What am I? A Lie escrita por Mizuki Shimizu


Capítulo 1
Caught in a Lie




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"이 거짓 속에 헤어날 수 없어"

Lie - Park Jimin

 

O palco me recepciona novamente. O único holofote aponta para o centro, ainda apagado, o futuro círculo de luz esperando por alguém. Deixo que ajeitem o meu cabelo mais uma vez enquanto enrolo o pedaço de tecido escuro, o qual será utilizado para cobrir os meus olhos artificiais, usando minhas pequenas mãos.

A maquiadora nova cobre meus lábios cuidadosamente com um batom cor de cereja. Há tempos não tento experimentar o sabor, agindo de forma descontraída para acalmar quem quer que esteja me auxiliando. Subitamente, sinto o meu estômago vazio embrulhar e resisto ao impulso de me agachar e tampar meus ouvidos.

Pessoas das mais variadas personalidades e aparências passam por mim, dando um último toque em todos os detalhes, para que seja perfeito. Tudo tem de ser perfeito. Sempre. Porém, eu não as ouço.

Como uma reação automática, estico meus braços cada vez mais finos para vestir minha jaqueta brilhante. As mangas da peça parecem se fundir com minha pele. Após tanto tempo usando-a show após show, anseio em tirá-la cada vez que me preparo para o espetáculo. No entanto, receio que meu corpo sinta falta daquela roupa, e que minha pele sofra alguma transformação caso eu não a use.

Um a um, os dançarinos que me acompanham na apresentação seguem para o espetáculo. Coloco a mão no peito e pergunto-me, outra vez, se estou fazendo o que é certo. Há tanto tempo não sei o que quero.

Recordo-me da reação de minha professora de dança contemporânea. Sentia a decepção percorrendo seu rosto, sem que ela se desse ao trabalho de tentar disfarçar. Corei e desviei o olhar. O meu sonho era maior que qualquer projeto, principalmente um feito por ela para mim. Não era o que eu desejava.

Lembro-me das noites sem dormir, da ansiedade crescente no curto período de trainee, nas duras críticas. Para alguém como eu, foi uma salvação ter conseguido um grupo que aceitasse alguém com falhas em danças e em canto.

A gratidão fazia com que eu ignorasse o cansaço. Só prestava atenção nos meus pequenos progressos. E agora, olhe onde nós conseguimos chegar. Nossas asas nos fizeram alçar voo.

Para que eu chegasse ao meu objetivo, criei um novo eu, uma personalidade fofa, amável, brincalhona. Por mais que me esforçasse, não conseguia me lembrar de como eu era, como eu agia, o que eu gostava, o que me fazia sorrir.

Dividido, sentia não ser mais alguém com sonhos, com esforços, com uma personalidade. O conjunto bagunçado do passado se fundia com o presente, e, em um piscar de olhos, não era eu. Apenas uma faceta, uma máscara que ninguém conseguia arrancar, por mais que eu implorasse.

Os gritos ensurdecedores podiam ser ouvidos por mim, agora. O eu que estava perdido, confuso e frustrado. Este eu que ninguém podia ver. O eu que foi perdido. Todos os meus sentimentos eram apagados pelo amor das fãs.

Naquele palco, caminhei até o centro colocando a máscara que parecia se fundir ao meu corpo como aquela jaqueta. A máscara de Park Jimin que todos conheciam.

Posicionei-me.

A luz do holofote caiu sobre mim.


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