Prisioneira escrita por Lady


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Prisioneira

 

O mundo não é o suficiente para satisfazer teus desejos, pois então, surpreendo-me eu por ser capaz de assim o fazer. E se desejas-me, então entregar-me-ei a ti com todo o meu ser.

— Sasuke Uchiha -

 

Ele não sabia ao certo como havia chego àquele ponto, ok, talvez ele soubesse um pouco como chegaram até ali, contudo os acontecimentos eram um tanto confusos para qualquer explicação plausível e aceitável – não que ele pudesse contar a alguém sobre tudo. Ele não lembrava o dia e, se não estava enganado – o que poucas vezes estava –, era hora do já da tarde e o sino da igreja distante cantava com deslumbrantes batidas; o sol estava dando um recesso e as nuvens pareciam acumular-se de forma descontraída, calmamente trabalhando para formar a tempestade que irrompera naquela noite em particular.

Ele, como seu servente particular, era o atribuído de cuidar para que as necessidades daquela mulher imperiosa fossem devidamente atendidas em seu cômodo privado, e Sasuke Uchiha era mais do que exímio em trabalhos a si atribuídos. O moreno recordava-se de suas tarefas aquele dia, serviria a sua Majestade Imperial Sakura Haruno Senju VI as guloseimas que a mulher mais apreciava acompanhadas de um calmante chá; ficaria ao canto esperando por mais ordens, ou simplesmente silenciosamente ouvindo-a divagar – o que acontecia com uma frequência estupenda quando a mulher estava em sua presença – sobre bobagens e trivialidades que notara a partir de quaisquer nobres que a seguiam, comumente ele a ouvia comentando sobre como o melhor amigo dele – Naruto Uzumaki – tinha ganho a apreciação da jovem Princesa Imperial – e a décima segunda irmã mais nova de Sakura – Hinata Hyuuga Senju, que era facilmente vista corando próxima ao empregado de cabelos dourados.

Silenciosamente ele a ouvia e observava, e silenciosamente ele a viu erguer-se, suspirando numa derrota que lhe passara despercebida. A coroa sob sua cabeça há muito havia sido abandonada sob a penteadeira e as madeixas rosadas estavam livres das presilhas; e Sasuke, naquele momento mais do que em qualquer outro anteriormente vivido por si naquele aposento, nunca havia visto a Imperatriz tão a vontade, tão livre do peso do Império que carregava sobre os pequenos ombros semidespidos; e a realidade pareceu dar-lhe um tapa quando a mulher parou a sua frente, era baixa portanto teve de abaixar a cabeça para esta expulsando da mente qualquer intenção de fitá-la nos olhos – as esmeraldas mais cobiçadas e atrativas de todo país.

— Olhe-me. – Era uma ordem que não poderia recusar, contudo, não desejava atendê-la, quem sabe o que poderia pensar, ou pior, atentar-se a fazer. E com uma respiração profunda e calculada ergueu o olhar ficando face a face com a beleza sublime e única de sua Senhora, viu-a próxima demais de si, contudo nada comentou enquanto os dedos espremiam-se nos punhos fechados, e o susto lhe fizera prender a respiração quando os dedos pequenos e delicados dela fizeram contato com o lado esquerdo de seu rosto. As pontas mornas desceram calmamente pelo maxilar terminando seu percurso no queixo antes de subir para os lábios, permitiu-se uma respiração superficial enquanto os ombros tensos petrificavam-se por aquelas ações inesperadas da mulher que mais e mais aproximava-se de si.

— Senhora... – engoliu em seco a saliva e os gaguejos que sequer ousou proclamar, recuou um passo, encontrando a porta fechada atrás de si, e Sakura avançou outro passo, silencioso o suficiente para fazer o servente compreender que os sapatos da mulher já haviam sido abandonados em algum momento enquanto ela se aproximava de si. – Senhora, por favor, não brinque comigo desta forma. – pediu, simples, direto, sua voz contendo uma pitada de frieza que não desejava transparecer, contudo parecera tão obvia quando ela cessara seus atos minuciosos e retornara para a mesa pretendendo, assim, finalizar seu breve lanche da tarde.

Sasuke Uchiha recordava-se deste dia com perfeição e ousava ditá-lo como o prefacio de toda sua atual circunstancia. Pelo correr dos dias ele a serviu como sempre o fizera, como sempre fora treinado para fazer, e a cada chá da tarde ela se aproximava com caricias, com toques ousados que lhe tentavam a sanidade; quando a noite caia o moreno remoía-se de desejos insaciados em seu aposento particular enquanto ansiava pelos toques quentes daquela imperiosa e perigosa criatura.

Dias tornaram-se semanas que viraram meses onde o empregado via-se preso numa tortura sem precedentes, e numa tarde fria e chuvosa a insanidade o consumiu quando ela aproximara-se por demais de si, a agarrara e beijara com uma profundidade e desejo que o Uchiha a todo custo contera a correntes e mordaças. Sasuke tinha plena consciência de que aquele simples deslize naquele momento o condenaria, o levaria ao fim por enforcamento ou degolamento, e ele estava disposto a sacrificar sua vida por aquele breve momento de prazer que aquecera ambos os corpos naquele dia tempestuoso e frio.

Quando despertara na madrugada pode contemplar a chuva caindo impiedosa do lado de fora da varanda e ali, no escuro ficou a imaginar o fim que seria dado a si no raiar do sol da manhã, quando sua Senhora despertasse do aconchego de seus braços. Pelo quarto podia ver as vestes largadas, frias, úmidas, estas que pareciam já despedir-se de si tal como o restante do cômodo que provavelmente jamais veria ao menos a cor do ouro ou mesmo a beleza suave da seda.

— O que está procurando? – a voz suave chegara a si, melódica como os sinos da igreja que tocavam na hora do chá. Sentiu o ar prender-se na garganta, mas não recuou, fitando-a já sabendo que seu fim estava mais do que próximo e com isso fora pego de surpresa pelo sorriso destemido e brincalhão que era estampado pelos lábios adocicados que beijara de forma quase insaciável ainda mais cedo. – Esta, quem sabe, preocupado com alguma condenação por violar uma das regras da coroa? – indagou-a, com a simplicidade e sinceridade que somente ela ousaria ter para com todos; a surpresa, o choque e até mesmo o medo foram transparecidos nos olhos de ônix do servente, mas todos os sentimentos foram nublados pela confusão que se seguiu diante da risada que se fizera presente logo em seguida. Tão doce como mel e tão límpida quanto o próprio brilho reluzente do mármore, ela apenas gargalhou de sua reação, constrangendo-o mais do que o fato de que estavam despidos, juntos, sobre lençóis de cetim e seda carmesim.

Esperou gritos que nunca vieram, exclamações, acusações, ofensas, e juras de morte, entretanto nada se mostrou além do riso e dos pequenos braços lhe envolvendo a cintura; permaneceu a observando vendo apenas o sorriso alargar-se, infantil e travesso, como o de uma ladra que roubara a maior e mais cara joia do mundo e saíra impune, contudo, não fora uma joia cara que ela obtivera, fora algo ainda mais simples – entretanto complexo a beira da insanidade -, algo barato, de uma utilidade extremamente limitada, úmido, que ainda pingava pelo gelo recém derretido: seu coração. E em seus olhos aquele simples gesto reverberou e ecoou como grilhões que lhe prendiam eternamente àquele ser tão impiedoso e tentador, e Sasuke podia ver no brilho daquelas esmeraldas que sua liberdade já havia sido a muito usurpada.

No mar dessas lembranças o moreno permaneceu fitando-a de longe, fria e impiedosa sob o trono de mármore, ouro e diamante. A coroa pesada era deslumbrante sobre sua cabeça, destacando o arranjo de fios rosados que o moreno podia confiar com uma certeza absoluta de que eram tão macios quando a seda mais cara do mercado. Solitário ao canto do grande salão ele permanecia imóvel como uma estatua grega, apenas observando seu implacável domínio sobre tudo e todos, mas por trás daquela imagem, acorrentada no fundo daquelas esmeraldas tiranicamente belas, a verdadeira Haruno era mantida prisioneira, libertando-se somente ao cair da noite; por que entre palavras, toques e atos ele, e somente ele, a fazia mulher.

Mesmo não tendo ouro ou joias a oferecer, Sasuke ainda sim dava a ela o que nenhum homem jamais poderia dar de forma honesta. Muitos poderiam dizer que era ele quem a seduzia, que era ele quem a arrastava para o mar de pecados imperdoáveis que se repetiam a cada noite; mas era errado e tolo, e quaisquer um que descobrisse sobre aquele caso sofreria uma morte silenciosa e miserável.

O silencio era a marca dela e como uma prisioneira de sua própria vida – e do Império que comandava - Sakura Haruno não permitira que lhe usurpassem seu único resquício de liberdade.

Como governanta ela era egoísta e como prisioneira ela dar-se-ia a liberdade de ser egoísta até o fim aprisionando aquele homem a ela até a morte, porque ele – acima de todas as coisas – era sua liberdade.

 

Fim


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Notas finais do capítulo

Comentário e criticas sempre serão bem vindo.
Obrigado por ler.



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