Brave escrita por corvx


Capítulo 5
Chapter Four - I do not believe that


Notas iniciais do capítulo

Oi pudinzinhos, tudo bom?

Espero que sim, porque cheguei com um novo capítulo!!!

Vamos ver o que vai acontecer... O que será da Kay depois daquilo? Será que ela vai ser olhada de lado? Será que não...?

Boa leitura!!!



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“Você não deve ter vergonha de chorar, porque essa é uma das muitas formas de você libertar sua dor.” – Ava Lopez

(4:17 a.m.)

Uriah

Se de cada vez que eu me ajeito ou me viro na cama ela não estalasse, eu estaria me mexendo pela enésima vez. Deixei escapar um suspiro e meu brao escorregou para o chão e, meio às apalpadelas, procurou meu relógio de pulso. Senti um pequeno objeto roçar nas pontas de meus dedos e o apanhei. Liguei a luzinha esverdeada do relógio para ver melhor o mostrador.

4:17 a.m.

Posso até prever um dia extremamente difícil para mim. A meu lado a cama de Kay continuava vazia e arrumada. Ela ainda não voltara... E essa era a causa de minha insónia. Fiquei cerca de cinco minutos olhando o teto esperando que, por milagre, o sono aparecesse. Mas não mudou nada. Não podia continuar ali deitado. Só iria continuar a dar em doido.

Me levantei com cuidado. A cama estalava e chiava a cada movimento meu. Não tarda todos estariam acordados e reclamando comigo. Senti meus pés alcançarem o chão gelado e os cabelos da minha nuca, se fossem compridos, estariam eriçados com o arrepio. Quando apoiei as mãos na cama e me levantei, a mesma rangeu um pouco mais alto. Senti meu corpo ficar hirto e congelei meu movimento. Coralie ergueu repentinamente seu corpo. Ficou olhando na minha direção, mas não parecia estar realmente acordada. Espirou, e voltou a se deitar. Respirei fundo e saí do dormitório.

Caminhei pelos corredores com as pontas dos dedos roçando na parede para ter uma maior confiança em circular na escuridão. Caminhei uns quantos metros por entre os corredores, fazendo figas para não me ter enganado no caminho para o bebedouro, pois a sede começava a se tornar insuportável.

Você não está com sede cara de pudim. Você apenas está nervoso e quando você fica nervoso bebe água até rebentar. E depois? Depois você me obriga a ir com você ao banheiro para você poder mijar

As palavras de Kay soaram em minha mente como um martelo batendo violentamente num prego. Senti um aperto no coração. Kay… Tomara que esteja tudo bem com ela.

— Uriah?! – escutei uma voz abafada, vinda de uma figura que surgira no fundo do corredor por onde eu passava.

— Keeran?! – ergui as sobrancelhas espantado de o ver ali. Bem me parecia que não o tinha visto em sua cama… Me aproximei dele. – O que você faz aqui?

— Não consegui adormecer… - ele fungou por causa de sua alergia à humidade. – Por isso vim dar uma volta pelos corredores. E você?

— Estava com sede… - murmurei e depois rolei os olhos. – Sim, eu estou mesmo muito nervoso, se é isso que você está pensando.

Keeran ergueu as mãos em sinal de paz.

Numa situação normal começaríamos a rir sem muito esforço. Mas agora não. Não depois do incidente dessa manhã.

Fomos em silêncio para o bebedouro no meio do corredor. Keeran se encostou na parede e depois deslizou até o chão. Eu, por outro lado, fui até o bebedouro e me debrucei sobre o mesmo. Foi agradável sentir a água fresca em meus lábios e depois escorrer ao longo de minha faringe e esófago. Limpei a boca de algumas gotas de água com as costas de minha mão e me sentei do lado de Keeran. Sem sabermos o porquê, ficamos olhando a lâmpada azul que estava na parede à nossa frente em silêncio, durante aquilo que me pareceram dezenas de minutos. Keeran deixou escapar um suspiro que deveria estar preso em seus pulmões há um bom tempo. Uma nuvem saiu de sua boca devido ao frio dos corredores.

— Eu já estou aqui faz uma meia hora… - ele comentou coçando o nariz. – Ela já voltou?

— Não… - abanei a cabeça baixando o olhar. – A cama estava do mesmo jeito que da hora em que a gente se foi deitar.

— Onde você acha que ela está? – Keeran me olhou com preocupação. – Será que o Eric a colocou na enfermaria com a Kimmy ou a Helena?

— Não me parece… - cocei a nuca e ele bufou.

Keeran voltou a fungar e a coçar o nariz. Alguns minutos depois veio um espirro e ele projetou seu corpo um pouco para a frente. Depois encostou a cabeça para trás e seu corpo começou a ficar mole. Se passaram mais alguns minutos e nós continuamos ali sentados, em silêncio.

— Nossas expectativas estavam corretas… - não pude evitar tocar naquele assunto que borbulhava para sair de rajada da minha boca.

— Hummm…? – Keeran rodou lentamente a cabeça na minha direção com um bocejo e uma cara de sono, tão intensa, que me fez rir. – Quais expectativas? Nós tínhamos expectativas de quê?

Preguei um tapa na testa dele. Não foi com muita força, mas devido ao cansaço e outras possíveis razões a cabeça dele foi projetada para trás e tocou na parede sem força. Do nada, ele abriu muito os olhos e me olhou. Finalmente tinha entendido…

— Espera… - um sorriso maroto estava no canto de sua boca. – A Kay e o Eric…?

Acenei com a cabeça e ele começou a rir.

Keeran tem um riso muito particular: são gargalhadas estridentes, agudas e rápidas, que parece que ele está sem falta de ar ou tendo um ataque cardíaco. Mas é o tipo de gargalhada que te faz rir incontrolavelmente, mesmo que você não saiba o motivo para ele estar se rindo.

Acompanhei ele nas gargalhadas, que não eram maldosas, durante algum tempo. Voltávamos a rir de cada vez que olhávamos um para o outro, e às tantas já não estávamos rindo da relação daqueles dois, nem de mais nada. Estávamos rindo. Somente isso…

— Vocês têm que aprender a se rir mais baixo… - escutei uma voz e meu riso se congelou.

— Ah, deixa de ser chata Avana! – Keeran fez bico e recebeu dela um olhar mortífero.

— Não me chama isso! – guinchou apontando os dedos para ele, muito vermelha. – Ou faço sua cara numa mousse de chocolate!

— Ei! Usar minha cor de pele para ameaçar não é nada bonito! – ele se levantou e bateu com um dedo na testa dela.

Me ri. Esses dois sempre discutem por motivos tão bobos que eu ainda me espanto de duas coisas: a primeira é de como eles ainda estão vivos e a segunda é como ainda não admitiram uma relação.

(5:25 a.m.)

Eric

Porque razão eu não fechei a porta? Eu a fecho todas as noites antes de me deitar e hoje, não sei porquê, deixei ela aberta.

Afastei os lençóis e as cobertas com cuidado e me arrepiei com o frio. Caminhei até à porta e a fechei firmemente, rodando a chave na fechadura de seguida. Rodei sobre meus calcanhares e meu olhar se deteve nela. Mikayla Cohen o meu amor, a minha razão de viver… Sua pele era  tão pálida que brilhava com a luz dos raios da Lua que atravessavam a janela, a mão direita apertava o travesseiro enquanto a outra se movimentava sobre o espaço vazio, possivelmente à minha procura. Os cabelos escuros estavam um pouco bagunçados. Por norma eu sou como os outros homens, sempre tendo em olhar para as partes íntimas de uma moça principalmente se ela estiver nua como Kay se encontra, mas neste caso não é isso que me atrai. Suas curvas são perfeitas é verdade e suas proporções estão nas medidas exatas. Mas o que sempre me atrai é seu rosto, em especial seus olhos, que neste momento estão fechados. Voltei a entrar na cama e beijei o ombro descoberto dela. Ela se moveu e levou uma mão no olho que esfregou e abriu uns segundos depois.

— Já é hora? – quando ela olhou para mim, eu pude ver que seu rosto ainda se encontrava vermelho e cansado.

— Não… - acariciei o rosto dela com um dedo. – Desculpa, não era minha intenção te acordar.

— Não tem problema. – ela cobriu os seios com os lençóis e se sentou esfregando um dos olhos e bocejando.

Coloquei meus braços em redor de seu corpo e lhe beijei demoradamente o rosto. Senti sua mão tocar em meu braço e sua respiração calma.

— Obrigada… - murmurou.

— Pelo quê?

— Por ter impedido o pior. – ela me sorriu. Um sorriso verdadeiro e puro, sem uma ponta de maldade ou sem precisar de muito esforço para o fazer.

Sorri de volta e enrolei nossos dedos.

— Eu não fiz nada de mais… - dei de ombros e me encostei nos travesseiros.

— Claro que fez. – ela apertou minha mão um pouco mais. – O Nathan poderia…

Com minha mão livre, usei dois dedos para segurar o rosto dela e o virar para mim. Senti seu corpo tremer com o toque, apesar de sua expressão se manter a mesma: calma e inocente. Acariciei seu lábio inferior com meu polegar,

— O que eu fiz não foi para salvar o Nathan. – minhas palavras saíram calmas e perlongadas, seguidas de um suspiro. Fiz uma pausa e fechei os olhos.

Vislumbrei o incidente dessa manhã em minha mente. Já vi Kay fazer muitas coisas, e posso garantir que ela não estava no seu pior. Ela já teve um ataque muito, mas mesmo muito, pior que o de hoje. Mas é melhor não a recordar disso…

— O que eu fiz… - falei por fim. - …foi por você, Mikayla Cohen! Foi só e apenas por você!

Os olhos dela se abriram um pouco mais e o seu azul ficou brilhante. Sua boca ficou entreaberta e as maçãs de seu rosto ficaram rosadas. Depois desviou o olhar do meu e sorriu de canto. Soltou sua mão da minha.

— Kay…? – ergui uma sobrancelha sem entender o que estava se passando com ela.

Antes de eu compreender o que estava acontecendo, os lençóis e a colcha voaram para trás, exibindo nossos corpos nus. Uma de suas pernas passou por cima de mim, me fazendo segurar sua cintura. Ela colocou suas mãos na parede me encurralando.

— Então eu acho que não te agradeci o suficiente, não é mesmo? – sua voz saiu provocante.

Mordi o lábio inferior e deslizei minhas mãos pelas pernas nuas dela.

— Não me provoque Senhorita Cohen… - avisei dando um beijo sem sua barriga, de seguida.

— Eu acho que já o provoquei, Senhor Coulter. – e, dizendo isso, uniu nossos lábios num longo beijo, enquanto suas mãos dançavam por entre meus cabelos.

(…)

— Bom dia Eric! – Lauren me saudou quando entrei no campo de treino. A seu lado, Quatro se manteve sério e nada disse.

— Bom dia… - tive de combater a vontade de bocejar e me manter sério. Um líder com o tipo de fama que eu tenho não pode se descuidar, mesmo que as causas do sono impliquei a iniciada mais bonita desse ano… quer dizer, a filha da nossa antiga e respeitável líder. A quem eu devo um igual respeito e não devia comer quase todos os dias.

O que está feito, feito está, Eric.”, a voz de Johanna adentrou em minha mente. “Agora já não pode mudar isso. Se limite a fazer melhor da próxima vez…

Johanna era tão boa pessoa. Mal imaginava ela que eu andava curtindo com a filha durante as festas que os Pedrad organizavam. Senti um aperto no estômago e depois uma vontade de rir. Aposto que o máximo que ela faria se o tivesse descoberto era piscar três vezes os olhos e dizer:

Cuide bem dela que não teremos problemas…”

Só Johanna Cohen para não se importar de sua filha de 14 anos andar metida com um cara de 16 anos.

Ca-ham! – fui acordado de meus pensamentos com Quatro tossindo para o punho de propósito perto de meu ouvido.

Já todos os iniciados estavam ali, separados em dois grupos, prontos para receberem as indicações. E pelos seus rostos, à espera de meus gritos.

Façamos então a vontade deles…

Kay

— Muito bem pessoal, - Eric começou a gritar, esfregando as mãos uma na outra. – antes de começarmos o treino de hoje quero fazer uma observação.

Ele faz uma pausa observando nossas expressões em geral e depois prossegue:

— Espero que o incidente de ontem, cujo eu classifico como vergonhoso, não se torne a repetir. – suas palavras soavam como adagas ferozes e afiadas. Depois olhou diretamente para Nathan. – Espero que você tenha aprendido algo ontem, com sua quase morte, Nathan Colleman. Eu quero soldados corajosos, e não cobardes que usam as fraquezas dos outros para se pavonearem. E quando digo isso, eu estou te avisando: Você volta a fazer uma piadinha daquelas e está fora! Entendido?

— Perfeitamente, S-Senhor! – a voz de Nathan sai como que um guincho.

Senti um prazer maldoso percorrer meu peito. Keeran tapou a boca com a mão para controlar as gargalhadas. Uriah ainda não me soltara desde que eu tinha “regressado” para junto deles, de modo que estava encostada em seu peito, com seus braços na frente de meu corpo. Marlene apertava minha mão e sorriu sem rodeios.

— Toma essa Nathan! – gritou e se escutaram umas gargalhadas nervosas.

— Nossa… - Uriah sussurrou. – O Eric tá mesmo enervado. Aposto que ainda obriga o Nathan a te pedir desculpas.

— Não. – a minha voz falhou. – Ele não o vai fazer. – afirmei com toda a certeza.

Ele me prometeu que não o faria”, acrescentei para mim própria.

— Agora que está tudo arrumado vamos começar os treinos de hoje! – Eric começou a andar de um lado para o outro calmamente. – Hoje iremos trabalhar no combate corpo a corpo. O Quatro e a Lauren irão vos ensinar e a ajudar a aperfeiçoar as técnicas de combates básicas, e algumas mais complexas. No final da manhã, antes do intervalo para o almoço, iremos fazer uns combates para ver as vossas capacidades.

Keeran e Uriah bateram os punhos com um sorriso nos lábios. Marlene bateu palmas entusiasmada e Ava e Lynn apenas se limitaram a sorrir. A palavra “combates” já alegrou o meu dia…

— Se dividam em parcerias de dois. – Lauren dirigiu sua voz para o nosso grupo. – Não é preciso ser garota com garota ou garoto com garoto. Podem fazer duplas de garota com garoto também. Deixo ao vosso critério…

Keeran e Uriah se entreolharam e sorriram. Ava e Lynn falaram uma com a outra e terminaram a conversa com umas gargalhadas, já Marlene ergueu meu braço e gritou.

— A KAY TÁ COMIGO!!! – a ação dela provocou uma gargalhada geral. Até Lauren alongou os lábios num sorriso, mantendo os braços cruzados.

Nos dividimos por uma data de colchões e nos colocamos frente a frente com nosso parceiro. Marlene balançava o corpo com as mãos atrás das costas enquanto escutávamos Lauren. Já eu me mantive direita e de braços cruzados.

— Vamos começar com a execução da primeira das cinco técnicas que iremos treinar hoje: Double-Leg Takedown. – fez uma pausa. – Alguém sabe em que consiste?

Ninguém se pronunciou. Lauren suspirou e me olhou.

— Kay? Você sabe, certo? – perguntou ao que respondi com um aceno de cabeça. – Ótimo! Pode transmitir a seus colegas iniciados, por favor?

Tossi e passei a explicar resumidamente:

— O Double-Leg Takednow é uma das melhores técnicas de derrubar que existe, onde um indivíduo segura as duas pernas de seu oponente e o derruba usando as mãos.

— Exatamente. – Lauren sorriu. – Muito bem Kay…

Eric se aproximou de Lauren e colocou as mãos na frente do corpo.

— Você precisa de ajuda para as demonstrações? – perguntou calmamente.

— Eer… - Lauren coçou a nuca e Eric exibiu um sorriso.

— Pode ficar descansada. Eu não estava falando de mim… - pude ver Lauren expelir uma quantidade de ar, de um modo discreto. Mas eu notei. Eric se virou pra trás. – EI CARL! VEM AQUI!

O cara, com cerca de 20 anos se aproximou. Era mais alto que Eric mas sua musculação não se podia comparar a dele. Tinha os olhos pretos e o cabelo tingido de roxo. Tinha a maior parte do corpo tatuado. Era um pouco intimidante.

Lauren não pareceu ficar mais tranquila, mas acenou com a cabeça. Ela é forte. Muito forte. Com certeza fará uma ótima figura. Os dois se puseram em posição, andaram em roda durante alguns segundos. Carl se lançou para Lauren, que mais baixa e mais ágil se desviou do soco e agarrou firmemente um pouco mais abaixo da cintura dele, o atirando pesadamente para o chão. Depois se levantou, sacudiu o cabelo e afastou com um sopro uma mecha de cabelo que caíra para os olhos.

— Isso… - ajeitou a jaqueta e sacudiu os ombros. - … é o Double-Leg Takedown. Não é difícil e a maior parte de vocês, apesar de não saber o nome, usa essa técnica desde criança. Por isso não quero desculpas para não fazerem boa figura. – depois olhou para Carl. – Tudo bem?

— E não se esqueçam de outra coisa. – Eric falou. – Vocês estão sempre sendo avaliados. Por isso trabalhem duro e se esforcem por ficar aqui.

Marlene que estava apertando a sapato imitou as palavras de Eric com uma voz grossa. Coloquei a mão na boca para não me rir, mas não consegui me conter e libertei uma forte e demasiado alta gargalhada. Eric ergueu uma sobrancelha e me olhou. Tapei a boca com minhas mãos.

— Aquilo que eu disse tem alguma piada, Gótica? – ele falou calmamente.

— N-Não Senhor… - gaguejei tentando não me rir da situação. E Marlene não ajudava, continuando a imitar Eric baixinho. Inspirei fundo e expirei para acalmar a vontade de rir. – Peço desculp… AI MAR! Isso é o meu pé!!!

Segurei o meu pé após sentir sua patorra esmagar meus dedos. Marlene repetiu inúmeras vezes a palavra “Desculpa!” enquanto eu pulava sobre um único pé. Não voltei a olhar para Eric, mas o escutei respirar fundo e se afastar.

— Mar, você tá querendo que ele me atire para o abismo? – perguntei entredentes quando ele ficou longe de vista.

— Eu já te pedi desculpa… - abafou uma risada. – Mas, fala sério, ele nunca atiraria você para o abismo…

Ergui minhas sobrancelhas verdadeiramente espantada com o comentário dela. Será que o Uriah contou pra ela?

Marlene voltou a abafar uma risada e abanou uma das mãos em frente do rosto.

— Por favor Kay… - ela rolou os olhos. – Dá pra ver, ou melhor, sentir a quilómetros que o Eric está apanhadinho por você?

— O quêêê…? – perlonguei a palavra me rindo de um modo estupidamente revelador. Mas felizmente a Mar não é muito inteligente. – Mar, você anda imaginando coisas. Só pode… O Eric?! Gostar de mim?! Pois sim…

Ela encolheu os ombros e se colocou em posição para fazer o exercício em mim. Senti seus braços abraçarem minha cintura, e meu corpo se elevar, enquanto Marlene gemia com meu peso. Mas eu sabia que ela estava apenas gozando comigo… Meu corpo ficou deitado no colchão enquanto Marlene festejava seu pequeno feito. Comecei a rir. Ainda bem que não deixem a Audácia…

Continuamos fazendo exercícios durante o resto da manhã. Como de costume Eric andava de um lado para o outro, supervisionando os transferidos ou a nós. Lauren andava de colchão em colchão dando uma especial atenção a cada grupo, sem exceção.

— Está melhor Marlene. - ela bateu amigavelmente nas costas dela após Marlene ter feito o exercício. – Continue assim…

Marlene sorriu e continuou apoiada nos joelhos ganhando fôlego. Limpei o suor de meu rosto com a blusa, onde ficou uma mancha escura. Fiz estalar os nós de meus dedos e comentei:

— A Lauren hoje está muito bem disposta…

— Sim, também já tinha reparado. – Marlene olhou para ela, que estava no colchão de Carmen e Ally. Depois olhou Tobias e Eric. – E como de costume aqueles dois parece que se vão matar…

Olhei para a mesma direção que ela e vi Eric e Tobias se encarando com expressões tensas como cabos de aço esticados. Eric mantinha os braços cruzados e Tobias os punhos muito apertados, como que controlando a vontade de lhe socar o queixo. E espero mesmo que a controle…

Escutei um apito de um relógio. Desviei minha atenção novamente para Lauren, que tirava a mão do bolso e olhava o objeto em torno de seu pulso. Ela se afastou de Ally e Carmen (que estava jogada no chão) e se colocou numa posição onde todos nós a escutássemos.

— O Treino acabou, pessoal! Podem ir almoçar…

Os murmúrios e as gargalhadas começaram, enquanto abandonávamos os nossos colchões. Peguei uma toalha e limpei meu rosto.

— Bom treino! – exclamou Keeran, com um sorriso rasgado. Depois olhou para o lado dos transferidos, onde ninguém ainda os liberara. – Isso é… Para alguns.

Uriah também pegou uma toalha.

— Aqueles dois estão cada vez piores… - comentou. – Parecem duas bombas-relógio, prontas a explodir a qualquer momento.

— Coitados dos transferidos… - Ava não conseguiu evitar um sorriso. – Devem estar meio à toa.

Me afastei uns quantos passos deles e parei no limite das nossas zonas de treino. Coloquei as mãos em torno da boca e gritei:

— TRIS! CHRISTINA! VOCÊS NÃO VÊM AMOÇAR?

Todos desviaram a atenção de Eric e Tobias para mim. Acenei com um sorriso e uma expressão inocente, fingindo que não sabia o que estava se passando. Tobias também olhou pra mim e descontraiu seus músculos e sua expressão. E por fim Eric que já não parecia tão sádico e mais calmo. Se virou para os transferidos e falou calmamente:

— Os treinos continuam daqui a uma hora…

E saiu antes que alguém pudesse reagir. O segui com o olhar preocupada… O que teria acontecido?

— Obrigada por você nos safar… - Christina suspirou. – Pensei que nunca mais saíssemos dali.

— Não se espante… - dei de ombros estendendo uma toalha a cada uma delas. – Eles são capazes de ficar horas se encarando depois de uma troca de ideias opostas. Sempre foi assim e nunca vai mudar. E afinal o que aconteceu?

— Acho que eles brigaram. – Tris ajeitou seu rabo de cavalo. – Não se entendeu a razão mas com certeza era algo sério. Muito sério… O Quatro parecia beem incomodado com o assunto.

— Incomodado? Como assim…? – arqueei minhas sobrancelhas.

— Veja por você mesma… - Christina saltitou à nossa frente.

Olhei para trás e vi os olhos de Tobias postos em mim. Era um semblante sério. Quase de raiva e que me deu muito, mas muito medo.

Eu e você temos que falar. Agora!”, falou mudamente.

Será que… Não, não pode ter sido isso. O Tobias não iria descobrir nosso relacionamento no meio de um treino. Ou será que sim?

Ai Deus…

(…)

Assoei o nariz no papel, ou melhor, no que restava do papel. Meus ombros tremiam a cada soluço que saía da minha garganta. Me doíam os olhos de tanto chorar. Mas o pior era a sensação terrível com que eu fiquei no peito. Nunca tinha visto o Tobias tão chateado como de manhã. Eu sabia que namorar em segredo com o Eric não era boa ideia. Se eu tivesse dito logo para o Tobias, possivelmente, teria sido menos catastrófico.

Olhei o espelho do banheiro. Detesto ficar com a maquiagem borrada dessa jeito, mas detesto ainda mais ficar brigada com o Toby. Ele é a única pessoa da minha família que eu tenho aqui. Deveria valorizar isso um pouco mais…

— Kay? – escutei um sussurro vindo da porta e olhei pelo espelho. Era Uriah. – O que aconteceu, princesinha?

— O Quatro… - minha voz tremeu. Voltei a me desfazer em lágrimas e me abracei a Uriah. – Ele descobriu, Uriah.

— Shh, Kay… - senti suas mãos deslizarem por meus braços nus.

— Ele nunca mais… – dizê-lo em voz alta tornava tudo muito mais real. – Ele nunca mais vai me perdoar!

Uriah me circundou com seus braços e senti seu queixo se apoiar em minha cabeça. Ficamos assim durante algum tempo, até meu choro acalmar. Comigo ainda abraçada a ele, Uriah arrancou do rolo uma quantidade de papel e limpou meu rosto até o preto da maquiagem desaparecer.

— Como você sabia que eu estava aqui? – perguntei quando senti seus lábios tocarem em meu rosto.

— Eu vi que no treino da tarde você não estava muito bem. Você nunca falha um golpe… - ele passou a explicar. – Depois quando nos liberaram, você saiu disparada da sala de treino sem dizer nada a ninguém, e foi aí que eu supus que tivesse acontecido algo. Andei te procurando por todo o lado… Ah! E, eu vi que o Quatro estava meio…

— Meio quê…?

— Meio triste… - Uriah coçou a nuca. – Ele não parava de te olhar como se estivesse arrependido de algo. E fartou de te procurar entre nós, depois de você ter desaparecido. Eu acho que, independentemente do que ele te disse, ele está mesmo arrependido.

— Você acha? – torci o nariz e um dos cantos da boca.

— Se eu acho? Eu tenho toda a certeza! – Uriah deixou escapar uma risada e depois me abraçou. – Ele te adora demais…

Acabei por sorrir também. Se calhar ele tem razão…

O Tobias apenas ficou nervoso com tudo isso. Talvez ele tenha refletido e talvez finja que não sabe de nada. Seria o melhor… Não quero imaginar como seriam os Natais com aqueles dois sempre brigando.

— A propósito... – Uriah baixou o tom de vós. – O Eric anda te procurando também.

— Ah é?

— Sim… - Uriah e eu saímos do banheiro. – Ele não apareceu no treino da tarde, mas…

Uriah

(Flashback On)

— Muito bem pessoal, o treino terminou por hoje! – Lauren bateu palmas e depois colocou as mãos nos bolsos da jaqueta, novamente.

Olhei para a parede onde Kay tinha estado encostada nestes últimos minutos. Ela já não estava lá. Escutei um barulho de uma porta se abrindo e vi que era ela.

— O que se passa com a Kay? – Marlene me sussurrou preocupada. – Ela parecia meio desastrada durante o treino.

— Se fosse só isso… - Lynn, muito surpreendentemente, não estava de mau humor. – Ela parecia estar à beira de um ataque de lágrimas. Aconteceu algo durante a hora do almoço…

— Porque você diz isso? – Keeran preguntou, arqueando as sobrancelhas.

— Hum… Duh! – Lynn olhou para ele como se fosse óbvio. – Você, por acaso, a viu a almoçar? Eu cá não vi…

— Talvez ela tenha ficado invisível… - Marlene e suas manias pelo surreal.

— Sim, ela usou uma capa mágica criada pelos da Erudição, só para gozar connosco. – Lynn rolou os olhos, novamente carrancuda. – Por favor, Mar…

Marlene bufou agarrada a meu braço. Keeran e Ava se riram, mas eu estava pensando no que Lynn dissera.

Aconteceu algo durante a hora do almoço…”,essas palavras não me saíam da cabeça. E o pior? Eu acho que a Lynn tem razão.

Três factos:

1.A Kay estava muito estranha

2.O Eric não apareceu no treino da tarde

3.O Quatro está com cara de quem fez merda

Abri muito os olhos.

“Oh não…”

(…)

Deixei o pessoal no dormitório, depois de ter tomado um banho e colocado uma roupa limpa. Tinha que encontrar a Kay. Ela precisa de mim, logo estará num sítio onde apenas eu…

— Uriah? – fui surpreendido por uma voz atrás de mim.

Eric.

Ele não me parecia tão mortífero como de costume. Parecia, uma pessoa normal. Tinha uma expressão cansada e preocupada…

— Sim…? – mas é melhor eu ficar atento.

— Você viu a Kay por aí? – perguntou com uma voz arrastada.

— Hum… Não. Ninguém a vê desde que o treino terminou. – falei sentindo a preocupação ocupar o lugar do receio.

Eric suspirou. Era um suspiro desesperado. E isso me preocupou ainda mais mas hesitei em falar. Não posso esquecer que ele ainda é o Eric.

— O que aconteceu? – não posso vacilar. O assunto é a Kay, e posso confiar que o Eric não vai virar o Demônio. – Suponho que por você parecer um pouco… caham… é porque você tem algum papel nessa história toda.

As sobrancelhas dele arquearam e por momentos tive medo de morrer, mas tudo não passou de uma panca minha, porque ele suspirou e massageou as têmporas.

— O Quatro descobriu que… eu e a Kay temos uma relação. – ele acabou por dizer. – E, não ficou muito satisfeito.

Fiquei olhando para ele.

— Se eu a encontrar digo que você estava procurando ela. – coloquei as mãos nos bolsos das calças.

— Obrigado Uriah. – ele fez um aceno de cabeça e se afastou.

— Ei, Eric! – ele parou e olhou para mim. – Você fica estranho quando não está irado com a vida.

Tapei a minha boca.

— Não se estique, Pedrad! – ele falou entredentes e saiu da minha vista, resmungando alguma coisa que não consegui compreender.

(Flashback OFF)

Kay

Quando Uriah acabou de me contar tudo o que se passara, nós já estávamos no corredor onde decorrera a conversa entre ele e o Eric. Paramos e ele apontou para um dos corredores.

— Ele foi por ali. – falou com a mão apoiada em meu ombro. – Se você for por ali talvez acabe o encontrando…

— Valeu cara de pudim! – beijei o rosto dele e corri para a direção que ele apontou. – A gente se vê depois… - acrescentei olhando por cima do ombro.

Corri pelos corredores do quartel-general em busca de Eric. Sinceramente isso já anda me deixando um pouco farta... Sou sempre eu que tenho de andar a correr por aí em busca dele. Porque raio eu tive que me apaixonar por um líder da Audácia?

Vi uma luz no fundo de um dos corredores e abri um sorriso. Corri até lá e joguei a cabeça para trás. Eu fui dar no Fosso de novo. Até para mim, era difícil não me perder nos corredores…

— Kay? – meu corpo ficou hirto com a voz atrás de mim.

Rocei sobre meus calcanhares e fiquei olhando a figura alta e loira na minha frente.

— Oi Alex… - forcei um sorriso parecendo uma completa idiota. – O que você está fazendo aqui?

Acreditem, eu perguntei por educação. Porque na real tô nem aí para o que ele anda fazendo.

Alex sorriu de canto e passou as mãos pelo cabelo num movimento lento, enquanto me olhava de uma maneira provocadora. Ele estava… tentando me seduzir?!

Travei a enorme vontade de rir com que fiquei pelas figuras tristes que ele estava fazendo. Ai, se ele soubesse que eu estou namorando o Eric… Nunca mais conseguia sair pra rua com a vergonha.

— Na verdade eu… - ele iria começar uma conversa de horas. Como de costume. Eu tinha que arranjar uma forma de…

Escutei um barulho de botins apressados e pesados batendo no chão, e no fundo do corredor oposto ao nosso, passou Eric. Alex como estava de costas não o viu, mas eu vi. E que visão maravilhosa foi essa.

— Alex, olha a verdade é que eu estou com um bocado de pressa, por isso tenho que ir. – o cortei falando muito depressa. – Adeus!

O deixei ali pendurado. Alex ficou com a boca entreaberta e cara de idiota, mas eu não tava nem aí. Corri para o corredor e apanhei Eric virando a esquina.

— Eric! – gritei e continuei a correr atrás dele. – Espere por m… Ai! – meu nariz bateu em qualquer coisa dura. O esfreguei e recuei uns paços meio desastrados.

A coisa dura era o peito de Eric. Ele estava me olhando como quem se esforça para não explodir num ataque de gargalhadas. Suas mãos estavam, como de costume, entrelaçadas na frente do corpo. Ele havia trocado a jaqueta pelo colete, o que deixou os músculos de seus braços tatuados à mostra. Olhei diretamente para seus olhos.

— O Uriah disse que você estava me procurando… - falei inocentemente.

Senti sua mão grande e quente pegar a minha, pequena e fria, e me puxar para fora do corredor. Ele me guiou, em silêncio, para as escadas que dariam ao patamar exterior. Estava sol  e muito calor, tanto que eu tive que retirar minha jaqueta. Nos sentamos na mureta.

— Eu fiquei preocupado com você… - ele começou. – O Quatro…

— Sim, eu sei. – suspirei e pousei minha mão sobre a dele. – Nós não conseguiríamos esconder isso para sempre. Ele mais tarde ou mais cedo iria descobrir…

Eric acenou com a cabeça continuando a olhar para o chão.

— Ele foi muito duro com você? – a pergunta fez meu corpo tremer. Nunca tinha visto o Tobias tão furioso como naquela hora.

— Não falemos agora nisso. - beijei seu rosto. – Ele já deve estar mais calmo…

Eric não respondeu.

Senti suas mãos segurarem meu rosto e seus lábios se colarem nos meus com uma intensidade apaixonada.

Imagino que não seja fácil para ele estar namorando comigo, afinal eu sou a prima de seu eterno rival, não é mesmo? Por mais que ele me ame, o ódio que eles sentem mutuamente nunca vai acabar…

— Todo o mundo está com o Max, fazendo não sei o quê… - ele comentou. – Você quer ir comer bolo de chocolate?

Deixei escapar umas gargalhadas.

— O que foi? – uma de suas sobrancelhas arqueou.

— É estranho ver você fazendo uma pergunta tão natural… - acabei dizendo. – Sabe, acho que é o hábito de te ver gritar e de escutar suas ameaças de líder maníaco.

Ele me empurrou. Uma pessoa normal dá um pequeno empurrão e você apenas balança. Mas neste caso não… Eu fui, literalmente, atirada pelo braço de Eric. E caí redonda no chão. Sacudi as pedras enquanto escutava suas gargalhadas, e acabei me rindo também.

(…)

— Kay! – o meu sonho era a minha mãe me chamando. Estávamos perto da linha do comboio, no meio do nada. Ela estava sentada no chão. Me aproximei dela e ela sorriu. Seus cabelos ruivos dançavam ao sabor do vento e sua expressão parecia tranquila. – Está tudo bem meu amor?

Encostei minha cabeça no seu ombro e apertei sua mão.

— Tenho saudades suas, mamãe… - minha voz saiu esganiçada como se fosse começar a chorar.

— Eu estou sempre com você, querida… - senti seus lábios beijarem minha testa. Aquilo não era real, mas eu queria que fosse. – Sempre!

— Kay! – desta vez não foi minha mãe que me chamou. Mas a figura na minha frente também era meio ruiva.

— T-Tris?! – sussurrei enquanto limpava o rosto de algumas lágrimas e me sentava na cama. – O que você faz aqui?

— Eu preciso da sua ajuda… - ela limpou as mãos nas calças. – Você poderia vir comigo para a sala de treinos?

Olhei sua expressão. Parecia confiante em subir na classificação… E afinal, o que eu tinha a perder com isso? Eu gosto de ajudar os meus amigos.

— Sim. Vamos lá! – afastei meus cobertores e calcei as botas no chão.

(…)

Tris e eu entramos no refeitório nos rindo como duas crianças, e logo nos tornamos o centro das atenções. Ignoramos os olhares e nos dirigimos para a mesa onde estava o pessoal e Tobias ligeiramente mais afastado. Tris se sentou do lado de Christina e eu circundei Tobias num abraço apertado.

— Bom dia! – cantarolei alegremente.

— Kay… - ele sussurrou. – Em relação a ontem…

Beijei seu rosto.

— Esquece isso! – falei. – Já passou… Mas você vai me proibir de…?

— Não. Eu vou fingir que não sei de nada. – ele sorriu bebendo de sua caneca. – Mas não tem mais nada que eu tenha que saber pois não?

— Que eu saiba não… - trocamos um sorriso. – Te adoro Tobias!

— E eu a você! – demos um abraço tão apertado que achei que fossemos sufocar.

— Tão fofos! – comentou Marlene.

Tobias agitou a mão como quem enxota mosca, com as maçãs do rosto vermelhas e eu lhe joguei a língua de fora.

— E eu? – Uriah fez bico. – Não tenho direito a abraço?

Tobias deixou escapar uma gargalhada e eu me levantei, circundei a mesa e abracei Uriah por trás.

— Claro, cara de pudim! – começamos a rir e depois voltei para perto da Tris.

Tomamos o café da manhã calmamente, e às 8 em ponto estávamos todos na sala de treinos. Eric estava muito direito no centro da sala e logo começou a gritar.

— Hoje vamos realizar combates! – anunciou. – Ontem vocês tiveram uma preparação e algumas dicas de combate. Mas hoje… - ele sorriu cruelmente. – Hoje é que é a sério…

Troquei olhares com Uriah. Marlene roeu as unhas nervosa e Ava tamborilou com o pé no chão impaciente. Keeran suspirou e resmungou alguma coisa. No outro grupo Tris ficou com muito mal aspeto. Ela já era branca, mas agora… parecia um cadáver.

— Primeiro combate das transferências: Molly contra Tris! – Christina apertou o braço de Tris como que tentando a acalmar.

Calma…” , falei mudamente e ela se dirigiu ao ringue.

— Durante quanto tempo a gente vai lutar? – a questão de Molly me deixou tensa. Essa era uma questão que você não deve dizer e que eu vou colocar num manual de sobrevivência de quando se está entre Eric e Quatro.

— Até uma de vocês não aguentar! – Eric falou com uma pontinha de maldade na voz.

— Na verdade… - Tobias tossiu para o punho e deu um passo em frente. - … as leis da Audácia dizem que quem quiser se pode render.

Eric cruzou os braços.

— De acordo com as regras antigas. – bufei. As regras antigas, eram as regras criadas pela minha mãe, senhor líder cruel!— De acordo com as novas regras, ninguém se rende.

Tobias fuzilou Eric com o olhar.

— Um homem corajoso sabe reconhecer a força de seu opositor…

— Um homem corajoso nunca se rende! – eles ficaram se encarando durante algum tempo. Não eram só duas pessoas que guerreavam. Eram dois ideias diferentes: os ideias da Audácia que defendiam seu código de honra, e os ideias da Audácia que eram implacáveis.

— Ah! – minha intervenção os distraiu. – Nesse caso nós mulheres vamos às favas! Quer dizer, vocês estão dizendo os homens isto, os homens aquilo… Isso é discriminação, sabiam?

Tobias abanou a cabeça e Eric suspirou e rolou os olhos. Eles sabiam que não era burrice, mas apenas uma forma, idiota, de impedir que eles brigassem ali mesmo.

— Vocês vão ser avaliadas, por isso lutem como deve de ser! – Eric se afastou de Tobias com uma expressão carrancuda.

Molly e Tris se colocaram em posição de combate e começaram a andar em círculos. Tris recuando, e Molly avançando cada vez mais rápido e ameaçadoramente. Tris acabou descendo do ringue e ficou olhando em redor nervosa. Circundei minha boca com as mãos e gritei:

— Vamos Tris! Não tenha medo!

Ela me olhou e acenou com a cabeça. Um brilho se gerou em seus olhos. Ajeitou o rabo de cavalo e retornou para o ringue. As duas se voltaram a colocar em posição de combate e Molly avançou com um grito de força esticando o punho em direção do rosto de Tris. Ela se esquivou, se baixando e passando por debaixo do braço dela.

— É assim mesmo Tris! – eu e Christina falamos ao mesmo tempo.

Molly apanhou ela de surpresa na investida seguinte, conseguindo acertar um soco em seu rosto. Tris cambaleou e Molly lhe enfiou o punho no estômago. Tris parecia mais morta do que viva quando Molly se afastou dela durante umas milésimas de segundo. Molly ergueu o punho e eu fechei os olhos. Escutei o som de um punho atingindo uma superfície, e o barulho de um corpo caindo pesadamente no chão. Abri os olhos com receios em ver o estado dela…

Não tinha nada para além de um inchaço se formando no rosto. Molly saiu do ringue com um sorriso convencido e eu a olhei com nojo. Al entrou no ringue e pegou Tris nos braços como quem pega numa boneca de trapos e a levou para fora do ringue. Olhei curiosamente para Eric. Ele abanava a cabeça desapontado com o desempenho dela… Depois voltou sua atenção para o grupo.

— Primeiro combate dos iniciados nascidos na Audácia: - suspirei com um aperto no coração. – Nathan contra… Kay!

Meus olhos se arregalaram de tal modo que achei que eles me fossem saltar do rosto. Uriah ficou com a boca aberta e seu olhar saltou de mim, para Eric e para Nathan. Marlene segurou meu braço com força, e nem reclamei quando suas unhas, irregulares por ela as roer, me machucarem a pele.

O que ele está querendo que aconteça? Uma morte…?!

Eu não acredito nisso…


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Notas finais do capítulo

Uiii como será agora? +

O que será que vai dar desse combate? Uma vitória normal, ou muita treta?

Vamos descobrir isso no próximo capítulo.

Beijos!!!!



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