A Lua Está Sorrindo Para Você escrita por Alice Been


Capítulo 4
13 Setembro 2075




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Não dava para pagar aquela conta, não dava para consertar a casa, não dava, só, não dava, era impossível, parecia impossível, pelo menos.

— Grande N!- Paul a cumprimentou quase arrogante.- o que te traz aqui?

— Grana.- ela disse curta e grossa enquanto chutava o calcanhar do amigo sem força.

— O que você quer?

— Já te disse.

— Não vou te ajudar a roubar, não quero que seu pai me mate de novo.

— Ele está no hospital. A casa dele está destruída e a gente tá sem dinheiro nenhum.

— Banco?

— Zerado depois da reforma.

— De quanto você precisa?

— Pelo menos dez mil dólares. Conta do hospital e casa.

— E veio pedir para seu amigo pobre?

— Ring de apostas.

— Nunca que você consegue dez mil lá!

— Têm os caras importantes que vão lá ver.

— É, o exercito, forças táticas especiais, patrocinadores de luta livre, caça talentos, deve ter até caçador de recompensas lá.- ele parou um segundo esperando que ela falasse alguma coisa, mas já que ela sempre fora uma cabeça mais dura que pedra, continuou quieta.-… todos esse o público alvo são garotas de dezenove anos.

— O alvo deles são pessoas com habilidade.

— Convencida.

— Com C maiúsculo, vai me levar lá ou não?

— Tudo pela minha querida amiga Ásia, não é? Vai deixar seu ursinho sozinho?

— Com ursinho você se refere à...

— À menina rica.

— O pai dela está vivo, ela ficará bem.

— Quanto tempo você fica fora?

— Não mais de um mês.

— Promete?

— Por que toda essa preocupação?

— Você sabe, não é? Todas as burradas que já fizemos juntos...

— Nem lembra… me ajuda a fazer só mais essa?

— Claro, você sabe onde é, por que precisa de mim?

— Preciso de pelo menos um torcedor quando entrar no ring e além disso...- ela riu para ele e o olhou do mesmo modo que já o olhara muitas vezes.- alguém precisa segurar os meus sacos de dinheiro, não é?

— Convencida.- ele começou a andar e ela o seguiu.

— Já disse que sou.

— Vai te dar problemas no futuro.

— Como tem tanta certeza?

Paul deu de ombros.

— Eu sou eu e eu te conheço desde que você chegou aqui, Ásia.

— Eu sei...- ela riu e se apoiou no ombro dele.- você me conhece bem, te subestimei.

— Você sempre faz isso.

— Sigam-me os bons.

Paul a levou pelo mesmo caminho de sempre já muito bem conhecido. Quanto mais eles se aproximavam de seu destino, menos era possível ouvir o som da sua própria conversa enquanto gritos de torcida e aposta tomavam seu lugar. Nelly não estava tão ansiosa quanto deveria estar, nas primeiras vezes que visitou o ring, achou que tinha arritmia, algo parecido, seu coração batia forte e ela perdeu a primeira luta devido as pernas bambas, medo de falhar seria uma descrição mais exata. Foi assim pelas primeiras semanas, mas agora já estava acostumada e sentia-se feliz quando conseguia derrubar o oponente, de forma limpa ou não.

— Se eu morrer... faça o que você quiser, nunca me obedeceria mesmo.

— Você aprende rápido! Vai lá e chuta algumas bundas.

Nelly socou seu ombro amigavelmente e colocou-se na espera para entrar no ring. Não mentiria, sua oponente parecia fraca, uma menina pequena que nem robusta era tentando alguma coisa com ela?

— Perdeu o amor pela vida?- ela continuou em silêncio sem mostrar reação.- mas gente, isso é um robô? 

Aquela menina perdeu a paciência e a platéia aplaudia todas as vezes que algo "incrível" acontecia, Nelly não mentiria, ela era boa. Parecia que essa não seria possível, mas agora lhe perguntem, ela desiste fácil? Paul estava certo, alguma hora sua arrogância a colocaria em problemas. Nelly parou de se preocupar com o que fazia, só teve uma hora que a menina estava no chão e as duas dariam de tudo para alguns analgésicos.

— Boa Ásia!- Paul a cumprimentou tirando-a do pátio.- Ainda está viva?

—Um pouco.- ela riu aceitando uma garrafa de água que Paul a entregou.- quanto eu ganhei?

— Quase nada do que você precisa, cem dólares.

— Mentira! Eu quase morri por cem dólares?

— Eu te avisei.

— Você viu o que eu fiz com aquela pirralha, não ache que eu não consigo de levar para o hospital.

— Para que agredir? Você chamou atenção de alguns caras especiais...- Paul tirou um cartão do bolso e a entregou.- de alguns caras bem especiais para falar a verdade.

Nelly fingiu ajustar seus óculos inexistentes enquanto lia o cartão.

— Agencia militar privada, centro de operações especiais de Ladro... wow... acho que no mínimo eu fui surpreendente.

— O cara me disse que você tem futuro.

— Ele ainda está aqui?

— Ali.- Paul apontou para um homem que parecia ter pelo menos cinquenta anos.- não vai me dizer que você se interessou. 

— Qual o problema?

— Tem jeitos melhores de ganhar dinheiro e você sabe disso.

— Um jeito que eu, menina, não velha, sem formação nenhuma, vou conseguir dez mil até o final do ano?

— Não sei...- ele deu de ombros.- mas como você disse, você é "não velha", não vale a pena arriscar sua vida por dinheiro.

— O meu pai está no hospital!- Nelly nem sabia se podia chamá-lo de pai.- A Jane não consegue fazer qualquer coisa que dê mais de cem dólares por mês e a casa foi roubada por alguns...- ela queria achar algo ofensivo o bastante para descrevê-los.- nem sei o que falar por causa de um policial que tem dedo frouxo. Se você quiser me ajudar sinta-se à vontade.

Paul cruzou os braços e apontou para o velho novamente.

— Vai mesmo fazer drama?

— Não é drama.

— Não! Imagina!- ele riu e a empurrou em direção ao velho.- agora você vai.

— Ei, para!- Nelly se esquivou.- eu tenho que fazer uma coisa antes. Tem alguma coisa que grava aí com você?

— Menino pobre, mas tenho sim. O que você vai fazer?

— Coisas. Me dá!- Nelly tirou o gravador das suas mãos e ele a olhou bravo.

— Para quem que você quer que eu entregue?

— Para quem você acha?

— Tudo bem, China, respira... seja rápida, nem tem muita bateria.

—Eu nem sei se quero mesmo...

— O que é? Vai ficar de drama a noite inteira ou vai gravar logo o que você quer falar?

— Tem gente perto...

— Saia sangue Aiko desse corpo que não te pertence e deixa um pouco dos Rive pra essa cidadã ter coragem de fazer isso.- Paul subiu as mãos para o céu rindo dela.- me dá algumas chances de tentar adivinhar o que é... esqueceu o fogão ligado?

— O que? Não?- o coração dela estava na boca e Nelly mexia nos seus dedos desconfortável, queria empurrá-lo para longe, mas não conseguiria sem derrubar metade do mundo que estava naquele pátio.

— Já sei... deixou aquela conta aberta? Eu já vi o que você tem lá.

— Não! Paul você está morto para mim. Eu juro que se você tiver compartilhado te enterro com a boca cheia de formiga à sete palmos de bruço com bigorna em cima em algum lugar do Nepal.

— Relaxa, China... o que é?

— Revelações bombásticas, mas algum dia eu volto para casa, não é?

— Não teria tanta certeza... você sabe, não é? Ladro só tem aqueles caras montanhas que têm sede de sangue, você vai pra Russia, minha amiga, Russia. O que quer que seja eu já deixaria gravado.

— Ok, mas com uma condição, você não ouve, não vê, não faz nada com isso e só entrega pra ela se eu morrer, estamos entendidos?

— Sim, pré-tenente Aiko.- Paul se pôs em posição de sentido.

— OK, vamos lá...- Nelly aproximou o microfone da boca e soltou uma risada nervosa.- No três... Ok, Jane, Noah, me odeiem o quanto quiserem, mas eu preciso de dinheiro e isso não vem fácil, se estiverem ouvindo isso eu provavelmente morri ou o Paul foi um babaca.

— Ei! 

— Quieto! Que o Noah ouça, não tem problema. Vamos lá, Nelly, você consegue... nunca fui muito boa nisso de qualquer jeito, vocês sabem, mas se eu morrer eu quero que saibam de uma coisa...- se houvesse um bom sinônimo para eu te amo a vida dela seria muito mais fácil.- sendo dirigido à Jane... eu queria ficar com você pra sempre, mas esse sempre parecia não chegar nunca e dessa vez pode nunca chegar, triste, não é? Saber que eu poderia ter te falado antes, mas que eu nunca tive coragem, bem, se eu estiver mesmo morta, não quero te encontrar cedo, fique bem, porque eu não iria querer te ver chorar e...- dessa vez foi mais fácil.- eu te amo, amo como você consegue ser perfeita em tudo, amo o seu sorriso e, por favor, deixe-o aí, se não for por você, por mim, certo? A lua está sorrindo pra você.

Nelly devolveu o gravador para Paul.

— Me explique o que caralhos foi isso...

— Não comente e pelo amor de tudo o que é sagrado, mostra aquela conta, mas não dê isso para ela.

— Me odeie o quanto quiser!- ele fez uma voz dramática colocando as mãos acima da testa.- eu queria ficar com você para sempre e esse sempre talvez nunca chegue!

— E eu sou a rainha do drama.

— As palavras não são minhas.

— Você tem problema.

— É... eu tenho você.

— África, você vai fazer o que eu te mandei, não é?

— Claro! Tudo pela minha querida amiga Ásia...- ele fez uma pausa depois riu.- se me deixarem entrar no hospital de rico...

— Faz cara de certinho que dá certo.

— Você me disse que o ring de apostas seria a última burrada que eu te ajudaria a fazer. Nos últimos dez minutos já foram pelo menos três.

— Pressão popular... também vale para você, África, se cuida.

— Volte viva.

— Eu vou.

Nelly sorriu para ele, mas não se afastou.

— Quer que eu te empurre?

— Você quer ou não quer que eu vá?

— Já está tudo pronto para você ir, não é?

— Avisa para ela que eu fui embora, não fale para onde, com quem, quando e como.

— Falo que você volta?

— Não comente sobre isso, muito menos sobre isso.

Nelly só se dirigiu a ele por obrigação, seus pés querendo voltar a todo preço e sua mente os pondo pra frente com uma determinação que ela não sabia que conseguia ter.

******

Paul não tinha ideia de como entrou naquele hospital, nem de como o tacharam como visita religiosa, mas isso não importava. O difícil mesmo era achar o quarto que Noah estava. Ele bateu na porta depois de pedir muita informação para funcionários e seguiu o conselho de Nelly de ser o mais certinho possível.

— Oi, meu nome é Paul...- uma menina loira sentada perto de um dos dois leitos do hospital pareceu um pouco decepcionada em vê-lo.

— Jane.

— Eu sou um amigo da Nelly.- um ou o.- e, bem... sinto em te dizer que tenho notícias ruins e notícias quase boas.

— Começa pelo pior, não faz diferença.

— Assaltaram a casa de vocês, não sobrou quase nada útil e, essa é uma notícia ainda pior... a Nelly... sumiu.- ele colocou a mãos no bolso.n

— O que?! Para onde ela foi?

— Ela só me disse que ia fazer alguma coisa muito importante. Achei importante falar para vocês.- Paul mentiu fuçando pelo gravador no bolso, não o entregaria, mas só lembrar-se que ele estava lá já o fazia pensar em como seria a reação dela.

— Olha, não sei como te convencer, mas... se meu pai não aguentar... só sobrou ela. E é como se...- Jane não conseguia articular muito bem as frases por diversos fatores, mas colocar tudo o que tinha para dizer em poucas palavras era o pior deles.- só ela sabe me ajudar quando eu preciso e tem tantas fotos legais com ela que eu ainda quero que sejam verdade e... deixa pra lá...

Se ele já pensava besteira, ficou ainda pior. Paul conteve uma risada, muito bem por sinal e pensou em uma desculpa boa o suficiente para fugir.

— Você quer que eu fique aqui?

— Você escolhe, mesmo aqui sendo um belo tédio...- Jane apoiou o queixo na maca perto do braço de Noah.- e ter uma atmosfera meio mórbida... 

Jane sacudiu o ombro do pai, ele não acordou, como sempre, tinha horas que ela chegava a acreditar que ele nunca mais acordaria, mas se forçava a tirar esse pensamento da cabeça e fazer o que precisava fazer. Não era quase nada de qualquer jeito, ela encarou a parede por algum tempo e pensou no que Paul a disse, e se não fosse verdade? Não parecia que ele ganharia alguma coisa com esse tipo de mentira, mas sempre havia essa possibilidade.

Claro...

Mentiriam para ela mentiras "brancas" e inofensivas enquanto ela com quase as mesmas palavras tinha punições muito piores. 

Não era possível que tanta coisa ruim acontecesse em um único dia. Jane nunca viu Noah mais decepcionado, teve uma hora que ele acordou por alguns segundos, parecia feliz em ver a filha novamente, mas como não foi recíproco perguntou qual era o problema e perdeu completamente o bom-humor. Jane tentou consolá-lo, mas não era como se fosse exatamente possível. Pouco depois, quando o médico responsável soube que o pagamento não viria tão cedo, não permitiu a estadia deles no hospital. Tentando melhorar as coisas Noah foi para a casa do irmão, Jane e ele nunca foram melhores amigos, mas sendo que aquela seria a única casa que teriam por um tempo, tentou ser o mais amigável possível.

—Certeza que você não quer que eu compre outro?- Noah riu oferecendo seu lanche.

—Não, pai, de verdade, comi bem antes.- ela ria quase chorando.

—O que tem de tão engraçado em perder o jantar?

—O número de coisas ruins que poderão acontecer em um dia... nos expulsaram do hospital, eu vou ter que dormir na casado seu irmão, a Nelly sumiu e eu não consegui passar nas provas!- um mini infarto, mais olhares estranhos, muito arrependimento por ter falado o que falou e esforço para continuar o teatro.- não tenho ideia de como responder, perdi meu jantar e meu pai me pediu para atirar nele.

— Para mim não importa...- ele riu em comeu mais um pouco.

—Não era para você ter ouvido!

—Você não deveria ter falado perto de mim.

—Você saberia de qualquer jeito.

—Como? Você não me contaria.

—Essa coisa de cortesia da casa.

—Eu não uso o SM com pessoas conhecidas, para falar a verdade não uso faz tempo, nem sei se funciona mais... de qualquer jeito. Meu irmão nem é tão ruim.

Jane achou de verdade que Noah falaria alguma coisa sobre seu ódio por Will, pelo que sabia eles eram muito mais que irmãos, melhores amigos, camaradas, bros, comparsas, companheiros de guerra e veteranos que não se separaram. Parecia errado falar mal dele.

—É sim, ele ronca muito.

—Melhor isso do que dormir ao relento...- Noah comeu um pouco mais.- lembra do dia que não deu para evitar? Eu, você e a Nelly, em um acampamento daqueles que não aparece em propaganda nenhuma, perdidos na floresta, só com a luz da lua... ela estava sorrindo para nós. A história teria sido diferente se vocês duas tivessem vinte anos a mais.

Jane riu mantendo os pés ainda longe do hambúrguer caído.

—Você tem um sério problema.

"Você também, não é? Não consegue fazer nada direito." Não houve a pausa para contra ataque. "Você é uma vergonha pelo que fez e quer fazer, não é, menina inútil? A Nelly... ela deve ter fugido, você sabe que sim, ela não aguentava mais esses seus chiliques... realmente, nem eu, é vergonhoso que as pessoas te vejam chorar de repente, sem motivo algum, não é?"

Era realmente necessário que ela tivesse vergonha de si mesma? Ela realmente necessário que ela se odiasse dessa maneira que muitas vezes já a fez pensar em desistir? Não era a primeira vez que ouvia essas vozes, sabia que não eram reais, mas as ouvia como se fossem, a diziam coisas desse tipo, a depressivas até o ponto em que ela só caia, parava de ouvir e tentava se acalmar, às vezes temendo o relógio que a mostrava quanto tempo ficou sem controle sobre si mesma.

—Jane?!- ela havia se desligado.- ei, filha, quer ir para casa do Will agora ou quer ficar um pouco mais aqui?

—Por mim tanto faz.- Jane devia ter prestado mais atenção na pergunta, já que nunca daria essa resposta se soubesse do que ela se tratava

—Certo, sem gorjeta hoje. Vamos.

A alguns muitos quilômetros de distancia, um outro alguém devia pensar exatamente a mesma coisa que ela, não é mesmo?

Quinquagésimo primeiro batalhão não era para qualquer novato, tanto que Nelly não mentiria, sentiu seu ego inflar muito mais do que quando conseguia cumprir seus objetivos. Depois de chegar semi-morta no acampamento base, comeu algumas barrinhas e teve que fazer um registro, não pode mentir sua idade, mas teve certeza que só o moço da secretaria ouviu.

— Meu nome é Tobias.- ele se levantou para apertar sua mão.- eu acho que vou treinar com você... o Virgo te reclamou como aprendiz?

— Não tenho certeza.- Nelly saiu da sala para encontrar-se com ele. - coroa, eu treino com você?

— Sim, adoro treinar pessoas dedicadas, temos uma missão amanhã, será sua primeira, vamos para a Rússia instalar uma nova base, meus alunos e alguns outros ficamos lá, sinto muito, Nelly, a Michi também vai ficar conosco.

— Sério? Tomara que ela congele lá. Menina chata ela.

— Não fale assim, talvez ela seja útil.- Tobias riu para ela e mandou-a o seguir para pegar um uniforme, Nelly vestia a pior roupa possível, uma calça cargueiro verde escura e uma camisa branca com uma estampa de cachorro já desbotada e rasgada, as únicas coisas que mudaram foram as coisas e o tamanho e a estampa que perdeu toda a vivacidade para um cinza-azulado bem escuro, o uniforme de Ladro era largo, mais pesado, porém ainda confortável.- de onde veio tanta experiência, novata?

Foi pejorativo, mas ela respondeu de bom humor.

— China dos oito aos nove, periferia dos dez aos quinze, que tal isso?

— Vou te chamar de China.

— Vou te chamar de Oceania.

— Por quê?- Tobias se olhou no espelho ajustando um gorro sobre seu cabelo marrom encaracolado.

— Você tem cara de Oceania.

— Você não tem cara de China.

— Eu sei, não sou tão asiática assim. Aqui é muito ruim?

— É. Se o Virgo for legal com você hoje, o que eu duvido muito, você ganha cinco voltas naquela pista de novecentos, talvez alguns pentes para ver se você toma banho hoje ou não, ginástica nível força especial... teve um dia que me esqueceram na ginástica, mais especificamente na barra, não pare a não ser que tenha ordens para isso... meu braço queimava e o lema do Virgo é deixa isso queimar. Você conseguiria?

— Não sou muito rápida, mas vá por mim, sou resistente, não sei se conseguiria.

— Bem, terá que conseguir. A gente se fala depois do treino, volte viva, ok?

(19: alguma hora que ninguém sabia)

— Morri.- Nelly deixou-se cair cansada sobre a mesa enquanto todo centímetro do seu corpo doía.

— Coitadinha...- Tobias bagunçou o cabelo não muito longo dela.- o que você passou para ela, Virgo.

— O que eu geralmente passo para vocês. Ela fez, mas agora está assim...

— Eu preciso comer alguma coisa!

— Sinto muito, aqui você tem que fazer as coisas.- Virgo riu de sua cara de decepção.

— Tobias! Por favor! Sabia que eu te acho muito bonito, não é?

— Sério?- Nelly assentiu mesmo com o queixo travado sobre o metal da mesa.- terá que fazer melhor que isso para conquistar minha comida.

— O que você quer?

— Você tira o prato de todos que estiverem na mesa, feito?

— Feito!- parecia justo, além disso, ela trabalhava como garçonete no restaurante que ficava no primeiro andar da casa do Noah.

Não foi nem um dia, mas Nelly já daria de tudo para voltar para lá, daria de tudo para ver a reação de Jane ao áudio, daria de tudo para ver novamente aquele sorriso pelo qual se apaixonou e agora lutava para que continuasse lá, vivo. Lembrar-se dele aqueceu seu peito e ela sorriu boba olhando para uma das lâmpadas de teto do refeitório, a vontade de vê-la novamente chegava a doer, a vontade de saber se Noah estava melhor só contribuía e ela repetiu pela milhonésima vez a mesma pergunta, por que estava ali? Tinha que ter uma forma melhor de ganhar dinheiro, uma forma honesta como Noah esperava, mas quanto mais ela pensava, mais caia em si que era impossível, não tinha como ganhar dez mil dólares para a casa e para a conta do hospital, era simplesmente impossível.

— Pergunto isso para todos, mas por que você está aqui.

—Você já me perguntou isso.

— Só por dinheiro mesmo?

— É.

— Para pagar o que?

— Contas e dar um jeito na minha casa.

— Com vinte e três?

— Uhum.- nenhum pingo de remorso por mentir sua idade.

— O que você estava fazendo lá quando te encontrei?

— Exatamente o que aconteceu, queria uma proposta de emprego e...- muitas pessoas começaram a se sentar na mesa que Nelly e Virgo estavam sentados e ela deixou sua cabeça cair novamente batendo com força no metal.- vocês dois sabiam do que aconteceria, não é?

— Claro.

— Vocês sabem que eu estou quase morta, não é?

— Claro, mas o Tobias já fez o jantar, você tira os pratos.

— E o resto?

— Sinto muito, novata foi combinado.- Nelly sentiu uma mão nas suas costas e ouviu um monte de risadas.

— Ela caiu mesmo nessa?

— Uhum...- ela esfregou os olhos nas mãos e não conteve uma risada.- eu não acredito nisso.

— Ei, Virgo, ela tem um travesseiro?

— Não. Não tinha nenhum sobrando...

— Coitada...- Nelly continuou em silêncio.

Pelo menos não seria assim para sempre, não é?

— Tobias, tem algum sobrando?

— Se você dormir comigo tem.

— Prefiro manter minha pouca dignidade intacta, agradecimentos.

— Nos vemos com torcicolo.

— A culpa vai ser sua.

— Não me responsabilizo por despesas médicas.

— Você se responsabiliza por alguma coisa?

Ela foi para a barraca que Virgo a disse para passar a noite, pelo menos por um tempo. Tinha uma esteira e uma jaqueta jogadas no chão de grama, sabia que seria usada como cama, então amarrou a jaqueta para usa-la como travesseiro e a abraçou como tal, reclamando de não ter um cobertor como teria em casa. Lembrar-se de lá foi o suficiente para acalmá-la e ajudá-la a dormir, não que o cansaço não ajudasse.


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