Scarlet costumava passar os dias treinando, era um bom passatempo. Depois de sua expulsão do santuário andava meio sem rumo, já tinha ido visitar o pouco da sua família que tinha sobrevivido a guerra santa, mas não contou sobre o acontecido. Santino ainda tinha preservada a casa que seu pai morou com sua mãe, era isolada e fora do santuário, mas perto o suficiente para Scarlet dar uma espiada quando sentia saudades. Foi algumas vezes para casa de leão escondida, sabia que ninguém a impediria, mas agora que estava proibida de entrar no santuário não queria causar problemas.

 O dia a dia era muito tedioso, acordava cedo para treinar e depois se alimentava, treinava mais e almoçava, treinava mais um pouco antes de jantar. Scarlet gostava de correr pelas florestas e montanhas, passavam paz para ela, além de serem isoladas e ótimas para os treinamentos. Santino a visitava algumas vezes trazendo as poucas noticias do santuário, as vezes até treinavam juntos tendo batalhas intensas.

Após o treinamento ela tomou banho e foi em uma cidade que ficava perto de onde estava e comprou carne, frutas e verduras para estocar, estava pegando gosto pela culinária e gostava de fazer pratos novos. Parecia mais um dia normal, mas chegando em casa sentiu um aperto no peito e uma sensação estranha, guardou as compras e foi para o lado de fora. Era uma noite sem nuvens e as estrelas brilhavam intensamente no céu, até que pensou ter visto uma constelação desaparecer, então sentiu um cosmo; um cosmo forte e desconhecido para ela. Logo após começou a perceber outros pequenos cosmos sumindo e um cosmo bem conhecido se aproximando da batalha. Estão atacando o santuário! Scarlet não chegou a pensar, apenas correu com todas as suas forças em direção ao santuário, um como bem conhecido seu tinha chegado ao local da batalha.

 - Aguente firme, Tyrion! - Gritou para ela mesma ouvir, na esperança de que alguma forma seu pupilo ouvisse.

Scarlet correu por alguns minutos até chegar ao santuário, com seu poder era fácil correr rápido. Parou na entrada das doze casas sem perceber e pensou em subir para chamar Santino, mas não sentiu nenhum vestígio do seu cosmo, também pensou em chamar Atlas, mas quando se concentrou não sentiu apenas o cosmo do Grande Mestre, outro grande cosmo estava com ele; um cosmo quente e gentil, um cosmo divino. Esse cosmo é dela, não resta duvidas. Scarlet estava confusa e resolveu ir ver o que estava acontecendo com os seus próprios olhos, até que sentiu mais um cosmo se extinguir. Por Atena, esse cosmo era do Axell! Olhou para a estatua de Atena e correu para onde a batalha estava acontecendo, tinha que salvar seu discípulo.

 Scarlet correu usando toda a sua força e chegou a um penhasco que ficava na entrada do santuário, ao olhar para baixo viu Tyrion parado enquanto um homem de armadura negra falava com ele, logo após o homem levantou a espada que carregava, não restava duvidas, aquele era o inimigo.

— Morra invasor! Relâmpago de plasma!

Scarlet pulou do penhasco em direção ao inimigo, do seu pulso saia inúmeros raios de luz destroçando tudo no seu caminho. O inimigo agiu rápido e pulou para longe.

— Mestra, você voltou?! – Tyrion olhava para ela com um olhar de um filho que não via a mãe a muito tempo.

Scarlet olhou rapidamente para ele e logo se virou para o inimigo. — Por que ele ia atacar e você estava parado Tyrion? Conte-me tudo.

— Sim, mestra. – Tyrion assentiu. – Ele diz que se chama Tâmiris e é neto de Apolo, veio aqui para acabar com o santuário. Eu não sei o que ele faz, mas antes dele atacar sinto uma onda de cosmo atingir meu corpo e não consigo me mexer.

— Entendo. – Respondeu Scarlet. Viu que perto deles estava o grandalhão Axell, que ela tinha escolhido para lutar contra Tyrion, também viu os dois garotos que lutaram contra Santino aquele dia; todos desacordados e sem emitir cosmo.

 — Olá senhorita. – Falou o inimigo  andando lentamente em direção a eles. — Ouvi tudo que o jovem Tyrion falou, então não preciso mais me apresentar. Na verdade você também não precisa, afinal, quem não conhece a leoa dourada, Scarlet.

— Levarei como um elogio – Scarlet respondeu sorrindo de modo irônico.

— Claro, e uma honra para mim luta contra você. És tão bela quanto feroz, mesmo com esse olho fechado e essa cicatriz. – Sorrindo o inimigo para a quatro metros deles. — Então, por que não coloca sua armadura? Não quero lutar com você usando jeans. Podemos lutar até a sua morte, vim para ceifar a vida de cavaleiros de ouro.

Scarlet estava desconfortável, sabia que o inimigo era forte e precisava de sua armadura. No caminho tentou convocá-la com o cosmo e não consegui. Quando Atlas a expulsou e retirou seu direito de usar a armadura não era apenas teatro, o Grande Mestre era uma autoridade sagrada e possuía esse poder, assim a armadura de leão não atenderia mais o chamado de sua antiga dona.

— Não se preocupe, esse jeans é confortável. – Scarlet tirou a jaqueta preta que vestia e a jogou para o lado, ficando apenas com uma blusa branca, a calça jeans e uma bota preta, estava com a roupa que usou para ir na cidade fazer compras. Bela armadura para a ex-leoa dourada.

— Como quiser. – Disse Tâmiris sorrindo e partindo para cima de Scarlet.

O invasor desferiu vários golpes de espada contra Scarlet, que conseguia desviar deles. O inimigo sorria mais cada vez que atacava, irritando Scarlet. Ao se esquivar do golpe, ela pulou para o lado direito e logo atingiu ele, o jogando um pouco pro lado.

— Cápsula do poder! – Uma grande esfera dourada sai da mão de Scarlet e atingiu Tâmiris, causando uma grande explosão e uma nuvem de poeira.

Scarlet corre em direção ao seu discípulo, aproveitando que tinha atingido o inimigo e teria alguns segundos. — Tyrion, corra ate a sala do mestre. Conte tudo para Atlas.

— Mas mestra, não posso te deixar aqui sozinha.- Argumentou Tyrion

— Cale a boca idiota. O santuário precisa saber o que está enfrentando. – Scarlet se virou para a nuvem de poeira que estava sendo levada pelo vento, conseguia sentir claramente o cosmo do seu adversário; o ataque tinha causado poucos danos. — Vá, enquanto eu seguro ele, rápido.

Tyrion chorava ao ouvir as ordens da sua mestra, mas a obedeceu e correu para o santuário, porém foi tarde demais. Uma onda de cosmo atingiu eles e Scarlet não conseguiu mais se movimentar. Olhou para Tyrion e ele também estava parado, então era disso que ele estava falando. De alguma forma o inimigo consegui paralisar seus movimentos.

— Desgraçado, que poder é esse? – Scarlet olhou para onde tinha jogado seu inimigo, mas ele não estava mais lá. Ele estava perto de Tyrion.

Quando ela olhou para onde estava seu discípulo o efeito paralisante já tinha passado. Tyrion estava no chão e o seu sangue ia criando uma poça embaixo dele. A espada negra dele pingava o sangue do jovem santo.

— Então meu golpe não fez nada com você? – Perguntou Scarlet sem acreditar.

— Claro que fez, olhe bem. – Scarlet percebeu que a capa negra estava toda rasgada e tinha pequenas rachaduras nos braços de sua armadura estranha. — Até rachou um pouco a minha Solar, que foi fabricada com o poder de Apolo. De fato, você conseguiu um grande milagre.

— Idiota. – Scarlet sabia que não conseguiria derrotar o inimigo sem sua armadura de ouro e com Tyrion caído, ela teria que avisar o santuário de algum jeito. Droga Leão, preciso de você!

Então suas preces foram atendidas, uma luz dourada saiu como uma estrela cadente da casa de Leão e voou até o local da batalha. Logo a urna dourada já estava em frente a Scarlet, se abrindo mostrando o Leão dourado. 

— Essa armadura é linda! – Gritou Tâmiris, demostrando uma estranha animação ao ver a armadura dourada.

O leão dourado logo se desmontou cobrindo todo o corpo de Scarlet, seu cosmo ressoava com a armadura. Ela era novamente a amazona de leão, a famosa leoa dourada. Atlas, seu idiota.

— Venha Leoa! – Tâmiris gritou para Scarlet, e uma nova onda de energia a atingiu. O inimigo levou a sua espada e desferiu o golpe contra ela.

— Cápsula do poder! – A esfera dourada atingiu o inimigo mesmo no meio do abdômen o jogando longe.

A armadura de ouro tinha amplificado o cosmo de Scarlet, fazendo que ela se livrasse da paralisia rapidamente. Tâmiris logo se levantou, sua solar no abdômen também apresentava rachaduras.

— Você é fantástica Scarlet! Agora vamos lutar a serio. – O inimigo levantou a sua espada e começou a concentrar seu cosmo e da sua espada se materializou uma grande massa de poder negro. — Tome isso Scarlet. Terror Negro!

Golpeando com a sua espada Tâmiris lançou contra Scarlet a massa de poder negro. Ela ainda tentou escapar correndo para a esquerda, mas o golpe foi mais rápido e atingiu a sua perna direita. Ela começou a sentir a dor de mil espadas cortando a sua pele, sangue começava a escorrer pela sua armadura, era um verdadeiro terror. Droga, que golpe terrível.

— Levante-se e me enfrente. – Tâmiris levantou sua espada novamente, mas dessa vez varias massas de poder negro se criaram ao seu redor.— Morra lutando, amazona. Terror Negro!

As várias massas cósmicas partiram para cima de Scarlet quando o inimigo gritou; dessa vez ela não teria como correr. Então ela lembrou de todo seu treinamento, das batalhas ao lado dos seus companheiros, do seu amor que faleceu em batalha; ela não poderia simplesmente se entregar a morte. Aumentando seu cosmo ao máximo, chegando ao sétimo sentido, só assim ela poderia fazer um milagre acontecer. Queime meu cosmo!

— Ruja leão dourado! Relâmpago de plasma! - Gritou a amazona, lançando o seu golpe.

Os golpes se encontraram, era a batalha da luz contra a escuridão, então houve uma explosão do choque dos ataques. Scarlet sentiu seu corpo todo ser cortado, o sangue quente correr na sua pele e desmaiou. Acordou alguns segundos depois, percebendo que sua armadura estava intacta, porém sentia seu corpo todo cortado por dentro, sangue saia por toda a armadura. Não conseguia se levantar, mas levantou a cabeça para procurar seu inimigo, e lá estava ele.

Tâmiris estava apoiado no chão com um joelho, sua espada estava jogada de lado. Do seu peito para cima, na parte direita da sua Solar, não existia mais armadura, assim como seu corpo e seu rosto sangravam, a faixa que usava para cobrir seus olhos tinha sumido, ele estava de olhos fechados. Pensou que ia sair daqui intacto, idiota?!

— Você fez um bom trabalho, meu filho. – Então Scarlet ouviu aquela voz, uma voz baixa, quase um sussurro, mas que inspirava medo, diferente da doce voz de Tâmiris.

O homem passou ao lado de Scarlet como se ela não estivesse ali e andou em direção até Tâmiris. Ele trajava uma armadura em tons vermelho escuro, com contornos pretos, parecia vinda direto do inferno. Suas ombreiras eram planas e pontudas, sua capa também era preta como a do filho. Do seu lado esquerdo, Scarlet percebeu uma bainha com uma espada dentro, desse mesmo lado ele carregava um escudo negro com detalhes vermelhos preso ao braço, e um grande sol desenhado nele. Quando ele chegou perto de Tâmiris ela conseguiu ver o rosto do homem; sua pele era branca como a do filho e possuía olhos azuis escuros, tinha o nariz grande e pontiagudo. Seu cabelo ia até o ombro, escuro igual ao do filho.

— Quase matou um cavaleiro de ouro, realmente me surpreendeu filho. – Tâmiris deu um sorriso de satisfação para o pai. — Eu pensei que você não tinha essa capacidade ou então os cavaleiros de ouro não são tão fortes como eu pensava.

Tâmiris logo perdeu a expressão. O homem deu as costas para o filho e foi andando em direção a Scarlet. No caminho guardou seu escudo nas suas costas, embaixo da capa. Puxou da bainha sua espada, com a lâmina tão negra quanto o tártaro, ela parecia com as espadas que usavam na Europa na idade média. Ao chegar perto de Scarlet ele disse rispidamente. — Morra, santo de Atena.

— É melhor sair de perto dela. – Scarlet conhecia aquela voz, e logo alguns feixes de luz vermelho atingiram o chão perto de onde o segundo invasor estava, mas esse não se mexeu e apenas observou o ataque. Santino, meu idiota favorito!

Santino trajava sua armadura de escorpião e logo estava ao lado de Scarlet. No dedo indicador de sua mão direita tinha uma longa unha vermelha que brilhava intensamente.

— Está bem ruiva? Nunca vi você tão acabada. – Disse Santino olhando para Scarlet com seu sorriso arrogante de sempre.

— Estou bem, não se preocupe. – Scarlet não estava bem, mas não precisava distrair Santino do inimigo.

— Dois cavaleiros de ouro, parece que hoje e o meu dia de sorte... – O inimigo ia falar mais, mas interrompeu sua fala e ficou olhando para o nada. De repente voltou a si. — Desculpem-me santos dourados, mas terei que ir embora.

Dando um ultimo olhar frio para eles, o invasor se vira os ignorando e volta em direção ao seu filho. Santino fez menção de ir atrás dele, mas Scarlet segurou sua perna e quando Santino olhou ela balançou a cabeça negativamente.

— Santos de Atena, meu nome é Filamon. Sou filho do deus do sol e futuro dono deste planeta, Apolo. – Filamon chegou ao lado do seu filho e colocou a mão esquerda sobre sua cabeça, olhando fixamente para Scarlet e Santino com seu olho de um azul profundo. — Hoje, declaro oficialmente guerra contra o santuário, mas não se preocupem. Iremos esperar algum tempo para o próximo ataque, recebam como um ato de misericórdia.

Um raio de sol cortou o céu, iluminando o santuário, e atingiu os dois invasores. Eles simplesmente sumiram sem deixar vestígios.