Sacrifício escrita por TopsyKreets


Capítulo 1
Capítulo Único




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Sacrifício

 

 

Não se preocupem. Deixem que descanse.

Ele não vai morrer.

Muito pelo contrário.

 

Marco despertou assim que as palavras de Glossaryck lhe passaram pela mente. Suava frio em cima do lençol cor de rosa.

Ele não tinha ideia de quanto tempo dormira. Ou sequer onde estava.

O quarto estava escuro. Já era noite. Tateando a mesa de cabeceira, ele encontrou um pequeno abajur. Ao liga-lo, notou sua arquitetura.

Era um abajur no formato de um ursinho cor de rosa.

Típico da Star— Pensou.

Não era de se esperar. Estava dormindo no quarto dela.

Mas não o de Echo Creek. Seu verdadeiro quarto.

 

Em Mewni.

 

Não tinha a menor ideia de como havia parado lá. Não se lembrava de nada.

A não ser as palavras dele.

Então, uma onda de desespero tomou conta do rapaz.

 

…. Ele não vai morrer....

 

 

.... Muito pelo contrário....

 

 

Ele olhou de um lado para o outro, aflito.

Tinha que encontrar Star. Tinha que saber se ela estava bem.

Não teve que procurar por muito tempo, no entanto. A princesa dormia no sofá do outro lado do quarto.

 

Marco deu um suspiro de alívio.

 

Ainda estava muito escuro, com abajur cor de rosa ou não, mas não queria perder o momento de ser romântico com a namorada.

Parecia uma ideia razoável. Acorda-la com um beijo. Ajoelhado, ele se aproximou ainda mais e selou seus lábios nos dela.

A garota sentiu o gesto. Os corações em torno das bochechas se acenderam.

 

Ela gostou muito do beijo. Até demais.

 

....

 

Mas Marco não gostou do tapa.

 

Muito menos do grito sequencial.

 

Com o barulho, todo o castelo acordou.

Não tardou para que uma mulher atravessasse o saguão e entrasse no quarto.

 

....

 

Mesmo para Marco Diaz, a cena era confusa.

Ainda que muito parecida, a garota do sofá não era Star.

Ela tinha os mesmos olhos, sem dúvida. Mas tinha cabelos avermelhados.

A mulher, que mais parecia uma modelo de lingerie nórdica, contrastava seu look – uma camisola curta e azul bebê – com seu machado de combate em punhos.

Mas assim que viu Marco em pé, ao lado da filha, Star perdeu as palavras.

 

Deixou que o machado caísse, fincando a lâmina no piso do quarto.

 

....

 

Dado o susto inicial, a rainha pediu para conversar a sós com o jovem.

 

— Bom, você sabe fazer uma boa entrada – Disse Star.

 

Mas Marco não respondeu.

Ainda estava tentando entender a situação.

Não seria uma conversa fácil.

— Quanto tempo?

 

Star tentava esboçar um sorriso.

Tentava.

 

— Tempo demais.

— Quanto?

Por fim, ela desistiu.

— Trinta anos.

 

....

 

Star tentou com o máximo de detalhes que podia se lembrar.

Nem mesmo Ludo sabia o que estava fazendo. Não na época.

O feitiço lançado por ele para acertar Star, interceptado por Marco, não matara o rapaz.

Mas o lançara perdido no tempo.

Muito à frente no tempo.

Por décadas, Star tentou localiza-lo. Nunca obtivera sucesso.

Depois, passou a relatar sobre Mewni. Sobre seu casamento (você sabe com quem), sobre as guerras, sobre seu reinado.

 

Sobre sua filha, Luna.

Até aí, era a parte fácil da conversa.

 

A morte dos pais de Marco era a parte difícil.

 

Angeline Diaz morrera no leito do hospital, no parto de seu segundo filho.

Raphael morrera anos depois, vítima do câncer.

O menino fora criado pelos Ordonia, como irmão adotivo da Janna.

— Da última vez que eu soube, ele estava terminando a faculdade. Ele está bem.

Considerando tudo, está feliz.

Marco finalmente parara de chorar e tentava tirar algo bom disso tudo.

 

Ele ainda tinha uma família para retornar.

 

E é claro, ainda tinha Star.

 

 

....

 

— Desculpa pela sua filha, aliás. Não foi minha intenção.

 

A rainha cerrou os olhos em cima do rapaz.

 

— Bom, tecnicamente era, mas.... Eu não queria.... Você me entendeu.

— Você roubou o primeiro beijo da minha filha, não sei devo te cumprimentar ou te socar.

— Que tal um abraço?

 

E foi isso que ela fez.

Por um momento, deixou de ser a rainha. Deixou de ser a mãe.

Voltou a ter quinze anos de novo.

Ela o abraço mais forte. Não importava se estava de camisola ou não. Se ele sentia diretamente suas curvas em seu corpo. Só queria abraça-lo.

Abraça-lo e nunca mais deixa-lo ir.

Marco sentiu as lágrimas dela escorrerem por sobre o ombro dele.

 

— Eu sinto muito.... Eu não queria.... Eu teria morrido por você.

Marco olhou bem no fundo daqueles olhos azuis de menina, no corpo da mulher.

— Eu sei. Você fazia isso. Todos os dias.

Sempre se colocava na frente do perigo. Eu só queria fazer isso uma vez.

— Se matar?!

— Ser útil pra você. Ser digno de você.

Te merecer.

Star não podia acreditar no que estava ouvindo.

— Me merecer.... Me merecer?!

 

Você quase morreu por mim, e eu te abandonei! Eu desisti de você! Sabia que devia ter tentado mais, me empenhado mais!

Me desculpa! Por favor, Me perdoa! Eu te amava tanto, mas eu.... Mas eu....

 

Ela estava de joelhos. Chorando muito, soluçava e implorava perdão.

 

Marco Diaz não o fez.

Nunca a perdoaria.

Porque não havia nada a ser perdoado por ele.

 

— Você se tornou uma rainha incrível. E uma boa mãe. Tá na hora de você se perdoar.

Star se levantou. Deixou que o rapaz lhe enxugasse as lágrimas.

Agora ambos estavam sorrindo. O dia começava a amanhecer.

A escuridão finalmente cedera perante a luz.

 

— Eu não mereço você, Marco.

— Acho que a sua filha está pensando o mesmo nesse momento.

— Ela supera. É muito parecida comigo nesse aspecto.

— Isso não é reconfortante.

— E não deveria.

Eles riram da piada. O clima estava finalmente mais ameno entre os dois.

Não tardaria para que isso mudasse, no entanto.

 

Star o surpreendeu com um beijo.

Marco corou quase que imediatamente. E a rainha parecia feliz com a reação.

— Só devolvendo o favor que você fez com a minha filha. Nada de mais.

Agora vamos, hora do café.

 

E de mãos dadas, a rainha retornou com seu mais ilustre convidado.

Sabia que isso a tiraria da dieta, mas estava ansiosa por nachos.

 

....

 

Meses depois

 

Os primeiros a verem o brilho dourado rasgar os céus foram, sem dúvida, os alunos secundaristas de Echo Creek.

O que não puderam ver, no entanto, era o que o brilho trouxera consigo.

 

Vinda de um mundo bem distante, a princesa de cabelos avermelhados da cor do fogo empunhava sua nova varinha mágica em uma das mãos, e uma bolsa com seu filhote na outra.

Essa espécie de cão, pequenos animaizinhos que atiravam lasers dos olhos, viraram uma febre em Mewni desde que a rainha retornara com os primeiros espécimes, há anos.

E Luna com certeza não ficou de fora.

 

No entanto, no momento da chegada, a princesa focava toda a sua atenção nas reações de seu companheiro de viagem e atual interesse romântico.

 

Um jovem hispânico, de moletom vermelho e bem-humorado em retornar a Terra.

 

A professora juntou-se a seus alunos para assistir ao show de luzes.

 

— Acho que vou libera-los mais cedo.

Um dos alunos olhou para o relógio e depois para a representante do corpo docente.

— Mas são só nove horas.

— Eu sei – Disse Janna – Mas eu gosto de tomar um porre em certas ocasiões, e esta, sem dúvida, é uma delas.

 

Turma dispensada.

 

 


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