Mentirosos escrita por Blair Herondale


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu não sei nem como agradecer pelos comentários maravilhosos que recebi. Vocês são incríveis!



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No momento em que saíram da escola, June pôde sentir o vento frio de final de outono bater com força contra seu rosto, fazendo-a afundar as mãos dentro de seu moletom folgado.

—O inverno está se aproximando com mais rapidez. -Christian comentou, ao tirar um maço de cigarros do bolso traseiro de seu uniforme da academia.

—Não fume perto de mim. -June pediu, sentindo-se melancólica pelo precoce saudosismo das folhagens secas de outono. Elas quebravam em seus pés na forma de estalos suaves e a garota gostava de se imaginar andando sobre estrelas.

Aquele pensamento não tinha sentido. E nem precisava ter.

—Você acha que Dimitri irá chamar Winter para o acampamento que costumamos fazer todo final de ano? -Christian perguntou, lançando um olhar de lado para June. Havia guardado, sem qualquer reclamação, os cigarros no bolso.

—Acredito que sim. -ela respondeu, fechando os olhos ao caminhar com lentidão, aproveitando o abraçar caloroso dos últimos raios de sol do dia sobre sua face.

Christian observou discretamente aquele movimento, reparando como os fios de June pareciam refletir em parte o alaranjado do fim da tarde.

Desde o momento em que passaram a morar juntos, os três criaram a tradição de viajar para algum local isolado e barato no final do ano. Às vezes dormiam em chalés simples, outras nas próprias barracas que traziam dentro da bolsa.

—O que você acha de Winter? -June decidiu perguntar, após alguns minutos de silêncio, uma vez que estava se sentindo confortável o bastante para aquilo.

Se estivessem dentro da academia, a garota nunca levantaria qualquer conversa que não estivesse relacionada às matérias vistas em sala de aula, porque lá era um ambiente de muitos olhos, cochichos e fofocas. Entretanto, quando se viam em um lugar diferente das paredes e dos portões antiquados da academia St.Swithin’s, June já acreditava na liberdade de conversar com Christian, mesmo que ela normalmente não tivesse interesse em escutar a opinião do jovem garoto. Ali, naquele parque alaranjado que eles percorriam até chegar na parada do ponto de ônibus, não havia a pressão dos milhares de olhos sobre si nem a preocupação de ser a melhor. Ela era simplesmente Silver e ele simplesmente Connor. Uma garota e um garoto conversando sobre um assunto que envolvia um amigo em comum.

June virou, por fim, o rosto para observar Connor que, momentaneamente, tinha abandonado a posição de rei para se tornar o melhor amigo de um rapaz ordinário.

Seu nariz estava vermelho do frio que se misturava ao forte vento. As ruas estavam cheias de crianças, pais e idosos que conversavam, riam e tratavam de amenidades. Entretanto, não foi preciso de nenhum esforço para June ser capaz de ouvir as palavras ponderadas de Chris, uma vez que seu ombro encostou no braço do garoto ao ser empurrada por um senhor que caminhava apressado.

—Não importa o que eu acho. Ela faz Dimitri feliz.

—Mas você confia nela?

—Silver, não sou capaz de confiar nem em mim, quem dirá em uma desconhecida, mas, se deseja mesmo saber, eu acredito que ela seja uma boa garota. -Christian falou, virando o rosto na direção de June a fim de estudar seus movimentos.

—Eu também. -respondeu com sinceridade.

Ele abriu um sorriso que logo procurou esconder ao abaixar o rosto na direção de sua calça de sarja, se divertido com toda a dramaticidade da situação. Era como uma cantiga de criança. June amava Dimitri que amava Winter que amava Dimitri e Christian era o garoto que não amava ninguém.

—O que foi? -ela perguntou incomodada, percebendo que o sorriso continha mais informação do que ele permitia escapar.

—O que foi o que?

—Esse sorriso. -explicou, apesar de saber que o jovem tinha conhecimento de que ela se referia aquilo.

Ele ergueu a sobrancelha negra, o sorriso que queria abrir transferindo-se para os olhos safiras.

Irritante, constatou June.

—Não sabia que agora precisamos explicar um sorriso.

E, com aquilo, Christian foi capaz de calar a garota, uma vez que ambos sabiam que June não seria aquela a levantar uma discussão com base em algo visual. Ela não tinha provas e não começaria algo que, no final, acabaria sendo uma perda de tempo. June era teimosa, mas não tanto quanto Chris.

 

[...]

 

Durante o restante do percurso até a parada de ônibus, permaneceram calados, cada um imerso em sua própria linha de pensamento.

Provavelmente teriam continuado daquele jeito até  o simplório apartamento em que viviam, se uma garota de 15 anos não tivesse começado a cantar e tocar, em seu violão de segunda mão, na parada em que estavam.

Photography, June pensou ao erguer seu olhar para poder compartilhar um sorriso divertido com Christian. A graça de toda a situação se devia ao amor de Dimitri por essa música. Ele escutara tantas vezes, que June e Christian passaram a cantar em forma teatral para irritar o loiro.

Eles dramatizavam as palavras para fazê-lo se sentir desconfortável por gostar de uma música que virou tendência.

Loving can hurt. June disse com os lábios, sem permitir que o som escapasse de sua garganta. Uma melodia eternamente presa naquele instante.

Seus olhos azuis brilhavam divertidos ao encarar o sorriso que diversas garotas da St.Swithin's teriam morrido para apreciar, enquanto sua boca atuava na tristeza da música.

Loving can hurt sometimes. Continuou Chris, seguindo o mesmo estilo de palavras presas para não chamar das outras pessoas que estavam na parada com eles. Entretanto, apesar de ter erguido a sobrancelha para demonstrar dor, não conseguia ser capaz de tirar um discreto sorriso do rosto.

Ele revirou os olhos, então, não acreditando que estava realmente fazendo tal coisa.

Veja bem, eles não se suportavam, nunca tinham sido capazes de manter uma conversa longa quando sozinhos, simplesmente porque não havia o interesse de descobrir mais sobre o outro. Eles eram quem eram, viviam como viviam e todo o resto não importava.

Dimitri era o único capaz de criar um elo entre eles, como uma cola que ligava dois opostos ou o ar que tentava trazer ímãs de mesmo polo para perto.

We keep this love in a photography. As palavras de June saíam sem som, mas o seu modo de agir fazia parecer que ela era a cantora. O amor que atuava não existia, mas seus lábios pareciam torná-lo real, o brilho de diversão confundia-se com um sentimento melancólico pelos desconhecidos.

We made these memories for ourselves. Completou Christian, intercalando as frases de June. Ele não era tão bom quanto a garota quando se tratava dessa brincadeira, porque tudo o que queria fazer, era rir da situação e das próprias palavras da música. Por isso, quando moveu os seus lábios para formar a palavra ourselves, precisou soltar uma baixa risada pelo nariz, desviando o olhar de June para balançar a cabeça de descrença.

Ele não conseguia acreditar que estava realmente atuando em um ambiente público, sem a presença de Dimitri.

A garota jogou o cabelo negro para o lado com uma de suas mãos. Haviam chegado no refrão, a parte mais divertida de toda a música.

Se não estivessem em um ambiente tão aberto quanto aquele, June dançaria como se pertencessem ao período da renascença, por acreditar que a dança da época passava muito mais emoção do que as atuais. Ela dizia que as mulheres se expressavam com as mãos, os pés, a forma de mexer o braço e de mover a cintura. Ela rodopiaria em seu próprio centro, parando para dar uma risada pela tontura causada devido à falta de hábito. Dimitri, se também estivesse presente, teria revirado os olhos e aplaudido sua bela dança improvisada.

—So you can keep me. -June murmurou, a voz abafada pelo som que saia da garganta e do violão da garota de 15 anos. Ela apontou em sua direção ao frisar a palavra you e, logo depois, trouxe a mão para o próprio peito. Sentindo uma dor fictícia e um divertimento real. As palavras eram cantadas de modo intercalado de sorrisos curtos- Inside the pocket of your ripped jeans, holding me closer 'til our eyes meet. You won't ever be alone, wait for me to come home.

Aquela era a primeira vez que algo como aquilo acontecia entre os dois. Não havia Dimitri, nem obrigações, nem fingimentos. Mas se divertiam ao dançarem e cantarem com a troca de olhares azulados.

Naqueles breves instantes, eles trascendiam suas almas para tomarem um lugar no espaço. Não havia preconceitos, nem preocupações, nem vergonha. Sem impedimentos.

Eles eram a dramaticidade da música e a diversão do momento.

Se antes não pretendiam chamar atenção, agora todos os olhares se voltaram para eles.

—Me desculpe. -Connor pediu educadamente, já recobrando a pose de indiferença e tédio.

—Não precisa se desculpar. -a garota de 15 respondeu, ajeitando os fios loiros ao lhe lançar um belo sorriso -Vocês são muito bons.

June franziu o cenho, preocupada por ter sido observada durante sua apresentação privada. Não esperava chamar atenção.

—Eu sei. -Christian respondeu prepotente. Talvez houvesse também um pouco de orgulho no tom de sua voz, mas June já não saberia dizer.

A menina voltou a sorrir.

—Nosso ônibus. -comentou June para Chrisitan, antes de abrir um sorriso agradecido para a loirinha -Ótima voz. -acrescentou, antes de subir no ônibus com o garoto logo às suas costas.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! De verdade. Eu ia postar esse capítulo apenas na segunda feira, mas como vocês me fizeram muuito feliz, resolvi postar hoje! Beijinhooos! Comentem e me digam o que estão achando.
P.s: Espero que esse capítulo não tenha ficado tão aleatório.



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