Aquele maldito. Carter tremia atrás de mim, enquanto eu encarava seu pai com todo ódio possível.

— Você não vai encostar um dedo nele.

— Saia da frente viado! - ele grita para mim.

— Respeito com meu filho. - Elizabeth se exalta.

— Filho? Ou seria sua filha senhora? Com todo respeito claro.

— A sexualidade do meu filho não interfere em nada, muito menos no gênero. Um pai como o senhor deveria saber disso.

— Senhores, sem briga na frente dos alunos. - interrompe Sr. Steven.

— Você fique quieto. Estou no meio de uma discussão aqui. - retruca Elizabeth.

— Não vou perder meu tempo com vocês. Carter! Agora, venha! - ele manda.

— Pai... - ele continuava tremendo.

— Agora! - seu pai insiste.

— Não vá Carter. - digo.

Mesmo com meu pedido, ele vai. Com a cabeça baixa, e as mãos nos bolsos do shorts.

Os dois saem e entram no carro. Mesmo estando um pouco distantes, podemos ouvir os seus gritos de desespero enquanto seu pai o espanca. Mais uma vez...

Que ódio, que filho de uma... "Carter, aguente firme", era tudo que repetia em minha cabeça, tentando acalmar-me.

Passo a tarde na casa de Dylan. Queria ter a certeza de que ele estava bem, mas quem precisava ficar bem era eu mesmo.

— Está preocupado com seu namorado não é? - ele pergunta inocentemente. Sua mãe chega de repente com uma taça de sorvete para cada um de nós, era uma ótima pessoa.

— Ficarei bem.

— Vamos cuidar um do outro então, pode ser? - ele pergunta sorrindo.

— Fechado, amigo. - Dylan se emociona.

— O que houve?

— É a primeira vez que me chamam assim em anos. - sorri.

— Sempre vou estar ao seu lado.

Abraço o garoto, prendendo sua cabeça entre meus braços. Era como se fosse meu irmão mais novo, sentia-me bem em protegê-lo.

Minha mãe bate na porta dos Miller as oito e meia da noite. Grita pelo meu nome enquanto conversa com os pais do meu amigo.

— Já vou mãe! - respondo na mesma altura.

— Até mais Adan.

— Até seu doido. - desde o momento que ele levou a arma ao colégio o chamo assim.

— Babaca. - ele brinca.

Descemos as escadas e encontramos os três adultos conversando sobre assuntos que só pais conversam.

— Vamos querido? - pergunta Elizabeth.

— Claro, vamos sim.

— Volte sempre Adan. - Srt. Miller diz enquanto saio.

— Dylan também esta sempre bem vindo em nossa casa. - murmura Elizabeth.

— Espere. Dylan pode dormir em casa hoje mãe? Assim já ajudo ele nas coisas da escola, afinal ele ainda é novo por lá.

— Claro que pode, se ele quiser e os seus pais deixarem.

— Posso mãe? - anima-se.

— Sim filho, mas como você vai para escola amanhã?

— Eu levo os dois, fique tranquila. - minha mãe interrompe.

— Então vá arrumar suas coisas querido. - ela sorri para o filho.

Depois de uns dez minutos arrumando as malas e as coisas para escola, finalmente partimos de sua casa.

Fomos o caminho todo conversando sobre assuntos que não ligassem ou fizessem referencia ao ocorrido no colégio, sabia que ele ficaria mal. Daquele momento em diante só sorrisos no rosto de Dylan, era o que eu queria.

Mais vinte minutos e finalmente estávamos em frente de casa. Sem Theo... Estava com saudade do meu irmão, admito.

Jogamos video game, comemos pipocá, vimos um filme de terror, enfim coisas que amigos fazem quando dormem fora. Quase dando meia noite subimos em meu quarto. Dylan fica admirado com minha coleção de cd's, realmente eram muitos, afinal eu era do tipo que não tinha apenas um tipo de gosto musical, gostava de praticamente tudo.

— Queria ser uma colecionador como você. Olha esses posters, esses cd's e aquelas miniaturas de ação.

— A maioria das coisas eu ganhei do meu pai, principalmente as figuras de ação. Eram dele quando tinha sua idade.

— E a onde ele está? - um devasto silêncio toma conta do lugar, e a tristeza me atinge novamente. - Adan?

— Que? Ah... Me desculpe.

— Por que essa cara triste? - pergunta.

— Ele está na guerra...

— Nossa, me desculpe... Não sabia.

— Tudo bem Dylan. Afinal ele está fazendo algo por todos nós, um verdadeiro herói!

— Você devia ser muito apegado a ele.

— Pra caramba. - respondo sorrindo.

Nossa conversa é interrompida por batidas na porta. Quem bate na casa dos outros quase meia noite?

Corremos para a sala. Elizabeth já estava em frente a porta, segurava uma faca em uma das mãos e tremia. Não poderia ser algo bom, pelo menos não em altas horas da noite. Ela gira lentamente a maçaneta.

Do outro lado da porta estava nada mais, nada menos do que...

— Professor Derian? - fico sem reação.

— Filho, é seu professor.

— Sim, sou professor de seu filho, e está é minha filha Violette.

— Olá senhor, mas o que faz em minha casa essas horas? - minha mãe esconde a faca em baixo do avental.

— Desculpe, é que o cursinho da minha filha acabou agora praticamente. A busquei e vim direto para cá.

— Claro, tudo bem... Mas o que trás sua ilustre presença aqui? - pergunta.

— Olhe bem para minha filha. Não te lembra nada?

— Não. - minha mãe fica confusa.

— Violette Martin esse é seu nome agora, mas quando a adotei seu nome era... Era Violette Blake, sua filha!

Minha mãe ajoelha em câmera lenta no chão, enquanto a mim e a Dylan? Ficamos sem nenhuma reação...