Amizade Colorida escrita por Cherrypie


Capítulo 3
Aquele da amizade estranha


Notas iniciais do capítulo

Agora sim o terceiro capítulo :D Boa leitura ♥



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O despertador era ensurdecedor. Eu não me importava de acordar cedo, mas o fato de ser obrigada a acordar por um aparelho me deixava estressada. Espreguicei-me e desliguei o maldito, como estava com preguiça demais pra levantar de imediato, permiti-me ficar na cama olhando para o teto por alguns minutos. A semana tinha passado rápido, já era sexta-feira. Jesse ainda não tinha começado a estudar na nossa escola, mas estava com a gente todos os dias depois das aulas e nós 5 nos dávamos muito bem, como se conhecêssemos ele há muito tempo.

Era sexta-feira, dia da tão esperada festa da torcida, que na realidade eu não estava exatamente ansiosa para que chegasse. Promessa é promessa, então não tinha mais como voltar atrás. Esfreguei meus olhos, numa tentativa de espantar o sono com as costas da mão, e me sentei na beira da cama, sentindo o chão gelado sob meus pés. Como sempre, meu ar condicionado estava na temperatura mínima, gelando absurdamente todo o lugar, mesmo que estivesse frio lá fora.

Levantei e alonguei minhas costas, estalando cada vertebra de uma maneira muito gostosa. Fui até meu closet e peguei meu uniforme: saia plissada xadrez vermelha escura, regata justinha, camisa social branca, blazer nas cores da saia com o emblema da escola e meias até o joelho brancas. Eu tinha ajustado todas as peças para que vestissem meu corpo da melhor maneira possível, sem esconder meus traços, mas não fui bem-sucedida, já que com todas aquelas peças era muito difícil ficar bonita.

Fiz minha higiene sem demorar demais, vesti-me e desci para tomar café. Minha mãe ainda não havia voltado de viagem, então eu continuava sozinha naquela casa. Tia Sam havia me convidado para passar a semana na casa deles, mas a casa de Chuck era muito distante dos lugares que eu tenho que ir, como o estúdio de tecidos, e eu odeio ficar dirigindo pra lá e pra cá, então preferi ficar em casa. Como esperado, o único ser vivo, fora eu, na cozinha era meu gato, que olhava fixamente para seu prato, mesmo que estivesse cheia de comida. O nome dele era Bruce, como o Springsteen, e ele é outro motivo para eu ter dispensado a proposta da tia Sam.

Troquei a ração velha por uma nova e lavei minhas mãos antes de preparar meu café. A cafeteira fazia um barulho engraçado e irritante, tudo ao mesmo tempo, mas o cheiro do café novinho fazia valer a pena. Comi um muffin que eu tinha comprado no dia anterior e coloquei meu café em meu copo térmico, pronta para levá-lo para escola. Subi as escadas pulando os degraus e fui direto para o banheiro. Escovei meus dentes e ajeitei meu cabelo, pensando duas vezes antes de decidir passar algo no rosto. Não exagerei em nada, passei apenas um BB Cream, rímel, ajeitei minhas sobrancelhas e passei um hidratante labial de melancia, com uma cor levemente rosada. Não demorei muito e estava pronta e dentro do meu carro.

Eu não estava atrasada, nem adiantada, o que era bem comum. Gostava de chegar exatamente no horário, para não ter que esperar ou me desculpar. O trânsito estava fluindo maravilhosamente bem e a música que tocava no rádio era absurdamente boa, adicione o sol incrível que brilhava no céu azul e entenda o porquê de eu estar tão animada para o dia. Aliás, era finalmente sexta-feira, eu tinha obrigação moral de estar animada como qualquer outro estudante da Elite High School.

Estacionei meu carro em uma vaga qualquer e rumei tranquila até meu prédio. Ainda era estranho para mim todos os olhares que eu recebia. Afinal, não é comum alguém que será, claramente, escolhida como capitã da torcida decidir sair da equipe. Menos comum ainda dispensar Carter, mas não me arrependo nem por um segundo de nada disso. A questão é que: eu tinha o rosto, o corpo e as habilidades de uma líder de torcida, era conhecida por boa parte das pessoas da escola e minha mãe era dona de uma das marcas de roupa mais famosas do mundo, e mesmo assim não fazia questão de nada disso. Eu prefiro andar com os meus garotos, apenas. É claro que eu tenho amigas, também. As mais próximas não estudavam comigo, infelizmente.

Cruzei o gramado sem olhar muito para os lados, mas conseguia escutar um burburinho típico de pré-festa da torcida. Era o evento do ano, todos queriam ir e rendia assunto por meses. Não era nada muito sofisticado: Georgia cedia a mansão dela todos os anos, os garotos dos times esportivos cuidavam da bebida, que, inclusive, era além do necessário, e as garotas da equipe cuidavam do som e das comidas, como salgadinhos e chocolates (essencial para que não passem tão mal). Os garotos do clube de luta revezavam para cuidar da segurança da festa também, barrando qualquer um que não estivesse na lista. Apenas isso. De alguma forma isso era suficiente para todo mundo ficar feliz. Era impossível não se divertir lá. Meu nome sempre esteve no topo da lista, independente de eu estar no time ou não, mas depois que saí não apareci mais por lá.

Entrei na sala de Biologia Avançada e vi Zac conversando com uma garota. Ela tinha cabelos ruivos cheios e olhos castanhos, era realmente bonita. Eu nunca a tinha visto no colégio, quem dirá na minha sala de aula. Larguei minhas coisas no lugar usual e fui até onde o garoto estava, curiosa para saber quem era.

— Bom dia. — Falei sorridente dando um beijo na bochecha de Zac. Ele sorriu de orelha a orelha.

— Bom dia, Kat. Já conhece a Ana? Ela é nova. — Meu amigo disse animado de uma forma que eu não o via há muito tempo. Voltei meu olhar para a ruiva e fiquei impressionada com o fato de ela ser ainda mais bonita vista de perto.

— Não conheço. Muito prazer, meu nome é Katrina, seja bem-vinda. — Eu me apresentei, simpática. Ana sorriu largamente e apertou minha mão.

— Anastasia Summers, muito obrigada. — Ela respondeu esbanjando carisma. — Eu tava falando pro Zac agora, a escola parece aquelas de filme.

— É exatamente como as de filme. — Eu concordei rindo e pensando em toda a hierarquia hollywoodiana que tomava conta da EHS. — Mas menos cruel, eu acho.

— Entendi. Tô ouvindo a manhã inteira sobre uma tal festa que tem hoje e me sentindo a otária por não ter vindo logo no primeiro dia pra ser convidada. — Anastasia disse fazendo bico. Zac a olhava fixamente com um brilho no olhar que eu nunca tinha visto. Eu precisava ajudar meu amigo.

— Sabe, eu ainda não mandei os nomes para a anfitriã, se você quiser, está convidada. — Eu ofereci com um sorriso gentil brilhando em meus lábios. Zac virou seu olhar pra mim e eu podia sentir a gratidão emanando do seu par de olhos castanhos.

— Sério? Nossa, muito obrigada. — Ela agradeceu contente. Georgia não se importaria que Ana fosse, ainda mais com todo o potencial que ela tinha para fazer parte da torcida.

Nós conversamos por mais alguns minutos, mas logo o professor chegou, fazendo com que todos fossem para os seus respectivos lugares. Na conversa, descobri que Ana era de Malibu e que seu pai foi transferido para Santa Monica. Só conseguiu finalizar a papelada para entrar na Elite no meio da semana, por isso só deu as caras na sexta-feira. Ela era doce e engraçada, e Zac estava completamente caidinho por ela.

A aula de Biologia foi cansativa e com muito conteúdo, assim como todas que a seguiram. Ana tinha duas aulas comigo, o que foi divertido, principalmente porque não vi os meninos até o almoço e era bom ter companhia. Eu e a ruiva nos dirigíamos até o restaurante quando cruzei com Georgia no corredor.

— Ei, K, você já decidiu quem vai levar? Tenho que fechar a lista até as cinco. — A garota mais impecável da escola falou enquanto checava suas longas unhas vermelhas.

— Sim. — Respondi sem muito ânimo. — Te mando daqui a pouco, relaxa.

— Eu vou fechar a área da piscina esse ano, ano passado muitos bêbados caíram lá dentro e um deles se machucou feio. Então roupas casuais, ok? Sem biquíni esse ano. — Ela avisou erguendo os olhos até os meus, então percebendo a presença de Ana e fazendo uma careta estranha com a boca. Georgia Wilson estava com ciúme. — Te vejo lá, K, love ya. — A garota mandou beijinhos no ar e sorriu como se nós fossemos melhores amigas. Gargalhei.

— Ana, você é demais. — Falei divertida. — Vamos, os meninos devem estar esperando por nós.

Ana gargalhou sem entender metade do que estava acontecendo e nós continuamos nosso caminho pelos corredores. Entramos no restaurante, que por acaso eu não entrava com muita frequência, e logo enxerguei os garotos. Eles já estavam sentados, inclusive Chuck, que não havia ido me buscar em minha sala, como era de costume. Eu não havia o visto o dia inteiro, então meu coração pulou uma batida quando eu o vi tão bonito com sua gravata frouxa e cabelo bagunçado.

— Aqueles são os garotos? Por Deus! — Ana exclamou impressionada e eu ri alto. Realmente, eles eram perfeitos, qualquer uma pensaria isso.

— São, você vai amá-los. — Eu falei me aproximando da mesa. — Olá, amores. — Sorri largamente e mandei beijinhos para todos.

— Muito engraçada você achando que não vai me cumprimentar direito, Katrina. — Chuck falou olhando diretamente pra mim, mesmo com Ana ao meu lado. Revirei meus olhos e dei um beijinho na bochecha do loiro que sorriu ao recebê-lo. — Muito obrigado, agora sente aqui. — Ele deu dois tapinhas ao seu lado e eu olhei incrédula para ele. — Tô com saudade de você, princesinha.

Revirei os olhos e acabei sentando, só então lembrando de Ana.

— Essa aqui é a Ana, gente. Ela é de Malibu. — Eu apresentei e ela sorriu para todos, simpática como sempre. Zac só faltava se atirar no chão para ela passar por cima dele e não sujar os sapatos no chão de tão abestalhado que estava com a presença da ruiva. Chuck passou um dos braços por cima dos meus ombros e me puxou para mais perto de si. Eu não estava entendendo porque ele estava tão grudento sendo que não fez questão de me ver a manhã inteira.

— Trouxe um sanduíche pra você. — Ele falou empurrando um embrulho quadrado para mim. Sorri de canto e coloquei minha garrafa de água sobre a mesa. Eu não havia levado almoço naquele dia, então fiquei feliz com o gesto.

— Você é o melhor, Chuck. — Respondi e ele sorriu como se já soubesse. Os garotos enchiam Ana de perguntas quando Zac lembrou que ela tinha que comer e resolveu mostrar pra ela como funcionava a comida ali. Chuck colocou o rosto na curva do meu pescoço e respirou fundo, deixando um beijo ali.

Desembrulhei meu sanduíche e dei a primeira mordida. Jesus, pensa numa coisa boa. Meu estômago ficou muito feliz naquele momento. Enquanto eu comia, os garotos falavam sobre alguma banalidade qualquer em que eu não prestava atenção e Chuck fazia me fazia carinho. Eu devo ter ficado com um puta ponto de interrogação enorme no meio da testa de tão confusa que estava com toda aquela situação, mas continuei comendo quietinha. Quando terminei, resolvi mandar a mensagem para Georgia com todos os nomes. Só de escrever um nome em particular senti minhas pernas fraquejarem e tive que tirar qualquer pensamento relacionado a ele da minha mente.

— Hoje você não tem nada de tarde, né? — Chuck perguntou e eu assenti com a boca cheia de mais para falar qualquer coisa. — Posso ir pra tua casa? Amy vai levar as amiguinhas pra casa hoje e você sabe como elas são comigo.

— Claro. — Respondi terminando de engolir o último pedaço do meu sanduíche muito bem feito por sinal. — Sua mãe fez? — Perguntei ainda saboreando.

— Exatamente. Ela fez esse e um de creme de amendoim com geleia, que inclusive estava ótimo. — Ele deu uma piscadela e um sorriso de canto que derreteria qualquer garota, principalmente se ela estivesse tão perto e com o cheiro dele tão impregnado no ar, mas eu já estava acostumada. Ou quase.

— Tia Sam é a melhor. — Eu falei depois de tomar um longo gole da minha água. — Você quer ir junto pra festa? — Perguntei vendo Ana e Zac voltando para a mesa completamente engajados em uma conversa. Zac era bom.

— Quero. Depois da festa você pode ir comigo pra casa também. Quero ficar com você hoje. — Ele falou olhando no fundo dos meus olhos. Ok, ninguém é de ferro, muito menos eu. Porra, Chuck.

— Deixa eu adivinhar: as amigas de Amy vão dormir lá também. Correto? — Perguntei sabendo que ele estava muito carinhoso para ser verdade. Ele revirou seus olhos cinzentos e sorriu.

— Isso também, mas eu realmente quero ficar com você. Você é muito ocupadinha, senhorita Benett. — Ele disse mordendo a ponta do meu nariz quando terminou e eu soltei um gritinho de garotinha de 10 anos quando leva um susto. — Aceita, vai, me dá a honra da sua presença.

— Só porque eu não fiz a caridade do mês ainda. — Falei olhando para minhas unhas e gargalhei quando percebi que Chuck estava incrédulo. — Te amo, baby.

— Sei. — Ele semicerrou os olhos desconfiado e logo desfez a expressão, assumindo um sorriso e cenho relaxado. — Então, Ana, por que você veio pra Elite? — Ele perguntou dando atenção para a ruiva finalmente.

— Meu pai foi transferido pra cá e queria que eu estudasse na melhor escola daqui, então aqui estou. — Ela respondeu sempre simpática. Percebi que seus olhos ficavam enrugadinhos nos cantos quando ela sorria muito largo. E, Jesus, ela parecia uma bolacha trakinas de tanto que sorria. Ela estava claramente se esforçando demais para entrosar, isso me dava vontade de segurar ela pelos ombros, chacoalhar e dizer "por favor, seja você mesma".

— Entendi, seja bem-vinda. — Chuck respondeu mantendo a educação, mas eu sabia que ele pensava a mesma coisa que eu. — Eu preciso fumar. — Ele sussurrou no meu ouvido para que não ficasse chato para a menina caso ela não gostasse de cigarros, eu imagino. O único lugar que dava para fumar e não ser percebido era o estacionamento, e só de pensar em ir até lá eu ficava com preguiça. — Quer ir comigo?

— Acho que vou passar. — Falei fazendo cara de sono e ele entendeu. Não deu tempo nem de meu amigo levantar e o sinal bateu. Fiz biquinho.

— Não faz assim. — Ele disse passando o dedão sobre o meu bico e mordendo o próprio lábio. Esse menino tava cheio dos hormônios hoje, só podia. Ele beijou meu rosto lentamente e afastou-se logo depois. Droga, Chuck, ou fode ou sai de cima, por favor.

— Qual é sua aula de agora, Ana? — Zac perguntou alheio ao fato do amiguinho dele estar provocando cada célula do meu corpo.

— Literatura. — Ela disse fazendo uma carinha desapontada. Eu amo literatura.

— A minha também. — Falei contente de ter companhia por mais um período. — Vamos indo? A senhora Jensen é bem estressada com atrasos. — Completei pegando minha garrafa e me levantando. Senti uma mão tocar a minha.

— Ei. — A voz de Chuck me chamou. Olhei pra ele e vi seus olhos de cachorrinho pidão. — Te encontro no estacionamento no fim da aula? — Assenti e ele sorriu, dando um beijo na mão que ele segurava.

Eu e Ana nos despedimos dos garotos e fomos para a nossa sala. Ela falava incansavelmente sobre como os garotos eram lindos e queridos e em algum momento eu comecei a ficar entediada. Acho que ela percebeu, porque fez a seguinte pergunta:

— Há quanto tempo você e Chuck namoram?

Por um segundo senti o ar faltar e no outro eu já estava rindo. Quando eu digo rindo, eu digo praticamente chorando de rir. Eu e Chuck? Nunca. Nós éramos melhores amigos. Claro que ele era lindo e a proximidade com ele me deixava mole, eu era uma garota com hormônios e com certeza longe de ser de ferro, mas em questão sentimento nós tínhamos algo quase fraternal. Ênfase no quase.

— Nós não namoramos, Ana. Somos apenas bons amigos. — Respondi a sua pergunta calmamente depois de ter explodido em risadas. O rosto de Anastasia ficou quase tão vermelho quanto seu cabelo quando percebeu a gafe que havia cometido logo no primeiro dia de aula dela.

— Desculpe, é que vocês realmente parecem um casal. — Eu já tinha ouvido aquilo, então quando as palavras deixaram a boca da ruiva eu não fiquei surpresa. Era normal pensarem isso, nós éramos realmente muito carinhosos um com o outro, o que não era muito comum em uma amizade garoto-garota. Eu não me importava mais com esse tipo de comentário, nem Chuck. Era rotineiro.

— Relaxa. — Falei entrando na sala junto com a garota. Escolhi meu lugar e fiquei viajando pensando em como Chuck estava agindo no almoço até a professora chegar. Depois que a aula começou de fato, tudo passou muito rápido.

Não demorou muito e eu já estava no estacionamento. Chuck estava apoiado no meu carro, com as mãos no bolso e um cigarro entre os dedos para fora. Suas calças do uniforme eram largas e a camisa estava para fora, assim como seu blazer que se encontrava aberto. Sentia pena dos garotos, o uniforme deles era ainda mais quente que o nosso. Destranquei a porta com o controle à medida que eu me aproximava, fazendo com que ele percebesse minha presença. Um sorriso se formou em seus lábios. Independente de eu ser apenas amiga de Chuck, eu sou obrigada a deixar claro que tudo que ele fazia exalava sensualidade, o que dava vontade de esganar ele com força.

Ele jogou o cigarro no chão e apagou com o pé antes de entrar no carro pelo lado do carona. Entrei pela porta do motorista e joguei minhas coisas no banco de trás, ligando o rádio antes de dar partida.

— Como foram as últimas aulas? — Ele perguntou recostando-se no banco de couro. — Adoro seu carro.

— Foram normais. Certo, senhor eu tenho um Maserati. — Falei brincando com o fato de ele ter o carro que eu gostaria de ter. Inclusive, ele quase não dirigia aquele monumento, o que eu nunca conseguiria entender.

— Como se eu fizesse muita questão de qualquer coisa que veio do Paul. — Chuck disse revirando os olhos. Paul era seu pai biológico, mas que abandonou ele, sua mãe e sua irmã e agora mandava presentes caros para tentar compensar a ausência. Chuck nunca o perdoaria por ter deixado ele, com apenas 13 anos, responsável por toda a família, cuidando de uma mãe destruída e uma irmã sem entender o que acontecia. As coisas melhoraram, é claro, mas certas coisas não têm explicação.

— Desculpe. — Murmurei arrependida de ter trazido o assunto. Ele me olhou com o canto dos olhos e colocou uma mão em cima da minha coxa, como se dissesse que estava tudo bem. — Quer passar na sua casa pra pegar alguma coisa?

— Por favor. — Ele pediu jogando a cabeça para trás, cansado. — Tenho uma ideia para hoje. — Grunhi um "hm?" para que ele continuasse. — Dormir. — Não consegui evitar e ri. Se esse garoto não existisse, teria que ser inventado.

— Ótima ideia. Se eu não dormir, não vou aguentar a noite. — Concordei lembrando da maldita festa da torcida. — Quero saber se é hoje que você finalmente toma uma atitude com a Georgia. — Senti seus dedos pressionarem minha coxa, um tanto quanto estressado. — Acalma o coração, loirinho.

— Não vai ser hoje e não vai ser nunca. — Ele respondeu tirando a mão da minha perna. — Ela é simplesmente impossível de ler. Eu consigo qualquer uma das amiguinhas dela, mas ela? Nunca. — Chuck parecia um misto de irritado com decepcionado, então preferi ficar em silêncio. Por sorte, foi no momento em que entrei na rua dele. Estacionei em frente à sua casa e tirei o cinto, sem tirar a chave do contato.

— Vai lá que eu te espero aqui. — Falei estalando meu pescoço. Tem sensação melhor que essa?

— Você tá bem ingênua hoje, hein. Levanta a bunda daí que eu não entro nessa casa sozinho nem fodendo. — Ele disse tirando a chave do contato e pegando para si. Droga. Saí do carro junto com ele, que trancou as portas logo depois.

Nós não tínhamos nem entrado e já conseguíamos escutar as vozes de Amy e suas amigas. Ele me olhou com uma carinha desesperada e eu ri, abraçando-o por trás. Chuck destrancou a porta e rezei em silêncio para que elas não fizessem escândalo como sempre. Por sorte, elas estavam de costas, assistindo High School Musical na TV enorme e cantando You Are The Music In Me loucamente. Prendi a gargalhada e Chuck me olhou com cara de quem também queria rir.

Quando eu o conheci, ele nunca tinha assistido ao filme, o que eu achei um absurdo porque, pelo amor de Deus, quem nunca tinha visto High School Musical? Então eu obriguei ele a fazer uma maratona comigo, o que ele só aceitou se tivesse um drinking game. As regras eram beber sempre que alguém dissesse "Qual é o time?" e "Wildcats", ou quando a Gabriella dissesse "Troy", quando aparecesse uma bola de basquete, quando Kelsi tocasse o piano, quando eles cantassem, ou seja, durante o filme todo. Em algum momento depois de ter acabado com uma garrafa de vodca e partindo para a segunda, nós estávamos cantando You Are The Music In Me como se não houvesse amanhã. Por isso, naquele momento, Chuck e eu nos segurávamos para não rir.

— Cheguei, maninha. — O loiro disse respirando fundo e engolindo o riso. As amiguinhas de Amy, que até então estavam alheias a presença dele, olharam para ele como se elas estivessem com fome e ele fosse um Burger King.

— Oi, Charlie, oi, Kat. — Amy respondeu alegre. Era engraçado, o nome de Chuck era Charles, mas mesmo assim era extremamente esquisito quando alguém o chamava de Charlie. Acho que só os parentes dele o chamavam assim. — Achei que você ia para Kat depois da escola e não o contrário.

— Eu vou, só passei aqui pra pegar umas coisas. Relaxa, não vou atrapalhar sua noite. Esse filme é épico. — Chuck concluiu a frase me olhando com um sorriso sacana estampado em seu rosto. Antes que eu desatasse a rir, subi as escadas, com meu amigo no meu encalço. Enquanto subíamos, conseguimos escutar o seguinte diálogo:

— Ela é a namorada do seu irmão? Ela é bonita.

— Não, mas eles tão sempre dormindo juntos, se é que você me entende.

Isso tudo seguido por um "eww" coletivo. Não consegui evitar e, já no corredor do andar de cima, gargalhei. Chuck, ao escutar minha risada, fez o mesmo. Entramos no quarto e fechamos a porta, rindo ainda mais. Joguei-me na cama dele e abafei o som com o travesseiro, ainda me divertindo muito com toda a situação. Depois de alguns minutos de muito esforço, conseguimos parar.

Eu continuei deitada na cama, enquanto Chuck se pôs a procurar uma roupa para usar de noite. Olhei para a janela e a imagem do jardim de trás iluminado pelo sol era bonita demais para ser ignorada. Distrai-me por um momento e, quando voltei a olhar para o quarto, meu amigo estava apenas vestindo sua boxer preta.

— Por Deus, Chuck, você tem que parar de ficar sem roupa na minha frente. Imagina se eu fizesse isso? — Falei um pouco irritada com o fato de ele ser gostoso em um nível além do normal, tatuado e bonito demais para ficar desse jeito o tempo inteiro.

— Eu iria adorar. — Ele falou dando de ombros com um sorriso canalha extremamente sexy puxando o canto de seu lábio. Revirei os olhos e joguei um travesseiro nele, que apenas riu. — Qual é, Kat, você já tá acostumada.

— Anda logo com isso, O'Neil. — Falei irritada, deitando de barriga para baixo e a enterrando a cabeça no travesseiro. Escutei uma risada e quis esganá-lo. — Não entendi do que o palhaço tá rindo.

— Tô rindo de você toda envergonhadinha. — Ele respondeu calmamente. — Já pode olhar pra mim, coloquei uma roupa.

Virei de barriga para cima mais uma vez e vi meu amigo sorridente já vestindo uma bermuda jeans clara e uma camiseta cinza escura. Cruzei meus braços e fiz cara de braba por ele ter rido, e ele se jogou em cima de mim.

— Você é um pouco pesado, Chuck. — Falei entre gritinhos histéricos. Ele me ignorou completamente e se pôs a beijar todo o meu rosto. — Sai daqui. — Eu ainda me fingia de braba e ele ainda me prendia embaixo dele. Ele mordeu a ponta do meu nariz como sempre fazia e eu não consegui evitar rir. — Te odeio. — Disse com um biquinho birrento.

— E eu te amo, brabinha. — Ele sorria divertido e eu revirei meus olhos, finalmente me entregando e rindo. — Prefiro assim. — Chuck mordeu meu queixo e saiu de cima de mim. Ele tinha essa mania de morder meu rosto, independente da parte que fosse. Fiquei na cama enquanto ele ajeitava suas coisas e acho que acabei pegando no sono ao esperar.


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Notas finais do capítulo

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