Ela jamais se esqueceria daquele primeiro dia de aula na nova escola em um novo estado, principalmente porque mal havia chegado à nova cidade e já tinha que ir para a aula, sem conhecer nada nem ninguém e sendo completamente diferente das pessoas que ali moravam.

Era um alvo de fácil destaque.

Eis um fato muito interessante para se observar: as drásticas diferenças de uma região para outra de um mesmo país, ainda mais um país como o Brasil, onde todas as etnias se misturam nas mais variadas formas.

E tais diferenças são ainda mais destacadas quando se é uma aluna nova, que acabou de sair do sul do país indo para o centro dele, sem nunca antes ter estado lá e tendo que enfrentar a escola logo de cara. No início, ninguém reparou que ela era diferente dos outros, porém, essa indiferença não durou muito tempo: a pele pálida até demais, os olhos azuis e o sotaque inegável logo denunciaram que ela não era dali.

Foi então que todos começaram a agir como se a menina fosse uma atração de circo, um fenômeno raro ou qualquer coisa do tipo. Amavam o seu jeito de falar, achavam engraçado o seu jeito de pronunciar um único “r”, mesmo quando havia dois, e também como sempre falava o “e”, ao invés de troca-lo pelo “i”, como eles faziam. E isso sem contar com as palavras que usava: piá, guri, guria, rabicó, chimia e muitas outras.

Mas o que encantava mesmo eram os olhos, de um azul muito escuro e cheio de risquinhos amarelos ao redor da pupila. Eram lindos, eles diziam. Obrigada, ela respondia, confusa.

Afinal, o que tinha de tão impressionante em seus olhos? Foi quando ela reparou neles, mais especificamente: na cor deles, e não pode deixar de achar engraçado que nunca tivesse feito isso antes. Provavelmente não saberia nem mesmo dizer qual era a cor de seus olhos se alguém tivesse lhe perguntado antes. Para ela, eles não tinham nada de mais.

Foi só depois daquele dia  que ela percebeu que, bem, até que eles tinham algum charme, e foi a partir daquele dia também  que quando perguntavam qual era a sua cor preferida, ela respondia azul.

Até porque, azul é uma cor muito bonita quando se repara nela...