A Lua Está Sorrindo Para Você escrita por Alice Been


Capítulo 2
15 Setembro 2066




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Se ela pegasse a carteira daquele estranho, seria um crime muito grave? Não, de jeito nenhum, havia crimes piores, ele nem notaria se ela fosse rápida o suficiente…

— O que...? Pirralha, volta aqui!

Corre.

Tudo passava tão rápido, pessoas gritavam com ela pelos pisões que dava e por cortar seus caminhos. Ela sabia para onde teria que correr, mas o pânico fazia com que tudo ficasse turvo. Foi pior quando parou do nada quando aquele estranho puxou a gola da sua camisa já rasgada e a jogou em uma parede com força, ela perdeu o ar por alguns segundos enquanto estendia o braço para devolver-lhe a carteira esperando que esse gesto fizesse com que ele a mostrasse misericórdia.

— Desculpa, desculpa, de verdade. Me deixa em paz, por favor!- com a mão livre ela cobria o rosto que estava outra vez sujo.

— Vira gente, vagabunda!- ele chutou sua barriga com força e tudo que ela conseguia pensar era que heróis não choravam, ela merecia isso, sabia que sim.- pedaço de merda!

Nelly tentava se levantar, apoiou uma mão no chão, aquele estranho pisou nela e chutou seu braço com força. Nelly não era uma heroína, longe disso, sempre longe disso. Seu rosto estava molhado, suas mãos frias e seus joelhos em carne viva no chão. Um pensamento rápido passou por sua mente pedindo que ele terminasse o serviço. Para que ele fosse um anjo não tão bom assim e a tirasse do seu sofrimento.

Com o tempo, não se tornou tão rápido assim, muito menos um talvez. Ela quase rezava para que aquele fosse seu fim.

— O que você está fazendo?- ela não conhecia aquela voz

— Não é da sua conta!- ele quem quer que fosse fez com que Nelly ficasse de pé só para socar seu rosto com força. Ela caiu para o lado cobrindo a lateral da boca que latejava. Mesmo se não houvesse nada além disso, ele poderia ao menos ser mais breve.

Ela fechou os olhos esperando apanhar ainda mais, mas nada veio. Ela achou que ele sacava uma arma, então fechou os olhos com força, trincando os dentes e tentando fazer com que suas últimas respirações fossem um pouco menos anormais, mas nada, realmente nada veio. Mesmo com medo, atreveu-se a abrir os olhos para ver que havia dois pés no chão e mais dois balançando no ar.

Nelly não quis olhar mais para cima do que aquilo. Não foi necessário. Outro rosto se abaixou para ficar no mesmo nível e sorriu para ela

— O meu nome é Noah, fique calma, não sou "do mal"- ele a estendeu a mão, mas, talvez por incapacidade ou temor, não recebeu a dela.

— Prova.- ela não conseguiria falar nada mais que aquilo.

— Eu não tenho como, acho que você vai ter que confiar em mim.

— O que eu tenho para perder?- ela disse enquanto se levantava com a mão boa. Noah não a ouviu.

— Você está bem?

— Não!

— Coitada…- ele disse em um tom quase inaudível, tirou seu casaco e a cobriu puxando-a pelo braço. - vai ficar tudo bem, ok? Qual é o seu nome?

— Nelly.

— Eu vou te ajudar, ok, Nelly? Você pode passar a noite na minha casa, tem para onde voltar?

— Eu não sei!- ela estava desesperada.- eu não sei se posso voltar para casa, não sei se minha mãe está bem, não sei se eu quero viver!

— Tá tudo bem agora, ok, fique calma...- ele sorriu para ela a guiando para longe da periferia.

— O que é isso?- Nelly perguntou ao ver algumas cicatrizes nas mãos dele, ela não sabia o quão grande eram, já que só conseguia ver os riscos até seu ombro.

—Isso... eu fui de um lugar muito ruim alguns anos atrás, não é nada de mais.

— Que lugar?- sempre cheque a fonte.

— Te falo algum dia, ok?- ele parecia nervoso.- eu tenho uma filha da sua idade, sabia? Acho que vocês vão se dar bem... Jane! Jane abre a porta- Noah chutou a entrada de um prédio não iluminado pelos postes.

— Senha?

— A lua está sorrindo para você.

Nelly ouviu o som de chaves, metal batendo no metal, depois uma maçaneta rangendo.

— O que aconteceu com ela?- a menina que abriu a porta parecia preocupada.

Nelly levantou a cabeça para olhar para frente e o pequeno tempo que conseguiu ver o rosto dela foi o suficiente para lembrar-se de cada detalhe, o nariz coberto de sardas, o cabelo loiro e bagunçado caindo até debaixo dos ombros, seus olhos castanhos do mesmo formato que o de Noah… ela é um xerox dele.

— Filha, agora não, tudo bem?- Noah colocou Nelly sentada em uma bancada e olhou preocupado para o braço dela.- fique aqui um pouco, ok? Vou pegar algumas coisas.

Ele subiu uma escada correndo deixando Jane sozinha com a recém-chegada.

— Quem é você?- Nelly não conseguiu responder.- ei, você fala?

— Quem é você primeiro?

— Meu nome é Jane.

— Isso eu já sei, quem é você?

— Uma princesa que luta contra monstros comedores de casa que palitam os dentes com sofá!- ela fez uma pose heróica.

Tão criança...

— Se você é tudo isso, eu sou só humana mesmo.

— Você vive uma vida triste.- Jane cruzou os braços emburrada.- pai, pai, ela não foi legal comigo.

— Espera um pouco.- Noah deixou uma sacola perto de onde Nelly estava sentada na bancada.- licença.

Ele tirou o braço dela de perto do seu peito e só desdobra-lo a fez grunhir de dor. Noah abriu essa sacola, tirou algumas coisas de dentro e pareceu preocupado quando notou a ausência de algumas coisas na sacola. Jane sentou-se em uma mesa e balançou os pés olhando para os veios de madeira no chão, não parecia desconfortável com a presença de uma completa estranha na sua casa, talvez estivesse acostumada. Nelly seria sincera consigo mesma, não tinha ideia para onde devia olhar, encarar Noah não era uma opção, tão pouco Jane e esses dois ocupavam todo seu campo visual. Não sentia que devia estar ali, não achava que mereceria principalmente depois de ter roubado...

— Por que está fazendo isso?- ela perguntou quase para si mesma.

— Só quero ser um cara legal em um mundo onde ninguém é.- ele sorriu para ela. Não parece que está muito ruim...- Noah se referia a seu braço.- vamos lá… por que está aqui?

— Fui expulsa de casa.

— Por quê?

Nelly ficou em silêncio por um tempo mordendo seu lábio, Jane quando percebeu o silêncio não o deixou assim.

— Usa aquela mágica, pai!

— Não... é cruel, além disso eu quero confiar em pessoas.

— Meu pai… ele me pediu para fazer coisas horríveis…

— Jane, vai para o seu quarto.

— Por quê? Eu não fiz nada!

— Assunto de gente grande.

— Ela não é gente grande.

— Só faça isso agora que eu faço um chocolate quente para você depois.- ele sorriu para filha enquanto ela subia as escadas do sobrado, depois voltou-se para Nelly.- o que ele te pediu para fazer?

— E-ele...- falar estava difícil devido à sua respiração descompassada causada pelo choro.

— Se você não quiser falar, não precisa.

Nelly negou com a cabeça segurando o pano da sua camisa com força, não queria contar, só estava viva graças a seu pai, mas ele fez coisas que não devia, falou coisas que não devia. Se fosse por ele e só por ele, estaria em alguma sarjeta qualquer pedindo esmolas e esperando que algum estranho se simpatizasse com ela.

— Ele me pediu para matá-la.- essas palavras pularam da sua boca, na deveriam.- ele me assustou, eu não quero voltar!

— Defina esses eles.

— Meu pai e minha mãe.

— Quer que eu vá lá dar um jeito nas coisas?

— Não dá! Pessoas não mudam, ele não vai mudar, muito menos por um estranho!

— Fique calma, respire. Respirar é bom!- ele sorriu quase por obrigação.- respirando você pode respirar mais... você pode... não sei, mas olhe, quanto tempo você ficou lá?

— Não sei. Parei de contar.

— Entendo… está com fome?- Nelly assentiu com força.- espere um pouco aqui, eu faço alguma coisa para você.

Com fome, com sono, cansada, suja, aperto no coração e com frio. Se alguma coisa pudesse piorar seria ver o corpo da sua mãe. Nelly sabia que ela estava morta, seu pai não a deixaria viver por tanto tempo, não depois de descartar dinheiro por mais sujo que ele fosse. Ele estava perdido, perdeu-se na bebida, perdeu-se quando teve que matar para viver, tudo só piorou quando o irmão de Nelly morreu... não se lembre de algo só por lembrar, não faz bem.

O que faria bem agora?

Um prato quente, um banho, uma cama...

Foi exatamente o que aconteceu.

E aconteceria…

E continuou a acontecer…


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