A brisa fresca que batia em seu rosto fazia uma combinação perfeita com o sol de fim de tarde. Podia sentir o perfume dos lírios que Louise plantara para ela e se sentiu saudosa, era a flor preferida de Renné. 

Já estava para partir, é verdade. Vinha se sentindo especialmente cansada e esquecida, fato comum para sua idade.

Noventa e sete anos.

Já estava fazendo hora extra neste mundo, como não cansava de dizer aos seus netos. Ela tinha três filhas: Marissa, Louise e Ameline e dessas três filhas, ganhara oito netos e dos seus oito netos, já tinha dois bisnetos.

Não podia estar mais feliz. Nem todos tinham o privilégio que teve.

Matthew, seu amado esposo, já descansava há alguns anos também. Bella agora se via pronta para partir, gostaria, é claro de ter a oportunidade de ver seus netos crescerem e prosperarem, mas se sentia pronta para o próximo passo.

Nunca pensou que viver fosse tão cansativo. 

Quanto tinha dezoito anos, a vida eterna lhe parecia doce e atraente, mas agora, aos quase cem, não tinha certeza se estaria feliz caso Edward tivesse permanecido em sua vida. Jamais teria tido o prazer de ser mãe, a sensação doce de sentir um amor tão profundo que sobrepunham todas as coisas. Jamais teria tipo o prazer de ser avó e ter sentido esse amor especial que parecia ser ainda maior do que aquele que sentia pelas filhas.

Ah! O dom de ser avó.

Bella teve o privilégio da vida. Aproveitou-a como pôde, fez tudo que poderia fazer para ser feliz. Experimentou sensações e conheceu lugares... E quando se cansou, então ela se casou.

Conheceu Matthew, um jovem tão charmoso e carismático. Pensou que jamais amaria nenhum outro homem como amou Edward e era verdade; aquele amor sempre estaria enraizado em seu coração, mas agora como uma suave lembrança.

Matthew no entanto, tinha todo o seu coração só para ele.

Observou a aliança pousada sobre seu dedo enrugado, Matthew fora mais um presente para ela nesta vida. Amou-a de todo o seu coração e respeitou-a até o seu último dia de vida, ambos passaram por todas as adversidades e finalmente envelheceram juntos.

Ele fora seu melhor amigo e seu grande amor.

Assim como Edward foi um dia. 

Bella nunca mais o viu, mas às vezes sentia o seu perfume característico pelos cômodos, notava uma cortina esvoaçante e depois de velha, quando recusava-se a morar com as filhas, notou que seus remédios estavam sempre por perto e nunca no andar de baixo da casa, onde ela os deixava.

Depois de algum tempo, passou a deixá-los sempre na cozinha, pronta para pegar o vampiro no fraga, mas se já era lenta quando jovem, imagine agora. Bella estava praticamente uma lesma.

Suspirou, sentindo mais uma vez o perfume das flores invadir seu nariz.

Jamais acreditou quando Renné se despediu dela dizendo saber que havia chegado o momento. Mas agora, Bella entendia. Mais cedo, havia abraçado as filhas uma última vez, tentando não deixá-las chorosas, passou o maior tempo que pôde com sua família, mas pela tarde expulsara todos eles, porque tinha uma pessoa que ela precisava ver.

Ela precisava ver seu primeiro amor.

— Edward, querido. — Sua voz não passava de um sussurro, mas Bella sorriu. — Por favor, venha até aqui.

Seu sorriso aumentou-se ao vê-lo se revelar para ela com a expressão surpresa. Havia grandes olheiras embaixo dos olhos negros e a severidade tomou o rosto enrugado de Bella.

— Oh Edward! Não precisava ter ficado cuidando de mim...

Ele sorriu torto para ela. Ainda jovem, ainda imutável. — Mas eu quis. — Tomou o espaço na cadeira ao lado, a mão fria tocando-a com delicadeza, como se fosse de vidro.

— Você é maravilhoso, sabia? — Bella pousou sua mão sobre a dele. — Senti sua falta.

— Você estava feliz. — Não foi uma acusação, Edward se sentia realizado por ter visto Bella se formar, ser mãe, viver e agora... Somente agora vendo-a partir se sentiu arrependido de sua decisão. 

— Sim, querido. — Os olhos chocolates o encararam como a sabedoria da velhice, mas a mesma gentileza da juventude. — Eu fui muito feliz. Obrigada.

— Eu quem agradeço Bella. — As sobrancelhas brancas dela se uniram em confusão e Edward sorriu por saber que ela ainda fazia isso. — Por ter te conhecido. Você mudou tudo para mim, meu amor.

— Oh Edward! Conheça alguém... Apaixone-se, por favor. Não viva sozinho.

— Já me apaixonei uma vez.

Bella sorriu abertamente. — Pois apaixone-se de novo, meu bem. — Ela aproximou-se com dificuldade e Edward vendo as intenções, passou os braços ao redor de seus ombros, puxando-a para um abraço. — Eu fui só um capítulo da sua vida, Edward.

— Você foi toda a minha vida, Bella.

Ela fez um som de negação e um gesto de mãos. Edward riu baixinho. — Garoto tolo. Há muito para ver neste mundo ainda.

— Sou mais velho que você.

— Mas sou quem está morrendo. E como meu último desejo nesta vida, desejo Edward Cullen que você seja feliz, não me esqueça, mas não me memorize também.

Edward ficou em silêncio, depositando um beijo nos cabelos suaves. Podia ouvir o coração de Bella tornando-se cada vez mais fraco.

— Eu sempre te amarei, Bella. — Murmurou.

Pôde senti-la sorrir em seu peito. — Oh, Edward! Eu sempre te amei. Agora, por favor, cante para mim.

Edward obedeceu ao seu pedido, cantando para ela suavemente a cancão de ninar.

Mais uma vez o cheiro das flores foi trazido pelo vento e pela última vez, Bella Swan dormiu em seus braços.