Reflection escrita por yumesangai


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/729495/chapter/1

 

A primeira vez que Namjoon o viu, ele tinha sete anos de idade. Estava viajando para a casa dos avós, um casarão que ficava no meio do mato, era ótimo para brincar, a floresta era extensão do quintal, lá ele brincava de polícia, pirata, de aventureiro. Era seu mundo particular. Ele poderia ser qualquer coisa ou qualquer um.

Havia uma regra, não deixar a clareira. Namjoon era uma criança obediente, mas também era uma criança curiosa. Ele não costumava passar um mês inteiro no casarão, mas naquele ano seus pais optaram por ficar lá durante todo o período de férias, era ótimo, mas Namjoon também estava entediado.

Ele correu para dentro da floresta na primeira oportunidade. O sol estava forte, não tinha como se perder.

Ele achou que não.

Namjoon estava errado.

O céu estava laranja, o sol estava se pondo, seria uma visão ótima se ele não estivesse passando pela mesma árvore pela quinta vez. Sentou numa pedra e segurou as lágrimas, ele era forte, mas estava assustado e com fome.

Num arbusto próximo tinha pequenas bolinhas vermelhas.

Antes que o pequeno Namjoon alcançasse as frutas, o estalo de um galho o faz parar, ele olha esperançoso para o que provavelmente fosse seus pais, mas é apenas um garoto. Alto, adolescente.

― O que está fazendo?

― C-comendo.

Ele sorri bondosamente e tira do bolso da jaqueta uma porção de frutinhas, são um pouco diferentes das do arbusto, mas parecem saborosas do mesmo jeito.

― Coma essas, são mais gostosas.

O pequeno aceita e não pensa duas vezes antes de enfiar várias na boca. O garoto ri e se senta na pedra. Eles comem todas as frutinhas que o outro já tinha colhido. As do arbusto continuam exatamente onde estavam.

― Tio, eu estou perdido. – Admitiu depois que eles ficaram em silêncio.

― Hmm... Como é a sua casa?

― É uma bem grandona, toda azul! – Ele estica as mãos para demonstrar quão grande é sua casa.

― Eu sei onde fica! – O garoto misterioso sorri.

Namjoon dá um salto e o puxa pela mão.

― Então vamos logo, meus pais vão brigar comigo. Já está na hora do jantar, você pode comer também. Vovó vai fazer carne.

Eles vão seguindo por um caminho diferente, Namjoon tenta observar as nuances, talvez reconhecesse o caminho, mas tudo é igual. É apenas verde.

― Como se chama?

― Kim Namjoon. E você tio?

― Pode me chamar de Jin.

O som de cigarras começa quando o céu fica definitivamente escuro. O pequeno Namjoon passa a andar ainda mais colado em Jin que tem dificuldade com o garoto basicamente em suas pernas.

― NAMJOON!

A voz é familiar. As vozes. Tem mais de uma gritando, parecem ecoar de toda a parte.

O garoto corre alguns passos para frente.

― Mamãe! Papai!

Jin sorri satisfeito.

Namjoon se vira com um sorriso, para dizer que eram seus pais, mas Jin não estava mais lá. Para onde ele havia ido?

Ele não tem tempo de pensar a respeito, logo seus pais e vários policiais se aproximam e ele é abraçado por sua mãe que fala e chora ao mesmo tempo, ele não entende.

Ele não entende nada.

― Para onde ele foi?

― Quem querido?

― Jin. Jin me trouxe até aqui. – Seus olhos buscam um garoto de cabelos castanhos, alto, mas não mais do que seu pai.

Ele não está em parte alguma.

A polícia diz que iria procurar pelo garoto, no jantar ele continua querendo saber se a polícia tem notícia de Jin, mas seus pais garantem que ele não estava perdido, que era apenas um menino da região que deveria estar brincando pela floresta.

No outro dia ele tenta convencer seus pais a irem procurar nas casas próximas, mas na manhã seguinte as malas estão no carro e eles voltam para casa.

Nas próximas férias, eles não voltam mais para a casa dos avós.

***

Os anos se passaram e Namjoon não pensou mais em Jin, quando se lembrava era algo distante, não parecia muito real, seus pais chegaram até a dizer que ele foi “guiado por um anjo” ou algo parecido.

Namjoon respondia dizendo que provavelmente comeu algum cogumelo alucinógeno.

Ele não tinha mais porque pensar ou comentar sobre o incidente, até que numa aula de biologia enquanto o professor falava incessantemente ele passava as páginas do livro.

Até que uma figura familiar prendeu sua atenção, uma frutinha vermelha brilhante.

Madressilva―vermelha. Todas as madressilvas são tóxicas em maior ou menor grau. Recentemente se descobriu que, além da saponina, elas contêm nicotina, ambas perigosas para a saúde. Perfumada, pertence à família da dama-da-noite

Agora, anos depois, aquela memória distante parecia mais clara. Ele podia ver o arbusto com aquelas frutinhas. E ele teria comido se não fosse Jin.

Ele nunca agradeceu.

― Ei, você tá dormindo de olho aberto. – Hoseok sacode a mão em frente ao seu rosto.

― Preciso encontrar uma pessoa. – Ele fecha o livro e se levanta.

― Agora? Joon, nós estamos no meio da aula. – Hoseok o puxa pela manga, por sorte o professor estava distraído.

― Eu preciso ir ao banheiro.

― Joon. Joon, eu conheço esse olhar, pra onde você vai? – Ele continua agarrado na manga do uniforme, mas Namjoon consegue empurrá-lo.

― Leva a minha mochila, ok? – E ele sai da sala enquanto Hoseok bate com a testa contra a mesa.

Namjoon não era de matar aula, embora ele não tivesse muita paciência para o ritmo das aulas, ele fingia que prestava atenção.

Contou o dinheiro na carteira e seguiu a pés pelas ruas, precisava pegar um ônibus que não sairia a cada quinze minutos, a viagem deveria ser algo entorno de duas horas. Ele poderia voltar para casa no horário normal de fim de aula.

A moça que trabalhava na bilheteria estreitou os olhos quando viu o uniforme.

― Senhora, minha avó está muito doente, eu preciso ir vê-la, ok?

Isso pareceu ser o bastante.

A viagem foi exatamente como esperava, longa e monótona. O celular não tinha cobertura por aquela região, as músicas da playlist se repetiram tanto que ele enjoou na terceira vez. Pelo menos os lugares no ônibus estavam tão vazios e ele pôde seguir ocupando dois bancos.

O casarão não era mais de seus avós, não era de mais ninguém, era apenas uma casa abandonada na região, seus avós haviam se mudado para a cidade.

― Essa clareira parecia maior.

O espaço estava com a grama alta, o telhado da casa estava cheio de folhas de outono. Era uma pena ver um lugar que guardava boas lembranças parecer tão decadente.

Ele não pensou duas vezes antes de adentrar a floresta.

Não era como se ele lembrasse do caminho que havia feito há quase oito anos atrás. O cheiro de mato era bom, ele sentia falta do frescor. A jaqueta do uniforme quase não era o bastante para aquele tempo.

Ele acha o arbusto. Talvez fosse o mesmo, talvez não.

Ele estica a mão.

― Eu acho que você já aprendeu que não pode comer isso.

A mesma voz.

― Como você sabe que eu sei? – Pergunta como se não estivesse surpreso em vê-lo ali.

Ele falha em manter uma expressão séria.

― Bom, você é um estudante, deveria saber dessas coisas.

Namjoon apenas assente.

― Você me salvou.

― Eu só te mostrei o caminho. – Responde com um sorriso de leve.

― Você não envelheceu um dia.

― Claro que sim, eu tenho rugas! – Apontou para perto dos olhos.

Mas não tinha nada, sua pele era perfeita.

― Eu nunca agradeci.

― Eu nunca pedi. – Jin dá de ombros, mãos nos bolsos, ele parecia relaxado.

― Mas obrigado, de verdade. Você foi como um anjo da guarda.

Jin ri e Namjoon decide que gosta da risada dele. É sincera. Ele ri de jogar a cabeça para trás. Ele se vê sorrindo.

― Se eu te convidar para beber, você iria? – Pergunta meio esperançoso, mas ele já conseguia imaginar os dois ocupando aqueles bancos altos de um bar, como nos filmes.

O sorriso de Jin diz tudo. Ele não iria aparecer. Seu sorriso é algo meio melancólico e distante.

― Você não tem idade para beber. – E se aproxima dando um peteleco na testa de Namjoon.

― Aish. E qual a sua idade?

― Hmmm... Eu posso beber. – Mas ele não responde a pergunta, ele nunca responde nada diretamente.

― Então me convide.

― Eu sou responsável.

Ele se afasta e vai andando se equilibrando numa trilha de pedras altas. Ele age como uma criança, sua personalidade é algo entre o sábio, distante e amigável. Parece uma barreira que as vezes abraça e do nada repele.

Namjoon é atraído por ele. Como um campo magnético, ele quer chegar perto o bastante para tocá-lo.

Eles ficam andando por lá até que o vento começa a bater mais gelado e Namjoon começa a esfregar as mãos para aquecê-las.

―  Você tem que voltar. Está frio. – Ele olha imediatamente para Namjoon que está assoprando as mãos na esperança de jogar um pouco de ar quente contra eles.

― Tem um sofá bem aqui.

Eles estão de volta na clareira. Ao lado de fora da casa está um sofá estampado velho, a estampa está tão velha que quase não dá mais pra ver o desenhos das flores, mas ele reconhecia a mobília.

― Seus pais vão ficar preocupados. – Ele soa um pouco triste e preocupado ao mesmo tempo. Namjoon não entende se ele está sendo responsável ou qualquer outra coisa.

Agora ele está o repelindo.

― Eu pedi pro Hoseok avisar meus pais que fui dormir lá. – Ele joga o casaco no sofá para respirar menos daquele tecido encardido. Ele iria sobreviver uma noite naquilo.

― Você não deveria mentir.

― Como você? ―  Namjoon retruca sério.

Jin abre a boca, mas se cala. Sua expressão é algo desconfortável, como se estivesse carregando um segredo grande demais. Namjoon se arrepende ser tão duro com ele, mas não estava pronto para se desculpar.

Ele não entendia porque Jin parecia se esforçar tanto para afastá-lo.

― Não mate mais aula, eu não vou estar aqui da próxima vez. – Sua mão afaga gentilmente os cabelos de Namjoon.

― Quando eu vou te ver de novo? – Ele se senta rapidamente.

― Você não precisa me ver.

― Mas eu quero. – E o segura pelo pulso, para que ele não vire as costas. Para que ele não vá embora outra vez.

Ele dá outro sorriso triste.

― Kim Namjoon. – Sua voz o captura. Seu sorriso é apertado e mais sincero. Ele fala com felicidade, seus olhos se transformam em pequenas meias luas. É algo totalmente reservado para Namjoon.

E isso faz com que o coração do jovem de quinze anos queira sair pela boca.

Ele engole em seco, a sensação é de borboletas no estômago.

Jin o beija na bochecha e Namjoon fecha os olhos tentando controlar a respiração, quando os abre, Jin não estava mais lá.

***

Algumas pessoas dizem que morrer junto de quem se ama é poético, mas é apenas duplamente trágico.

Romeu e Julieta não é um romance, é uma tragédia.

Os avós de Namjoon morrem quando ele tem 17 anos, seus pais choram e o céu também parece chorar, coberto por uma manta em tom de cinza, as nuvens pesadas se arrastam é como uma baleia flutuando solitária.

A chuva começa a cair com força, Namjoon se recusa a levantar de onde estava. Deitado no chão de azulejo de um pátio vazio.

Jin aparece segurando um guarda-chuva.

Namjoon abre os olhos e o encara, ele não parece surpreso em vê-lo.

― Por que você só aparece quando eu preciso, mas não quando eu quero?

Jin desvia o olhar. Ele encara o céu por alguns instantes.

― Porque é assim que tem que ser.

Não é uma resposta satisfatória. Namjoon se levanta e Jin estica o guarda-chuva para protege-lo, não que fizesse alguma diferença a essa altura do campeonato.

― Por que só eu posso te ver?

― ...

Jin não responde. Ele nunca responde. Namjoon não sente mais vontade de conversar com ele.

― Meu aniversário é 12 de setembro, eu quero que você vá. – É como um ultimato, uma última chance.

A expressão de Jin não se altera. É de dor.

Namjoon sabe que ele não vai aparecer, porque Jin nunca faz nada.

***

Ele comemora seus 17 anos num bar, sentado no banco alto sendo servido das bebidas diversas que adornam a parede. Ele fica olhando para o relógio, o tempo passa, mas Jin não entra no bar.

É claro que não.

Namjoon bebe e caminha bêbado para casa.

― Hey. – A voz conhecida o faz parar no meio da calçada.

― Achei que eu não precisasse te ver novamente.

― Eu fiquei preocupado.

― Bem, isso é bem unilateral da sua parte, eu também fiquei preocupado, mas não te vi.

―  Joonnie. – Soa com uma súplica, mas não combina com ele.

Namjoon não consegue olhar para aqueles olhos tristes. Ele não sabe se ele está decepcionado ou o que quer que ele carregue que parece ser demais.

― Não. Vá cuidar da sua vida e me deixe em paz. Nada disso faz sentido.

Por que ele conversa com alguém que só ele vê?

― Você é a única coisa que faz sentido pra mim.

― Por quê? Você me encontrou por um acaso quando eu estava perdido na floresta e apareceu na mesma floresta oito anos depois, agora cinco depois você aparece de novo. Eu não entendo, e eu não tenho paciência pra isso.

Namjoon continua andando pela calçada, ao se virar Jin não está mais lá.

― Típico. – Resmunga girando os olhos.

No entanto, ao se virar para frente é empurrado para um beco pelo mais velho.

― Você não pode fazer o que bem--

Jin o beija.

Namjoon deixa ele fazer o que bem quiser.

Ele não fica surpreso quando na manhã seguinte Jin não está ao seu lado na cama.

***

― Seokjin.

Namjoon imediatamente ergue a cabeça, é claro que não era seu pedido de café, mas ficou curioso ao ouvir o ‘Jin’ ressoando ao final.

E o garoto que se levantou, era ele.

Os mesmos cabelos castanhos da primeira vez que se encontraram, a franja longa batia quase na altura dos olhos. Ele se sentou numa mesa do canto, sozinho.

― Eu não acredito que você está aqui. – Namjoon imediatamente senta em frente a ele, sem pedir licença, apenas puxando a cadeira da frente.

O garoto, Jin, ou melhor, Seokjin olhou para trás e depois para os lados.

― Comigo? – Em seguida apontou confuso para si próprio.

― Sim, claro que você.

― Me desculpe, mas eu não te conheço, acho que você está me confundindo. – Ele estreita os olhos, parecendo ofendido.

― Isso é pra ser engraçado? A última vez que nos vimos foi no meu aniversário e você me beijou.

O rosto do garoto tem a decência de ficar vermelho, ele recua o corpo em choque.

― Eu tenho certeza que me lembraria disso! Eu não saio beijando estranhos por aí, isso é uma cantada de muito mal gosto.

Ele arrasta a cadeira para trás, pronto para ir embora.

― Jin, você me salvou!

― Te beijando? – Repete incrédulo.

― Não! Quando eu era criança, naquela floresta, eu tinha 8 anos.

― Você não parece mais velho do que eu, mas se você tinha uns 8 anos, eu provavelmente tinha uns 9, e eu não salvei ninguém com 9 anos.

― Não seja ridículo, você não tinha 9 anos, você tinha—

Seokjin arqueia a sobrancelha esperando uma resposta.

Ele tinha a mesma aparência de agora, há mais de dez anos atrás. Não era ele. Era ele, mas não era ele. Como isso era possível?

― Me desculpe eu... eu acho que te confundi com outra pessoa. – E se afasta como se tivesse visto um fantasma.

Era a parte que não fazia sentido algum.

Então Jin e Seokjin eram a mesma pessoa? Mas Jin era como um fantasma, anjo da guarda ou... algo.

Namjoon sai do café desesperado por ar, ele se segura num poste e tenta respirar fundo. Os carros passam rápido pela rua, as pessoas andando rapidamente.

Ele olha para todas as direções, mas nem sinal de Jin.

Namjoon ri olhando para o céu, ele deveria estar louco. Isso era intervenção divina? Qual era o propósito disso tudo no final?

***

Namjoon estava lendo um livro e bebendo café, sentado na mesma cafeteria de esquina quando uma sombra atrapalha a leitura. Ele ergue o rosto e viu Seokjin. Não Jin, mas Seokjin.

― Olha, eu não sei se aquilo foi uma aposta ridícula...

― Não foi. – Ele sente necessidade de disparar isso logo.

― De qualquer forma, você parecia realmente sincero... e... eu não sei o que aconteceu com você, mas...

― Você quer se sentar? – Namjoon aponta para a cadeira da frente.

Seokjin olha ansioso para a cadeira, mas se senta assim mesmo. Seus dedos batiam no plástico do café, ele olha nervosamente para os lados.

― Você naõ precisa falar comigo se não quiser, eu já aceitei que coisas estranhas acontecem.

― Não, escuta... eu me chamo Seokjin. Kim Seokjin.

― Kim Namjoon. – Responde com um leve sorriso.

― Eu.... com 9 anos eu acordei com uma mensagem no espelho, não foi dos meus pais... coisas estranhas me aconteceram e... eu acho que consigo me relacionar com você. – Ele pigarrea tentando não soar tão estranho. – O que você está lendo?

― Demian.

Seokjin franze o cenho.

― É sobre o que?

― Um garoto em dualidade, ele precisa alguns impulsos externos pra seguir em frente.

Foi o primeiro sorriso que Namjoon consegue tirar de Seokjin, depois disso eles falam da vida, de música e até do sabor do café.

Foi um dia agradável e eles marcam de se encontrar novamente.

Namjoon volta para casa, quando tranca a porta do quarto, ele olha para trás como se alguém fosse aparecer, mas nada acontece, ele odiava esse sentimento.

― Eu não mereço me despedir? Eu não mereço entender? – Ele pergunta para o nada, mas ele sabia que ele estava ouvindo.

Jin aparece sentado na beirada da cama.

― Jin. – Namjoon o chamoa e ele vira rosto para acompanhar sua voz. ― Você está morto.

Mas Jin sorri.

― Eu sou um reflexo, não é bem como estar morto ou estar vivo, sou apenas uma interferência se você quiser pôr desse jeito.

― Você é a versão adulta do Seokjin que eu conheci?

― Não, ele é ele mesmo. Eu sou eu mesmo, mas nós somos a mesma pessoa. Eu só queria me certificar que vocês se conhecessem.

― Por quê?

― Porque um mundo sem você é triste. – Dá de ombros. – Eu já vivi algumas vezes assim, é amargo.

Namjoon encara a figura de Jin como se quisesse decorar os pequenos detalhes, o tom do cabelo, o formato do rosto, os brilho nos olhos, tudo que era tão parecido quanto o Jin de hoje.

― Eu teria morrido não é? Quando criança com aquelas frutas ou bêbado no meu aniversário. Você apareceu pra me salvar, sempre foi assim.

― Nem sempre foi assim. – Ele corrige com um sorriso terno. – As vezes eu estava sendo egoísta, porque você não é meu.

― Eu conheci você primeiro, não é justo.

― Não é justo com ele.

― Você vai embora, não vai? Pra sempre?

― Você tem a mim.

― Que não é bem você.

― Ouve-me bem. Tenho que partir. Talvez voltes a precisar de mim.

Namjoon estreita os olhos, ele conhecia aquela frase. Ele olha de esguelha para o livro na beirada da cama. Era como na história, Demian estava se despedindo de Sinclair.

Jin tinha um sorriso alegre, ele sabia que Namjoon tinha entendido essa referência.

― Você vai me beijar? Como no livro?

Ele fecha os olhos e sente os lábios do outro contra os seus, um leve beijo. Ele sabia que ao abrir os olhos Jin não estaria mais lá, ele ficou de olhos fechados por bastante tempo, até que não tinha mais como fugir da realidade.

Aparentemente em algum lugar do universo, alguém o amava a esse ponto, ele desejou amar da mesma forma, ao ponto de quebrar barreiras.

Ele já sabia que amava Jin, faltava amar Seokjin.

***

Eles tiveram um segundo encontro, um terceiro, as datas continuaram, os dois caminhavam lado a lado pelo parque.

― As vezes eu deixo um recado no espelho, da mesma forma que acontecia comigo. – Seokjin diz desenhando no ar alguma palavra.

― O que você escreve?

― “Obrigado”, basicamente, as vezes outras coisas, mas normalmente é só Obrigado. De alguma forma gente acabou se conhecendo, então...

Namjoon sorri. Ele não precisava de muito para amar o garoto ao seu lado. E talvez ele viesse a amá-lo por várias vidas, foi com esse pensamento e coragem que ele segura a mão de Seokjin, pela primeira vez.

O garoto arregala os olhos, mas sua mão se fecha lentamente contra a de Namjoon.

Era apenas o começo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Reflection" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.