Jessica Valadares - POV's

Escova de dente. Pijama. Troca de roupa. Travesseiro. Cobertor. Coelhinho de pelúcia Pug. Escova de cabelo. Conferia, eu, a minha lista mental do que levar para passar o final de semana na mansão da Elisa Arpini. Dou a volta em meu quarto repetidas vezes, um pouco ansiosa, até me certificar de que não estou esquecendo nada, então, paro em frente ao espelho no centro da parede do cômodo. Acabei por perceber que estava realmente nervosa. Seria a primeira vez que dormiria fora de casa. Ainda mais de alguém a quem conhecia há pouco mais de dois meses, quando entrei nessa nova escola. Arrumo a minha franja, respiro fundo e, por fim, checo se estou apresentável. A resposta: razoável. 

Consigo sentir a adrenalina percorrendo minhas veias. Me sinto realmente inquieta. Então, ouço a voz de minha mãe gritar por mim:

—Jessey, está pronta?!

—Sim, mãe. Estou pronta - Grito de volta e me distancio do espelho.

~*~

Durante todo o percurso do caminho, eu pensei e repensei se era realmente a melhor opção dormir na casa da Elisa. A vantagem: Eu poderia adquirir mais status no grupo, ser mais aceita. Eu não tinha imaginado nenhuma desculpa boa o bastante para me livrar dessa. A desvantagem: Dormir na casa dos outros não é dormir na sua casa, quer dizer, você não tem tanta liberdade, além de que é muita pressão quando você sabe que por qualquer desviozinho seu, você pode ficar o resto do ano sozinha no recreio e nos trabalhos em grupo.

O carro estaciona. Quando saio dele posso realmente prestar atenção na casa. É uma grande e linda mansão. Rodeada de árvores, com certeza um lugar calmo e tranquilo. Três andares. A parede num tom de creme meio pêssego, não sei ao certo. Grandes portas de vidro na entrada. O lugar era totalmente moderno, com muitas janelas e varandas. Na frente havia um jardim muito diversificado e bem cuidado. Tudo bem sofisticado. O terreno era cercado por um muro de pedras. Apostei comigo mesma que a casa teria piscina. 

Naquele mesmo momento, ouvi o som do carro de Júllya. Meu coração voltou a palpitar. Do veículo saíram ela e Bianca. As duas pareciam bem animadas e me senti mal por não sentir o mesmo. Assim que me viram elas gritaram de entusiasmo e saíram em minha direção. Tive que fingir um falso sorriso e exultação. Sorte minha que as duas caíram.

—Ah, você realmente veio, Jess! - Exclamou Júllya, enquanto me abraçava. Dava para perceber um certo tom forçado.

—Oi, Jess! - Bianca acenou para mim com suas gigantescas unhas cor de rosa.

—O-o-oii... Jú e Bi...

Eu realmente não sabia o que esperar desse final de semana. Só de pensar no carro da minha mãe indo embora eu já me desesperava por dentro. Se não estivesse tão sozinha nesse últimos meses tenho certeza de que ela não deixaria.

Elisa Arpini - POV's

Eu andava em círculos ao redor da mesinha de centro sobre o tapete felpudo bege da sala repetidas vezes, que se continuasse assim por mais alguns segundos, poderia jurar que faria um buraco no chão. Por sorte escutei o barulho de carros estacionando na rua em frente a mansão. Parei por um segundo e respirei fundo. Estava completamente ansiosa. Olhei ao redor me certificando de que a casa estava organizada e de que causaria uma boa impressão, já que normalmente era a casa de Júllya, ou quem sabe Bianca, onde nosso grupo ia se encontrar.

Suspirei e caminhei a passos calmos até a porta de entrada, logo que passei por ela pude avistar Jessica, Júllya e Bianca, que já haviam chegado e estavam paradas em frente a minha casa. Sorrio de imediato, contente por perceber que elas vieram, e me dirijo até o portão da frente, por onde eu abro para que minhas amigas possam entrar.

—Olá, meninas - Aceno para elas.

—Oi, Lys!!! - Exclamou Júllya me abraçando com seu sorriso encantador e entusiasmo de sempre.

—Oi, Elisa - Cumprimentaram Jessica e Bianca.

—Então, vamos entrar? - Perguntei dando passagem para permitir que elas entrassem.

Júllya passou a frente, como uma verdadeira líder que ela era, e, assim foi seguida por Bianca, que pude perceber estava usando saltos agulhas rosa choque e puxava duas malas enormes, que eu não fazia ideia do porque já que elas iriam passar apenas uma noite na minha casa. Desviei a atenção delas e me foquei em Jessica, que estava se despedindo de sua mãe, e assim que o fez, caminhou em minha direção sem pressa, quase como se ela tivesse algum receio.

Quando Jessie passou por mim, me virei para fechar o portão quando escuto mais um carro adentrando o terreno da propriedade. Dou meia volta e espero até que Calissa tenha decido do veículo com sua mochila. A loira de cabelos repicados e com mechas verdes sorriu e acenou para mim, vindo em minha direção.

—Olá, Lisa! - Nos cumprimentamos e Calissa passou pela abertura no portão.

Finalmente, me virei e empurrei a porta para fechá-la. Em seguida, caminhei de volta, até a sala de visitas da minha casa. Todos já estavam reunidas, Jú, Bi e Lissa dividiam o maior dos sofás, enquanto Jessie estava sozinha na poltrona, que normalmente era ocupada pelo meu pai quando este não estava na empresa ou no escritório. 

—Vamos para o seu quarto, Lys? - Júllya sugere, com um tom quase como se implorasse.

—Ah, certo - Concordo.

Dessa forma, todas se levantaram e começamos a caminhar até os longos lances de escada que levavam até o corredor do meu quarto, no segundo andar. As três loiras iam a frente, enquanto eu andava mais lentamente com Jessie e lhe apresentava a minha casa, uma vez que ela nunca tinha vindo aqui antes: "Essa é a sala de estar do segundo andar..." , " Esse é um banheiro qualquer...", " Aqui nós temos uma sala para fazer exercícios...", "Cômodos e mais cômodos irrelevantes e... Ah! Meu quarto!". Meu quarto ficava ao lado do de Dylan, meu irmão e o famoso líder dos jogadores de Rugby, e ao qual a porta estava fechada.

Naquele momento, Júllya parou e deslizou a mão de maneira quase sensual na porta ao lado de meu quarto e se voltou em minha direção.

—Hey, Lys, onde está Dylan? Ele está no quarto ou...?

Revirei os olhos. Aquilo era uma reação típica de se acontecer, logicamente porque ela tinha uma certa obsessão por ele, porém não que aquilo fosse estranho, para dizer a verdade fazia muito sentido. Eles eram bastante parecidos: ambos populares, líderes, ricos e egocêntricos. Dylan com certeza fazia parte do "padrão Júllya". 

—Dylan? - Pergunta Jessie.

—É, o meu irmão. 

—Ah... é verdade...

Júllya me olhava impaciente à espera de uma resposta.

—Bem, ele está dormindo.

Assim que a respondi, ela levantou as sobrancelhas e fez uma careta, como se não apreciasse o que ouvira. Então, me virei e abri a porta do meu quarto e nós, finalmente, entramos.

Júllya Bencatel - POV"s

O quarto da Lys era muito lindo. Tudo que ela tinha era. O cômodo era de um tom amarelo ouro bem forte que combinava com tudo que ela possuía no cômodo. Na primeira vez que vim á casa dela e vi essa tinta passei meses procurando-a até me cansar. Nesses momentos eu a odiava. Por que ela tinha que ter algo que eu não tinha?! Ou melhor do que o que eu tinha?! A única coisa que eu não invejava na vida da Lys era o seu irmão gato, porque senão, eu não poderia ficar com ele. O Dylan era o mais perfeito dos garotos. Ele era "o" pacote completo: era bonito, muito (muito) rico, atlético, popular e sabia reconhecer a sua superioridade. Hoje eu iria dormir na mesma casa que ele. Não tem como não rolar nada, e eu estou disposta a dar a minha amizade com Lys em troca.

Jessica Valadares - POV's

Quando entramos no quarto da Lisa eu me senti bem melhor. Talvez não fosse tão ruim dormir algumas noites por lá. A cama dela era se solteiro bem grande, quase não sendo mais de solteiro, e tudo lá era muito caro e chique. Com certeza o orçamento do meu quarto não era nem um quarto do dela. Nos sentamos. Eu na poltrona confortável em forma de boca que ficava perto da mesinha onde ela, provavelmente, usava para estudar, enquanto Bi e Calis sentaram-se na cama e as outras ficaram em pé. Lys parecia nervosa. Provavelmente preocupada com a qualidade do tempo que passaríamos lá.  

—Então... Ficar aqui sentada e tudo mais é legal mas... Vamos falar de algo mais interessante como: garotos! - Esse era o momento em que eu mais vi Júllya animada desde que chegamos.

—Ah, Jú... - Elisa parecia um pouco desconfortável e como se para desviar o assunto, começou a mexer em sua estante de cinco andares de livros, porque como todas sabemos, ela é uma devoradora de livros - Não acho uma boa ideia... 

—Ah, não diga isso, Lys! - Exclamou Júllya - Todo mundo sabe que você ta evitando porque não quer admitir que gosta do... 

Interfone. Infelizmente ela não terminou a frase. Fiquei em dúvida:

—Mas já não chegou todo mundo Lisa?... Você convidou mais alguém?

A porta do quarto de Dylan abre impedindo-a de me responder, pois a tenção de todas se voltou a ele.  Quando Dylan saiu do quarto todas fitavam-no. Ele não pareceu perceber realmente a nossa presença, mas não era como se alguém pudesse ignorá-lo. Ele era simplesmente lindo. Eu nunca o tinha visto tão de perto e depois desse segundo passei a entender muito bem as preocupações e intenções de Júllya com ele. Ele era MA-RA-VI-LHO-SO.

—Meu irmão acordou? Espera... O que ta acontecendo? -  Nesse momento ele já estava descendo as escadas rapidamente. Ele com certeza sabia quem estava tocando o interfone. Fomos atrás dele.

Jibby Roriz - POV's

Assim que Bryan estacionou a moto em frente à casa de Dylan, Keylan vindo com sua bicicleta, apontou na esquina, eu desci e fui em direção do interfone. Toquei uma vez. Duas vezes. A porta se abriu. Provavelmente, nosso amigo estava dormindo ou jogado no quarto antes de vir nos receber. Isso era típico dele. Havíamos marcado de passar a tarde na Mansão Arpini, todos nós do Rugby: Keylan, Bryan e eu. 

—Ei, e aí cara? - Cumprimentei Dylan assim que ele abriu o portão para que pudêssemos entrar.

—E aí, beleza?- Fizemos um toquinho que consistia em bater os punhos cerrados - Entra aí.

Dessa forma, entramos, seguidos de Dylan, e caminhamos todos até a porta de entrada que dava para a sala. E quando adentramos o local, nos deparamos com cinco garotas com os olhos voltados para nós. Um arrepio percorreu a minha espinha quando meu olhar foi de encontro com Calissa: a amiga aventureira e muito bonita de Elisa, todavia ela nem se quer pareceu, realmente, me notar. Seus olhos estavam fixos em Dylan ao meu lado. Mas ao mesmo tempo que eu estava contente por vê-la, também estava confuso: o que elas todas estavam fazendo aqui?

—Dylan, me explica uma coisa: o que está acontecendo? - Elisa cruzou os braços e encarou o irmão à espera de uma resposta.

—Ué Elisa, os garotos vão passar a tarde aqui - Falando a verdade, ele parecia não dar a mínima, ele nem sequer encarou ela.

—O que? Mas as garotas vão dormir aqui! 

—O que eu posso fazer Éli?! Eu marquei com eles desde terça - Na última frase Dylan enfim a olhou nos olhos. Mas continuava não dando a menor importância.

—E eu to falando disso há semanas! - Interviu Elisa dando um passo a frente para ficar mais próxima dele.

—Ah, é verdade... esqueci que era hoje, bem não dá para mandá-los embora agora né! - Ele pegou a mochila do Keylan e já foi saindo do cômodo. A frustração era visível no olhar de Elisa.

Suspirei e dei a volta no cômodo, atrás dos garotos. Quando passei por Calissa, a encarei de relance, sem que ela percebesse e, em seguida, me dirige para as escadas que levavam ao segundo andar e o quarto de Dylan.

Calissa Abreu - POV's

Assim que os meninos deram as costas, Lisa revirou os olhos e se voltou para nós:

—Não acredito que o Dylan fez isso comigo! Arrg! - Ela estava indignada.

—Tá tudo bem, Lisa. A gente não se importa não é meninas? - Jessey tentou consolá-la.

—Hum... quanto mais meninos melhor, certo?! - Júllya solta uma risadinha.

~*~

As horas se passaram rapidamente e com isso, aos poucos, a frustração de Lisa. Agora eram 18:00 horas e estávamos fazendo biscoito de chocolate na cozinha e conversando. Havíamos colocado música e estávamos dançando muito. Todas bem felizes, menos Júllya. Essa parecia impaciente, como se toda a frustração de Lisa tivesse passado para ela. A dona da casa entra no cômodo:

— Oi, meninas! Estão se divertindo bastante?

— Sim! - Dizemos em coro.

— Filhinha, eu preciso ir ao supermercado, sabe? E a nossa casa fica meio fora da cidade então eu vou demorar. Tudo bem para vocês?

— Sim - Em coro de novo.

— Muito bem, soube que essa noite vai chover um pouco. Algo como " nuvens vindas do litoral". De qualquer forma, estou indo. Não deixe seu irmão aprontar, ouviu Elisa?!

— Eu não sou babá dele, mãe.

Luciene pega as chaves do balcão e coloca na bolsa preta de couro e sai em direção a porta.

—Bem, agora que a sua mãe saiu de casa... - Começou a falar, Júlya, mas logo mudou de ideia. Os olhos de Lisa a repreenderam.

Ela pareceu pensativa alguns minutos até que Bianca, provavelmente, para tentar animá-la ou receber sua atenção, se virou para ela:

—Hey, Jú, porque você não coloca a calda nos biscoitos? Estão quase prontos.

A loira concordou com a cabeça e deslizou pelo cômodo até o fogão, então, apanhou a panela com luvas de cozinha e se dirigiu até a bandeja, porém parou de repente decidida e falou:

—Olha, eu... Preciso tomar um pouco de ar - Afirmou e se virou bruscamente em direção a saída, ela parecia ter se esquecido completamente o que estava segurando nas mãos e, acabou colidindo com Jessica e derrubando grande parte da calda em cima dela - Ah, minha nossa!

—Júllya! - Exclamou Elisa, enquanto apanhava um pano de cima da bancada e se dirigia até Jess para ajudá-la a se limpar.

Vendo a situação, Júllya saiu apressadamente para fora do cômodo para a parte externa e sumiu.  Jessie ficou absurdamente chocada. Ela demonstrava aflitamente o desespero em seu rosto. O caldo marrom manchava metade de sua blusa e também seu cabelo. Nesse instante os meninos entraram na cozinha.

—Isso é... Vocês, vocês estão fazendo chocolate? - Pela  primeira vez  desde de manhã a expressão de Dylan parecia realmente interessada em alguma coisa. Até que ele se virou e viu Jessica toda manchada - Minha nossa! O que aconteceu aqui, guerra de comida? - Ele falava com um ar sério, se eu não conhecesse o Dylan, até diria preocupado.

—Não tem graça Dylan! A Júllya derrubou nela - Lisa estava realmente tensa, com certeza não era esse o tipo de festa que ela pensou em ter - Melhor você tomar banho... E trocar de roupa...

— S-iim... - Pela primeira vez Jessie falou algo na confusão.

— A gente te leva - Por fim, falei.

Começa a chover. 

Júllya Bencatel - POV's

Enfim encontro a garagem com o conversível vermelho que Dylan ganhou do avó. Lindo, polido, brilhante e combinando com o meu vestido vermelho que coloquei só para esse momento. Com certeza vai demorar um momento antes das meninas começarem a me procurar o que me dá tempo de tirar muitas fotos e postar no Insta. Com esse carro e muitas insinuações ( coisas como: "por que você está no carro do Dylan?") a minha popularidade vai avançar consideravelmente. Ligo o meu celular e tiro as primeiras fotos. Parece que estava chovendo porque ouvi um barulho estrondoso de um trovão. Posto algumas fotos e continuo tirando outras quando, então...

A luz se apaga.