O Real Harry Potter escrita por Sr Mokona


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Essa é uma história que gostaria de ler, espero que tenham a mesma sensação.



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Minha paixão por Harry Potter começou nos meus 15 anos, quando em 2001, assisti com meu pai, Harry Potter e a Pedra Filosofal no cinema. Voltamos de ônibus para casa naquele dia e tudo ficou mais mágico. O London Eye e o Big Ben se tornaram mais mágicos. Não me importava de não ter onze anos para manter meu sonho de receber a carta de Hogwarts, continuei mantendo essa referencia por toda a minha vida acadêmica.

Há uns três anos atrás, meu pai, que mesmo não se interessando muito por esse universo bruxo – ele sempre chamava todos os personagens do filme de Harry Potter -, mas que me levou a todos os filmes, contou-me de um homem chamado Harry Potter, que sua esposa havia conhecido no supermercado. Disse-lhe que por mas que tivesse sido uma feliz – ou no mínimo inusitada – coincidência, havia diversos “Harry Potters” por Londres. Que eu mesmo já havia encontrado alguns deles pelas redes sociais. Mas meu pai me falou de sua cicatriz em forma de raio na testa.

Não sabia se trataria aquela coincidência como algo interessante para se conversar com minha madrasta quando fosse almoçar com ela qualquer dia ou se buscaria esse tal de Harry Potter com uma cicatriz em forma de raio para expor aos meus amigos a grande força da ironia do destino. Por fim, preferi guardar essa informação e tratar como algo estranho, do tipo que se encontra em virais na internet.

Alguns dias depois, fui almoçar na casa do meu pai e durante a conversa que tivemos: meu pai, minha madrasta e eu, toquei no assunto Harry Potter.

— Ah sim, querido; o sr. Potter – disse minha madrasta. – Eu tenho mantido contato com ele. Ele está interessado em alugar uma casa de verão – ela era corretora.

— O pai disse que ele tem uma cicatriz em forma de raio na testa – disse num tom indiferente, como se quisesse mostrar para mim mesmo que aquilo não era algo extraordinário.

Minha madrasta por sua vez, deve ter acreditado nisso, pois antes de responder, ela pôs uma garfada de frango na boca e tomou um gole de suco sem pressa antes de responder.

— Sim, ele tem. Disse-me que foi devido a um acidente que teve na infância.

Senti vontade de perguntar se havia sido um feitiço que havia ricocheteado, mas pareceria muito tolo. Fiquei esperando para ver se meu pai responderia – como uma brincadeira, claro. Mas não sabia se ele lembraria dessa parte da historia. Mas ele comentou outra coisa.

— Ele achou parecido com o Harry Potter que ele gosta.

— Aquele dos livros e dos filmes?

— Sim. Será que seria muito súbito me apresentar a ele assim de repente? – minha pergunta sim, tinha sido súbita. Percebi que ela tinha franzido o cenho, mas depois, indiferente disse:

— Eu acho que não. Pelo que eu entendi, ele trabalha na Scotland Yard e sua esposa é colunista esportiva de algum jornal. Você precisaria de hora marcada pra falar com ele.

Será que valia a pena tudo isso para suprir essa ilusão de conhecer “Harry Potter”?, pensei.

Pedi que ela marcasse esse encontro e que alegasse a curiosidade de minha parte, e sabendo que isso não era grande justificativa para se conhecer alguém assim de repente, fiquei apreensivo pela resposta que ele daria. Na semana seguinte, para minha surpresa, o Sr. Potter aceitou me receber e nada foi dito além daquilo.

No dia em que seria recebido na casa dos Potters, sai com celular no bolso preparado para tirar uma foto e publicar nas redes sociais e com o dinheiro para pagar a passagem. Pensei em usar alguma blusa com temática de Harry Potter ou até mesmo um simples cachecol com as cores da minha casa: a Grifinória, mas preferi ser mais discreto e usar roupas comuns monocromáticas.

A casa dos Potters eram umas dez ruas depois da estação, que percorri a pé. Havia chegado na casa sem saber o que fazer, então bati na porta esperando que o meu eu automático desse conta. Quem veio abrir a porta foi um homem alto, magro, com um óculos redondo e o cabelo rebelde. Além disso, tinha uma marca em forma de raio na testa.

— Você deve ser o Alex – disse Harry. – Anna me falou de você. – E vendo que eu não sabia muito bem como reagir àquilo, ele falou: - Eu entendo sua curiosidade. Pode entrar.

Entrei envergonhado e percebi que mesmo com um casarão, sua casa parecia tão simples quanto a casa do meu pai. Sentei-me enquanto ele tinha ido à cozinha preparar uma bebida para nós. A casa tinha alguns quadros e em um desses quadros, Harry estava ao lado de várias pessoas ruivas. As fotos não se moviam, mas isso era obvio, não era? As fotos não possuem movimentos. A não ser que elas tivessem sido enfeitiçadas para ficarem estáticas.

O Sr. Potter voltou com dois copos de suco de abobora para nós dois. Disse que sua esposa e seus filhos não estavam em casa. Agradeci pela bebida e tentei validar minha curiosidade.

— Tudo bem. Pergunte o que você quiser – ele me disse.

Perguntei sobre seus pais e ele havia me respondido que ambos haviam sido assassinados na sua infância. Desculpei-me por entrar numa questão tão delicada, mas me disse que não haveria problema e continuou.

— Meus pais se envolveram contra um criminoso chamado Tom, que estava liderando uma grande gangue há vários anos, então em represália, esse Tom invadiu minha casa e matou meus pais. Ele foi atingido, mas mesmo ferido, conseguiu fugir e continuou solto até ser morto em 98.

— A Anna me disse que você é um policial.

— Não especificamente policial, mas, pode dizer que sou. Toda essa situação da morte dos meus pais me fez crescer com esse “propósito” de assegurar a população. É estranho como você é puxado para esse mundo. Parar pessoas por vê-las fazendo mal a outras pessoas; vivenciar aquilo.

— Mas depois disso você foi para algum orfanato ou ficou com seus avós ou outros parentes? – perguntei tentando ser o mais delicado possível.

— Eu não tinha mais avós, então fiquei aos cuidados da irmã da minha mãe e da família dela. Não foi tão agradável ser criado numa casa que me viam como uma obrigação. Aos onze anos consegui uma vaga num bom colégio interno na Escócia, onde frequentei até os dezessete anos. De lá, consegui um emprego no ministério. – Vendo que esperava que continuasse com sua história, Harry disse: - Minha vida não é tão emocionante como parece. Foi apenas uma sucessão de eventos (muitas vezes estressantes, talvez mais que o normal) como a vida costuma ser.

O Sr. Potter voltou seu olhar para um quadro que ficava no centro de uma mesinha. Nesse quadro tinha a foto de três pessoas. Harry era uma dessas pessoas, mas tinha um garoto alto e ruivo ao lado de uma bela garota de belos cabelos volumosos.

Fiquei pensando que por algum motivo, ele tinha aceitado minha visita para me mostrar que aquele homem ali na minha frente não era aquilo que eu estava procurando, mas sim uma pessoa comum, como todos nós. Mas havia tantas semelhanças.

Eu devia estar realmente enganado. Harry Potter nunca tinha sido um livro para nos identificarmos com o protagonista. No inicio do livro ele já é algo que não somos e nem seremos, mas esperamos ser. E ao longo da história, ele se torna cada vez mais especial enquanto cada vez mais ficamos presos em questões adolescentes comuns – embora ele também passe por elas.

Harry Potter foi feito para nos sentirmos especiais as nossas maneiras. O Harry Potter serve para nos lembrar que podemos extrair o máximo de potencial daquilo que nos cerca; que podemos lutar a nossa maneira contra as injustiças que nos cerca. Eu podia não ter O Harry Potter na minha frente, mas tinha o Harry Potter na minha frente.

— Sr. Potter, o senhor já leu Harry Potter? – perguntei.

Ele soltou uma risada profunda, mas curta e disse:

— Você não é a primeira pessoa a me fazer essa pergunta. Pior que nunca li por conta própria. Sabe, eu já tive emoções de mais na minha vida; eu me dou melhor com livros sobre esporte. Eu já fui um grande esportista na adolescência. Mas eu lia para meus filhos quando eles eram crianças. Eles adoravam.

Aquele homem na minha frente tinha perdido os pais bem cedo e aos onze anos, tinha sido mandado para um colégio interno e mesmo assim, aproveitou o melhor que pôde e se tornou um grande pai. Enquanto ele comentava sobre mais aspectos da sua vida, percebi que alguns de nós conseguimos extrair magia da vida comum. E confesso que aprendi com ele, outros aspectos da vida que Harry Potter mesmo com tantos ensinamentos, não havia me mostrado. Ou eu que era jovem demais para entender.

Naquela noite, após Harry levar Alex para a estação, ele voltou para casa e deu de cara com sua esposa.

— Gina, você já voltou?

— Sim. E antes que me esqueça, Andrômeda disse que o Teddy vem pra cá hoje.

— Eu não lembrava que o Alvo e o Tiago estavam lá.

— Onde você estava com a cabeça?

— Me dá um desconto; depois de tudo que passei – disse com uma risadinha.

— Que “nós” passamos. E não é sempre que essa desculpa vai colar – disse cruzando os braços.

Harry se aproximou de Gina, a trouxe pra mais perto e lhe deu um beijo.

— Vamos aproveitar enquanto as crianças não chegam – disse Harry Potter.


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Notas finais do capítulo

Espero realmente que tenham gostado.
Obrigado pela leitura.



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