São Paulo - 15/04/2017. 16h10min

Maria Inês desceu de seu carro e olhou o motorista, ele já sabia o que fazer e apenas se afastou depois de fechar a porta.

Ela andou a passos curtos por aquele lugar olhando ao redor e suspirou era como uma avalanche de lembranças invadindo seus pensamentos.

Maria Inês sentou no banco segurando firme uma boneca de pano entre seus dedos apertando ela é segurando suas próprias lágrimas.

Inicio da lembrança...

São Paulo - 15/04/1992

Era sábado por volta das uma e meia da tarde quando aquele lindo casal chegou ao parque com sua pequena Laura de apenas onze meses.

O dia estava lindo e os dois andavam de mãos dadas enquanto Marcelo empurrava o carrinho com a mão livre, M. Inês olhava as crianças brincando e Laura sorrindo e querendo também aquela alegria toda.

Eles pararam perto de um parquinho e sentaram para olhar as crianças brincarem, M. Inês pegou Laura do carinho e a sentou no colo, ela de imediato quis ir ao chão e M. Inês não deixou ela resmungou mais logo foi entretida por um balão que Marcelo comprou para ela.

— Os dois anos mais felizes da minha vida! - Ele beijou o ombro dela.

— Sim amor. - Ela sorriu. - Você me deu o melhor presente!

Laura buscou o peito e M. Inês deu a ela depois de se tapar, eles conversavam sobre o futuro por longos minutos até que ela viu que a filha dormia.

M. Inês colocou Laura com cuidado dentro do carrinho e arrumou sua roupa, olhou ao redor e viu uma tenda ao longe parecia ser bonecas ela não conseguia identificar direito, estava um pouco longo.

— O que tanto olha amor? - Segurou a mão dela.

— Marcelo. - Voltou seus olhos para ele. - Eu vou ali e já volto, não tira os olhos dela. - Pediu e o beijou.

M. Inês levantou e saiu andando até a tenda e Marcelo ficou olhando as crianças e imaginando muitos filhos com sua linda mulher, queria a casa cheia de filhos correndo e brincando para todo lado.

Foram alguns minutos assim até que sua atenção foi desviada para uma briga que acontecia um pouco perto dele, era um homem e uma mulher aos berros, ele olhou para os lados e não encontro M. Inês, olhou a filha que dormia tranquila e voltou a atenção ao casal.

Marcelo apenas olhava o casal com medo de algo pior acontecesse entre eles e foi o que aconteceu segundos depois, quando o homem deu um murro na cara dela que caiu no chão.

O homem avançou para bater mais e Marcelo não conseguiu se conter, deixou a filha ali dormindo e foi ate o homem e o segurou o afastando da mulher, mas sempre de olho no carrinho.

Marcelo tentava dialogar com o homem mais era impossível, o homem queria briga e acertou ele com um soco no rosto. Marcelo caiu no chão e só teve tempo de levantar pra reagir, ele se armou para dar o soco mais ouviu um grito.

— MARCELOOOO...

Marcelo virou de imediato e viu sua mulher com lágrimas nos olhos e correu até ela, olhou o carrinho e seus olhos arregalaram em pânico total.

M. Inês o segurou pela camisa e chorou desesperada o sacudiu querendo que ele falasse onde ela estava e ele não sabia o que dizer.

— Onde ela está? Com quem você a deixou?

— Eu a deixei aqui meu amor, foi só um minutinho!

M. Inês chorou e largou dele correndo pelo parque em busca da filha mais era como se a terra tivesse comido a neném.

M. Inês depois de uns quantos minutos correndo por todo lado a procura de sua filha não aguentou mais e desabou de joelhos no chão, a dor já era sufocante e a boneca que acabara de comprar para ela segurava com loucura como se aquilo fosse trazer sua pequena Laura de volta.

Fim da lembrança...

— Onde você esta minha filha... – Sussurrou e olhou a boneca que guardava há anos os olhos cheios de lagrimas, mas não se permitia chorar. – Me sinto tão só.

M. Inês voltou a apertar a boneca contra seu peito e por mais alguns minutos ali ficou ate que levantou e foi para casa.

[...]

Espanha – 15/04/2017. 21h10min

Marcelo abriu a porta de seu apartamento e entrou, não era um bom dia para se lembrar, nesta data ele sempre se afundava no trabalho para não se lembrar de seu passado doloroso, mas não tinha como era como uma adaga cravada em seu peito e ele sempre lembrava. Não havia um dia se quer em que ele não recordasse aquele dia.

Marcelo deixou as chaves da porta na mesinha que tinha ali perto da porta e a pasta sobre o sofá, andou ate o pequeno bar e serviu um trago do mais forte, a casa estava silenciosa e ele tirou seu blazer deixando sob a cadeira, andou ate a porta da varanda deixando a brisa da noite invadir seu ser e com ela veio a as lembranças dolorosas.

Inicio da lembrança...

São Paulo 15/04/1993.

Já haviam se passado um ano desde que a pequena Laura havia sumido sem deixar um rastro se quer, M. Inês estava submergida em seu desespero e uma forte depressão, não olhava mais o marido com amo ali só havia rancor da parte dela.

M. Inês não conseguia olhar para Marcelo e o peso de certa forma o consumia e muitas vezes ele não conseguia olhar para sua mulher e a ver chorar, agarrada aquela boneca que ela não soltava nunca.

Naquele dia Marcelo chegou mais cedo em casa e encontrou M. Inês no meio da sala aos prantos, ele largou tudo que estava em suas mãos e foi ate ela a abraçando forte, tentando fazer com que ela se acalmasse mais parecia quase impossível. Ela se soltou dele e o olhou com ódio e grito.

— NÃO ME TOCA NÃO ME OLHA, VOCÊ... VOCÊ ME DESESPERA. – Falava em meio às lagrimas.

— M. Inês, por favor, não faz assim.

— EU NÃO QUERO MAIS TE VER, VOCÊ ME LEMBRA ELA, VOCÊ ME LEMBRA QUE VOCÊ DEIXOU ELA SOZINHA QUANDO EU TE PEDI PRA NÃO DEIXAR, EU TE ODEIO EU NÃO QUERO MAIS TE VER.

— Eu não vou te deixar! – Falou em desespero se aproximando dela.

M. Inês recuou agarrada a boneca e com o rosto banhado de lagrimas.

— SE VOCÊ NÃO SAIR, EU SAIO, EU QUERO O DIVORCIO! EU NÃO POSSO FICAR COM VOCÊ, VOCÊ É CULPADO VOCÊ É.

Marcelo parecia não acreditar no que ela dizia, mas sentia seu peito desgarrar com ela dizer que ele era culpado.

— O que você quer que eu faça? Eu não posso te deixar assim M. Inês.

— Eu quero que você vá embora, eu não te quero perto! Você me faz sofrer.

— Por favor, M. Inês a gente pode superar isso juntos!

— EU NÃO TE QUERO PERTO. – Gritou mais uma vez e saiu correndo para o quarto.

Marcelo ficou ali naquela sala despedaçado, ele sentou e chorou a vida tinha sido injusta com eles e estava difícil viver. Ele ficou ali por horas sentado pensando, não a deixaria, não mesmo.

Marcelo adormeceu não se sabe por quanto tempo, mas quando acordou a empregada deles descia a escada com uma mala na mão, seu coração acelerou e ela se desculpou e disse ser ordens da senhora M. Inês, ele subiu correndo para falar com ela que não o respondeu apenas gritou "Vai embora".

Marcelo se viu atado e acuado diante daquela situação e decidiu sair da casa por alguns dias ate ela se acalmar e o deixar voltar, mas não foi assim os dias passou, ele tentou voltar e ela não o deixou. Era o fim, era o fim de um casamento de amor.

Fim da lembrança...

A mesma data o recordava duas dores, a filha e o seu grande amor, ele sentou na poltrona e depois de tomar toda sua bebida ele chorou, chorou por longas horas ate que caiu no sono ali mesmo exausto e se sentindo um fracassado.