O Plano de uma Heroina escrita por Pedro Haas


Capítulo 1
Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Eu pensei nisso como uma One! mas eu vi que ia ficar longo pra porra então eu falei HUM vou cortar em partes.



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Parte 1

"Essa cidade é muito grande", eu penso comigo mesmo, enquanto andava por uma grande quantidade de quarteirões no centro. Eu acabei de me mudar, não faz nem uma semana, é a segunda vez que venho aqui no centro, a primeira foi para fazer a entrevista, a segunda, para trabalhar. Eu morava mais para o interior, onde tudo se alcançava com uma bicicleta e o ar era limpo, nossa, aqui tudo cheira a queimado e molhado. O ponto de ônibus que meus amigos indicaram era em algum lugar por aqui, eu estava me torturando por não ter seguido o mesmo roteiro de ida, está certo que com esse ônibus eu iria parar diretamente em casa, mas eu pago com um sorriso no rosto dois ônibus se eu tiver que andar toda essa distância todo dia às 16h da tarde.

Quando finalmente chego no ponto, uma fila gigante se evidência, quase dobrando a esquina, ai, okay, o forasteiro tem mais é que se ferrar mesmo. Sorte que eu tinha um bom livro  pra me concentrar durante a viagem de quase uma hora.

Li, li, e quando os meus pés e olhos estavam exaustos, o ônibus chegou, e percebi que a fila tinha quase que dobrado de tamanho, seria bem 'agradável'. Entrei no ônibus me espremendo entre os passageiros, o ônibus era bem grande e havia um ar condicionado – Graças a Deus – consegui um lugarzinho encostado entre os tubos de ferro revestidos e não tão apertado para que eu pudesse ler o meu livro em paz. Pensando melhor, enquanto eu tivesse uma distração, poderia pegar atalhos e chegar no ponto mais rápido, bem, é uma vida que da pra se acostumar.

Aos trancos e barrancos, o ônibus deu partida e eu finalmente estava indo para casa. Minha costela, minhas costas, o meu corpo era atacado pelos ferros enquanto o ônibus corria, provável que fique um tempo dolorido depois disso, mas eu tentava ignorar para focar apenas na minha música e no meu livro, que não era lá essas coisas, aliás. Depois de alguns minutos já cansado de ler, guardo o livro e me encosto do melhor jeito possível para que eu fique confortável naquela posição, e, para minha surpresa, adormeço. Claro que o sono bom não dura o suficiente, mas quando acordo, um espaço está vago para eu me aconchegar, olho em volta, estou há 40 minutos de casa, mais ou menos, bem seguro para tirar uma soneca.

É, bem seguro, como se a minha vida não fosse um mar de imprevistos, quando eu acordo, estou em um lugar totalmente novo, e o ônibus ja estava quase que totalmente vazio. Fico desorientado de uma maneira que poucas vezes fiquei na vida, o onibus parou em um ponto um pouco afastado e estacionou, era o ponto final, e o primeiro impulso desse idiota aqui foi de descer, junto de uma mãe e uma pequena garotinha de aparência pobre, mais pobre que a minha, e sorriso amarelo no rosto. Olho em volta, verde, mato, árvores, grama e mais outros tipos de verde. Eu estava realmente longe de casa, provavelmente uns 20 pontos atrás, e nem ao menos sabia o caminho de volta para andar, e com certeza um táxi não passaria ali.

Tento conseguir informações com o motorista, mas ele havia, ironicamente, pego no sono. É por isso que esse ônibus filho da puta demora tanto a chegar no outro extremo da rota dele. Eu estava puto, claro. Na rua, que mal era pavimentada, havia apenas um bar, algumas casas de um lado, e do outro vários campos e florestas em diagonal, morros e descidas verdes e até vacas caminhando, puta que pariu. Involuntariamente, coloquei as maos na cabeça, eu provavelmente deveria esperar o próximo ônibus dessa linha inconstante de ônibus, vou chegar em casa exausto e minha namorada vai encher o saco. Ótimo!

Vou até o bar, juntando toda a calma que eu tinha para não estourar com alguém ou comigo mesmo por ter sido idiota, e peço um refrigerante, amigavelmente. Olha, o bom das cidades pequenas, que todo mundo se conhece, o mau das cidades pequenas, é que, porra, todo mundo se conhece.

— Ô! Garoto! – Disse um senhor, que estava com o rosto um pouco cabisbaixo, mas logo percebi que estava semi-bêbado – Cê num é daqui, é?

Ele me olhava como se eu fosse azul. Observando com o raciocínio lento minha roupa social de auxiliar de escritório.

— Não, senhor – Tecnicamente, não era mesmo.

— Parece um dotôr – Disse outro, que estava ao lado dele, com a voz um pouco embargada.

— Ah não, longe disso – Me virei rapidamente para o barman, para não dar conversa àqueles esquisitos – Pode me ver uma coca?

Ele me entregou o que eu pedi, e eu o paguei, ufa, até que as coisas no fim do mundo são bem baratas.

Sai dali e fiquei rodeando o ônibus do outro lado da rua, o sol ja estava dando indícios de querer se pôr, mas cara, como fazia calor ali. Desliguei a música porque ja estava enchendo o saco, e procurei uma sombra pra saborear meu refrigerante, quantas horas isso ia demorar? Eu não queria nem pensar nisso, mas de preferencia, que eu chegasse em casa antes de escurecer.

Fechei os olhos, quase dormindo, quando sinto um toque em meu ombro.

— Hey, senhor.. – A voz um pouco esganiçada de uma senhora de idade.

— Oi... – Digo lentamente, esperando que vá embora.

— Então, cabeção – Abro os olhos, na hora, era uma garotinha – O ponto de volta é em outro lugar.

— Não seja tão grossa, Maria Eduarda! – A senhora a repreendeu.

Eu me endireito e coloco a cabeça no lugar, eram aquela senhora e aquela garotinha que eu havia visto descer do ônibus. Elas não me pareciam ser idiotas do campo, mas aquela garotinha, Maria Eduarda, era sem dúvida malcriada.

— Como assim em outro lugar?

— Ora, não entendeu, não? – A menina respondeu, me deixando com cara de bobo.

— Bom, senhor – A senhora falou, antes que eu começasse a discutir com a garota – Os ônibus vêm para esse ponto quando eles não vão mais sair, e ficam aqui até amanhã, o ponto de ônibus ativos dessa linha fica há alguns quarteirões daqui – Ela explicou, pedindo desculpas pela garota com os olhos, enquanto a menina estava de braços cruzados olhando para outro canto.

— Ah, obrigado, senhora – E comecei a andar, mas depois de alguns passos, me lembrei – Desculpe, mas onde exatamente isso fica? – Como eu poderia chegar lá se não conheço nada daqui?

— Não se preocupe! – Ela se prontificou como se estivesse esperando a oportunidade – Eu posso levar o senhor até lá, afinal eu estou indo na mesma direção.

— Poderia? – Ah, como eu gosto da hospitalidade das pessoas mais simples.

— Poder a gente pode – Respondeu a garota, que não deveria ter mais que 10 anos – Mas ajudar um idiota que nem você é difícil.

A senhorinha olhou para mim na hora, e eu respirei fundo para não perder a linha, "calma, Carlos, calma".

— Digo, como você pode ter dormido tanto? O livro era tão legal que te deu sono? – Ela riu.

— Fica quieta, Maria Eduarda!

Eu me virei de costas para elas, para na o discutir, claro. Começamos a andar com a senhora puxando a orelha de Maria Eduarda e eu as seguindo, segurando o riso. Claro que não tinha percebido nada de estranho até aí, ninguém perceberia.

Andamos algumas ruas com Maria Eduarda soltando alguns comentários maldosos sobre mim, minha roupa e minha idiotice. A mãe, pelo menos eu acho que era a mãe, a repreendia cada vez mais pesadamente, mas não surtia efeito. Depois me perguntam o porquê de eu não gostar de crianças, ai.

— Qual seu nome, retardado? – A garota se virou para mim enquanto andava, fazendo uma expressão de zombaria revoltada – Ah não, espera, alguém como você só pode se chamar Carlos.

Ela disse aquilo, e eu me surpreendi, hum, sempre me disseram que eu não tinha cara de me chamar Carlos, não que isso signifique algo. A senhora olhava cada vez mais nervosa à garota, mas, de uma maneira não mais saudável, deu-lhe outro tapa no braço. Eu até entendo, uma criança dessas, até a madre Teresa perderia as estribeiras, mas algo estava estranho.

— Alguém que trabalha como auxiliar de escritório numa emprezinha chulézenta no centro, mora com uma namorada coitada que você só acha que ama, mas nem filhos quer ter, e saiu do interior pensando em se tornar grande, mas nunca vai ser ninguém porque a vida é assim e não vai te deixar ser feliz até você morrer!

Tudo aquilo foi atirado na minha cara, e eu não tive tempo de pensar. Maria Eduarda começou a chorar nas primeiras três palavras, e disse todo o resto com a voz carregada de uma criança apavorada, aterrorizada, os olhos cheios de lágrimas me contagiaram, e eu comecei a lacrimejar. O que era tudo aquilo que ela tinha dito... Por que tudo parecia tão certo, tão extremamente real pra mim... Pisco os olhos uma vez, como se eu tivesse acabado de acordar. Como se eu estivesse tentando me recuperar de um soco de palavras que a menina me deu.

Soco, é uma palavra interessante, afinal foi isso que a menina recebeu da sua mãe ao fim da frase, um soco que a fez gemer e cair ao chão, só para ser recebida por mais chutes e pontapés da senhora.

E eu percebo então, hematomas já antigos na cintura da garota.

— Não... – Eu digo, impotente, como se eu não pudesse mudar aquilo. Como se eu não pudesse mudar nada, desde o início... Como Maria Eduarda bem falou – NÃO!

Eu não me vejo fazer nada, mas quando pisco o olho, estou em cima da mulher, que parecia ter sido trocada por uma versão furiosa e aterrorizante de si mesma. Ela gritava para mim, e bufava e me xingava, e quando parou, começou a chorar. O que eu vou fazer?

Me levanto, e ajudo Maria Eduarda, enquanto a senhora permanecia deitada, onde eu a deixei, chorando e soluçando. Eduarda estava também soluçando, mas as lágrimas caiam mais lentamente pelo seu rosto, como se ela não pudesse acreditar no que tinha acabado de acontecer. É, nem eu.

Segurei em sua mão e corri para longe, cada vez mais longe da senhora, que estava se levantando e chamando por nós.

— Não volte... – Maria Eduarda finalmente falou – Por favor... Não deixa ela tocar em mim de novo... Por favor... – Sua voz estava afinada, era uma voz desesperada e misturada de lágrimas.

Ao longe, meu ônibus me esperava, e eu, impulsivo como sempre, corri com ela para dentro do ônibus, entrando pela porta de trás mesmo. Era tão interior que nem a passagem era supervisionada firmemente. A senhora viu minha intenção e correu o mais rápido que pôde, mas não conseguiu alcançar o ônibus pronto para partir.

Pôr do sol, finalmente.


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Notas finais do capítulo

UÉL, vcs deveriam me ajudar, a historia está legal? deve ser consertada? revisada? misteriosa demais?? eu nao sei o que esperar disso, talvez vcs gostem, talvez....

AMEM A SURPRESA QUE EU PREPAREI NO FINAL!



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