Diva escrita por Palas Silvermist


Capítulo 11
Capítulo 11 – Caixa de Pintura




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Em uma terça-feira, Alex e Gustavo estavam na sala dos monitores. Tinham acabado de resolver as pendências da Feira de Profissões dos alunos do quarto ano e agora aproveitavam para preencher relatórios da monitoria daquele mês antes da reunião que começaria dali a pouco.

—Mal posso acreditar, James e Sirius pegaram só duas detenções em março.

—Que progresso. – comentou Gustavo

Os dois voltaram a escrever em silêncio. Ou quase. Sem perceber, o rapaz começou a bater o pé no chão ritmicamente. Por árduos cinco minutos, Alex tentou ignorar. Cinco minutos e dez segundos… quinze segundos…

—Gustavo, será que você podia parar com esse barulho pequeno, constante e irritante? – ela perdeu a paciência

—O quê? – ele desviou a atenção de seus pergaminhos

—Seu pé.

—Ah, desculpe. – disse ele parando

Alex voltou aos seus relatórios.

—Sabe, - ele apoiou o braço na mesa e se inclinou para mais perto dela – eu teria parado mesmo que você não estivesse com esse olhar faiscante de cascavel.

—Eu não estou com olhar de cascavel. – ela respondeu surpresa e indignada

Gustavo não deu atenção à reação dela.

—Eu não me incomodo com as suas tiradas, geralmente me divirto com elas. Mas não acha que anda um pouco bravinha demais ultimamente?

Ela ia rebater, porém não conseguiu. Abriu a boca e a voz demorou a sair.

—Desculpe, estou com coisas demais na cabeça. Quase me arrependo de ter proposto a peça.

—Alguma coisa está dando errado?

—Mais ou menos. Alice e eu estamos vendo os figurinos agora. Sirius, é claro, está dando palpites em vez de ajudar você e Frank com as cenários. E ainda tenho duas pessoas que não decoraram suas falas. Fora o resto da Mostra, a monitoria, os NIEMs, enfim, a vida. – ela passou a mão pelos cabelos pretos

—Precisa de ajuda? – Gustavo segurou a mão dela

Alex ficou por um instante observando o gesto.

—Não. – ela respondeu por fim – Eu vou ter de aprender a dar conta. E de qualquer jeito, você já ajuda com a peça e a Mostra.

—Se precisar…

—Obrigada.

A porta se abriu, e antes que Victor e Olívia tivessem entrado, Alex já havia tirado sua mão da do rapaz.

… … … … … … … … …

Em frente ao Lago, Alice estava encostada a uma árvore.

—Bem que Lily falou que você vem pra cá quando some. – falou Frank sentando ao lado dela

—Eu sumi?

Não era como se ele estivesse procurando por ela, era?

—Por assim, dizer. – ele respondeu – Você está bem?

—Estou. – ela respondeu sem entusiasmo

—Parece triste…

—Não. Só… não é um bom dia.

—O que aconteceu?

—Não… Eu estou… começando a me arrepender da peça. Parece que falta tanta coisa… e não vai dar tempo de terminar.

Frank a observava com cuidado.

—Claro que vai. – ele tentou

—E também, - ela acrescentou – eu pensava em entrar na Academia de Aurores, mas acho que não vai dar. Não vou conseguir tantos NIEMs.

—Hei. – ele não a deixou continuar pegando sua mão e beijando o dorso – Você só está desanimada porque está cansada. Vai dar tudo certo.

Ela forçou um sorriso.

—E você ainda vai poder contar aos seus filhos que viu duas sonserinas interpretarem papeis de trouxas sem reclamar, e que viu James Potter de cabelos brancos e rugas aos dezessete anos. Seria mais engraçado se fosse Sirius Black, mas está valendo.

Ela sorriu.

—E esse fim de semana tem visita a Hogsmeade. – ele continuou – Pelo que eu sei, você adora ir pra lá.

—Eh… - fez ela um pouco mais animada – Vai ser legal.

—Já tem planos para sábado?

—Não especificamente.

—Então… você iria a Hogsmeade comigo?

Alice levantou os olhos para ele e realmente sorriu pela primeira vez desde que o rapaz chegara.

—Iria.

Frank sorriu e os dois continuaram conversando por mais algum tempo antes de voltarem para o castelo.

… … … … … … … … …

Naquela noite, James não conseguia dormir. Cansado de virar de um lado para o outro, saiu da cama, pegou o broto de cardo que Lily lhe dera e o Mapa. Voltou para a cama, fechou as cortinas e murmurou:

Illuminare.

Precisou fechar os olhos com a súbita luz que inundou sua vista.

Juro solenemente não fazer nada de bom.

E linhas familiares começaram a percorrer o pergaminho que tinha nas mãos formando os contornos de Hogwarts.

No dormitório masculino do sétimo ano da Grifinória, cinco pontos permaneciam imóveis. No Salão Comunal, apenas um ponto: Lily Evans. Tentou ignorar esse fato.

Como era comum, Dublendore andava de um lado para o outro em seu escritório. No quinto andar, Filch acompanhava três pontos que James reconheceu como sendo da Corvinal.

Seus olhos voltaram para o ponto no Salão Comunal… Ele devia esquecer…

Madame Nor-r-ra caçava no segundo andar. McGonagall acaba de voltar para sua sala.

Lily Evans no Salão Comunal…

O teto que desabasse se quisesse, ele ia descer.

James parou no último degrau da escada. Ela estava na mesma mesa de sempre, concentrada como sempre. Ele sorriu por um dos cantos da boca e se aproximou.

—Lily? – disse ele já perto – Não sabia que estava aqui.

—Oi, James. – ela cumprimentou – Estou terminando o último cenário de Mistério no Caribe. Alex não disse nada, mas eu sei que ela está preocupada. – disse ela vendo-o sentar na cadeira quase em frente à sua.

Lily levantou o braço pegando um dos brotos de cardo que pairavam sobre sua cabeça e o levou até sua caixa de pintura aberta na cadeira ao lado para encontrar uma determinada tonalidade de tinta. Com a iluminação, James pôde ver que havia versos na parte de dentro da tampa. As letras eram manuscritas, e a primeira, bem rebuscada.

Look at the sky
Tell me what do you see
Just close your eyes
And describe it to me

Olhe para o céu
Diga-me o que vê
Apenas feche os olhos
E o descreva para mim

—Como alguém vai descrever o que vê no céu de olhos fechados? – ele perguntou

—O quê? – disse ela, e vendo para onde os olhos dele estavam voltados – Ah…

Sem pressa, pegou o tubo de tinta que procurava e devolveu o broto de cardo para os outros que estava sobre sua cabeça.

—Essa é a parte divertida. – ela respondeu por fim abrindo a tampa da tinta e espalhando um pouco em uma prancheta; olhando para ele, acrescentou – É o seu céu. Pode ser o que você quiser.

Algo em seu olhar o empurrava para frente…

—Por isso a Arte liberta. Você pode se expressar da forma que quiser. Não importa se é real, ou não, se está muito longe, ou perto demais. É o seu mundo e o que ele significa pra você. E não me refiro apenas a pintura.

Ela era cativante... fascinante...

—Qual dos seus quadros representa o seu mundo?

A moça o observou por um instante, e ele quase se arrependeu de fazer a pergunta.

—Todos de certa forma. Mesmo esses cenários… embora sejam de alguma maneira pré-estabelecidos, passam pelo filtro da minha imaginação e acabam retratando algo que eu penso. Mas…

Lily tornou a pegar um broto de cardo e começou a procurar em uma repartição de sua caixa de pintura que parecia conter miniaturas de telas. Pegou cinco delas, levantou da cadeira e abaixou no chão ao lado da mesa.

—Vem. – ela chamou

Ele o fez sem dizer nada e a observou espalhar as pinturas no chão e murmurar “Engorgio” para que aumentassem de tamanho. Ela ofereceu o broto de cardo que ainda tinha nas mãos, e ele passou a admirar as telas.

A primeira era uma que ele já tinha visto no Salão Comunal, de um campo plano interrompido bruscamente pelo mar em uma falésia. A segunda era um fundo verde com sete borboletas laranjas voando. A terceira era uma vista noturna de Londres. A quarta, um beija-flor de um colorido tão vivo que parecia saltar da tela; o pássaro estava em pleno voo quase tocando uma flor avermelhada. A quinta era uma tela em branco.

Lily assistia atenta o rosto dele a cada pintura que ele olhava. Os olhos do rapaz demonstravam melhor do que qualquer palavra o que pensava, e ela ficou lisonjeada com o elogio tão eloquente que ele fazia em seu silêncio.

—Posso perguntar o que eles significam pra você? – ele finalmente perguntou

Lily sorriu discretamente.

—Todos me dão a sensação de liberdade, embora cada um acrescente algo diferente.

Ela o trouxe volta para o primeiro quadro em que aparecia a falésia.

—Aqui a visão do horizonte, do quanto ainda temos pela frente e o quanto uma visão mais ampla muda nossa perspectiva.

Ele a acompanhou no segundo quadro, o das borboletas.

—A simplicidade. Poder esquecer os problemas, os conflitos e se focar em uma cena singela.

Foram para o quadro da noite em Londres.

—A atmosfera noturna, quando as coisas não são objetivas e o sentimento ganha da razão. – os olhos deles se encontraram – E quando tudo parece perdido… Se não fosse a escuridão da noite, - ela afastou a mão dele que segurava o broto de cardo do quadro  – não veríamos o brilho das estrelas.

Passando a surpresa de ela ter encostado em sua mão com tanta naturalidade, James pôde perceber que as estrelas daquela pintura pareciam reais.

O brilho nos olhos de Lily aumentava a cada tela que eles passavam. Chegavam agora ao beija-flor.

—A vida, a vivacidade… olhar de perto algo belo e ver os detalhes. Uma cena, uma emoção, um olhar… - Lily vacilou ao ver o de James para ela - … qualquer coisa.

Ela parecia ter acabado de falar, e o rapaz acabou perguntando:

—E este? – ele apontou para a tela em branco

Ela sorriu como se aguardasse a pergunta.

—Um brinde ao futuro. – e o seu rosto inteiro parecia brilhar – não pretendo parar de pintar nunca. E sei que ainda existem muitos quadros dentro de mim.

A paixão com que ela falava era fascinante.

—O mundo perderia uma artista verdadeira se parasse.

Ela sorriu mais uma vez.

—Obrigada.

Ela recolheu as telas do chão, e os dois se levantaram.

—Agora eu preciso realmente terminar aquele cenário, ou Alex vai arrumar uma desculpa para me dar uma detenção.

—Bom, eu vou dormir. Vou parar de atrapalhar você.

—Você não atrapalha. – ela respondeu

Lily voltou para sua tinta cor de areia, e James voltou para as escadas do dormitório… ele teria sorte se conseguisse dormir agora…

… … … … … … … … …

Poucos dias depois, Remus estava estudando Feitiços no Salão Comunal à noite, quando Sirius se jogou na cadeira à sua frente bufando.

—O que foi, Padfoot?

—Alex e Lice estão organizando os figurinos. Do nada elas resolveram que eu estava atrapalhando e me…

—Deportaram… - Remus completou

Remanejaram, Moony.

—Remanejaram você para onde?

—Pra qualquer lugar, menos onde elas estivessem.

—Entendi, você foi expulso.

—Chame do que quiser. – Sirius desistiu – Como eu não saí, elas pegaram tudo e subiram para o dormitório feminino.

—Prático.

—Muito. – fez Sirius irônico

—Como elas estão fazendo com os figurinos?

—Elas pediram uma roupa de cada um e agora estão transfigurando no que acham melhor.

—Uma boa ideia...

Passou um tempo, e Sirius começou a olhar constantemente para algo atrás de Remus. O amigo não deu atenção.

Até que Sirius não se conteve:

—Afinal, quem é aquele cara?

—Quem? – Remus se virou para ver do que ele falava

—Aquele falando com a Rach. – ele respondeu

—Ah, é Colin Grant, do sexto ano. É irmão da Olívia.

—Eles estão conversando há uns quinze minutos já.

—E daí, Pads?

—Que tanto assunto eles podem ter? – falou ainda olhando para os dois

—Ele pode estar perguntando do Sarau. Lembro de tê-lo visto se inscrevendo na semana passada.

—Há quinze minutos?

—Qual o problema, Pads?

—Nunca falaram para ela não conversar com estranhos?

—Ela fala com você, quem pode ser mais estranho?

—Muito engraçado, Moony. – disse ele azedo

Remus franziu os olhos.

—Padfoot, qual é o seu problema?

—Meu? Nenhum.

Remus levantou as sobrancelhas.

—Pads…

—O quê?

—Você está com ciúmes dela?

—Ciúmes? Por que eu estaria com ciúmes? – ele olhou para o amigo

—Eu perguntei primeiro.

Vendo Rachel abaixar a cabeça para rir de leve, Sirius levantou.

—Acho que vou perguntar se ela precisa de ajuda em DCAT de novo.

—Sirius, senta. – Remus falou sério

—O que foi? – ele estranhou, mas voltou a sentar

—Olha pra você. Por que está assim? Nunca o vi desse jeito.

—Olha pra eles.

—Só estão conversando.

—Ela merece alguém melhor. – falou Sirius

—Como você?

—É. – fez ele sem pensar - Quer dizer, não.

Remus levantou as sobrancelhas de novo.

—Você está me confundindo. – fez Sirius

—Você está fazendo a bagunça sozinho.

—Não, eu só… olha pra ela.

—Eu sei muito bem quem ela é. E é bom que você também se lembre.

—O que quer dizer?

—Padfoot, é a Rach.

—Eu sei que é a Rach.

—Ela não é uma das garotas com quem você sai.

—Do que está falando? Eu nunca a machucaria.

—Eu sei que não faria isso. Não de propósito. Você não machuca as que saem com você, até porque elas nunca esperaram nada sério. Aquela garota é diferente. – Remus apontou discretamente para Rachel

—Eu sei de tudo isso. – falou Sirius – É só que… elas me cansaram, não tem mais graça… Eu gosto de estar com a Rach. Ela… é tímida, é doce. As coisas parecem simples perto dela. O que eu faço?

—Eu não vou responder isso, mas pense duas, três, sete vezes antes de fazer qualquer coisa.

—Eu sei.

Sirius encostou na cadeira sem dizer mais nada. Contudo, pôde ficar um pouco mais satisfeito quando o tal Grant terminou de falar com Rachel e subiu para o dormitório.

 


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Notas finais do capítulo

N/A - Olá!

Novamente, os créditos:
— Versos que estão na caixa de pintura da Lily são da música Looking Through Your Eyes
— A expressão “lisonjeada com o elogio tão eloquente que ele fazia em seu silêncio” vem do livro A Pata da Gazela, de José de Alencar.
— A fala: "Nunca falaram para ela não conversar com estranhos? / -Ela fala com você, quem pode ser mais estranho?" vem do desenho Robôs.

Obviamente eu só faço essas referências tão descaradas na história porque é uma fanfic, então todos os créditos são dos devidos autores.

Espero que estejam gostando. Sempre estou curiosa para saber a opinião de vocês, inclusive das coisas que dá para melhorar.
Beijos, Palas



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