Naquela manhã ao observar a si mesma no espelho gigantesco, forçou-se a estar ali durante quantos minutos precisasse para entender. Era bonita.

Ela era boa, ela era especial.

Não devia se diminuir por Sam ou Emily, por nenhum membro do seu bando. Forçou-se a estar ali, observando a si mesma até as imperfeições se desfazerem diante dos seus olhos e tornarem-se perfeições. Um cabelo extremamente preto e brilhante. Lábios carnudos e atraentes. Altura proporcional ao seu corpo. A pele cor de oliva que ninguém na reserva tinha, ela sabia.

Naquela manhã tudo mudou. 

Ela sorriria, se não estivesse sobre a pele de sua loba. Podia sentir o vento agitando seus pelos e algumas gotas de chuva começavam a tingir sua visão, mas ela não queria parar.

Nunca se sentiu tão livre.

O casamento acabara de acontecer e ela por orgulho, é verdade, o assistira por completo. Sam e Emily felizes e juntos, fazendo seus votos de matrimônio. Na hora, quis arrancar seu coração e entregá-los a ele como um presente macabro, ainda que soasse dramático, Leah não sabia mais o que fazia com o pedaço de músculo pulsante e cheio de sentimentos. 

Muitos deles negativos demais para seu próprio bem.

E Leah cansara-se de ser negativa. De lamentar o fato de jamais poder ter os próprios filhos ou de jamais ter sua impressão. Não podia mais viver constrangendo sua família com seus acessos de grosseria e precisava se orgulhar de si mesma, não queria mais se constranger para o bando.

O bando do qual jamais fizera realmente parte, todos eles estavam no casamento, sem se importar com sua dor. Mas apesar de tudo, Leah os entendia e agora, os agradecia.

O silêncio em sua cabeça era reconfortante.

Havia deixado uma carta para mãe, mas Sue a interceptara antes que alcançasse a porta, então Leah explicou a ela que precisava de um tempo da reserva, de um tempo longe do bando e principalmente, longe de Sam e Emily.

Leah precisava voltar a amar a si mesma e para isso, precisava estar longe e aprender novamente a andar com as próprias pernas sem ter vergonha de si mesma.

Sue a entendeu melhor do que Leah esperava e por um momento quase vacilou em sua decisão, mas com um impulso da mãe, que a abraçou de uma forma que Leah jamais foi abraçada, Leah se manteve firme, mais ainda quando Sue disse a ela para voltar quando estivesse pronta.

Então, com a benção da mãe, Leah partiu. 

Correu em direção a algum lugar que se definia por lugar nenhum, pela primeira vez, se sentia livre. Criou uma ordem a si mesma: A dor ficaria lá. E quando ela voltasse, tinha fé que ela já teria evaporado. 

Pôde sentir outro lobo se juntando a ela e esperou pelas ofensas, pronta para retrucar como fosse preciso, ainda que tivesse que morder o rabo de algum dos seus irmãos.

— Sou eu Leah. - A voz de Jacob soou poderosa em sua mente, através de ligação viu seu alfa com a expressão abatida e os olhos cansados. Ele estava destruído por Bella Swan, mais uma vez. - Se importa de ter companhia? - Questionou e o seu lobo a encarava de baixo, mas com tanto respeito que Leah se sentiu, pela primeira vez, de fato parte importante de algo.

— Não, não me importo. - Foi sua resposta, soando como uma promessa aos ouvidos do lobo. Não sabiam o que tinham começado ali, mas já teriam descoberto quando retornassem. 

Quando prendeu os cabelos no alto da sua cabeça naquela manhã e sorriu para si mesma no espelho. Leah finalmente entendeu que não precisava de Sam para ser feliz.

Ela sabia que ela era boa, ela bonita e ela era especial.

— Sim. – A voz de Jacob soou em sua mente outra vez, transbordava um sentimento que Leah não soube identificar, mas que gostou. – Você é especial, Leah Clearwater.