Mnemosine escrita por Aleksia Kyle


Capítulo 1
Capítulo 1. Memória


Notas iniciais do capítulo

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Hoje você completa mais uma linda primavera, não é mesmo?

Você nasceu em uma das mais belas estações, fazendo com que ela fosse mais especial ainda para os seus pais.

Ah, pequena Sarada! Se você tivesse visto o que pude ter a honra do que presenciar no momento de seu nascimento, nunca teria tido aquela dúvida. Nunca teria imaginado que não era amada e querida pela sua família e, principalmente, não teria acreditado em nenhuma palavra de Suigetsu.

Toda a cena que se desenrolou diante de meus olhos não conseguirei esquecer em momento algum, mesmo que tenha visto certas coisas por uma perspectiva meio distorcida devido a emoção... eu jamais irei esquecer do carinho, aflição, amor, felicidade que perpassaram durante todas as horas que duraram o seu parto.

Nunca havia os visto daquela forma, tão íntima, tão amorosa, tão particular como os vi naqueles momentos de aflição que perduraram até ouvirem o seu primeiro choro, e a explosão de felicidade estampada no rosto dele, que chegava a ser palpável.

Você deve estar se perguntando o por quê dos momentos de aflição... Sarada... você é uma vitoriosa não só pelos pais que tem, mas sim pela força de vontade de viver. Se não fosse tão forte com certeza não estaria lendo esta carta, graças a Kami-sama, você é uma lutadora como a sua mãe, que não deixa nada a ultrapassar.

Sarada, quer ouvir um pouquinho sobre a história dos seus pais e assim a sua história? A história da sua vinda a este mundo?

 

Antes de Konoha retirar a vigilância de Orochimaru, o antigo time Taka cuidava de todos os esconderijos com medo de que alguém os encontrasse e utilizasse o conhecimento que havia em cada um deles para moldar uma nova guerra. Saímos da Quarta Guerra completamente destruídos, mas sabe, há mentes que desejavam uma nova.

Vivíamos em constante mudança, sempre protegendo e cuidando da segurança desses locais. Suigetsu e Juugo estavam mais ao sul do país, enquanto eu cuidava do posto avançado mais próximo de Konoha e foi ali que você nasceu, Sarada.

Senti três diferentes chakras se aproximando do esconderijo. Sim, cada um deles eram diferentes, dois tinham leituras muito parecidas com chakras que já havia sentido, mas não consegui identificá-los e por isso os considerei perigosos, junto com o terceiro que oscilava a cada minuto. Ocultei o meu próprio e me preparei para atacar quem quer que fosse, mas assim que o genjutsu que havia colocado na entrada da caverna se desfez e finalmente visualizei os meus oponentes, todo o meu ser gelou.

Eu me encontrava totalmente estática com aquela visão e só despertei ao ouvi-la.

— Contrações de 15 em 15 minutos, Karin, não vou... conseguir fazer o parto sozinha e... acho que o Sasuke também não...

A respiração dela era entrecortada com suspiros fortes de dores. Como ela estava sentindo dor, Sarada. Mas... percebi que ela estava feliz!

A voz cansada dela e a cara de desespero do seu pai, por não saber como agir diante da situação me fizeram rir, como ri naquela hora. O mundo dá voltas de maneira tão cruel, pequena Sarada.

Há muito tempo tive uma paixonite aguda por seu pai e ele nunca a correspondeu, quando conheci Sakura pude entender o porquê, mas não quis acreditar o que estava diante de meus olhos. Sasuke nunca iria me ver como mulher, eu era apenas um meio de conseguir a vingança que ele foi levado a sonhar, pois para ele só haveria uma única pessoa capaz de acalmar a alma perturbada dele e era a sua mãe. Sempre foi ela e sempre será ela. E ali estava eu, prestes a trazer ao mundo a filha da minha paixonite e daquela que ele amou em segredo durante anos, até mesmo de si.

— Se ficar parado com essa cara a tua filha vai nascer nos teus pés, Sasuke. Traga-a logo para dentro.

Quando falei que era uma menina, os olhos negros do seu pai brilharam de uma forma que nunca havia visto, Sarada, quase pude crer que ele estava prestes a chorar de emoção, mas a ideia de que você nascesse nos pés dele o fez pegar Sakura no colo e sair em disparada para dentro de um dos alojamentos da área médica da caverna, arrancando risos de mim e uma estridente gargalhada de Sakura.

Enquanto preparava tudo o que era necessário para o parto, via todo o cuidado dele com ela. Ah, Sarada! Como pode imaginar que seus pais fossem uma farsa? Como?

— Como sabe que é uma menina?

— As linhas de chakra dela...

— Pode ser de um menino...

— Por favor, Sakura! Você também sabe que é uma menina, pelo menos há uns dois ou três meses.

— Você sabia?

— É... achei que você não fosse gostar...

— Ela é a nossa filha, como não iria gostar?

— Não é um menino... logo... a restauraç...

— Foda-se o clã!

Quando o ouvi falar que pouco se importava com o clã, parei no mesmo instante de mexer nos instrumentos que precisaria caso fosse necessário uma cesariana. Quase caí para trás ao ouvi-lo proferir aquelas palavras e se Sakura não estivesse deitada, com toda a certeza que teria sido da mesma forma.

— Ela é nossa filha! Ela é uma parte de nós dois e nunca pense al...

Sasuke não terminou sua linha de raciocínio. Sakura deu um dos maiores gritos que já havia ouvido dela, desde que chegou. As contrações haviam aumentado.

Ninguém mais falou nada, apenas comecei a fazer o que devia ser feito... te trazer ao mundo, mas as coisas não saíram como desejávamos.

— Droga!

— O que houve?

— Não aguento mais!

— Não acredito que aquela cobra velha não tenha uma ultrassom!

— O que está acontecendo, Karin?

— Cala a boca, Sasuke! Preciso pensar!

— Karin... ela... ela não tá...

— É, Sakura, ela não tá virada! Vou ter que fazer uma cesariana...

— Não!

— Sakura, se eu não fizer a sua filha nem nascer vai e outra, vou ter que te cortar de toda forma pra tirar o feto morto de dentro.

— Não! Não quero uma cesariana, Karin!

— Droga, Sakura! Você é médica, sabe o quanto essa sua decisão é perigosa?

— Você pode virá-la...

— O quê? Sem chances!

— Confio em você, Karin, eu sei que pode.

— É arriscado...

— Por favor...

— Mesmo assim preciso de um ultrassom e caso eu não consiga, tem que prometer que vai me deixar fazer a cesariana.

— Sasuke pode usar os olhos como ultra... e eu quero que tente, Karin...

— Olhos???

— É papai, você vai me ajudar usando os seus olhos para ver se a tua filha finalmente ficou em posição para o parto...

Sabe, Sarada, naquele momento percebi a má influência que Sasuke infligia nas pessoas. Sakura só poderia estar insana ao se negar a cesariana e recorrer àquela técnica que nem 100% eficaz era, tinha que ser a decisão de alguém perturbado. Mas quem eu era ali? Nada mais nada menos do que aquela que ajudaria Sakura no parto e bom, como uma boa tola deveria obedecer à mamãe de primeira viagem.

Já havia visto minha mãe virando um bebê, o que me fez recordar dos ensinamentos que tão pequena tive com ela. A versão cefálica externa se consiste em virar dentro da barriga da mãe o bebê que se encontra sentado, ou seja, com a cabeça para cima, com o objetivo que ele fique em virado em posição propícia para o parto normal.

Todo esse mecanismo deve ser feito com a ajuda de um ultrassom, onde eu deveria verificar o teu cordão umbilical e a placenta, além teu batimento cardíaco, mas tive que contar apenas com os olhos do Sasuke e apenas para saber se havia conseguido te virar. Era um tiro no escuro, mas que no final deu certo.

Depois de duas tentativas, Sasuke gritou dizendo que havia virado. Logo em seguida, Sakura começou a botar força novamente para que o parto prosseguisse, ela estava exausta. Os gritos de que não iria conseguir haviam aumentado... até a hora em que consegui te ver coroando e a avisei. As forças aumentaram, Sasuke apertava a mão dela com mais vontade enquanto tentava acalmá-la com palavras que nunca imaginei o ouvir proferindo.

Quando finalmente consegui te tirar, o desespero tomou conta de mim. O cordão umbilical estava em volta do teu pescoço e você não chorava, Sarada. Em meio aos pedidos de Sakura para te ver o quanto antes eu gritava com Sasuke para que ele cortasse logo o cordão que te ligava a ela e para que assim pudesse ver o motivo de não haver choro.

— Droga!

— O que houve, Karin? Por que ela não chora?

— Karin... eu quero vê-la...

— Não!

— Karin!

— Preciso aspirá-la primeiro, tem mecônio nas vias aéreas dela...

— O quê?

— Não...

O meu desespero foi transpassado pra ela em níveis altíssimos, Sarada.

Enquanto limpava as tuas vias aéreas, Sakura e Sasuke morriam aos poucos, ela chorava copiosamente e tudo o que eu pensava enquanto cuidava de você é que não iria te perder, não iria de forma alguma destruir aquela família que estava se formando. E quando finalmente você chorou e começou a ficar rosada igual aos cabelos dela, percebi que não havia mais motivos para receios, mágoas, raiva, ciúmes entre nós. E você era o motivo de tudo isso.

Quando te entreguei a Sakura, meus olhos estavam turvos de lágrimas. Sim, eu estava chorando igual aos seus pais, eu não sabia se era por felicidade de ter te ajudar a vir ao mundo junto com a Sakura ou por estranheza em ver Sasuke chorando como se fosse uma criança.

Você era tão indefesa, Sarada, e ali eu via os seus pais tão indefesos quanto você, jurando te proteger de tudo e todos. Prometendo que o amor deles seria perpassado pelas futuras gerações através do das pequenas gotas do óleo que reacenderam as chamadas do que um dia foi um grande clã.

Enquanto eles brincavam com você comecei a limpar o quarto para que vocês ficassem os mais confortáveis possíveis e acabei guardando parte do seu cordão umbilical. Sim, o famigerado teste que Suigetsu fez foi com o teu próprio material genético e o de Sakura e não o meu.

Pode-se passar anos, pequena Sarada, mas nunca esquecerei aquele momento. Ele sempre vai ficar guardado em minha mais profunda memória e terei o maior carinho para relembrá-lo.

Dias após o parto, Sakura e eu começamos a fazer testes em você para saber se o parto complicado não teria te deixado com nenhuma sequela, e foi durante um deles que descobrimos que você teria problemas de visão. Durante uma de minhas visitas àquele posto avançado te dei o primeiro par de óculos, quase tão parecido com o meu. Queria que você tivesse algo que fosse ligado a mim e Sakura riu, pois achou que havíamos ficado parecidas.

Nunca seríamos parecidas, Sarada, nem mesmo se eu quisesse. Você é a mistura perfeita entre Sakura e Sasuke e ninguém pode duvidar disso, nem mesmo você.

Infelizmente, mais uma vez não posso estar com você nesse dia, mas espero que receba essa carta e o meu presente como um pedido de desculpas pela besteira que Suigetsu a fez crer. Sim, é um novo par de óculos, espero que goste.

Saiba que você é o maior presente de aniversário da tua mãe, a razão de vida do teu pai e o raio de sol da madrinha desnaturada que só sabe dar presentes e cartas, mas nunca um abraço apertado, depois que está grande.

Sempre estará em minha memória, Sarada.

Feliz aniversário!

De sua madrinha louca,

Karin Uzumaki


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Notas finais do capítulo

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