Mentirosos escrita por Blair Herondale


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Nenhum comentário no capítulo passado? Confesso que fiquei um pouco triste. Eu me esforcei bastante para escrevê-lo e espera ao menos uma opinião sobre como ele tinha ficado. Mas tudo bem, estou animada demais para parar por qualquer coisa que seja. Esse novo capítulo se baseia mais no diálogo do que qualquer coisa, por isso, prestem atenção, ele diz muito mais sobre um personagem do que qualquer descrição.
Espero que gostem e COMENTEM! Beijos! Amo todos vocês!



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—Nunca fui religioso, porque acreditar em Deus significa acreditar que o homem possui uma essência antes mesmo de vir ao mundo. Uma cadeira, antes de ser fabricada, possui sua essência e função. As religiões fazem isso com os homens ao dizer que seus deuses, sejam lá quais forem, planejam o ser humano antes de lhes permitir viver. Não gosto desse determinismo. -Christian afirmava, enquanto mexia em sua garrafa de cerveja Heineken. June estava ao seu lado, mão no queixo, cotovelo na mesa, observando-o explicar seu ateísmo à Winter. Dimitri encontrava-se em pé ao lado do fogão, preparando o almoço dos quatro. Naquele dia, seria salada e carne vermelha com um secreto molho especial. - Acredito, e acho que isso é uma visão mais sartreana, que nós nascemos e criamos nosso destino com nossas ações. Não podemos nos desculpar pelos nossos erros com a declaração de que “eu nasci desse jeito”, porque você se constrói. O homem nasce livre, cresce livre e morre livre. O peso de todas as ações e consequências de sua vida recaem sobre si.

Winter sorriu, prendendo os fios dourados com uma fita azul que carregava no bolso.

—Interessante. -disse, levando a taça de vinho branco até os lábios. Enquanto os três moradores da rua Eastwood se serviam de cerveja barata, Winter optou pela garrafa de vinho que tinha trazido como um presente para Dimitri- Porém, acho que você precisa ser muito corajoso para viver com esse modo de pensar.

June franziu as sobrancelhas, perguntando-se onde a garota queria chegar com tal comentário. Desde que voltaram do bosque, Connor e Winter mantinham uma conversa sobre amenidades da vida que acabavam se tornando muito mais profundas do que era esperado. Dimitri se divertia com o debate que ocorria ao seu lado e June se limitava a estudar e analisar as posições dois dois. Você aprendia muito mais sobre uma pessoa com distraídas conversas como aquela do que com questionários feitos visando à um fim.

—Corajoso?- Connor perguntou, os lábios comprimidos em confusão.

—Sim. -concordou Winter, sorrindo com uma leveza doce. Os olhos dourados brilhavam e ela emanava tranquilidade em sua fala- Porque, veja bem, quando você acredita em Deus ou ao menos que o universo segue uma lógica que justifica os acasos e coincidências da vida, você não se sente tão frustrado quando algo dá errado. Por exemplo, houve uma época que eu quis passar em uma universidade de música que ficava no interior da França, mas eu não passei, mesmo após três tentativas. Eu fiquei triste, claro, mas logo depois consegui passar em uma universidade que tem aqui, achei um apartamento próprio, conheci Dimitri e outras diversas coisas boas aconteceram em minha vida. Na minha concepção, as coisas eram para ser desse jeito, o universo cuida de cada um de seus pássaros e não passar nessa universidade francesa estava dentro dos planos do acaso. Agora, vamos olhar as coisas sobre sua perspectiva. -falou, colocando um pé na cadeira para poder apoiar o cotovelo em seu joelho. A casualidade brincava sobre os azulejos da cozinha -Eu não passei nessa universidade, mesmo tentando três vezes. A conclusão que tiramos disso não é que eu não deva estudar em tal lugar, mas que eu não sou boa o suficiente para ela. A conclusão é que eu deveria ter estudado mais para me encaixar no sistema de avaliação deles e, se eu não passei, fiquei fadada a permanecer aqui. Muito duro, não acha?

—Mas quem disse que não era? -Connor perguntou, dando de ombros como se desculpasse. Entretanto, a sua indiferença estava clara. Suas ideias não foram feitas para descer fácil pela garganta dos sonhadores- A vida é dura e eu não pretendo esconder isso.

Fair enough.—Winter afirmou em resposta, levando toda aquela discussão com uma tranquilidade divertida. June pôde até esquecer do incômodo que havia começado a direcionar para a garota nos últimos dias. - Tenho então só uma última pergunta para lhe fazer.

—Pode dizer. -Connor respondeu, dando mais um gole da sua cerveja.

—No meu modo de ver o mundo, nós conhecemos as pessoas por uma razão. Eu conheci Dimitri ao ter ficado aqui, por não ter passado na prova. O universo quis as coisas dessa maneira. Você não acredita nisso, já que diz não haver uma razão maior para os acontecimentos da vida, tudo se resume a ação e consequência daquilo que você faz. Então estar com Dimitri foi uma mera consequência da minha falta de estudo e esforço, se eu não tivesse ficado aqui, teria conhecido outra pessoa na França e viveria minha vida de forma tão natural quanto agora. Dimitri é um efeito colateral da minha irresponsabilidade e, por isso, ele se torna uma pessoa como qualquer outra no mundo. Eu teria um alguém não importa onde estivesse. Dimitri não foi escolhido pelo universo para mim. Em seu modo de ver as coisas, ele se torna um homem como qualquer outro, certo?

Connor mordeu o canto do lábio inferior, tentando seguir a linha de raciocínio que Winter traçara para a conversa. Suspirou, levando os dedos esguios para os negros fios cabelos antes de assentir levemente com a cabeça.

—Dizer isso é outra coisa dura, mas sim, eu diria que está certo. Se você tivesse ido para França, Dimitri não teria como fazer parte da sua vida e você nunca chegaria a sentir falta dele, porque, como pode sentir falta de algo que nunca teve?

—Então, eu viveria uma boa vida independente de Dimitri. O foco está no simples encontro com outra pessoa, não em quem ela é.

—É, mais ou menos.

—Com isso, June se torna uma garota como qualquer outra no mundo e, independente de conhecê-la ou não, você seria como é e viveria uma vida boa. Certo? -e Winter sorria, claramente satisfeita com sua inesperada pergunta.

A cozinha foi subitamente preenchida por um silêncio questionador. Todos os olhos se voltavam para Connor, que tentava achar uma resposta boa o bastante para a loira. Ou simplesmente achar uma resposta.

Apesar de toda implicância que June sentia por Winter, não podia deixar de admirar a forma como ela havia conduzido a conversa até aquele crucial momento. Porque a loira não tinha como saber que o namoro dos dois não passava de uma farsa imposta por Dimitri para conquistar seu coração, não tinha como saber que até poucas semanas atrás o relacionamento de June e Connor baseava-se numa troca de indiferença. E, considerando que estava alheia aquele fato, sua pergunta fora brilhante.

Connor virou o rosto para observar a pálida pele de June, os olhos azuis instigadores e as sobrancelhas erguidas em divertimento. Ela claramente estava interessada na resposta do garoto.

Uns segundos de altas expectativas preenchia o cômodo.

—Hum...Certo. -respondeu por fim, frustrando Winter pela frieza em sua voz. Aquilo não era o que a loira esperava ouvir.

Dimitri virou-se de volta para o fogão, o interesse pela conversa subitamente perdido.

June quebrou o intenso olhar que Connor lhe mandava, porque apesar de desconfiar que aquela seria a resposta do garoto, escutar a declaração de que era como qualquer outra garota no mundo, fora um golpe duro demais para ela suportar.

Sentiu-se exposta, vazia. Connor lhe tirou sua individualidade, sua singularidade, seus traços e suas características que a tornavam únicas.

Por fim, mágoa.

June forçou sua indiferença ao soltar um leve suspiro, antes de se levantar para ajudar Dimitri na preparação do almoço.


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Notas finais do capítulo

Sério. Comentem. Por favor. Beijos!



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