Até Onde Eu Consigo Insistir escrita por Mister Jhon


Capítulo 2
Parte II




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—Quarta-feira, 29 de março de 2017... Deus, o que será que Chris está fazendo e com quem ele está? Ele DEVE me esperar e VOLTAR comigo...-
Marcus já saíra de casa, estava à frente da Casa da Alegria. Não fez questão de usar suas roupas combinadas, estava apenas preocupado em achar o ex “perdido”. Seu coração batia cada vez mais acelerado. Parecia que ia morrer de tanta ansiedade.
— Essas luzes fluorescentes são inconfundíveis. Esse lugar é cheio de gente. Só o Chris para me fazer entrar nesse lugar. Cadê aquele garoto branco, magricelo e de cabelos pretos que eu amo e estou tanto procurando?-
Emergindo como um anjo, na luz fluorescente vermelha e laranja, com uma calça e blusa brancas, sapatos beges e óculos escuros, Chris aparece e faz o coração de Marcus bater como tambores de escola de samba.
Antes de tocar em Chris, um homem aproxima-se da pessoa que Marcus estava ansioso para encontrar, arrancando sorrisos de Chris.
— Chris?!?!- pergunta Marcus, desentendido.
— EU NÃO ACEITO ISSO!!!- enfurece-se Marcus, dando um soco que faz Lucas cair ao chão. As atenções de todos estão voltadas para essa cena, chocados.
— Marcus, você vai se arrepender eternamente de ter feito esse papel ridículo aqui!- diz Chris à Marcus.

Chris dá um forte soco na barriga de Marcus, que o faz perder a concentração. Em seguida, dá-lhe um empurrão, que o faz cair perto de Lucas. Há muitos celulares filmando e transmitindo esse ocorrido. Chris mexe no bolso de sua calça e saca seu celular. Liga-o e faz uma ligação que compromete a vida de Marcus.
— Alô?! É da Polícia? Quero fazer uma denúncia...- diz Chris, fazendo uma pequena pausa.- É que tem um jovem causando muito transtorno aqui na Casa da Alegria, e isso pode comprometer a segurança de todos...- completa.
Marcus levanta, com uma dor de cabeça, mas consegue escutar claramente o que Chris está falando.
— Chris?!?! O que está fazendo?- pergunta Marcus, atordoado.
— O que eu já fiz? Liguei para a Polícia. Eles já estão vindo!- responde.
Marcus sai de cena, caminhando até a área onde são servidas as bebidas da boate. As pessoas estão ao redor de Lucas, olhando feio para Marcus. Marcus, imerso na escuridão, vasculha a área, procurando por algo. Após alguns vasculhos, acha uma faca, põe-na ao bolso e caminha lentamente entre a escuridão.
Chris, que está muito preocupado com o estado de seu atual ficante, logo pensa no pior. Rapidamente, alguém o puxa pelo pescoço. Era Marcus.
— Se você fizer alguma coisa, eu corto sua garganta agora!- ameaça Marcus, colocando a faca contra a garganta de Chris.
— S-s-seu maldito...- responde Chris, sufocado.
A sirene da Polícia começa a ser ouvida e Marcus prepara-se para enfrentar um longo período de resistência. Algumas pessoas continuam filmando, pedindo para que Marcus largue Chris.
— TODO MUNDO PARADO!!! – ordena a Polícia, que chegara ao local, com armas apontadas, principalmente, para Marcus.
Marcus ri. O clima de briga agora dá lugar ao clima de angústia.
— EU NÃO VOU SOLTÁ-LO!!!- diz Marcus, forçando mais a faca contra Chris.
Alguns policiais vão caminhando para perto de Marcus.
— EU NÃO ESTOU DE BRINCADEIRA!!!- ameaça Marcus.
Durante quase 2 horas, Marcus faz Chris de refém e há certa negligência entre a negociação entre Marcus e a Polícia. Após muito tempo de resistência, Marcus solta Chris, com um chute que o faz cair perto dos policiais. Marcus pega a faca e parte para cima de Chris, mas é contido pela arma de choque de um policial. Marcus é levado, pelos policiais, ao carro, sendo vaiado durante esse pequeno percurso. Uma ambulância do SAMU está presente, para socorrer Lucas.
— Eu vou voltar... Eu vou me vingar DOS DOIS!!!- promete Marcus, antes de entrar no carro.
— Você merece apodrecer na cadeia, seu monstro!!!- diz um rapaz que estava na boate.

No dia seguinte (28 de março de 2017)...

Marcus encontra-se deitado na cama de pedra de sua cela, quando um guarda o chama, dizendo que ele tem uma visita...
— Quem será que viria aqui me visitar???- pensa.
Caminhando até a Sala de Visitas com seu uniforme todo laranja e esbanjando sua cabeça careca, Marcus não demonstra sequer reação, mesmo sabendo que poderá ver alguém de sua família. Chegando lá, avista uma moça ruiva. Era Emilly, sua mãe. Marcus senta na dura cadeira velha, abaixando a cabeça, preparado para escutar broncas.
— Jamais pensei passar por tanto constrangimento na minha vida. O que aconteceu com você, garoto?- pergunta Emilly, puxando a cara de Marcus.
— Mãe, deixe-me explicar. Por favor!- implora Marcus, chorando.
— Explicar o quê? Você teve a oportunidade de conversar comigo ontem, quando eu te abordei. Entendo como você estava abalado com tudo, mas... Tentar matar alguém só por que não corresponde mais você vai solucionar algo? Por que isso, meu filho?- diz Emilly, chorando.- Eu não sei se sinto raiva, mágoa. Só sei que estou destruída. Eu ainda nem contei ao seu pai, mas ele nem se importa com a gente.- completa.
— Mãe, me perdoa. A senhora, como psicóloga, deveria me apoiar nessa situação...- indaga Marcus.
— Apoiar?- pergunta Emilly, incrédula. -Nesse momento eu sou sua MÃE! Eu não consigo raciocinar com tudo o que está acontecendo. Se eu soubesse que você estava nesse estado, eu mesma tinha te internado numa clínica.- rebate Emilly, nervosa.
— Mãe, eu só...- diz Marcus.
— Você, nada! Você fica quieto! Já estou muito nervosa para isso!- responde Emilly

— Eu ainda sou seu filho amado, não é?- pergunta Marcus, sua tonalidade indica que precisa de seu amparo materno.
— Talvez... Eu estou preocupada, muito assustada e nervosa...- diz Emilly.- Ah, quer saber, fique sabendo que eu nunca mais virei te visitar e pode ter certeza de que você NÃO é mais meu filho. Assim que você sair daqui, nem pense em voltar na minha casa. Adeus...- completa, saindo do local, deixando Marcus sozinho na Sala de Visitas.
Aspirando o ar totalmente fechado da Sala, Marcus joga-se ao chão, chorando e dando socos, tentando aliviar a dor sentida perante às consequências de suas atitudes.
— Quem eu sou agora?- pergunta ele a si mesmo.

2  dias depois (30 de março de 2017)...

Lucas já está bem e voltou para casa. Ele e Chris tomam café da manhã juntos, com o intenso raio de luz do Sol incidindo sobre seus olhos. Chris liga a TV, nos noticiários e é surpreendido pelo o que está se deparando. Saiu o resultado do rápido julgamento de Marcus. Ele fora condenado a 5 anos por tentativa de homicídio.
— Mas isso é tão pouco, comparado com o que ele fez com a gente...- diz Chris, irritado.
— Melhor se contentar. Melhor que ele ficar solto por aí...- conclui Lucas.
— Tem razão...- concorda.
Nesse instante, Marcus volta à sua cela e observa os raios de Sol pelas grades que formam a “janela”.
— Tomara que eu morra logo...- pensa.

5 anos depois (25 de junho de 2022)...

Nesses cinco anos, Marcus fizera alianças com os bandidos da prisão e adquirido o respeito deles, devido sua intensa participação em rebeliões. Não só sua personalidade mudou, a aparência também: o cabelo estava enorme, o corpo com todos os detalhes de um corpo de um adulto de 23 anos.
Como nunca mais recebera notícias sobre Chris, sua sede de vingança crescera muito mais. Hoje é dia de sua liberdade. Sua vida mudara radicalmente, mas não mostrara reação de surpresa. Adquiriu transtorno de ansiedade, pois, como não teve contato com mais ninguém, ficava ansioso por visitas e informações mas nada recebera.
Conforme foi-lhe indicado, procurou a casa de um grande amigo de infância, chamado Edson, que o acolheu fielmente. O mesmo sabia da paixão obsessiva que Marcus sempre tivera por Chris. Alguns dias atrás, Edson recebeu a notícia de que Chris e Lucas iriam casar. Coincidentemente, esse casamento estava marcado para o mesmo dia que Marcus saíra da cadeia.
— Marcus, tenho uma coisa para te contar. Sabe o Chris e Lucas?- perguntou Edson à Marcus. Essa pergunta e esses nomes fizeram ressurgir na mente de Marcus momentos felizes em que ele estivera na presença de Chris.
— Como eu sinto falta de teus beijos calmantes, Chris...- pensou Marcus.- O que tem esses dois inúteis?- perguntou Marcus.
— Eles vão se casar hoje...- disse Edson.
— Eles...vão casar?- perguntou Marcus, atordoado.
— Sim, hoje, às oito horas da noite, na Igreja da Salvação. Mas, nem pense em ir lá. A sua sorte é que você foi uma pessoa muito querida aqui no bairro, senão, já tinha morrido. Sossega o ânimo aí, cara.- ordenou Edson.
— Tudo bem... Eu vou fingir que não escutei isso...- completou Marcus.

O dia anoiteceu. São 7 horas da noite. Falta apenas uma hora para o casamento. As palavras ditas por Edson causaram um impacto visível em Marcus, o qual ficara agoniado durante toda a tarde.
— Preciso pensar em algo...- pensara Marcus, inquieto, rodando pela casa.
Marcus foi até o quarto, o qual ficara trancado durante 5 minutos. Após isso, virou-se para Edson, despedindo-se.
— Edson, vou na rua tomar um ar, já volto...- disse, saindo de casa.
— Eu acho que não era para eu deixa-lo sair. Mas, agora, ele já foi...- pensou Edson.
Como de costume, sempre quando tem um casamento na Igreja da Salvação – a principal igreja da cidade-, há cartazes comunicando tal evento, pois, na verdade, é um casamento comunitário. Além disso, é o primeiro casamento de um casal LGBT na Igreja da cidade, o que causava a curiosidade de muitos.


Igreja da Salvação, 25 de junho de 2022, 20:00 hrs...

No interior da Igreja lotada, o noivo Lucas, com toda sua vestimenta marcada pela cor branca, está muito ansioso. Suas mãos soam tanto que toda hora ele pede algum lenço para poder secá-las. Os convidados, ente queridos e amigos, sempre lançam olhares de boas energias, o que o deixa mais calmo e animado. Sempre olha para a imagem de Cristo, agradecendo-o por estar realizando seu sonho. Após alguns minutinhos de espera, a icônica música de entrada do noivo começa a tocar. O coração de Lucas toca como um tambor de escola de samba.
Finalmente, Chris entra, acompanhado com o pai, que o leva até o altar. Coloca-se à frente do Padre, e sobe para o altar, pegando a mão de Lucas e juntando com a sua.
— Lucas, aceita casar-se com Chris, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobre...
— ACEITO!!!- responde Lucas, entusiasmado. Os convidados riem.
— Chris, aceita Lucas...
— COM CERTEZA! ACEITO, ACEITO MUITO!!!- diz Chris, interrompendo o Padre, novamente.
— Vocês estão animados hein?- diz o Padre, aos risos.
— Bem, antes de selar a união, devo fazer mais uma pergunta. Tem alguém, aqui, que é contra esse casamento?- pergunta o Padre, seriamente, de frente para os convidados.
Um enorme silêncio toma conta da Igreja.
— Pois bem, Lucas e Chris, eu os declaro...
— PODE PARANDO COM ESSA PALHAÇADA AGORA!- diz Marcus, entrando na Igreja, totalmente desarrumado, causando a rejeição de todos, apontando uma pistola.
Todas as pessoas presentes na Igreja quebram seus ânimos com um longo suspiro de susto e medo.
— Meu jovem, queira, por favor, abaixar essa arma!- pede o Padre, gentilmente.
— CALA A BOCA OU EU ATIRO EM VOCÊS E NÃO QUERO NEM SABER SE DEUS VAI ME PERDOAR OU NÃO!!!- responde Marcus, furioso, caminhando até a metade da Igreja.
— Não sei o porquê de te soltarem, mas você não tem direito de atrapalhar esse momento.- dispara Chris.
— MEU PROBLEMA É CONTIGO E COM ESSE TEU NOIVINHO DE MERDA! PENSA QUE EU ESQUECI O QUE EU PROMETI?- pergunta Marcus.
Um flashback daquela noite desastrosa de 27 de março de 2017 na boate vem à mente de Lucas e Chris. Lucas não demonstra reação, seus olhos assustados dizem tudo.  Chris está soando de desespero. Marcus caminha até a frente do altar, com a arma apontada para eles.
— QUERO QUE O PADRE E TODOS SAIBAM QUE EU SOU CONTRA ESSE CASAMNETO. ALIÁS, VIM AQUI PRESTIGIAR O QUÃO CARA-DE-PAU VOCÊS DOIS CONSEGUEM SER, PRINCIPALMENTE VOCÊ, CHRIS.- grita Marcus.- FAÇAM A ÚLTIMA REZA DA VIDA DE VOCÊS, SEUS BANDOS DE LIXO!- conclui.
— Jovem, acalme-se, por fa...- diz o padre.
— CALA A BOCA, VELHO INÚTIL!!!- diz Marcus, agora, disparando um tiro na cara do Padre, que cai morto. Todos gritam e tentam fugir, mas a porta é fechada.
—Ora, ora. Vocês pensaram que eu deixaria todos fugirem nesse espetáculo tão lindo? Ainda bem que eu consegui uma ajudinha de alguns capangas que eu encontrei na rua. NINGUÉM VAI SAIR DAQUI DE DENTRO!!!- conclui Marcus.
— Marcus, eu só quero ser feliz...- diz Chris, chorando. Sua calça começa a ficar molhada pela urina, causada pela reação do corpo ao medo extremo.
— POIS BEM, O SHOW ACABA AQUI. VOCÊS NÃO QUISERAM REZAR. AGORA, VÃO SER INFELIZES PARA SEMPRE. ADEUS!!!- diz Marcus, que dá tiros certeiros em Chris e Lucas. O chão do altar é infestado por um rio de sangue. Marcus faz uma reza e ainda faz o sinal da cruz.- Gostaram do espetáculo, crianças?- diz aos convidados, às risadas, atirando, agora, para o teto.
Todos os convidados entraram em desespero. Eles tentam abrir a porta, mas nada conseguem. Há muitos choros, desmaios e gritos no local. Marcus fica irritado e manda todos calarem a boca.
— Eu ainda não terminei...- diz ele, caminhando até a metade da Igreja, apontando a arma para cada um. Seus sapatos fazem barulho, há total silêncio agora.
—Espero que essa noite tenha sido divertida e marcante. Nunca se esqueçam de mim. Que Deus me abençoe.- Marcus pega a arma e coloca sobre sua cabeça. Puxa o gatilho e atira contra si mesmo. O corpo cai no meio da Igreja e o desespero toma conta, novamente, do lugar. A porta se abre e há uma intensa movimentação e desespero para sair. Sirenes de polícia começaram a chegar, juntamente com pessoas curiosas e preocupadas com todos os barulhos estranhos e assustadores que estavam sendo ouvidos e suspeitos de longe. A reação de todas as pessoas que passaram a chegar era de medo.
Finalmente, a Polícia chega, pois alguém havia telefonado quando escutara os primeiros disparos, e avalia o local e a situação. A Defesa Civil chega minutos após, tirando os corpos mortos. Após algumas horas, vários repórteres estavam no local, realizando diversas reportagens. Esse dia marcou a cidade e ficou conhecido como “Casamento da Morte”.
O dia do enterro de Chris, Lucas e Padre foi marcado por repleta comoção. O corpo de todos eles foram enterrados no cemitério Jardim da Saudade, inclusive o de Marcus. A cova de Marcus foi alvo de vandalismos. Marcus entrou para a lista de assassinos mais macabros da história nacional, ganhou filmes e até seguidores. Não houve sequer aparição de parentes de Marcus no enterro, embora esse dia tenha sido bastante repercutido.
Dias após todo esse evento catastrófico, Edson começa a fazer uma faxina em sua casa. Após muita relutância, entra no quarto onde Marcus se hospedara. Quando abriu uma gaveta que chamara bastante sua atenção, chocou-se com o que tinha dentro. A gaveta possuía munições e, na estante, estava escrito um bilhete.
“Irei ocasionar uma tragédia, mas não me arrependo de nada. Tudo foi motivado por amor e aquele filho da p*ta do Chris e Lucas irão pagar por tudo que me fizeram passar. Se esse meu amor por Chris se tornou conturbado/obsessivo, eu não sei, porque, para mim, foi o que me motivou a viver. Espero que me entenda, amigo. Adeus.”

Fim ou Continua???


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