Intrinsically escrita por Jay L


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Muito obrigada pelos comentários no capítulo anterior, isso deixa uma escritora feliz e é sempre bom saber como a história está sendo recebida.
Particularmente eu amei escrever esse capítulo de agora, boa leitura :D



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— Aonde você e Peeta vão? – indagou Madge.

Na sexta à tarde, Katniss, Annie e Madge estavam na casa da morena, era seu dia de folga do supermercado. Procurava uma roupa adequada para a ocasião desconhecida de mais tarde. Arrastou os cabides na arara do guarda-roupa e analisou o que tinha.

— Ele não disse. - respondeu - Hoje de manhã, quando perguntei, recusou-se a dizer.

— Gale também não falou aonde iríamos quando saímos pela primeira vez. - nostalgicamente, Madge comentou - Fomos ao show do Of Monsters And Mens. Foi incrível! - animada, concluiu.

Annie se remexeu na cama e inspirou.

— Finnick e eu fomos a esse show.

Katniss puxou uma calça jeans vintage que ganhara do pai no ano passado e uma blusa simples de algodão. Pôs as mãos na cintura e, satisfeita com a escolha, acenou com a cabeça.  Estava muito ansiosa com o por vir. No dia da excursão, quando Peeta ousadamente a convidou na frente de todos, ponderou desaceitar, mas deu para trás enquanto visitava a casa de chá japonesa e o palácio chinês com ele. A quem queria enganar? Seu coração desejava passar por tal experiência.

No dia seguinte, Peeta a interceptou na escola e lhe pediu o número do celular. Katniss esqueceu por um segundo do porquê do pedido, até Peeta falar que precisava entrar em contato para o encontro que teriam. Ela riu sem graça, trocaram os números e o observou ir embora em seu All Star branco.

Buscar-lhe-ia por volta das 18h, já que, segundo Peeta, para os planos que possuía em mente, tinham que aproveitar bem a noite. Perguntou a ele que estilo de roupa usar, o qual respondeu com um "qualquer uma que lhe deixe confortável está bom". Um tanto evasivo para uma mulher, mas teria que servir.

Katniss puxou o celular do bolso da calça e verificou as horas, faltava quarenta minutos para as 18h, tinha tempo suficiente de se aprontar. Havia sido uma guerra fazer Annie desistir da ideia de lhe arrumar. Katniss sabia que a amiga a veria como uma boneca a ser vestida, pintada, cutucada e o que mais quisesse. De vez em quando, permitia que Annie treinasse maquiagens e penteados nela, mas não naquele dia, queria parecer o máximo consigo mesma.

Deixando as meninas no quarto, tomou banho e prendeu os cabelos numa trança comprida e casual que descia pelos ombros. Vendo o próprio reflexo no espelho embaçado do banheiro, ponderou o que fazer com o rosto. Os olhos sem graça pediam por realce, as bochechas rechonchudas de criança avermelhadas pelo vapor do banho, os lábios sem cor. Optou apenas por um batom rosado.

De volta ao quarto, Annie, meio desaprovando a posição tão minimalista dela, abria a boca preparada para contestar.

— Sei o que vai dizer, mas não. Recuso-me a usar maquiagem, sabe o quanto me incomoda. – erguendo a mão, a morena a impediu de falar.

            - Katniss, vá como se sentir melhor. Você é tão bonita, perceba-se. – Madge disse, o que arrancou um sorriso nada convencido de Katniss.

            - Ei, não quis dizer que não é bonita. Mas o que custa realçar o que tem de belo? – na defensiva, Annie falou – Tudo bem, faça como achar melhor.

            - Annie, longe de mim tentar impressionar alguém. Nem conseguiria se tentasse! – cansada, Katniss abriu os braços - Estou bem assim. Se Peeta for o cara legal que acho que é, não ligará para algo tão trivial quanto a falta de um rímel.

            Os olhos de Annie brilharam surpresos e contentes.

            - São nesses momentos que percebo que a aprendiz está superando a mestra. Isso foi muito feminista. – disse rindo e as meninas a acompanharam.

            Katniss vestiu a roupa separada e escolheu usar seu bom e velho All Star. Pronta, foi para a varanda, Annie e Madge em seu encalço. Haymitch apareceu na sala comendo salgadinhos numa tigela, ergueu a sobrancelha ao ver Katniss arrumada e sentou-se no sofá. Um dia atrás, quando a moça lhe pediu permissão para sair, Haymitch soube na mesma hora com quem seria. Não tinha objeções quanto a Peeta, na verdade, apreciou a forma que o garoto lidou com a filha até então, exceto a parte do quase beijo na cozinha. Aquilo era impagável.

As palmas das mãos de Katniss suaram. Esfregou-as no jeans da calça e olhou para as amigas. Incentivando-a, sorriram e deram um sinal de positivo com o polegar antes de irem embora.

— Divirta-se, Docinho. Mas não tanto. – Haymitch advertiu sem desgrudar a atenção da TV, a boca cheia de salgadinhos.

Sentada no primeiro degrau da varanda, esperou por Peeta. Dentro de cinco minutos, surgiu um Corcel 72 preto no meio fio. O vidro foi baixado e ela viu Peeta ao volante. Katniss poderia ser uma garota do século vinte em sua roupa vintage e ele o cara legal que a leva à lanchonete com mesas e bancos estofados em cabines vermelhas e caixas de som do tipo jukebox, nas quais as garçonetes, sempre sorridentes, anotam os pedidos e conquistam as pessoas com seu carisma.

De óculos escuros, o loiro sorriu e acenou. Numa mania infantil que tinha, Katniss correu até o carro. Ela não sabia que Peeta achara uma graça a forma como as bochechas cheias afogueavam mediante o calor do breve exercício.

— Oi. - ele cumprimentou e suspendeu o óculos.

— Oi. - gentilmente respondeu.

— Oi. - uma terceira voz disse.

Katniss se virou para trás e Peeta fechou a cara, por um segundo esquecera-se da pessoa que trazia. Um rapaz estava no banco de trás, o semblante divertido. Nem os cabelos escuros e os olhos castanho claro escondiam a inegável semelhança entre ele e o loiro da frente.

— Katniss, se não se importa, faremos uma parada. – visivelmente desconfortável, manifestou Peeta - Este é Andrew, meu irmão caçula. Devo levá-lo ao trabalho hoje.

Nervosa, retorceu os dedos.

— Não será incômodo algum.

Andrew estendeu a mão. Atônita, Katniss aceitou o cumprimento.

— Prazer, Katniss, me chame de Drew.

— Olá, Drew.

Peeta deu a partida e seguiram caminho.

— Aonde vão? - Drew perguntou.

Num aviso claro de que não interagisse, Peeta o censurou pelo retrovisor. A situação era estranha o suficiente por si só sem a intromissão dele.

— Não é da sua conta. - revidou o irmão.

Distraída, Katniss tocava sua trança. A partir do questionamento, voltou -se para Peeta e falou zombeteira:

— Eis o mistério que nos aflige.

— Lamento por ter conhecido o Mellark errado. Sou bem mais legal e interessante. - galanteou o caçula.

Duvido muito, pensou Katniss rindo.

— Mais irresponsável, mais folgado e mais insuportável também. - alfinetou o primogênito.

— Caso seu irmão não seja tão ruim assim, - brincou ela recordando da conversa no Museu. Peeta sorriu de esguelha - quem sabe?

**

— Tchau, Katniss. - saindo do carro, despediu -se Drew - Se Peeta for uma decepção, estou a seu dispor.

A garota riu pelo nariz.

— Lembrarei disso.

— Valeu pela carona. - Andrew falou a Peeta.

— De nada.

Enquanto andava à farmácia que trabalhava, o caçula acenou. Peeta mostrou o dedo do meio ao irmão e deu partida.

— Gostei de Andrew. - Katniss falou.

Peeta maneou a cabeça e pôs o óculos na gola da camisa.

— É... Ele sabe ser legal quando quer.

O garoto dirigiu por mais duas quadras até parar em frente a um parque de diversões. As cores coloridas e vibrantes espelharam nos olhos de Katniss, que já ria feito criança. Peeta puxou o freio de mão e desligou o carro.

— Chegamos.

Contente, Katniss abriu a porta. Adorava parques de diversões. Havia dias que ela e os amigos programavam de ir e conferir as novidades da temporada, jamais dando certo.

— Vejo que gosta de parques. - Peeta disse animado.

Ela olhou ao redor, o sorriso de orelha a orelha. Estava se segurando para não puxa-lo pela mão e correr parque adentro.

— Você não imagina o quanto! Como soube?

— Um cara não revela seus segredos de conquista, Katniss. – convencido, exprimiu.

Dando vez ao impulso, agarrou a mão de Peeta e o conduziu. Ele ficou meio hipnotizado com a atitude, encantado demais para impedi-la. Deixou -se ser levado e, de repente, corriam aos risos por entre as pessoas até a bilheteria.

Peeta comprou quantos ingressos pôde e partiram para a aventura, dois jovens tomados pela inocência da situação. Receberam caras feias e olhares de reprovação de gente mais velha por correrem como crianças travessas, todavia, pouco se importavam ou notavam.

Durante a espera na fila da montanha-russa, ali, debaixo das luzes coloridas e ofuscantes, Peeta aparentava ser mais belo do que de fato era, e Katniss quis beijá-lo mais uma vez, cobrir com os lábios os focos coloridos que lhe atingiam a face. Sem coragem para tanto, contentou-se em encurtar a distância entre eles e depositou um beijo rápido em sua bochecha. Peeta mirou-a e sorriu, segurando a mão dela até se acomodarem no brinquedo. Katniss não se incomodou com a palma da mão suada, pois as batidas do coração desgovernado ganhavam toda sua atenção.

**

— Não acredito que você gosta de Cindy Lauper! – gargalhando, exclamou Katniss.

Peeta jogou um milho da pipoca que comiam no cabelo dela, também gargalhando.

— Dê-me algum crédito. Lauper é demais, um dos maiores ícones femininos do rock dos anos oitenta.

— Ela é tão, sei lá, óbvia.

O loiro recomeçou a pedalar.

Após duas voltas na montanha russa, uma negociação de dez dólares a mais com o dono de um pula-pula para que pulassem na cama elástica que, tecnicamente, só aceitava crianças de até doze anos, algo que rendeu pais revoltados porque jovens quase adultos impediram os filhos de brincar, uma partida de just dance (em que Katniss foi uma negação, mas se divertiu dançando), uma volta no Chairoplane e em outros brinquedos cabulosos e legais, andavam no pedalinho aquático de cisne no lago do parque.

— Tudo bem, garota nada óbvia, surpreenda-me – desafiou.

Katniss mexeu na trança e pensou no assunto.

— The Beach Boys.

Peeta balançou a cabeça em negação e retorceu o rosto num misto de riso e decepção fingida.

— É pior do que imaginei.

— Além da icônica Cindy Lauper, do que mais você gosta?

— De você. – soltou com os olhos voltados para frente.

A garota o empurrou de leve, ignorando o calor que sentiu no peito.

— Você entendeu, Peeta.

Ele se fez de desentendido e tirou o celular e um fone de ouvido do bolso da calça jeans. Ofereceu um lado para Katniss e pôs o outro na própria orelha. Katniss o assistiu passar pelas playslists do Spotify até uma música do New Order, “Age of Consent”. A alegre e envolvente melodia inicial do baixo a envolveu, depois veio a bateria, o teclado e a guitarra, a junção perfeita e contagiante.

Nessa descoberta musical, Katniss aprendeu que Peeta curtia Joy Division e Coldplay, igualmente, frisou ele. Ela tentou fazê-lo escolher, pois, para Katniss, você tinha que ter um preferido. Nada reticente, Peeta alegou que algumas coisas são o que são. Katniss o apresentou ao mundo indie e folk que amava, a Vance Joy e Austin Basham. Descobriram que ambos ouviam Queen e era de comum acordo ser a melhor banda de rock nascida na década de 70.

Ao longe, o sol dava adeus a mais um dia, a lua ganhava forma no céu e, enquanto pedalavam sobre as águas, Katniss Everdeen começava a se apaixonar por Peeta Mellark.

**

Peeta falava sério quanto a aproveitar o tempo. Por volta das oito horas da noite, foram ao Fairmont Park, para o cinema ao ar livre que acontecia lá.

A família de Katniss mantinha o costume de mensalmente ir ao evento. Mesmo após a partida de Effie, Haymitch e a filha frequentavam o parque, compravam cachorro-quente e sentavam na grama para ver o filme nada inédito da vez. Com o tempo, não houve mais o programa. Em virtude disso, Katniss não visitava o Open-Air Movie há cinco anos. A constatação a fez murchar, pois as lembranças muito vivas faiscavam na mente. A mesma tela imensa com cavaletes de anúncio espalhados pela grama, os food trucks por perto, as famílias empoleiradas em esteiras, mantas e cadeiras dobráveis, tudo igual, exceto pelo fato de que ela estava na companhia de um garoto bom, legal e interessante. Negava-se a deixar o passado interferir na centelha de felicidade que a ela foi concedida.

— Algum problema? – Peeta questionou deixando sobre a grama o refrigerante e os hambúrgueres comprados.

Katniss brincou com o desfiado da manta debaixo deles e balançou a cabeça. Não queria entrar no assunto e vê-lo ter a reação que a maioria das pessoas tinham ao saber da mãe desnaturada, a reação de pena. Não era assunto para o momento, talvez para nunca. Jamais teria forma menos penosa de contar que a própria mãe, a única pessoa suposta e geneticamente pré-disposta a amá-la, a deixou.

Para dar maior credibilidade à resposta, Katniss sorriu. Foi fácil fazê-lo, já que, indubitavelmente, estava feliz. O convite para sair ocupou sua cabeça pelos dias até então, o que ofuscou o bilhete de Effie, consequentemente a impedindo de entrar numa nova crise de ansiedade.

Sendo franca consigo mesma, com a iminência do encontro, a ansiedade desfrutada desde dois dias atrás foi nova e bem-vinda, plantava esperança, não angústia. Quando comentou com Annie o que sentia, a ruiva deu nome aos bois, “Isso se chama ansiedade, Kat. É normal, você está ansiosa para sair com Peeta”, ela dissera. Ansiosa, pela primeira vez na vida gostou de ser associada ao adjetivo.

— Fazia muito tempo que não vinha ao Open-Air Cinema. – comentou – Gostei do retorno.

Peeta ia dizer algo, mas a abertura do filme o interrompeu. Os dois deixaram as conversas de lado, por enquanto, e se deixaram levar pela onda musical, alegre e agitada de "Em Ritmo de Fuga". Katniss podia se acostumar a isso novamente.

Andrew que lhe perdoasse, mas não haveria Mellark melhor para se conhecer do que Peeta.

 


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Notas finais do capítulo

Comentem, pleaaasee
Beijo no coração ♥



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