Naruto nunca se sentia tão fraco quanto nos momentos em que sua esposa chorava. Não era um acontecimento recorrente. De fato, Hinata quase nunca chorava e ele moveria o céu e o inferno se fosse preciso para que não acontecesse, mas, às vezes nem a sua vontade de fogo podia impedir tal acontecimento. Era por isso que ele odiava uma data em especial.

Ele se lembrava da primeira vez, foi logo depois do funeral no qual ele havia segurado a mão dela e a acompanhado silenciosamente até em casa, pisando nas pegadas de um homem que não estava mais ali, que nunca mais estaria. Ela não havia dito nada até pararem em frente às portas altas e brancas.  Ele também não sabia o que dizer. Em todo seu repertório, não havia nada que pudesse preencher o vazio entre os dois naquele momento. Naquele tempo, ele não sabia ainda o que sentia em relação a ela, mas a ideia de deixá-la lhe parecia algo absurdo, o ofendia de uma forma que ele nunca havia sentido antes. Então eles ficaram lá, ela não entrando e ele sem saber o que fazer, como agir. A mão dele formigava sentindo falta do calor da dela.

Então ele escutou os sons que partiram seu coração, eram baixos e desesperados, Naruto levou alguns momentos antes de se dar conta, com horror, de que eles vinham de Hinata. Tomado de enorme sentimento, ele a abraçou e deixou que ela soluçasse em seus braços.

— Ele me a-amava, não amava? P-porque mais ele faria a-aquilo? – ela fungou e ergueu os olhos para ele, embora ele sentisse que ela tivesse dizendo aquelas coisas mais para si mesma. — Todo aquele tempo... E eu não tinha sequer notado. C-como eu pude?

Ele não havia se dado conta antes dela proferir aquelas palavras, mas fazia sentido, pessoas não dão a própria vida por outro motivo. Era em momentos como aquele que Naruto se sentia tão alienado do amor quanto no dia em que Sasuke havia lhe dito que ele nunca o entenderia. Mas agora ele sabia. O amor era algo cheio de sacrifícios, era algo duro, algo que você tem que suportar. Ele pensou em seus pais, ele pensou em Sakura e, por fim, em Sasuke de novo e em como suas vidas foram para sempre modificadas por aquele sentimento arrebatador. Ele via o amor marcando Hinata agora também e aquilo o assustava, ele queria poder protegê-la de alguma forma, mas ele sabia ser impossível. Hinata já havia sido marcada pelo amor há muito tempo e, de certa forma, o amor dela havia deixado uma marca nele também.

Ele a beijou na testa, as lágrimas dela manchavam sua camisa. Ele sabia que não havia nada que ele pudesse dizer que amenizasse a dor e o remorso que ela sentia agora, afinal, não havia tanto tempo que ele havia passado pela exata mesma situação e ele não tinha encarado muito bem.

Agora que ele sabia o quanto ela era importante, o quanto ele a amava, ele pelo menos podia ficar aliviado com o fato de havia tido uma segunda chance com Hinata e, ao mesmo tempo em que ele desejava que ela pudesse sentir do alívio que ele sentia em tê-la tão viva e tão próxima, ele temia o desfecho daquela história se a ela também fosse dada a mesma chance. Afinal, como competir com um amor daquele tamanho?

Então, quando, sem erro, naquela data ele a encontrava derramando lágrimas em silêncio, Naruto somente a abraçava e agradecia ao homem que a havia amado tanto que havia dado sua vida para que ela pudesse estar ali em seus braços.