo de um ponto a outro da sala, riscando coordenadas e formulas que só faziam sentido para ele, e então parou. Sebastian levou um segundo até perceber que os pés dele, delicados, muito brancos, tinham se voltado em sua direção.

— Isso que você falou sobre morrer pela espada é bíblico, não é? – ele perguntou de repente.

— Mateus, 26:52. Minha mãe era muito católica.

Jim ergueu as sobrancelhas numa clara expressão de desconfiança, estreitando os olhos por cima das olheiras profundas. Provavelmente fazia dias que ele não dormia. Suas pupilas eram dois buracos negros, dilatadas, denunciando descaradamente que ele tinha usado algum tipo de droga há pouco tempo, a despeito de toda a cena que tinha armado por causa do cigarro.

— E você, o que é?

Sebastian encolheu os ombros.

— Vou à missa nos domingos quando dá, mato pessoas nos outros dias da semana. Acho que não posso ser considerado um religioso.

James riu profundamente e cambaleou até deixar-se cair sentado no sofá, a cabeça pendendo para trás, os joelhos roçando nos joelhos de Sebastian.

— Não consigo imaginar você rezando.

— Compreensível — Sebastian disse enquanto o outro encarava o teto. Depois de tudo, ele provavelmente não tinha mesmo o direito de rezar. Acariciou o cano da arma antes de colocá-la de lado, dando espaço para que Jim se aproximasse mais. — Você acredita em alguma coisa, Jim?

O questionamento fez Moriarty curvar os lábios em um sorriso cheio de malícia.

— Acredito que o mundo é uma enorme massa de matéria condensada que tende ao caos.

Tão característico, embora para Sebastian parecesse muito pouco. Ele deu de ombros.

— Prefiro acreditar que existe um Deus bom o bastante para perdoar pessoas como nós.

Jim voltou o olhar para ele com uma expressão escárnio, e por um instante Sebastian achou que o outro fosse explodir em um dos ataques de raiva sem sentido a que era propenso. Em vez disso, Jim aconchegou-se mais junto a ele, como um gato, deitando-se com a cabeça em seu colo.

— Reze por mim, Sebastian.

  O atirador suspirou e pousou as mãos sobre o cabelo de Jim, acariciando-o gentilmente.

  Ele não precisava pedir.


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Notas finais do capítulo

Comentários são coisas bonitas. ♥



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