Raptada escrita por Jupiter rousse


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Será que ainda tem alguma alma perdida aqui? Puxa eu espero que sim, nos vemos nas notas finais queridxs :)



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Atena tinha passado tanto tempo fechada entre as quatro paredes daquele minúsculo calabouço que a luz do sol machucava seus olhos. Foi quase inevitável que a imagem de Apolo cantarolando pelo Olimpo surgisse em sua mente, em dias de sol como aquele, sabia que seu irmão estava de bom humor com seu tom infantil e implicante. Apesar de irritante, Atena gostava bastante do irmão, por vezes conseguia se divertir com as discussões entre ele e Ártemis. Atena gostava desse Apolo cheio de energia e radiante que tão pouco parecia o mesmo de semblante sério com mira afiada e certeira deixando corpos caídos no chão que passava. A guerra deixava marcas em todos e essa era uma lição valiosa que Atena jamais iria esquecer. Foi arrancada de suas lembranças pelo barulho de Poseidon limpando a garganta poucos metros na frente dela, com desconfiança e todos os seus sentidos aguçados Atena o seguiu com a postura impassível e olhos atentos. 

— Acredito que podemos concordar que não começamos com o pé direito - o deus tinha o olhar longe enquanto andava a sua frente, evitava contato visual e Atena notou que ele não parecia muito confortável com a ideia de deixá-la solta,  mas por algum motivo decidiu que faria… por que? - De qualquer forma, seja bem-vinda ao Achlys. Como eu disse, não pretendo te manter presa mas não hesitarei em fazê-lo caso necessário… Para isso tenho algumas regras bem simples, minha cabine pessoal é fora de limites, você não deve em hipótese alguma tentar algo novamente contra qualquer membro da minha tripulação, acredite eu saberei. Obviamente deve ter percebido que o navio está cheio de encantamentos bastante poderosos o que vai te dar certos limites e creio que eu não precise explicar para a deusa da sabedoria que pensar em fugir é absolutamente perda de tempo.

Atena detestava a soberba com que ele falava. Claro, deuses serem egocêntricos e arrogantes era quase uma premissa irrevogável, mas o tom petulante dele beirava o insuportável. É claro que a deusa já havia sentido a presença dos encantamentos, claramente eram muito fortes e faziam parte de magias antigas que poucos tinham conhecimento sobre. O barco era grande demais para não se suspeitar de magia em sua construção, encantamentos de proteção e ocultamento também eram um tanto autoevidentes

“Te dar certos limites”, como eu suspeitava… eu não teria demorado tanto tempo para curar de meus ferimentos se tivesse em minha forma perfeita, meus poderes estão mesmo enfraquecidos. Só os meus, a essência que exala dele ainda é insuportável… tão forte quanto a do meu pai.

Poseidon era consideravelmente mais alto que ela, a blusa branca de algodão que usava era um tanto folgada e balançava conforme os ventos fortes que batiam no convés, ainda assim era possível ver que suas costas eram fortes e seus ombros largos. Enquanto o seguia, Atena pensava em como era estranho que, apesar de todos os mortais ali demonstrarem respeito por ele, acenando com a cabeça conforme ele passava, nenhum deles deixava de lado seus afazeres. A deusa já havia pensado mais vezes do que gostaria de admitir como os mortais reagiriam em sua presença e desconfiava que jamais a tratariam com normalidade, mas ninguém ali se surpreendia com Poseidon, aqueles mortais estavam acostumados com ele. 

— Você pretende responder alguma das minhas perguntas? 

 

Atena não pode ouvir com clareza, mas tinha quase certeza que ele tinha rido baixo. 

— Não achei que a deusa da sabedoria fosse gostar de conversa afiada - ele não se virou para respondê-la, apenas subiu as escadas com a certeza de que Atena o seguia. Ora como se eu tivesse escolha, hmpf. que deus petulante.

— E posso saber de que forma minha pergunta foi conversa afiada?

— Ora, costuma fazer perguntas sabendo a resposta delas? - quando Poseidon terminou de subir as escadas, em um dos pontos altos do navio, abriu espaço para que Atena se apoiasse na sacada a seu lado.

Poseidon, ainda de costas, não tinha como ver a expressão enfurecida dela, sua boca apertada numa finíssima linha, o rosto queimando acalorado nas bochechas e os olhos de águia estreitos. Não suportava ser tratada como idiota. 

— Costuma desviar das perguntas com outras ou apenas está tentando ganhar tempo para pensar nas suas próximas palavras? - subiu os dois últimos degraus que faltavam para alcançá-lo - Bom, suponho que não seria diferente de todos aqui, pisando em ovos com medo de falar demais… 

 

Atena ficou feliz que conseguiu dar sua resposta atravessada antes de encarar a vista a sua frente que nitidamente a deixou sem ar. Nunca havia visto nada parecido com aquilo, a linha do horizonte tão nítida e ainda sim tão distante, as águas de tom azul esverdeado tão calmas sob a proa do navio reluzindo com um brilho diferente de tudo que a deusa conhecia. A sensação inexplicável que não tinha nada a sua volta, que ninguém podia encontrá-la ali, sentiu-se só pela primeira vez com uma calma que nunca tinha experimentado. Era ridículo, pois quem em tempos de guerra se sentiria assim? Estava o tempo todo sozinha no Olimpo, mas nunca estava de fato só. Quando menos esperasse sempre tinha alguém para despertá-la de seus devaneios, sempre tinha alguma tarefa a cumprir, algum lugar que precisava estar, sempre estava em alerta pois a qualquer momento alguma coisa poderia dar errado. Nunca havia visto o mar de tão perto e jamais sonhou em imaginar algo tão bonito assim.

 

Poseidon tinha se virado para ela pela primeira vez pronto para começar uma nova discussão com seu temperamento explosivo. Ora medo? Quem ela pensa que é di immortales! Mas sentiu as palavras entalarem na boca quando viu a expressão no rosto da deusa. Era até mesmo difícil explicar como sabia que ela havia prendido a respiração, que suas sobrancelhas levantaram tão alto e seus olhos cinzas encheram de alguma emoção que ele não soube nomear. Durou apenas um segundo, o suficiente para que ficasse intrigado, mas assim como veio, aquele pingo de humanidade desvaneceu e a postura rígida, o nariz em pé e os olhos frios a tomaram como se nunca houvessem a deixado. O deus sacudiu a cabeça estreitando os olhos para ela. 

— Medo? Por que eu teria medo de uma deusa claramente menos forte que eu cercada pelos meus domínios? - arqueou a sobrancelha como se a desafiasse a responder.

Touché, primeiro você vai aprender a não me subestimar Poseidon.

— Ora, faça me o favor nem tudo se resume a força. Não precisa ser nenhum gênio para saber que obviamente você tem milhares de segredos para esconder Poseidon. A última vez que ouvi as coisas não iam nada bem com Oceano e ainda assim aqui está você alheio ao seu reino sendo destruído, esses mortais parecem um tanto comum longe de serem grandes guerreiros mas é com eles que passa seu tempo... com exceção de três a quatro sentinelas que rondam o convés poucas armas circulam aqui, você confia na mortal de cabelos vermelhos como sua segunda no comando e por algum motivo foi bastante arriscado a sua ausência nesses três últimos dias… - sua voz era fria e pausada, ficava nítido o quanto ela estava saboreando cada acusação - devo continuar? 

 

De forma alguma Poseidon deixaria transparecer o quanto ele estava assustado com o estrago que ela foi capaz de observar em tão pouco tempo, estava trancada em uma cela pelo amor dos deuses! Mas, para o azar dela, manter a expressão neutra e inelegível era uma arte que ele teve dezenas de anos para aperfeiçoar. O sorriso debochado surgiu em seu rosto com tanta facilidade como o ar que entrava em seus pulmões, sempre achou sua displicência uma de suas melhores características. 

— Parece que já tem muito para se entreter não é mesmo? - ele desencostou da sacada de madeira se encaminhando para as escadas que subiram poucos minutos antes - Detestaria que ficasse entediada em minha companhia Atena… - estalou a língua no céu da boca antes de continuar com uma dose extra de sarcasmo - Se bem que pela forma com que estava olhando o mar agora a pouco duvido que seja o caso, mas não fique tímida por minha causa, vou te dar privacidade agora.

 

Com alguns passo largos Poseidon já havia descido a escada deixando uma Atena extremamente constrangida, vermelha e de punhos cerrados para trás. O sorriso largo no rosto do deus deixava bem claro seu nível de satisfeito. 

— Ah, a propósito o jantar é servido as sete, alguém vai te mostrar o caminho até o refeitório! - e assim desapareceu de vista naquele navio gigantesco deixando-a a sós, somente com o silêncio como resposta as mil perguntas que queria tanto sanar.


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Notas finais do capítulo

As interações entre Poseidon e Atena vão começar de verdade agora!!! Eu particularmente adoro imaginar eles dois como se estivessem numa eterna partida de xadrez, observando os movimentos uns dos outros, fazendo notas mentais, querendo ver quem vai ficar por cima e tentando antecipar a jogada um do outro. Amo quando eles se frustram porque apesar de tudo, os dois são desconhecidos e imprevisíveis. Ahhh *-* esse casal derrete todo meu coraçãozinho de gelo kkkkk

Não sei se vocês acham muito confuso, mas eu tenho a mania de colocar o pensamento dos personagens no meio da narrativa... eles tão sempre em itálico, acho que as coisas ficam mais dinamicas e interessantes assiim.

Bom, em tempos de completo surto por coronavirus espero que voces estejam bem e consigam se divertir minimamente lendo porque eu, pelo menos, estou surtando... próximo capítulo sai segunda, que tal? conversem com uma autora carente, adoro ver a opiniao de voces...