Juntando os Pedaços escrita por gsaint


Capítulo 2
Capítulo I - Maio


Notas iniciais do capítulo

Sei que vocês não irão gostar de uma certa parte, mas é necessário para o desenrolar da história.

Adiantei o capítulo pra hoje, espero que gostem.

P.S.: Muito obrigada por comentarem e favoritarem, eu e Jessicat estamos muito agradecidas ♥



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Isabela

Os anos passaram, e o que de início foi difícil de esquecer logo se tornou uma lembrança que só insistia em atormentá-la nas horas antes de dormir ou em sonhos que ela não poderia controlar. O restante de seu tempo era ocupado pelas horas de muito estudo que a faculdade de medicina – em sua reta quase final – lhe exigia. Ela tinha conseguido, e toda vez que parava pra pensar nisso mal podia acreditar que realmente tinha conseguido.

Seu mundo havia voltado a se expandir, seu coração estava livre do rancor, sua vida caminhara, e apesar da saudade que sentia das pessoas que foram uma parte tão importante de seu passado – especialmente Zelito e também Élio – ela estava feliz pelos novos encontros que lhe foram proporcionados. Sobre Tiago ela não sabia nada exceto algumas poucas informações que tinha ouvido há um tempo durante uma visita ao posto da Salete, em que alguém havia comentado que depois de se dedicar a um período de terapia ele havia viajado pra fora do país. O que ninguém sabia ao certo era o motivo de sua ida, mas muito se especulava que era pra um tratamento psicológico e psiquiátrico no exterior.

A tecelagem havia sido assumida por sua irmã Camila quando ela voltou de uma temporada de um ano na Nova Zelândia, e isso ela também sabia porque a família Leitão ainda estampava as páginas dos jornais de São Dimas – como sempre na coluna social, agora longe da coluna criminal, e com cada vez mais frequência na parte de negócios. E seja qual tenha sido o motivo pelo qual Tiago se mudou, ela esperava que ele estivesse bem. E não podia negar que apesar da saudade que às vezes vinha sorrateiramente – a qual ela logo fazia questão de espantar – era mais fácil levar a vida com a tranquilidade de não esbarrar com ele por aí. Sem Tiago por perto seu mundo se expandia cada vez mais.

Era engraçado pensar sobre tudo isso assim, no meio de uma tarde quase fria do outono de São Paulo enquanto tomava uma caneca de chá e ouvia o barulho do chuveiro vindo do banheiro que não ficava longe da sala. Seu novo apartamento ainda tinha pequenos toques que lhe remetiam ao apartamento que dividiu com Flávia e Zelito na Praça Roosevelt, mas além da localização ter mudado, ela também preferiu modificar quase tudo o que se relacionava à decoração – ela não queria, de jeito nenhum viver presa em um passado fúnebre. Os detalhes lhe bastavam para que ela lembrasse com carinho, e mostrassem que o amigo barman sempre faria parte de sua vida.

O barulho da água do chuveiro parou, o que indicou que Rafael logo apareceria com o cabelo molhado, a toalha enrolada na cintura, e o sorriso que aquecia seu coração e lhe dava aquela sensação de ser abraçada. Foi ele quem a apadrinhou quando ela se tornou caloura da Faculdade de Medicina da USP. Ele, que ao contrário de muitos ali – e ao contrário de Tiago, ela tinha que admitir, embora não gostasse muito – não era apenas um garoto rico que teve uma vida boa. Rafael tinha sim uma situação financeira muito boa, seus pais foram médicos da rede pública por muito tempo, mas como já estavam mais velhos passaram a atuar em seus próprios consultórios; e ele cresceu ouvindo dos pais como era privilegiado e como deveria questionar esse privilégio e usá-lo em benefício de outros que não tiveram a mesma sorte que ele.

Conhecer Rafael foi como um prêmio após enfrentar mais um ano de cursinho e um ano de tanta reconstrução pessoal. Era uma tarefa árdua deixar de ser alguém, especialmente quando ela ainda fazia massagens para se sustentar – e essa era uma parte da Marina que ela não poderia matar tão cedo. Mas ele apareceu. Com um sorriso que despertava sensações em seu coração e seu corpo que ela achou que não voltaria a sentir tão cedo. Seu cabelo castanho ondulado que lhe cobria parte da testa, a barba pouco mais escura que o tom do cabelo, as roupas que eram obviamente um pouco largas demais pro corpo dele – e que até poderiam despertar olhares de reprovação por boa parte dos estudantes dali – e a voz rouca, davam a ela a certeza que ele estava muito distante de qualquer semelhança com o amor de seu passado.

Ela foi sugada pra fora de seus pensamentos quando sentiu aquele cheiro tão fresco que ele tinha logo que saía do banho, um cheiro que lhe trazia a mais absoluta paz.

— O que você acha se a gente passar esse resto de tarde na cama assistindo série enquanto você chora absurdamente e eu dou risada de você internamente? – ele sentou no braço da poltrona que ela estava, e por conta da proximidade algumas gotas de seu cabelo molhado caíram nela.

— É muita cara de pau você propor isso assim e admitir que ri da minha cara! – ela empurrou ele, que se levantou desequilibrado.

Olhando pra ele ela pode ver que a tolha estava prestes a cair, e o desejo e atração que ela sentia por ele fizeram suas pernas bambearem como no primeiro dia que eles saíram juntos. Ele acompanhou o olhar dela que percorria seu corpo seminu e se aproximou, segurando seu rosto entre as mãos, fixando seus olhos no dela.

— Eu admiro sua sensibilidade, dessa sua capacidade de se comover com o que acontece com os outros.

Mas embora ele sorrisse pra ela, a vontade de Isabela era chorar. Porque minutos antes ela estava lembrando exatamente do período em que não fora essa pessoa sensível e compassiva, logo foi inevitável se perguntar se Rafael ainda a olharia com aquele mesmo olhar cheio de admiração se tivesse conhecido a Marina. E ela sabia qual era a resposta para aquela pergunta.

Rafael então a beijou.

E simples assim ele conseguiu desfazer o aperto que ela sentia no peito. Conseguiu afugentar o medo que ela sentia de que ele nunca mais a olhasse daquela maneira. O toque, o gosto e tudo o que fazia parte de Rafael fazia com ela sentisse como se estivesse protegida por uma fortaleza. Ele era a terra firme após um salto de paraquedas, o porto no qual ela aportara depois da tempestade na qual sua vida havia se transformado. E pra ela, que sempre se sentiu tão sozinha e vulnerável, era maravilhoso estar ao lado dela.

Como resposta à intensidade do beijo que aumentava, ele passou o braço por sua cintura e a deixou mais colada a ele. Ela sentia sua excitação e correspondia a ela. Ele tirou sua blusa e quando suas peles se tocaram um arrepio percorreu todo o corpo de Isabela – em partes pelo toque dele que sempre lhe causava aquela sensação e em parte pela pele dele estar gelada por conta do vento que entrava pela porta que dava para a varanda.

Ele deu pequenos passos, sem separar os corpos dos dois, Isabela se afastou um pouco e a tolha de Rafael caiu ao chão. Ele então abriu a calça que ela usava e ela tirou. Puxando-a para perto ele se sentou na poltrona, na qual há pouco tempo Isa estava sentada pensando sobre o passado. Ela sentou-se no colo dele, encaixando-se com um joelho de cada lado do quadril de Rafael, controlando a intensidade das penetrações.

O sexo com ele, desde o começo, era intenso sem ser violento. Ela se sentia desejada na mesma proporção com que desejava a ele. Havia amor, tesão e reciprocidade. Era maravilhoso transar com ele onde e quando quer que fosse. Era como ter o melhor da sensação de liberdade e leveza de quando se está embriagado, sem perder a noção da realidade.

*****

Tiago

Ele pensou que seria difícil se acostumar ao voltar para casa, mas suas irmãs fizeram o possível para ajudá-lo a se sentir em casa, assim como seus tios e seus pequenos primos. Até mesmo Letícia e Antônio lhe deram uma força. Sem falar que estavam todos empenhados em construir o seu centro, antes mesmo dele chegar já haviam separado locais para ele olhar e Antônio já estava cuidando de toda burocracia. Mas o melhor de tudo foi sentir como se seu sobrinho estivesse ele apenas chegar para vir ao mundo. Estava apenas ele, Analu e Camila conversando sobre as experiências que ele teve pelo México quando a bolsa de Camila estourou, ele muito mais calmo que as irmãs a levou-as para a maternidade pedindo que Analu ligasse para que eles deixassem tudo preparado para a chegada deles. Tentaram ligar para Robinson, o pai da criança e marido de Camila, mas ele estava em Brasília e mesmo que pegasse um jatinho demoraria a chegar e parecia que o bebê não queria esperar, então a pedido de sua irmã que gritava toda vermelha e apertava fortemente sua mão, entrou com ela na sala de parto, ficando com ela todo momento e ainda pode cortar o cordão umbilical quando a menina nasceu. Ele sempre sentiu orgulho da irmã, mas naquele momento sentia ainda mais, já presenciou vários partos e podia ver refletido no rosto das mulheres o quanto elas sofrem com a dor.

Ele sempre se sentia cheio de amor e felicidade quando via uma nova vida vir a vida e não foi diferente com sua sobrinha Carmem, nome em homenagem a sua falecida mãe - o que o deixou um pouco emocionado-, e também se sentiu muito apegada a mesma, até mais do que ficou quando viu o pequeno Juan nascer em uma cidade de El Salvador. Passava todos os dias na casa de Camila e sua sobrinha parecia sentir um certo apreço por ele também, deixando o papai um pouco ciumento.

— Tiago, eu acho incrível o quanto com você ela fica quietinha pra se trocar. Comigo ela só falta pegar a fralda e colocar nela mesma. - ele e Analu riram.

— Mana, deixa de ser exagerada. - a mais nova comentou. - É só que você ainda não tem muita experiência com bebês, mas logo logo vai ficar craque que nem o nosso Tiagão aí. - ele brincava com a sobrinha fazendo caretas e ela ensaiava uns sorrisos pra ele, enquanto ele terminava de trocar a fralda dela.

— Ti, você cuidou de muitos bebês pelos países que você passou?

— Sim… Principalmente no México. Eu ensinava alguns dias apenas na semana para as crianças maiores e havia um orfanato perto onde sempre estava necessitado de voluntários pela quantidade de crianças que eram abandonadas, então 4 dias na semana eu passava lá praticamente o dia inteiro.

— Grande aprendizado esse, pois agora você está me ajudando tanto com a Carmem. - ela se levantou e se encostou no irmão, deitando a cabeça em seu ombro.

— Você não pensa em ter os seus também? - Analu perguntou se encostando no outro lado. Os três olhavam a pequena deitada em seu berço, onde Tiago havia-a colocado após a troca da fralda.

— Penso, mas primeiro quero continuar a fazer o que faço. - pegou a mãozinha da sobrinha e balançou levemente. - E no momento não tenho uma mãe para os meus futuros filhos.

— Desde a Isabela você não arrumou ninguém? - quis saber Analu.

— Eu arrumei algumas namoradas, mas nada muito sério, pois eu não sabia quando iria precisar viajar. Eram mais alguns encontros com algumas voluntárias de vez em quando. - ficaram todos em silêncio. - Não estava também a procura de relacionamentos, isso poderia acabar me desviando da minha “missão”.

— Ah mano, não se preocupa. Na hora certa você encontrará a mulher da sua vida, tenho certeza. Você merece alguém especial como você após tudo. Enquanto isso você pode cuidar dessa coisinha linda aqui. - a mãe falou toda babona pegando o pezinho da filha beijando.

 

Achar o local foi mais fácil que Tiago imaginou, de cara encontraram um espaço bom, em uma área viável com ônibus e metrô para pessoas que morassem um pouco distante e que não precisasse de muita coisa para reformar, e ainda havia uma área para formar um pequeno campo de futebol. Com o dinheiro que passou os anos todos sem pegar da tecelagem e o que o tio doou ele conseguiu comprar e fazer os pequenos ajustes. As irmãs o ajudaram com pintura, assim como Gledson e Luciane que fizeram questão de ir dar suas sugestões e até colocaram a mão na massa.

Foi até orfanatos conversar com os diretores e conseguiu fazer cadastro de várias crianças. Passou em algumas universidades para deixar cartazes para conseguir voluntários, e em uma delas foi até reconhecido por um coordenador que havia conhecido seu avô. Juntos conversaram e ele o convidou para palestrar algum dia na universidade de uma forma que conseguisse alguma ajuda para o “Ilha de Bem Ensinar”, nome do seu projeto. Ele se sentia feliz por estar ocorrendo tudo tão bem, não via a hora do projeto estar funcionando.


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Notas finais do capítulo

O reencontro é no próximo capítulo e ele deve sair na quinta ?? Ainda não sei, vai depender do próximo capítulo ter sido finalizado.



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