Mentirosos escrita por Blair Herondale


Capítulo 18
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Mais de um ano depois, volto dos mortos com um novo capítulo.
Peço minhas desculpas de sempre, de verdade. Sendo que tantas coisas aconteceram na minha vida esse último ano. Minha amiga se casou, está grávida da primeira filhinha, eu tive que me voltar completamente para a universidade, grupos de estudo, produções acadêmicas. Foi puxado. Mas sobrevivi (ainda sigo sobrevivendo e indo em direção ao meu último ano de faculdade!). Muito obrigada a todos vocês que ainda não desistiram de mim. Amo muito. Mesmo.
Capítulo dedicado à Lívia (hi there!)



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Ainda era cedo quando June chegou à academia. Fazia tanto tempo que carregava mentiras nas costas que sentia um certo alívio ao poder caminhar sem preocupações. A conversa com Elle havia sido densa, com um pouco de mágoa e de incompreensão pela mentira contada por June. “Amigos não mentem”, a amiga lhe lembrou, ao garantir que nunca teria ficado irritada por ela dividir um apartamento com Christian. “É apenas um garoto, amizade vem acima de tudo”.

Às vezes, romances e filmes faziam parecer que amizades resistiam apesar de todos os conflitos e desentendimentos, como se nada fosse capaz de abalar a estrutura que é construída e quase consolidada ao longo dos anos. No entanto, June sabia, por experiência própria, que as coisas nem sempre funcionavam da maneira esperada. Era devido ao medo de arruinar o que tinha com Elle que June resistiu a contar a verdade. Por fim, desculpou-se. 

Na manhã seguinte, June chegou cedo em busca de Christian, para lhe agradecer pela ajuda. Uma parte de si ainda estava muito surpresa pela pessoa que ela havia conhecido no último dia, muito embora soubesse que essa nova visão de Christian havia sido construída paulatinamente ao longo das semanas que fingiram ser namorados. Porém, apesar de todos os seus esforços, não conseguiu encontrá-lo, começando a temer que o garoto talvez tivesse ficado resfriado após andar por tanto tempo no frio, na noite anterior. 

Somente no intervalo da primeira aula que June o viu. Rodeado por garotas, Christian exibia uma expressão presunçosa e superior no rosto. A ruiva, de semanas atrás, lhe sussurrava algo no ouvido e ele meramente se atentava à conversa. Com o queixo erguido e o olhar distraído, o jovem parecia ocupado demais em manter a indiferença para o público de admiradoras que o cercava.

June conteve um revirar de olhos com toda aquela cena. Ele parecia um puto clichê ambulante, alguém que buscava pertencer à época dos românticos desafortunados, que se matavam por amor e se deixavam ser engolidos pela melancolia, afogados na existência de si mesmos. A jovem não se admiraria de vê-lo esculpido e pintado por um grande artista. Seus ângulos falavam mais do que dissertações inteiras. June poderia ter passado horas contemplando a complexidade de Christian Connor, mas havia se aproximado o suficiente para chamar sua atenção. Sorriu, então, quando ele direcionou o olhar para ela. 

—Queria falar com você. - pediu, indiferente aos olhares de raiva que recaíram sobre si. June já havia passado por tantas situações de humilhação, de reprovação e de julgamento em sua vida, que aprendera a criar um escudo de proteção à olhares mesquinhos. Ela era mais forte do que aquilo. 

—Estou ocupado. -respondeu. Curto. Seco. 

A quebra de expectativa foi tão forte que June precisou piscar duas vezes para digerir a mensagem. Lentamente, tirou o sorriso do rosto. Parecia que se deparava com um outro Christian. Aquele em volta das garotas não era o mesmo que fora tão cuidadoso com ela no dia anterior. 

—Vai ser rápido. - E, como ele se manteve impassível, insistiu - Por favor

—Eu já disse que estou ocupado, Silver. -retrucou, pronunciando seu nome com acidez. 

June se sentiu confusa e, de certo modo, triste. Compreendia que estavam na escola e que, portanto, precisavam fingir um certo distanciamento, mas ao mesmo tempo ela não concordava com a forma que as palavras dele possuíam um tom de cortante dureza. 

— Tudo bem, nos falamos depois. - disse, simplesmente, porque não estava muito animada para começar uma briga no meio do colégio justo na primeira manhã após conversar abertamente com Elle. 

A garota se virou quando soava o segundo toque de retorno às classes e estava na metade do caminho para o laboratório de biologia, quando foi interceptada pelo outro. Rapidamente, Christian abriu a porta de um armário de vassouras e a empurrou para dentro, dando uma última olhada no corredor para checar que ninguém tivesse visto os dois.

—Diga. 

—Está tudo bem contigo? - June questionou, verdadeiramente preocupada com o menino. Ele parecia muito desconfortável, pouco lhe lembrando a pessoa que fora no dia anterior. Como se algo tivesse ocorrido causando uma quebra brusca entre o Christian do dia anterior e aquele que agora se encontrava na sua frente.

—Apenas diga o que você queria. Acho que não vou dormir em casa hoje e provavelmente não nos encontraremos tão cedo. - resmungou, olhando para todos os cantos do armário, menos para ela.

—Eu só… - abaixou a cabeça, medindo cautelosamente suas palavras - Eu só queria lhe agradecer por tudo o que você fez por mim ontem e, também, pelos conselhos que deu. Sei que a gente tem muitos desentendimentos, mas acho que eu precisava ouvir certas verdades que você disse e… - mudou o peso de uma perna para a outra, percebendo que não era acostumada a estar em situações de agradecimentos - Eu realmente precisava conversar com Elle e ter uma dia distante de tudo. Obrigada.

Com muita dificuldade, June ergueu o olhar tempestuoso para Christian, temerosa do que iria encontrar na expressão do outro. Porém, ele permanecia encarando um ponto qualquer à sua direita. 

—Ei… - disse baixinho, genuinamente preocupada com a falta de reação de Christian. Parecia que ele se escondia sob sua típica camada de indiferença, no entanto, ao considerar tudo o que haviam vivido não somente no último dia, mas nas últimas semanas, June sabia que aquela atitude não condizia com suas atitudes normais. Algo não estava certo. 

Levou uma mão para o rosto de Christian, tentando fazê-lo olhar para ela.

—Não me toque. - pediu, abaixando seu duro olhar para June, embora não tenha feito nada para se esquivar da mão dela.

—Sabe, se você me contar o que está acontecendo, talvez eu possa te ajudar. - sua voz não passava de um sussurro, mas ela esboçava um sorriso apesar da pouca luz que os circundava. - Quem sabe compartilhar os seus pensamentos com uma outra pessoa possa te fazer ver a situação por um outro ponto de vista. Recentemente eu descobri que conversar é uma ótima atitude para resolver problemas. 

Brincou com a própria ajuda que Christian havia dado a ela no dia anterior, esperando que isso lhe roubasse ao menos um sorriso, mas o garoto permaneceu fechado em sua máscara de indiferença. June suspirou, um pouco sem saber o que fazer.

—Olha, eu sei que tivemos essa péssima relação ao longo dos anos. Mas eu prometo que o que quer que você me contar, permanece entre a gente. Sem críticas, sem julgamentos. Apenas um garoto contando algo a uma garota. - seu polegar fez um carinho leve sobre a bochecha pálida de Christian - É o mínimo que eu posso fazer para você depois de ontem. 

Christian fechou os olhos e, por alguns segundos, se manteve daquela maneira. June não pôde deixar de admirar quão belos eram os ângulos da face do outro, às vezes, ele parecia uma pessoa irreal, como se tivesse saído de um quadro renascentista. Ou de um caderno de esboço de um artista preocupado com métricas e simetrias. 

—Você não pode me ajudar com isso, June. - disse, por fim, ao abrir os olhos, permitindo pela primeira vez no dia, que a outra visse toda a chateação que lhe preenchia. 

—Como você sabe? 

—Por que eu sei. 

—Tudo bem, então, quando você quiser falar comigo, sabe onde me achar. - apesar de suas palavras parecerem impacientes, ela estava calma, buscando dar o espaço necessário ao outro. Em um último gesto, deslizou seus dedos até a nuca do rapaz, onde gentilmente afagou os finos fios negros - Fique bem. - murmurou baixinho, encerrando o toque e buscando a fechadura do armário de vassouras para ir à aula.

No entanto, antes mesmo de girar a maçaneta, Christian repousou a mão sobre a sua, impedindo seu gesto.

—Espere. - a voz não passava de um sussurro e ela ergueu o olhar para ele, preocupada. Porém, antes que pudesse dizer qualquer coisa, sentiu um leve pressionar de lábios contra a sua bochecha, bem próximo de sua boca. As mãos de Christian se direcionaram para a sua cintura e ele a trouxe para perto de si. Ela não impôs resistência. 

O mais velho afastou o rosto do de June a fim de estudar sua reação, mas não encontrou nenhuma raiva dentro da garota. Ainda que estivesse surpresa, um pequeno, quase imperceptível sorriso brincava no canto de seus lábios. Sustentando seu olhar, Christian se aproximou novamente e, dessa vez, depositou um beijo na outra bochecha e, depois, em seu maxilar, descendo um pouco pelo seu pescoço, até voltar novamente para o rosto. 

O coração de June batia forte em seu peito, enquanto era consumida pelos singelos toques alheios. Christian depositava os beijos contra a sua pele como se a qualquer momento ela fosse lhe escapar e June, por sua vez, desejava que o momento se arrastasse ao máximo. Ao longo das semanas, diversos sentimentos foram se misturando e sendo reprimidos pelo medo do que aquilo poderia dizer sobre ela, no entanto, a garota já não temia mais a opinião alheia. 

Levou a mão para a nuca de Christian e o trouxe para perto de si. 

Queria beijá-lo. 

Porém, ele manteve a distância entre eles, impedindo a aproximação. O olhar azul escuro lhe encarava com um pequeno sorriso brincando no canto dos lábios.

— O que foi? - perguntou baixinho, surpresa com aquela reação.

— Eu quero ouvir você pedir. - respondeu, aproximando-se ao ponto de seus nariz quase se tocarem - Dessa vez eu quero ouvir você pedir. 

Rindo baixinho, June compreendeu tudo. Nas últimas duas vezes fora ele a dar o primeiro movimento do beijo e, nas duas vezes, ela o afastara cheia de repugnância. No entanto, agora se encontravam dentro de um armário de vassouras, compartilhando desejos recíprocos e vontades contidas. Christian queria deixar claro que não era apenas ele que a queria, mas ela também. 

Apesar de extremamente orgulhosa, June não se importava em realizar o pedido alheio.

—Por favor, Christian Connor, me beije. - a voz não passava de um sussurro, mas tinha a força de uma imposição.

Por alguns milésimos de segundos, Christian permaneceu parado, observando a boca de June, talvez simplesmente saboreando o tom das palavras ditas, porém, rapidamente expôs ele próprio um pequeno sorriso e finalmente colou os lábios contra os dela. 

Diferente dos dois beijos anteriores, esse ocorria pelo desejo de ambos. Não havia Winter ou Dimitri, ou qualquer fingimento em torno da ação. Ambos queriam aquilo, ambos desejavam a proximidade. Naqueles instantes, nada se encontrava entre eles, nem mesmo o ar. 

June colocou ambas as mãos sobre os fios de Christian e o puxou para perto de si. Havia uma certa ferocidade na maneira como se beijavam, como se um desejo desconhecido tivesse se apossado dos dois e, finalmente, se libertado naquele armário de vassouras esquecido. 

—Ninguém pode saber disso. - ela comentou baixinho, tentando recuperar seu fôlego ao encostar sua testa na de Christian. 

Ele já havia voltado a distribuir beijos sobre seu pescoço e descia perigosamente para sua clavícula e busto. 

—Não se preocupe, esse pode ser nosso sórdido segredo. - brincou Christian, percorrendo sua mão pela espinha dorsal de June, antes de afastar o rosto para roubar mais um rápido selinho - Mas não seria interessante você esconder de Elle.

—Para ela vou contar. 

Para todo o resto, não, declarou nas entrelinhas.

Christian assentiu, antes de abrir novamente o sorriso.

—Então acho melhor você ir. Vai parecer muito estranho se chegarmos juntos na sala de aula.

—Verdade. - disse, buscando a maçaneta da porta. - Mas você está bem? 

Christian assentiu minimamente, mantendo o sorriso no rosto.

—Depois a gente conversa sobre isso. Vai… 

June concordou, aproveitando o momento para se aproximar uma última vez e depositar um rápido beijo sobre os lábios de Christian. 

—A gente se vê mais tarde. - disse, saindo rapidamente do armário e caminhando a passos largos em direção à sala de aula.


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Notas finais do capítulo

Gente, de verdade. Milhões de desculpas pela demora. Espero que tenham gostado, apesar da monstruosa demora em postar um novo capítulo. Amo vocês. Comentem! ♥ (E recomendem, se quiserem)



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