Capítulo 16 – De volta ao mundo real

POV Rose

Isso foi um erro... isso foi um erro... Era o que eu falava a mim mesma o tempo todo, durante a viagem de volta, a respeito do que aconteceu em o Dimitri e eu. O Pavel me apertou e eu acabei contando a ele o que havia acontecido, afinal ele era meu amigo e poderia me ajudar a pensar no que fazer.

“Rose, você ainda o ama?” Eu pensei e disse:

“Amo, Pavel, mas não quero mais ele na minha vida, para acontecer tudo de novo o que houve. Ele ir embora, dizer que não daria certo, que isso não é bem visto no nosso mundo e coisas do tipo. Eu não agüentaria isso de novo. Não mesmo. E outra, eu estou noiva, amo meu noivo, decidi que quero me casar e ter filhos e cuidar dos negócios junto com meu pai. Ele não agüentaria isso e vi decepção nos olhos dele quando eu disse que não sou mais uma guardiã. Mas ele sequer me perguntou os motivos. Depois, ele é guardião da Natasha Ozera e ela é louca por ele, então...”

“Mas, Rose, se você o ama, como é que pode construir uma vida com o Louis e ser feliz? Você acha certo infringir infelicidade na vida das pessoas? E na sua? Seu pai jamais vai aceitar que você se case sem amor... Isso pra ele é importante! Muito mais do que você imagina. Você sabe que ele sempre amou a sua mãe e eles só não ficam juntos de vez porque ela não quer. Desde que ele te conheceu pessoalmente, ele só quer a sua felicidade, Rose! Se quer a minha opinião de amigo, termine esse relacionamento e vá ser feliz, menina!!!”

“Pavel, a minha vida está toda organizada... Eu tenho o controle dela e não quero perder isso, entende. E de qualquer forma, eu amo o Louis, tudo bem que jamais eu vou amar outra pessoa como eu amo o Dimitri, mas da mesma forma que eu adormeci isso dentro de mim uma vez, eu o farei novamente. Ele não pode simplesmente entrar na minha vida de novo e virar ela de cabeça para baixo e depois ir embora como ele fez da outra vez!” Quando eu percebi eu estava gritando e já chorava. Falar do Dimitri sempre me deixava assim... Eu não suportaria perdê-lo de novo, então, não daria essa oportunidade.

O Pavel me abraçou e meu pai entrou no meu quarto nesse momento.

“Rose? Rose, kiz, o que aconteceu?”

“Nada pai, ta tudo bem... Eu acho que ando meio emocionada, ultimamente!” Esbocei um sorriso, mas seu olhar me confirmou que isso não o convenceu.

“Rosemarie Hathaway Mazur, você vai me dizer agora o que está acontecendo! Anda, estou esperando!”

“Aiii, Sr. Ibhraim Mazur, não é nada. Acho que eu fiquei nervosa com o ataque que sofremos e só agora eu estou botando pra fora, sabe?! Também amanhã é o meu jantar de noivado e eu estou nervosa...”

Ele me puxou para um abraço e riu.

“Quem diria, hein kiz? Você vai se casar... Espero que não demore muito para me dar netos... Quero uma família enorme e feliz!” Disse rindo e aquilo que ele disse me deu um aperto no meio.

“Hey, o que você pensa que eu sou? Uma parideira? Não é assim, não! Tenho várias coisas que eu quero fazer antes de ser mãe e temos vários negócios em andamento. Se eu ficar grávida logo, como eu vou poder viajar o tanto que eu costumo viajar, hein, Zmey?” Ele se divertiu com isso, ficando o assunto mais leve e ele deixou pra lá o fato de eu estar chorando.

Pavel saiu do quarto com um olhar de ‘isso não vai dar certo e essa conversa ainda não terminou’, acompanhando meu pai e eu pude, finalmente, descansar.

POV Dimitri

Como assim, isso foi um erro?!? Eu a amo, ela me ama, onde está o erro? Erro é ela se casar com aquele,,, argh... imbecil, na melhor das hipóteses!!! No caminho para o meu quarto me encontrei com a Natasha.

“Oi Dimka, tempo para um café? Acho que precisamos conversar.”

“Ok!” Respondei sem vontade, mas sem jeito de escapar dessa ‘conversa’.

Nos dirigimos até o salão de chá e pegamos uma mesa. Pedi um chocolate quente e Tasha me acompanhou.

“E então, me conta.”

“Hã???”

“Ora Dimitri Belikov, não  se faça de sonso. Eu sei que você e a Rose se entenderam, tava na cara!”

“Nos entendemos?!? Eu falei com ela, quer dizer, falar mesmo, foi pouco, mas ela disse que me amava e nos beijamos e fizemos amor e depois, fomos interrompidos por Pavel e quando ele saiu ela me disse que aquilo tudo foi ‘um erro’. Se trancou no banheiro e quando vocês chegaram, eu desisti de esperar e sai do quarto. Pronto, falei e isso foi tudo.”

Ela me olhava perplexa.

“Não acredito que ela disse isso! O que deu na Rose?!? Gente... Ela te ama e isso ta nítido! Vocês se amam! O que a impede de acabar com essa farsa que é esse noivado e ficar com quem realmente ela ama, pelo amor de Deus?!?”

“Não sei... Talvez... Mágoa...?!? Medo de que eu faça a mesma coisa e vá embora...?!? Sei lá! Ah! Sei lá, Tasha, não sei mais o que fazer... Eu juro que não pensei que aquela atitude minha de anos atrás fosse me contemplar com o resto da vida de solidão, dor e arrependimento.”

“Calma, Dimka, acho que agora é a minha vez de falar com a Rose. Quer que eu fale com ela?”

“Eu acho que não. Eu acho que isso só iria piorar. Ela sempre teve ciúmes de você e ela não vai querer te ouvir.”

“Justamente por isso é que eu acho que deveria falar com ela. Eu acho que se ela soubesse do que você passou, isso por outra pessoa, que supostamente, ela vê como uma rival, quem sabe ela acreditasse, huh?!? O que você acha?”

“Olha Tasha, a essas alturas, eu não sei mais o que pensar. Faça como preferir.”

“Você vai no jantar de noivado?”

“NÃO!!!! Eu não vou conseguir vê-la ali, comemorando com a família e amigos, a minha infelicidade e a dela também, porque eu sei que ela jamais será feliz com aquele... argh! Desculpe-me, eu preciso andar um pouco.”

Saí dali furioso, só de pensar naquele crápula com as mãos na minha Roza. Tão furioso que estava cego e quase derrubei a Lissa no processo.

“Ai princesa, me desculpe.” Disse segurando-a e a colocando em pé.

“Hey, onde é o incêndio? Você vai ver a Rose?” Ela disse isso com um sorriso radiante no rosto e logo depois ela avaliou a minha aura e seu sorriso desmoronou.

“O que aconteceu Guardião Belikov?”

“Nada... nada mesmo. E não, eu não vou me encontrar com a Rose. Porque eu iria? Com licença princesa.” Assim, fiz uma reverencia e saí dali. Meu Deus, será que eu ainda vou encontrar mais alguém para me falar da Rose? Espero que não. Aproveitei que não estava nevando e fui andar um pouco no bosque. Eu precisava pensar.

POV Rose

A Lissa apareceu no meu quarto e eu havia acabado de sair do banho. Achei que iria dormir, mas pelo visto, ta difícil!

“Oi Rose, tudo bem?”

“Tudo Liss, eu só estou um pouco cansada ainda de ontem. Acho que não dormi o suficiente.”

“Você não vai me contar o que aconteceu entre você e o Dimitri? Você disse que ainda somos amigas.”

“Ai, Liss, foi tudo um erro... um erro. Eu sai do banho e fui comer alguma coisa, achando que vocês estavam todos na sala de estar, mas cheguei lá e o Dimitri estava ali sozinho e disse que vocês tinham ido se alimentar. Aí, ele acabou ficando muito perto de mim, eu travei e acabamos na cama. Eu traí o Louis... Nem acredito que eu fiz isso... Agora o que eu vou fazer?!?” Eu estava me sentindo miserável. Como eu pude fazer isso com o meu noivo, gente... Quem sou eu?!? No que eu me tornei?

“Rose, se acalma... Ta tudo bem! Ta tudo bem, ok?” Ela me abraçou e eu me senti mais miserável ainda, se é que isso é possível.

“Olha, se você ama o Dimitri, e eu sei que você ama, não adianta negar, porque você não fica com ele de uma vez por todas?!? Rose, ele te ama! Ele passou todos esses anos solitário, sem namorada, sem ninguém, só se lamentando o dia em que te deixou e foi ser o guardião da Natasha. Até ela desistiu dele e chegou a te investigar para ver se te encontrava e dar um fim no sofrimento dele.”

“E porque ele não procurou a minha mãe para saber de mim? Não pode ter sido tão difícil localizar a minha mãe ou até o meu pai.”

“Rose, você acha mesmo que ele iria procurar por você através de seus pais. Ele tem pavor só de pensar em falar com eles!!! Ainda mais sobre você! Pensa, amiga, pensa!” Ela disse se acabando de rir.

“Quer dizer que o deus russo, Guardião Belikov tem medo de Janine Hathaway e Abe Mazur?!? Por essa eu não esperava!” Ri também, só de imaginar o Dimitri com medo dos meus pais, mas pensando bem, eu também teria no lugar dele.

“Imagine só Rose, o Dimitri chegando para o seu pai ou sua mãe e dizendo: Bem, sabe o que é, é que eu amo a sua filha e a deixei para preservá-la. Agora estou arrependido e preciso vê-la para conversar com ela, pedir perdão e ficarmos juntos. Isso iria ser hilário de se ver. Ah! E tem outro detalhe: ninguém de nós sabíamos que você era filha de Abe Mazur!”

Nos rimos muito, imaginando a cena.

“Lissa, eu não posso voltar atrás, o que eu faço: Conto ou não sobre o que aconteceu ao Louis? Se eu contar, corro o risco dele terminar tudo e me odiar pelo resto da vida e meus pais me odiarem também, me deserdarem e eu acabar numa aldeia damphir como meretriz de sangue, porque eu não posso voltar a ser guardiã. Se eu não contar, corro o risco dele acabar descobrindo ou eu não conseguir conviver com isso, casada com ele! Ai amiga, eu não sei o que fazer! Sem contar que o Pavel sabe e ele ainda não terminou ‘a conversa’ comigo.”

“Co-como assim, o Pavel sabe?”

“Eu acabei contando a ele. Longa história, mas eu posso te dizer que ele é pra mim como um irmão mais velho e nós somos muito amigos. E ele também tem o dom de saber o que acontece comigo, independente de eu estar mentindo ou não.”

“Aimeudeusdocéu! Rose, isso sim é complicado! Bem, amanhã é o jantar de noivado, então amiga, para você relaxar e tentar pensar em uma decisão, eu marquei spa para nós duas... Como nos velhos tempos!”

“Wow! Isso é realmente ótimo. Uma pena que o Ambrose não está aqui para nos massagear!” E nós duas ficamos fantasiando toda aquela beleza nos massageando.

Bateram na porta e quando a Lissa atendeu, era o Dimitri. Ela riu e disse que havia se esquecido que tinha que se encontrar com o Christian.

“Oi.” Ele disse, todo sério. “Acho que eu tenho o direito a uma conversa.”

“Oi, tudo bem, podemos conversar, mas não aqui, porque o Louis pode chegar e não vai ficar nada feliz com nós dois sozinhos no meu quarto.”

“Então vamos para o meu quarto, mas eu também não quero ficar exposto, onde qualquer pessoa possa nos interromper. O que eu tenho a dizer é importante e essa pode ser a minha última chance.”

“Ok. Espere aqui e eu vou pegar um casaco.”

Saímos e fomos até o quarto dele, pelas escadas de serviço, parecendo dois fugitivos. Eu estava morrendo de culpa, mas eu precisava saber... Precisava saber se ele me amava mesmo e estava disposto a abrir mão da guarda da Natasha para ficar comigo. Eu não podia sair da Turquia, nem podia voltar a ser guardiã e ele precisava saber os meus motivos. Entramos no quarto dele e me sentei no sofá.

“Então, Belikov, o que você quer?”

“Roza, me perdoe por tudo o que eu fiz você passar, desde o dia em que nos conhecemos até esse maldito jantar, onde eu acabei passando de todos os limites, mas é que eu estou ficando maluco... Não agüento mais ver você com o Louis... Ele não presta, Rose...”

“Hey, tudo bem que eu concordei em vir até aqui, mas você não vai ficar falando mal do Louis pra mim, senão eu vou embora. Estou disposta a ouvir tudo o que você tem a dizer, mas o deixe de fora, ok?!?”

“Desculpe, mas um dia você vai me dar razão. Roza, eu te amo e por mais que você não acredite, eu fui embora para te proteger e à princesa. Nós seríamos designados para ela e acabaríamos nos protegendo um ao outro, colocando-a em risco. Depois, eu colocaria a sua carreira como guardiã em risco, você poderia perder o cargo... Mas jamais imaginei que você deixaria o cargo.”

“Você não sabe de nada, Dimitri, eu não deixei porque eu quis, eu deixei porque eu precisei deixar. Os strigois estão caçando os Hathaway e os meus pais resolveram me obrigar a pedir baixa da guarda para me proteger, porque me parece que o objetivo é chegar a mim e à minha mãe. Ela pediu baixa hoje da guarda e vai morar com a gente na Turquia. Meu pai viu o meu talento para os negócios e para que eu não ficasse ociosa e entediada, ele me deixou trabalhar com ele. Isso tudo foi para a minha proteção! Você não sabe de nada da minha vida, nesses sete anos, então, não critique, ok?”

Quando eu dei por mim eu já estava chorando e sentia a energia negativa das sombras tomar conta de mim. Respirei fundo, abaixei a cabeça e tentei me concentrar para ver se isso passava, mas não estava adiantando.

“Olha, se é só isso, eu preciso ir. Eu preciso andar um pouco. Tchau Dimitri, depois a gente termina essa conversa!”

Ele me pegou pelo braço, me puxou num abraço e eu me senti completa, protegida... Parecia que ele sabia o que estava acontecendo comigo e tentava me proteger daquela escuridão que me tomava. Assim nós ficamos por um tempo que poderia ser minutos ou horas, eu nem percebi. Só percebi que ao me afastar, eu tinha acabado com a camisa dele em lágrimas. Ele beijou a minha testa e pediu serviço de quarto. Logo depois, chegou um carrinho com um monte de panquecas e chocolate quente, frutas e uma rosa vermelha. Ele me fez comer e me recompor, depois disse:

“Roza, meu amor, eu te amo e estou disposto a largar tudo dessa vez. Eu não vou desistir de você! Se você resolver ficar comigo e assumir o nosso amor, eu serei o homem mais feliz do mundo. Eu sei que você quer ser mãe e isso eu não posso te dar, mas a gente pode adotar quantos filhos você quiser e se quiser. Só não me deixe... Eu imploro! Não me deixe!”

“Dimitri, desculpe, eu preciso ir.”

“Só prometa que vai pensar! Prometa!” Disse me segurando firmemente, com olhar desesperado.

“Eu prometo.” Eu murmurei porque não tinha força nem na voz.

Ele abriu o sorriso mais lindo do mundo e tão raro, quanto é possível. Assim, ele acabou me deixando sair do quarto e de cara, eu encontrei com a Natasha. Assim que ela me viu, me puxou num abraço de urso e disse baixinho em meu ouvido:

“Rose, não estrague sua vida se unindo a alguém que você não ama de verdade. Não faça isso com você. Você não precisa de um casamento para ser infeliz. Você precisa sentir amor intensamente, tão intenso quanto o Dimitri pode te dar, amar da mesma forma... Não estrague a sua vida, querida, você nem imagina o quanto você é importante para tantas pessoas. Se dê a oportunidade de ser feliz!”

Sorriu, passou os dedos levemente em meu rosto, limpando as lágrimas que insistiam em escorrer e beijou a minha testa.

“Querida, ele te ama! Acredite!”

Assim, eu fui para o meu quarto novamente e ali fiquei pensando até dormir.